Acordei na manhã seguinte ouvindo sons vindo da cozinha. Me espreguicei na cama e automaticamente sorri lembrando que adormeci abraçada a Tália. Levantei e antes de sair do quarto tentei arrumar meus cabelos, para não aparecer tão assustadora na frente dela que, chegando na cozinha, encontrei fazendo o café.
— Acordou? — disse virando para mim, dando um sorriso encantador.
— Você não devia estar... — pigarrei tentando melhorar a voz. — Não devia estar dormindo na sua folga?
— Acordei no mesmo horário de sempre, então não custava nada fazer o café.
Sorri confirmando antes de ir para o banheiro.
Tomamos café juntas e fui trabalhar.
Meu humor estava tão bom que eu praticamente não vi problema em nada do que geralmente me incomoda. Nem mesmo a professora Stefany fofocando na sala dos professores foi capaz de me irritar.
Eu estava ignorando completamente as preocupações. Tentando esquecer que Tália estava prestes a ir embora, e que o professor Petrus me deu, ou melhor, roubou um selinho na noite anterior, mas essa parte eu lembrei assim que coloquei os pés fora da escola e ele buzinou. Eu queria fingir que não ouvi, mas ele estava bem em meu campo de visão.
— Entra, te levo — falou se esticando para abrir a porta.
Queria recusar, mas não consegui pensar em uma boa desculpa, por isso apenas entrei.
Durante o caminho eu pensava no que Victoria me disse e em como me sentia.
Não tinha mais volta, só o tempo para me fazer superar aquele sentimento por Tália, não um novo relacionamento. Por isso busquei coragem para conseguir dizer ao professor, que não estava aberta a uma relação.
Quando o carro parou na esquina, respirei fundo antes de iniciar a conversa.
— Petrus, eu preciso... Preciso dizer algo. — Buscava as palavras certas para usar, quando um fungado chamou minha atenção.
Ele estava chorando?
— Perdão — disse o homem, rapidamente passando as costas da mão no rosto.
— Algum problema?
— Não quero incomodá-la com meus problemas, mas é que está sendo difícil o dia de hoje. Como pode ver, sequer consegui dar minha aula da tarde, decidi te dar carona porque sua presença me acalma. — Ele falava com cabeça baixa, fungando. — Recebi a notícia de que minha mãe tem câncer em estado terminal.
— Oh meu Deus, eu sinto muito — falei levando uma mão até seu ombro.
Não tinha como dizer nada a alguém passando por uma situação daquelas. Se eu tivesse tocado no assunto antes teria me sentido horrível.
Não havia clima.
Tentei conforta-lo como pude, até finalmente vê-lo se recompor e nos despedirmos.
Tia Lena estava na porta da quitanda quando saí do veículo. Seu cumprimento acompanhado de um sorriso sem questionamentos deixava claro que ela já tinha uma opinião formada e seria o que espalharia para seus amigos e fregueses, mas ignorei o pensamento enquanto subia para casa.
Eu estava prestes a abrir a porta quando Tália saiu de repente e como quase nos chocamos acabamos rindo por um momento, antes dela dizer que estava indo resolver sobre a compra da casa e meu sorriso evaporar.
Nos dias seguintes não vi Petrus na escola. Ao menos tinha tempo para pensar em como dispensa-lo.
Na quarta-feira eu estava em sala, mais especificamente juntando o material usado na aula de pintura, quando senti meu celular vibrar em meu bolso. Só atendi porque vi ser minha mãe.
— Filha, vem até o hospital — disse ela.
— Qual o problema?
— Só vem, quando chegar aqui você fica sabendo.
Por sorte a professora, que vivia faltando, estava presente e pude sair antes do fim do turno.
Aparentemente era uma emergência, afinal minha mãe não costumava me ligar na hora da aula pedindo para encontrá-la justo no hospital. Minha cabeça imaginava logo mil coisas, mas tentei manter o pensamento positivo.
Assim que cheguei procurei por ela e não demorei a avista-la.
— O que aconteceu? — fui logo perguntando.
— Só te chamei porque ela não tem ninguém na cidade e vocês vivem juntas. Além do mais que Alice não apareceu hoje e...
— Mãe! — Segurei no braço dela. — Pelo amor de Deus, diz o que aconteceu.
— Tália quase foi atropelada — disse. Nessa altura eu já estava uma pilha de nervos. — Não foi nada demais, ela conseguiu desviar do veículo, mas a queda rendeu uma lesão no braço, ela está meio dolorida, mas já foi medicada...
— Cadê ela?
Seguimos até onde encontrei Tália sentada em uma maca, rindo enquanto conversava com uma enfermeira. Respirei aliviada, mesmo assim me partia o coração ver seu braço engessado e o ferimento na testa, onde a enfermeira fazia curativo.
— O que faz aqui? — perguntou ao ver minha aproximação.
— Ainda pergunta? — Suspirei me encostando na maca. — Como isso aconteceu?
— Não faço ideia, eu estava na calçada quando ouvi o som do carro e quando virei levei um grande susto. Só tive tempo de me jogar para o lado.
— Ele ficou para te socorrer?
— Que nada, acelerou e foi embora.
— Que desgraçado! Sabe a placa? Não tinha testemunhas? — Ela negou.
— Parece coisa de gente ruim — comentou minha mãe, que eu nem lembrava estar por perto. — Agora a doutora vai ficar uns dias afastada.
— Perfeito — falou Tália antes de respirar fundo.
— Eu cuido de você — falei tocando em seu ombro e sorri quando me olhou, claramente com pesar.
