Capítulo 06

Enquanto procurava uma roupa decente para vestir, me perguntava se estava prestes a ir a um encontro com aquele professor. Ele monstrou-se bom em aproximação, mas ainda assim não estava em meus planos ficar mantendo muito contato. Já me bastava o título de amante do Thomas, não queria conversas sobre estar saindo com mais ninguém.

Apesar de que eu estava de fato prestes a sair com ele.

Me olhava no espelho usando um vestido de cor azul. Observando frente e verso várias vezes.

— Parece bom — falei para mim mesma, mas minha consciência logo disse um grande "não", então retirei a peça de roupa.

Optei por um jeans, camiseta um cardigã por cima.

Perfeito! Eu não estava muito arrumada, dando a entender que fiquei horas me arrumando para ele. Quando na verdade fiquei horas me arrumando para não parecer muito arrumada para ele.

Ri comigo mesma enquanto arrumava meu cabelo na frente do espelho.

— Com franja? Sem franja? — me perguntei novamente.

Se ele gosta de um estilo mais garotinha inocente o melhor seria eu colocar a franja de lado, mas se ele queria ter total acesso a um olhar fatal, a opção era manter franja e bancar a inocente.

Suspirei.

Parece muito mais difícil não parecer atraente. Não que eu seja isso tudo, só que para aquela aproximação ele só podia ter segundas intenções e eu precisava ir totalmente contra suas expectativas.

Não está em meus planos sair de minha solteirice.

Por fim mantive minha franja onde já estava e esperei pra ver se o professor realmente sabia onde ficava minha casa, até uma batida na porta confirmar.

O perfume entrou antes que eu pudesse abrir a porta e vê-lo todo arrumado.

— Que linda — disse dando um sorriso, me medindo de cima a baixo.

— Obrigada. — Forcei um sorriso.

Saímos bem cedo, afinal que eu saiba o teatro mais próximo fica em Lírio, cidade vizinha.

Enquanto desciamos a escada eu quase me escondi atrás do homem ao avistar tia Lena saindo da quitanda. Seus olhos atentos logo vieram para nós.

— Vai passear, Luiza? — perguntou com um sorriso que ia de mim ao professor.

— Boa noite — disse ele dando um sorriso para senhora que sorriu toda boba antes de responder. 

— Boa noite.

Eu nada respondi, queria evitar prolongar conversas.

Enquanto seguiamos até o carro dele estacionado na esquina, eu pensava em como todo mundo saberia no dia seguinte que eu andava com um bonitão por aí.

...(...)...

A parte boa foi que a peça prendeu minha atenção e foi realmente incrível, por isso até esqueci as preocupações e baixei a guarda enquanto assistia.

— Foi bom, não foi? — perguntava ele enquanto saíamos do teatro.

— Bom? Isso foi incrível. — Sorri satisfeita.

— Que tal um jantar? Tem bons restaurantes por aqui.

Eu estava realmente com fome, por isso aceitei.

Tinha que confessar que Petrus conseguia roubar minha atenção falando sobre livros, afinal era um de meus assuntos favoritos.

Eu nem vi a hora passar enquanto comiamos. E o percurso de volta foi bem rápido.

Assim que estacionou na esquina de minha casa ele ameaçou sair do carro, mas rapidamente segurei em seu braço.

— Muito obrigada pelo convite, foi realmente muito boa a peça e o jantar, mas não precisa me levar até a porta — falei rapidamente, antes de sair do carro. — Boa noite! — disse me inclinando na janela para acenar, logo depois segui para casa.

A quitanda já estava fechada naquela hora e a rua um tanto deserta. Não era mais as pessoas que eu temia, mas sim ele tentar subir até minha casa.

...(…)...

— Será que teremos um novo casal na pacata Irenoi? — perguntava Victoria enquanto eu estava sentada numa mesa do café, na manhã de domingo, esperando meus pães ficarem prontos.

— Não acredito que saí ontem a noite e hoje você já sabe! — Bufei. — Foi só uma coincidência, ele tinha ingressos e eu gostava a peça.

— Ah claro, super coincidência. — Ela riu. — Conta outra, Luiza!

— Pra mim não foi nada. Já falei que a solteirice é minha companheira.

Thomas se aproximou com minha sacola de pães que logo recebi. Após pagar e agradecer, me despedi deles e segui para casa em minha bicicleta.

A amanhã estava tranquila e com um clima gostoso. O centro da cidade parecia mais movimentado que de costume em um domingo, mas minha rua era só calmaria.

Era quase nove da manhã quando subi até meu andar e ao virar avistei Tália apoiada na grade da varanda do quarto, enquanto se olhava no espelho do pó compacto.

Ela me viu e acenou sorrindo, então fiz um sinal com mão, chamando. Ela pareceu confusa, mas logo saiu da varanda. Enquanto isso entrei em casa e após pegar minha garrafa de café, que deixei pronto antes de sair, levei para a varanda junto a margarina, a tempo de encontrar a médica subindo a escada.

— Me faz companhia? — perguntei com um sorriso e ela confirmou. — Espera um pouco.

Voltei lá dentro onde peguei queijo, presunto e duas xícaras.

— Pode se servir do que quiser — falei sentando.

— Você não faz idéia do quanto eu realmente queria e precisava de um café da manhã de verdade, tipo esse aqui, antes de ir trabalhar — confessou enquanto enchia a xícara.

Sorri observando ela levar a xícara aos lábios e após tomar um gole suspirou, fechando os olhos, logo em seguida observou o céu.

— Que clima bom — comentou.

Ela me olhou e só então lembrei de começar a me servir.

— Eu amo tomar café aqui fora no domingo cedinho.

