Eu não sabia que precisava tanto conversar com Victoria, até expor tudo o que aconteceu nos últimos dias e como estava me sentindo em relação isso. Ela claro, achou um absurdo que eu tenha demorado tanto a dizer e mais absurdo ainda ter convidado Tália para ficar em minha casa mesmo sabendo que ela estava saindo com a enfermeira.
— Mas eu realmente pensei que não seria nada demais — falei observando as folhas da árvore balançando com o vento, enquanto mantinha a cabeça na perna de minha amiga.
Com as costas apoiadas na árvore, ela comia um morango, me ouvindo com atenção antes de dar uma resposta.
— Lu, não fomos melhores amigas na infância ou adolescência, tanto porque sou mais velha quanto porque o Thomas quem sempre foi a única pessoa com quem não desgrudava dentro e fora da escola, mas cá entre nós, eu te conheço desde sempre porque essa cidade é um ovo, sei todas as suas experiências amorosas bem antes de me contar. Ao todo foram três, o menino no fim do ensino médio, que agora trabalha no Porto. Aquele outro que era garçom no Lagosta e depois foi...
— O que fazia curso comigo em Lírio.
— Nenhum foi propriamente um namoro, não durou nem dois meses direito. O que quero dizer é que, você não tem tanto conhecimento assim sobre os próprios sentimentos porque nunca viveu nada intenso o suficiente. Você sempre tá estudando e lendo. Eu sei porquê também era assim, vivia para meu trabalho e livros, me permitindo entrar em relacionamentos que não tinham nada a ver comigo justamente por não me reconhecer realmente.
— Tem razão. É a minha primeira vez gostando de uma mulher, devia ter sido mais cuidadosa quanto a isso.
— É bonitinho que você assuma isso em voz alta. Achei que nunca ouviria.
— É estranho porque também achei que nunca diria.
— Quando conversávamos e eu te indicava livros e séries para se inspirar e escrever seus e-books, sempre dizia que era só um robbie, que não tinha nada ver com a própria sexualidade, mas nós duas sabíamos que tinha sim!
— Todo o conhecimento me ajudou a lidar com isso agora. Caso contrário eu estaria surtando com medo dos meus sentimentos, isso além de ter que lidar com a frustração.
— Eu queria poder dizer pra você se declarar pra ela, mas acho que não é o caso.
Levantei, sentando de frente para Vic.
— Também não posso manda-la embora. — Nós duas sorrimos confirmando. — Não se preocupa, vou lidar com isso. Só precisava desabafar mesmo.
...(...)...
Na volta passei na casa dos meus pais.
Como meu pai foi pescar, mamãe estava sozinha, então aproveitei para usar isso como desculpa para mim mesma. Fiquei por lá até a hora do jantar e fui embora apenas a noite, chegando em casa quando já podia ir direto pra cama dormir, para não falar muito com Tália.
Na segunda-feira, mesmo não tendo trabalho durante a tarde fiquei estudando na biblioteca da cidade. Ao menos para isso aquele lugar servia. Assim a semana foi passando, comigo sempre ocupada demais e supostamente cansada o suficiente para dormir cedo, evitando passar muito tempo com Tália.
Na sexta-feira enquanto saía da escola durante a tarde, uma buzina me assustou. Era Petrus. Já fazia um tempo desde que ele tentou uma aproximação.
— Entra, te levo em casa — disse ele.
— Obrigada, mas...
— Quero falar com você.
Olhei ao redor antes de finalmente entrar no carro. Seguimos em silêncio, algo bem incomodo por sinal. Apenas quando estacionou na esquina da minha rua, desligou o carro e virou um pouco pra mim.
— Entendi o que quis dizer da última vez — disse ele. — Cheguei a conclusão de que talvez eu tenha me aproximado da maneira errada, por isso decidi te dar espaço, mas acho que é hora de ser sincero. Quero muito que me dê a chance de te conhecer melhor e que me conheça também.