Estava claro que ela não conseguia viver sem trabalho.
Minha mãe pigarreou de repente e me chamou para conversar lá fora.
— Você e essa mulher ficam com essas trocas de olhares e depois vem me dizer que não tem nada? Depois não quer que as pessoas falem.
— Que troca de olhares, mãe? Que loucura!
— Quer me fazer passar por louca por dizer uma coisa óbvia, Luiza? Eu sabia minha filha, você ia acabar indo pra esse lado.
Eu ri.
— Que lado mãe? Para com isso, tá?
— Não se faz de sonsa. Tanto você quanto ela não estão conseguindo esconder. Agora vai, leva ela pra casa e não esquece os remédios para dor.
Tália estava ótima, à primeira vista, tirando o braço quebrado e aquele curativo na testa, mas a verdade é que ela estava sob feito dos remédios, por isso até chegarmos em casa dava para rir um pouco, sentadas no banco de trás do táxi que mamãe chamou para nós.
Assim que chegamos, concluímos que ela precisava trocar de roupa. E eu teria a difícil missão de ajudá-la.
Tália estava e costas para mim. Primeiro ajudei a retirar a blusa, logo depois o sutiã. E eu teria ficado maravilhada com aquele corpo lindo se não tivesse avistado as marcas roxas na lateral esquerda, assim que ela desceu um pouco a calça. Meus dedos foram automaticamente até a região, onde contornei devagar. Ela ficou parada, exatamente como estava, enquanto me atrevia a toca-la sem pensar se estaria indo longe demais. Senti necessidade de toca-la e agi por impulso.
— Tá doendo? — perguntei afastando minha mão ela virou ficando de lado, me olhando por trás da fenda de cabelos que caia em seu rosto.
— Luiza, eu... — Esperei até que concluísse a frase, mas ela apenas baixou a cabeça.
— Maldito seja quem fez isso com você.
— Tudo bem, não está doendo. — Ela forçou um sorriso voltando a ficar de costas, pegando a blusa do pijama no guarda-roupas.
Naquela tarde infelizmente eu ia substituir uma professora, por isso deixei tudo a seu alcance sobre a mesinha de centro e saí, mesmo com o coração apertado por deixá-la sozinha daquele jeito.
Meu pensamento ficou nela e eu devo ter ligado umas quatro vezes até finalmente poder correr de volta para casa, onde assim que entrei avistei minha mãe que tinha ido deixar nosso jantar. Eu nem acreditei no que via, afinal ainda era cedo para pensar em jantar. Ela claramente estava preocupada com Tália.
Os dias seguintes eu saía, mas meu pensamento ficava em casa. Sempre fazendo o máximo para deixá-la confortável.
No sábado pela manhã ela estava mais chateada que nunca, afinal já era dia do casamento de Thomas e Victoria e segundo suas palavras o gesso no braço ia estragar o vestido que tinha comprado.
— Você fica linda de qualquer jeito — comentei ajudando a fechar o zíper.
E de fato ela estava maravilhosa.
Olhando daquele ângulo eu só queria poder abraça-la e beijar-lhe a nuca que estava exposta. Eu mesma fiz o coque em seus cabelos e também a leve maquiagem.
Confesso que os últimos três dias foram como uma verdadeira prova de fogo. Se sobrevivi a eles eu sobreviveria a qualquer coisa, pois tê-la daquela forma tão próxima e não poder expressar tudo o que sentia era de um nível de dificuldade inimaginável.
— Você tá linda — repeti enquanto ela ficava de frente para mim.
— Graças a você, porque se dependesse de mim e disso... Ai droga. — gemeu ao fazer um movimento com o braço.
— Ei, cuidado, doutora! Você mais que ninguém deveria estar consciente dos cuidados com isso aí, né?
— Acontece que minha experiência nunca foi assim na prática. — Nós duas sorrimos. — Não comentei com você, mas comprei um presente para os noivos e vamos entregar juntas.
— Meu Deus, não acredito que esqueci de comprar um presente! Eles fizeram tudo tão às pressas que acabei ficando perdida.
— Imaginei que você tinha uma cabeça avoada o suficiente para esquecer, por isso comprei.
— Por que não me disse nada?
— Para fazer surpresa. — Ela sorriu virando, vasculhou o guarda-roupas e de lá retirou um envelope que logo me entregou.
— Os noivos são eles — falei abrindo o envelope de onde retirei duas passagens para Fernando de Noronha. — Sério isso? — Ela sorria confirmando. — Meu Deus, isso é incrível!
— Já que o convite tinha nosso nome, vamos entregar juntas.
— Não posso levar o crédito assim...
— Para de besteira, claro que pode!
— Que sonho. — Sorri toda boba imaginando meus amigos curtindo a vida de recém casados em Noronha. — Vou te pagar ao menos uma passagem.
— Não precisa, Lu.
— Claro que precisa, Tália! Esse dinheiro você com certeza tirou das economias que guarda para realizar seus sonhos.
— Luiza entenda, não tem preço imaginar aqueles dois curtindo a lua de mel juntos. Eu falei com a Victoria e sei que eles não planejaram nada além da simples recepção, porque passaram os últimos anos investindo no café.
— Você é perfeita — falei simplesmente, mas minha vontade era abraça-la.
Pela milésima vez eu me apaixonava por Tália.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Carvalho
aposto q foi o Petrus
2023-06-04
1
A.Maysa
pelo amor de deus se beijem logo, tô ficando louca com essas duas
2023-02-27
1
Cleidiane Oliveira
quero mais.
2023-02-25
1