O cinema do único shopping de Lírio é o ponto de encontro dos jovens aos sábados.
Eu olhava para os lados, um tanto impaciente, até que Petrus surgisse em meu campo de visão carregando um balde de pipoca e refrigerante, bem a tempo de entrarmos na sala.
O filme escolhido era de ficção científica. E ele pode até não ter dito com todas as palavras, mas estava claro que já tinha visto antes. Não era algo que eu assistiria normalmente, mas estava disposta a tentar.
E foi bom, eu diria. A única parte estranha foi quando Petrus tentou tocar minha mão e eu simplesmente congelei. Depois, no carro, eu quase ria com o pensamendo de ter petrificado ao ser tocada por Petrus.
— Espero que tenha gostado — disse ele enquanto dirigia de volta a Irenoi.
— Foi muito bom — fui sincera, afinal gostei do filme.
Quando estacionou na esquina ele pediu que eu ficasse no carro. Mesmo estranhando permaneci lá dentro até que a porta foi aberta e ele estendeu a mão para mim. Dei um sorriso sem graça, saindo do veículo logo em seguida, mas lá fora ele não soltou minha mão, por isso seguimos caminhando de mãos dadas até minha porta.
Naquela hora a quintanda já estava fechada, não havia sequer um janelão da pensão com sinal de hóspede. Apenas crianças brincavam lá no fim da rua, bem distante.
Nós paramos diante de minha porta e eu agradeci pela noite.
— Eu quem agradeço — disse ele antes de se inclinar e tentar me beijar, mas antes meu corpo reagiu se esquivando.
— Petrus, eu... — tentei falar, mas ele segurou meu queixo de repente e fiquei alguns segundos sem reação, até conseguir pronunciar algo. — Ainda não tenho uma resposta.
— Eu entendo.
Ele acariciou meu rosto com as costas da mão e quando achei que poderia voltar a respirar normalmente, seus lábios vieram de encontro aos meus rapidamente e nem tive tempo de pensar.
Foi apenas um selinho, algo parecido com o que Tália fez, mas pude sentir o toque de seus lábios com bem mais clareza.
— Você tem todo o tempo do mundo para pensar — pronunciou apertando novamente meu queixo e logo em seguida se foi.
Quando entrei em casa fiquei um tempo sem reação, pensando no que havia feito. Ligar para Petrus apenas porque queria esquecer o fato de Tália estar com a enfermeira de certa forma funcionou, me distrai um pouco, mas eu não estava preparada para beija-lo. Até mesmo andar de mãos dadas me pareceu demais.
Decidi ir tomar banho para tentar me livrar daquela sensação estranha que parecia me fazer sentir suja.
Quando saí do banheiro encontrei Tália sentada numa cadeira na mesa da cozinha com uma cerveja entre as mãos e os olhos fixos na mesma.
— Já chegou — falei.
Ela levantou a cabeça rapidamente, só então percebendo minha presença.
— É, faz um tempo. — Me ofereceu a bebida e eu ignorei o fato de ainda estar de toalha, simplesmente me aproximei, peguei a latinha de sua mão e sentei na cadeira ao lado. — Então... — disse levantando, indo até a geladeira pegar outra cerveja. — Você e o professor estão mesmo sério agora?
Por que ela estava perguntando sobre aquilo de repente?
— Você viu alguma coisa?
— Por que sempre me responde com perguntas? — Ela sorria enquanto sentava de volta.
— Desculpa, eu... nem sei.— Sorri sem graça.
— Eu tinha ido comprar cerveja e sem querer vi... o carro dele.
— Ah bom. — Tomei um grande gole da bebida. — Bem, eu decidi tentar, sabe?
— Sei. — Ela abria lata. — Você só tem que seguir seu coração, ninguém tem a ver com isso. — Logo depois seus olhos vieram para mim e sorriu sem mostrar os dentes, então fiz o mesmo, confirmando.
Tomei o resto da bebida em um gole só e levantei, indo me vestir ainda sob o efeito de seu olhar.
Eu nunca havia me sentido daquela forma. Era só uma pessoa, um olhar. Não tinha porquê meu coração ficar tão descontrolado.
Lembrar o selinho de Petrus desbloqueava uma outra lembrança e isso era a última coisa que precisava. Pensar sobre como seria beijar Tália, tendo ela alí tão perto sem sequer poder toca-la.
— As vezes sinto que estou em um inferno que eu mesma criei — falei olhando a xícara entre minhas mãos.
— Se apaixonar sem ser correspondida é isso mesmo amiga — falou Victoria tocando minha mão.
Era domingo e como de costume fui comprar pães logo cedo. Aproveitando para uma sessão desabafo.
— Posso ser sincera? — perguntou ela e confirmei. — Não se enrola com o professor, não. Se tem outra pessoa na cabeça e no coração não vai ser nada bom pra você, nem para ele.
— Talvez se eu não estivesse com ela na cabeça...
— Você disse que ela ficaria por um mês, daqui a pouco encontra uma casa e vai embora.
— Acha que isso me faz sentir melhor? — Ela sorriu negando. — Pois é, todas as alternativas são uma tortura. Mas vamos falar de coisa boa, chega de baixo astral.
Começamos a falar sobre o casamento e assim acabei perdendo a noção do tempo.
Ao sair de casa Tália já havia ido para o trabalho, quando voltei fiz minhas tarefas domésticas ouvindo música como de costume e após tudo feito sentei no chão da sala para estudar. Assim passei o dia.
Almocei o jantar da noite passada, que por sinal estava ótimo.
Tália chegou já bem tarde e após um banho vestiu um pijama e veio sentar no sofá, atrás de mim.
— Você tá com cara de quem passou o dia estudando — falou tocando meu ombro, me fazendo levantar a cabeça para olhá-la. — Seus olhos parecem cansados.