Desviei o olhar observando lá fora, enquanto pensava no que dizer. Eu não estava preparada para lidar com aquilo.
— Desde a primeira vez que te vi naquela sala dos professores percebi que você é diferente — continuou. — Seu olhar é diferente. O jeito que sorrir. Realmente quero te conhecer melhor.
Eu ainda mantinha o olhar além parabrisa, quando de repente tocou minha mão e olhei rapidamente em seus olhos.
— Só quero uma chance — disse.
Me perguntei quantas pessoas gostariam de estar em meu lugar naquele momento. E se seria a chance de tentar tirar Tália de meus pensamentos.
— Será que posso pensar? — perguntei e ele sorriu.
— Te dou todo tempo do mundo.
Eu apenas agradeci a carona e saí do carro.
Passei rapidamente na frente da quitanda, vendo que tia Lena estava com freguês. Quando coloquei os pés nos degraus da escada avistei Tália encostada na grade lá encima.
Ela não costumava chegar tão cedo assim.
— Chegou cedo — comentei me aproximando e ao vê-la melhor, algo que chamou minha atenção. — O que aconteceu?
O canto de sua boca estava machucado e inchado.
— Vamos entrar — disse ela.
Seguimos para dentro, onde larguei minhas coisas encima da mesa, indo direto até a geladeira pegar uma compressa.
— Não precisa — disse ela.
— Claro que precisa! — falei me aproximando dela que apoiou-se na ponta da mesa.
Devagar encostei a compressa e ela estremeceu. Seus dedos tocaram os meus e rapidamente soltei o objeto, permitindo que segurasse.
— Pareço uma louca arruaceira. — Ela riu, mas logo gemeu de dor.
— Vai dizer o que aconteceu?
— Agi por impulso, no calor do momento — disse ela baixando a cabeça. — Eu nunca fiz essas coisas, nem mesmo durante a adolescência, mas... Ela foi agressiva primeiro. E disse coisas nojentas.
— Você estava brigando na rua, Tália? — Senti uma breve vontade de rir, mas me mantive séria.
— Foi na lanchonete em frente ao hospital. Ela era mais ou menos da minha idade.
— E vocês caíram no tapa?
Nos olhamos, ambas sérias, mas rimos logo em seguida.
— Odeio violência, mas como disse, ela começou e eu não ia deixar que ficasse nos insultando.
— O que disseram?
— Deixa pra lá.
— Por favor, fala — pedi.
— Insinuou que você está indo pra cama comigo e o professor.
Estava demorando começarem as fofocas do tipo.
— Mas não estou.
— Mas eu não gostei! Ela te chamou de prostituta. Mesmo que não seja, ou até mesmo se fosse, isso não está certo! Quem essas pessoas pensam que são para ficar julgando alguém? Eu não ia ficar calada, pedi respeito, ela começou com grosseria e agressividade. Apenas revidei.
— Eu entendo.
Ficamos em silêncio por um tempo.
— Você e o professor estão mesmo saindo, agora?
— Não! Quero dizer... — Pensei antes de contar, mas não tinha porquê esconder. — Ele me pediu uma chance e fiquei de pensar.
— Sente alguma coisa por ele?
— Não! Quero dizer... Talvez — menti.
— Faz o que seu coração mandar.
Por que o coração dela tinha que manda-la justo para os braços daquela enfermeira?
— Meu coração é meio burro — falei me afastando para ir pegar minhas coisas sobre a mesa, mas ela tocou em meu braço me fazendo parar.
— Eu não queria comentar nada, mas desde domingo tenho a sensação de que está me evitando.
— Não! — falei rapidamente. — Por que estaria? Quero dizer, não tenho motivos.
— Tem certeza? Não ficou chateada por eu ter contado pra Alice sobre o que aconteceu? Seja sincera.
Mordi o interior de minha boca enquanto me perguntava como não ser sincera.