Nos servimos e começamos a comer.

— Seu namorado é bem bonito — comentou de repente.

— Quê? — Franzi o cenho, não entendendo, logo depois me toquei que ela só podia estar falando do professor. — Ah, ele não é meu namorado.

— Estão se conhecendo melhor, então — comentou beliscando o presunto no pão.

— Também não!

— Desculpa, acho que agora pareci a dona Lena, ali da quitanda.

Nós duas rimos.

— Tudo bem. — Suspirei relaxando na cadeira.

— Bom, preciso ir trabalhar. Obrigada mesmo pelo café. — Tália ficou de pé e já ia sair, quando decidi chama-la.

— O que vai fazer amanhã? — arrisquei perguntar. — É sua folga, pensei em te ajudar a conseguir uma casa.

— Na verdade me programei para ir comprar umas coisas que preciso.

— Em Lírio? — Ela confirmou. — Podemos ir juntas! — falei com animação. — Preciso ir até lá comprar o presente de aniversário do meu pai.

Tália confirmou e nós marcamos de ir em um horário não muito cedo para que ela pudesse descansar pelo menos em parte o dia.

Ir até Lírio era sinônimo de visitar a feira da cidade, onde possivelmente encontrariamos absolutamente tudo o que se possa imaginar, por um bom preço.

Eu passei o dia bastante animada com idéia de fazer compras.

Como em todo domingo abri as janelas, limpei minha casinha, lavei minhas calcinhas e depois que terminei cuidei um pouco de mim.

Me depilei, fiz skin care, algo que nem costumo fazer. Também pintei as unhas dos pés e das mãos enquanto ouvia músicas na TV, cantarolando distraída, nem percebendo quando bateram na porta.

De repente saltei no sofá com a mão no peito, ao ver Victoria entrando.

— Quer me matar do coração? — gritei antes de pegar o controle e baixar o volume da televisão.

— Se eu fosse um ladrão teria levado até você. A porta estava entreaberta e olha que chamei antes, mas não respondeu. — Ela colocou um livro sobre minha coxa enquanto sentava ao meu lado. — Vim te dar isso.

Peguei o livro com o título "Na Ponta dos Dedos".

— Lembra aquele filme que te indiquei? — perguntou ela, mas já tinha me indicado tantos. — A criada.

— Como esquecer?

— Eu não fazia idéia de que era originário de um livro. — Ela bateu as pontas do dedos sobre a capa. — Este!

Meus olhos brilharam. Eu também não fazia idéia.

Victoria costumava ser minha fonte de informações e indicações de livros, filmes e séries com temática LGBTQIA+.

— Obrigada — agradeci, ainda olhando a capa.

— Não quer me falar nada? — questionou, claramente me analisando.

— Quê? Como assim?

— Sobre o encontro de ontem a noite.

— Não foi um encontro! Eu não tenho interesse no professor.

— Ok — Ela cruzou os braços e as pernas, enquanto movia o pé freneticamente. — Er... Você sabe sobre a médica nova?

— Veio fofocar, dona Victoria?

— Sabe ou não?

— O que tem ela?

— Já se falaram?

— Por que a pergunta?

— Foi ao café outro dia e eu adorei ela. — Minha amiga se ajeitou no sofá. — Disse que te conhece. — Ela sorriu me olhando e arqueei as sobrancelhas, não entendendo aquela cara. — Você devia se aproximar.

— Por quê?

— Não está interessada no professor, então vai que a médica... — Ela riu enquanto eu batia em sua perna. — O quê? Não tem muitas opções nessa cidade.

— Não estou disponível no mercado, ok? Estou solteira, mas pretendo continuar assim. E digo mais, até onde sei sou hétero!

— Me recuso a ouvir isso — Ela ameaçou levantar, mas puxei de volta fazendo com que sentasse.

— Para Vic!

— Você sabe que na sua idade eu também evitei muito me jogar de verdade em uma relação, né? Isso quase me fez perder o cara que amo.

— Tá, mas eu não tenho um melhor amigo de infância lindo, que goste de mim. — Bufei. — Tudo isso porque tem um cara e uma mulher nova na cidade? Por Deus, não estou desesperada.

— Eu estou louca para te ver desencalhar! — Ela riu enquanto eu revirava os olhos. — Mas não é só isso.

Analisei sua expressão e observei ela se curvando em minha direção.

— Eu não queria dizer nada sem ter certeza, mas acho que ela gostou de você. Tipo muito! E de um jeito meio daquele jeito que você sabe.

— O quê? Como sabe? Como assim?

— Ela disse que te acha fofa.

— Fofa? — Fiz uma careta.

— Claramente para não dizer outra coisa.

— Victoria, já chega! Não quero mais ouvir nada. Você veio aqui encher meus ouvidos e minha cabeça.

— Preciso ir — disse levantando em um salto. — Thom vai fazer um jantar romântico hoje.

— Parabéns pra vocês — falei ainda chateada.

— Ei, não fique chateada! Só falei a verdade.

Me mantive emburrada, com os braços cruzados. Ela inclinou-se rapidamente e beijou minha bochecha antes de sair.

— Tranque sua porta! — gritou enquanto saía.

Balancei a cabeça afastando pensamentos, logo depois levantei, indo trancar a porta antes de seguir até a cozinha para preparar meu jantar.

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Comments

Carvalho

Carvalho

aham. eu também era

2023-06-04

0

Carvalho

Carvalho

a parte mais importante nada? ..... como ele sabia onde ela morava?????

2023-06-04

0

sua crush? ~ ♀️🔞

sua crush? ~ ♀️🔞

flex

2023-04-29

0

Ver todos

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