— E realmente estou cansada. — Fiz um bico antes de suspirar. — Se eu não passar nesse concurso acho que vou montar uma barraca na feira de Lírio e vender missangas.
Nós duas sorrimos.
Tombei a cabeça para trás no sofá, fechando os olhos. E me assustei quando senti sua mão um tanto fria em minha testa, afastando meus cabelos. Devagar abri os olhos e ela, que me observava, sorriu brevemente.
— Sabe que vai conseguir — afirmou e eu apenas pisquei, sentindo seus dedos ainda em minha cabeça, onde fez carinho. — Encontrei uma casa.
Levantei a cabeça rapidamente. Eu não sabia como reagir. Precisava fingir entusiasmo e deveria estar aliviada por não tê-la por perto confundindo meus sentimentos, mas ao invés disso fiquei triste.
— Que bom — falei fechando os livros que antes espalhei ao redor. — Quando se muda? Quero dizer, você precisa consertar alguma coisa antes? E tem que mobiliar, não é? Vai levar tempo.
— Bem, eu tenho dinheiro o suficiente para fazer tudo isso em no máximo uma ou duas semanas.
— Sério? — Virei a cabeça rapidamente para olhar ela que deslizou no sofá, vindo sentar ao meu lado, no chão.
— Não sou rica, claro que vou fazer algumas dívidas no processo, mas tenho o suficiente para comprar a casa e o necessário para...
Ela precisava vir para o meu lado pra falar sobre aquilo? Meus olhos só conseguiam ir para sua boca, isso antes de passear por cada detalhe de seu rosto, que em breve eu não poderia ver tão perto.
Ai Tália, porquê eu fui me apaixonar por você? E porquê você não se apaixonou por mim com a mesma intensidade e loucura? Sim, pois esses meus sentimentos são uma verdadeira loucura, mas tenho certeza de que seria tão feliz vivendo essa loucura com você.
Imagino poder te beijar nesse exato momento. Te abraçar, acariciar. Imagino poder ficar parada te olhando feito uma idiota sem me preocupar em ser descoberta. E poder dizer tudo o que sinto ao menos mil vezes ao dia.
Sim, eu seria grudenta e insuportável. Talvez você se cansasse de mim rapidinho, mas eu seria feliz pelo pouco tempo que tivesse a oportunidade de poder estar contigo. Eu queria me entregar para você como nunca quis me entregar para ninguém.
— Luiza? — chamou e eu pisquei algumas vezes, desviando o olhar. — As vezes você viaja, né? — Ela riu.
— Desculpa — fechei os olhos lamentando.
— Tudo bem. — Ela retirou o notebook, que até então estava em meu colo. — Agora vamos descansar.
Tália levantou e estendeu a mão para mim que aceitei e levantei rapidamente, não me dando conta de que era um chamado para irmos deitar. Nós não costumávamos fazer aquilo na mesma hora, sempre ela ou eu ia primeiro, e sempre fingia estar dormindo para não ficar um clima estranho.
Como sempre, deitei de costas para ela e assim ficamos durante um tempo em total silêncio. Eu só mexia meus dedos dos pés, tentando manter meus olhos fechados, mesmo que se os abrisse não fizesse muita diferença já que estava tudo escuro.
— Luiza? — chamou de repente e meu coração vibrou no peito.
Murmurei um "Hm" em resposta.
— Por que quis ser professora?
Pensei um pouco, reunido todos os motivos e só então respondi:
— Além de ter sido o único curso que tinha em Irenoi, para não ter que ir até Lírio — confessei e ela pareceu rir. — Também porque gosto de crianças. Me anima saber que faço parte da vida, do crescimento e conhecimento delas. Além do mais que me sinto feliz por ser útil e de confiança.
— De confiança?
— Você sabe, é uma grande responsabilidade. Deixar os filhos na escola é difícil para os pais.
— Então você gosta do infantil? Não pensa em lecionar para crianças maiores?
— Quem sabe no futuro pense e estude para isso. Por enquanto sou feliz com os pequenos.
O silêncio voltou, dessa vez me sentia mais confortável, mas decidi quebra-lo.
— E você, porquê escolheu medicina?
— É uma longa história.
— Acho que não estou com sono suficiente para dormir agora.
— Tudo bem, então...
Ela começou a contar sobre a irmã que fornou-se em medicina e sobre o acidente que tirou sua vida.
Acabei me arrependo por ter feito aquela pergunta porque dava para perceber que por mais tempo fizesse ainda parecia difícil para ela falar sobre o assunto. Seu tom de voz mudou e eu quis abraça-la naquele momento.
Tália não era muito de demonstrar sentimento, mas naquele momento em que entendi o que a fez assim, pareceu que o muro que mantinha em volta de si havia caído.
Eu não seria capaz de permanecer imóvel.
— Prometi a mim mesma que... — Ela se calou quando virei e sem aviso prévio puxei seu corpo para um abraço.
Devagar Tália acomodou-se em meus braços, encolhida. Eu podia sentir seu cheiro e respiração, como nunca antes.
Torci para ela não perceber como meu coração estava fora de controle.
Não era o momento para me deixar levar por meus sentimentos estragando tudo. Eu só queria deixar claro que ela podia confiar e se abrir comigo. Que eu estava ali e que permaneceria, independente do caminho que nossas vidas seguissem dali pra frente.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Carvalho
mulheeerrr ... não cai nesse papinho rum
2023-06-04
0
sua crush? ~ ♀️🔞
porque que eu fui me apaixonar por vc ... talvez se eu n tivesse ainda estaríamos aqui 🎶
2023-04-29
1
sua crush? ~ ♀️🔞
engraçado que com um toque a pessoa já fica nervosa kk
2023-04-29
0