Viver escondendo sentimentos parecia algo capaz de me sufocar pouco a pouco.
— É, eu fiquei chateada, mas não por causa disso. — Meu coração quase saia pela boca apenas por pensar em dizer alguma coisa. Eu não conseguiria ser tão sincera naquele momento. — Você não me avisou que ela ia, me senti segurando vela.
— Não era minha intenção. Eu não imaginava que havia se sentido esse forma.
— É, não tem como você saber como me sinto. E isso é bobagem, então vamos esquecer.
Saí em direção ao quarto onde assim que fechei a porta me encostei na mesma, fechando os olhos, tentando acalmar meu peito que parecia prestes a explodir.
Deixando meus dramas de lado e tentando manter nossa amizade como sempre foi, aproveitamos o fim de semana para ir até Lírio comprar a roupa que usaríamos no casamento de Thomas e Victoria.
Como sempre foi bom passar um tempo fazendo compras com ela.
No fim passamos naquela mesma sorveteria.
Por sorte Petrus não apareceu de surpresa, então nós voltamos de ônibus mesmo. Tália estava tão cansada que cochilou durante o percurso.
Sorri observando sua cabeça tombando, até que parou exatamente em meu ombro. Como sempre meu coração respondeu, mas eu apenas ajeitei ela alí e tentei não me abalar muito, permitindo que dormisse até que chegassemos a Irenoi.
O cheiro dela é tão bom.
Eu podia apostar que o toque e o beijo eram ainda melhores. Sorri com o pensamento, exatamente quando ela pareceu acordar.
Virei o rosto exatamente quando Tália levantou a cabeça. Nos olhamos, mas nenhuma esboçou reação. Foi um momento estranho que me deixou muito nervosa, mas um quebra molas a fez sair daquela espécie de transe.
— Estamos chegando — avisei tentando quebrar o clima.
...(...)...
Durante a noite decidimos fazer o jantar juntas.
Mesmo sendo super organizada, Tália conseguia fazer uma bagunça na cozinha, por isso acabei sendo quem limpa e não quem cozinha.
— Vem cá — chamou ela segurando uma colher com molho. — É minha primeira vez tentando, então...
Me aproximei e assim que a colher tocou meus lábios senti queimar.
— Desculpa, desculpa — repetiu indo pegar água.
— Eu devia ter assoprado — falei abanando minha boca, até ela me entregar o copo e eu tomar.
Nos olhamos e sorrimos.
— Adoro morar com você — confessou de repente. — É a primeira vez que faço coisas assim com alguém. Sempre fui só eu. Estou ficando mal costumada.
Eu queira poder dizer que por mim ela ficaria pra sempre.
— É minha primeira vez também.
Ela riu.
— Isso soa engraçado.
— Como perder a virgindade? — Nós rimos.
— Olha a panela pra mim? Vou só no banheiro.
Tália saiu e suspirei fechando os olhos.
Como superar?
Notei o celular dela vibrando sobre a mesa. Ao me aproximar um pouco avistei o nome de Alice.
E o que eu temia aconteceu, a enfermeira a chamou para sair.
— Juro, eu queria muito ficar, mas é que preciso mesmo encontra-la — dizia Tália, já terminando de calçar o sapato enquanto ia até a porta.
— Tudo bem! — Sorri tentando ser o mais convincente possível e ela mandou beijo no ar antes de sair.
Pela primeira vez lamentei estar sozinha num sábado à noite. Não sentia vontade de comer, por isso apenas guardei a comida que fizemos e depois me joguei no sofá, com o celular em mãos, me perguntando se devia ou não mandar mensagem para o Petrus.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 25
Comments
Carvalho
vai fazer burrice... nam mulher
2023-06-04
0
sua crush? ~ ♀️🔞
ooh Muié tu sofrendo e ainda diz isso
2023-04-29
0
sua crush? ~ ♀️🔞
se faz ela, n tô curtindo isso 😭
2023-04-29
0