Capítulo 08

Um pouco mais de oito a noite uma batida na porta me assustou. Eu terminei de jogar as roupas de volta ao guarda-roupas e segui até a sala onde depois de contar mentalmente até três, abri a porta me deparando com Tália segurando uma sacola em uma mão e na outra estava a garrafa de vinho que levantou, balançando, com um sorriso.

Eu sorri de volta e até esqueci de dar passagem na hora. Ela franziu o cenho perguntando se não ia convidar e eu sorri em graça abrindo caminho.

Tália seguiu direto até a mesa e eu acompanhei com os olhos seus movimentos naquela calça moletom que ela conseguia preencher perfeitamente.

O que estou fazendo? Balancei a cabeça afastando pensamentos sobre o corpo da médica e logo depois fechei a porta.

— Nós temos um gosto tão parecido que arrisquei trazer o jantar sem perguntar antes — dizia retirando as embalagens. — Tchanã!

— Isso é... — Observei mais de perto. — Risoto de carne com...

— Cogumelo — concluiu. — Pedi no Lagosta. Eles fazem entrega durante a semana. Achei o máximo! — Ela me olhou parecendo preocupada. — Não gosta?

— É claro que gosto! Tudo do Lagosta é uma delícia. — Sorri e ela fez o mesmo, parecendo relaxar.

Rapidamente fui pegar os pratos e pedi que ela pegasse as taças no armário. Juntas organizamos tudo encima da mesa nos servindo e por fim sentamos, pegamos as taças onde ela já havia servido o vindo e brindamos.

— Bom apetite! — disse ela ao bater sua taça na minha.

Eu observei enquanto Tália tomava o vinho, me perguntando como cheguei naquele ponto de me encantar com cada gesto de alguém.

Será que foi o selinho?

Tália teria algum tipo de encanto que me enfeitiçou quando seus lábios tocaram os meus?

Até a forma que ela segurava o talher parecia mais bonito que qualquer outra pessoa. E como ela sorria sem mostrar os dentes, entre uma palavra e outra de uma frase que eu sequer estava entendendo por estar muito ocupada analisando seus gestos encantadores.

O que estou fazendo? Nesse ritmo Tália vai perceber minhas intenções antes que eu possa analisar as dela.

— ...e gostei bastante — concluiu antes de tomar mais do vinho.

— É, eu também, também gosto muito do Lagosta.

— Lagosta? Você tá viajando Luiza? — Ela riu. — Estava falando da Victoria, do café.

— Sim! — Bati em minha testa. — Foi isso que quis dizer também.

Tentei me concentrar, senão ia ficar parecendo uma total idiota.

Sem dúvida a comida estava uma delícia, mas o vinho parecia estar ainda melhor porque eu não parava de encher a taça enquanto conversávamos.

Eu tentava encontrar algum sinal da parte dela, assim como Thomas mencionou. Até que em determinado momento, em meio a uma conversa sobre gatos, estiquei a mão para pegar a garrafa exatamente na hora que ela fez o mesmo e sua mão tocou minha.

Eu quase pude sentir aquela eletricidade mencionada nos livros de romance, sempre que o casal se toca.

Talvez eu seja muito emocionada devido a grande quantidade de romance consumido ao longo dos anos.

Eu não fazia idéia que um dia acabaria caindo naquela armadilha mental, onde tudo parecia mágico aos olhos da protagonista.

Rapidamente olhei para Tália que sorriu afastando a mão.

— Posso ir ao banheiro? — perguntou e confirmei.

Enquanto isso retirei a louça da mesa e mesmo que quando ela voltou tenha se oferecido para lavar, recusei afinal pagou o jantar, então enchemos novamente nossas taças e fomos para a sala onde sentamos no chão mesmo, apoiando nossas costas no sofá.

— Obrigada por hoje, por me fazer companhia — disse ela.

— Foi divertido — falei observando a taça em minha mão.

— Essa semana vou ver uma casa, se tudo der certo me mudo logo logo.

— Já? — Olhei rapidamente para ela que confirmou. — Quero dizer, que bom.

— Sim, uma amiga me ajudou com isso, então...

— Amiga? Pensei que não conhecia ninguém aqui.

— Bem, na verdade... — Ela baixou o rosto dando um sorriso. — É alguém que estou conhecendo melhor.

Entender aquela frase foi como um soco em meu estômago.

— C-omo? Quero dizer, você mal chegou na cidade. Nossa, que rápido. — Forcei um sorriso. — Digo, não estou dizendo que você....

— Tudo bem! — Ela sorriu tocando em meu ombro. — Na verdade nos conhecemos há um bom tempo. Ela é de Lírio e trabalha no hospital como enfermeira. Nos reencontramos e agora estamos vendo no que dá.

Eu não esperava ir de um extremo a outro tão rápido. Em um momento estava vivenciando toda a loucura da descoberta de uma paixão, para logo em seguida a sensação horrível de uma decepção.

Tudo bem, foi prematuro, não chegava  a ser uma grande paixão e nem uma grande decepção, mas por algum motivo eu me sentia desanimada ao ponto de nem conseguir mais sorrir verdadeiramente diante dela, mesmo que estivesse falando sobre o ronco do hóspede do quarto ao lado, na pensão.

— Bom, acho melhor te deixar descansar, amanhã temos trabalho. — Ela deixou taça sobre mesa de centro  levantando primeiro e quando eu fiz o mesmo me desequilibrei.

Suas mãos vieram rapidamente para meus ombros, mas me afastei rapidamente.

— Acho que bebeu vinho demais — comentou enquanto eu ia na frente, levando ela até a porta.

— Não estou tão ruim assim — falei, contando os segundos para que ela fosse embora logo para poder expressar toda minha decepção comigo mesma.

Tália me desejou boa noite e saiu. Eu ainda observei ela descendo a escada antes de fechar a porta e me encostar na mesma, fechando os olhos.

Como pude esquecer aquela bonitona com quem ela saiu outro dia?

Por sorte minha consciência sobre meu interesse por ela durou apenas meio dia.

Não é tarde para superar.

Lavei a louça, organizei tudo para sair de manhã cedo e após vestir meu pijama fui deitar.

Meus pensamentos ficaram rondando e eu rolando na cama tentando dormir, até que ao observar a porta notei que deixei a cortina da janela da sala aberta, por isso a claridade da rua entrava um pouco, mas isso não era problema. Não até eu ver um vulto passando em direção a lavanderia. Me perguntei se estava vendo coisa, mas o barulho vindo de lá deixou claro que sim, eu ouvi alguma coisa.

Com meu coração saindo pela boca e tremendo, peguei o celular na mesa de cabeceira, me perguntando pra quem ligar.

A polícia? E e fosse um fantasma? Ia alarmar a rua toda a troco de nada.

Meus pais ainda não tinham voltado de viagem, eles prolongaram até a quarta-feira. E de qualquer forma eu preferia não alarma-los.

Respirando fundo, com o cobertor cobrindo até a cabeça, e liguei para pessoa que estava mais perto.

Tália atendeu no terceiro toque, com  voz tão rouca que quase não reconheci.

— Por favor me ajuda, acho que tem alguém ou alguma coisa aqui — cochichei, mas não obtive resposta. — Ai Deus! Tália?

Lamentei fechando os olhos, ouvindo só um barulho do outro lado da linha, até cair a ligação.

Eu estava toda me tremendo e assim permaneci até batidas na porta me fazer saltar na cama.

— Luiza? — gritou Tália, quase derrubando a porta. — Luiza abre essa porta agora. A polícia já está a caminho.

Rapidamente liguei a luz do abajur e mesmo com medo acendi a luz do quarto. Observei antes de correr até a sala e ligar a luz. Abri  porta sem nem olhar, observando a casa vazia.

— O que aconteceu? — Tália entrou olhando para os lados, logo depois segurou em meus ombros me analisando. — Você tá bem?

— Talvez eu tenha ficado louca.

Contei que vi um vulto e enquanto isso ela seguia até o banheiro verificando na lavanderia, onde observei que não estava trancada, mas eu lembrava ter trancado antes de deitar.

— Então realmente alguém entrou aqui — disse ela trancando a porta. — A polícia vai analisar a situação.

— Não quero a polícia na minha porta — lamentei pensando no quanto meus pais iam ficar preocupados e ainda mais super protetores.

— Como vai conseguir dormir a noite sabendo que alguém entrou na sua casa e essa pessoa está a solta por aí?

Fechei os olhos, trazendo as mãos ao rosto e fui surpreendida pelo abraço de Tália.

— Não quero mesmo que meus pais se preocupem.

— Ei eu não chamei realmente a polícia, na verdade só estava exagerando para botar medo caso tivesse alguém aqui. Se quiser posso dormir com você hoje. — Ela afastou-se ainda segurando minhas mãos e eu não tInha como recusar. — Mas amanhã você tem que mudar todas as fechaduras e mandar instalar a grade lá atrás.

No fim daquele dia longo e louco, eu estava deitada encolhida, consciente de Tália ao meu lado na cama. Cada movimento dela fazia meu coração tamborilar e assim quase não consegui dormir, juntando o medo e o nervosismo pelo ocorrido e a presença dela alí.

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Comments

Silvia Galdino

Silvia Galdino

Pensei que ia rolar.
ansiosa

2023-02-25

2

Sammy

Sammy

MAIS!!!

2023-02-21

1

Cleidiane Oliveira

Cleidiane Oliveira

quero mais

2023-02-21

2

Ver todos

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