Capítulo 16

Victoria e Thomas estavam lindos, tanto na aparência quanto no semblante de felicidade.

O café estava todo decorado, tudo obra da mãe da Vic. Ela arrasou.

Além da família de minha amiga, estavam o casal de irmãos do Thomas, mas a mãe dele não apareceu. Também tinham algumas amigas próximas do casal que chegou junto, sem muito drama ou suspense. Ambos atrasados, por sinal.  A juíza que realizaria a cerimônia já tinha chegado a bastante tempo, bem antes de mim e Tália.

Por falar em Tália, como estava maravilhosa. Eu só conseguia pensar isso sempre que olhava para ela. Nem mesmo aquele gesso foi capaz de ofuscar seu brilho.

Não seria um casamento se não tivesse algumas lágrimas, que derramei durante os votos do casal. Eu sabia não ser possível mensurar a felicidade daqueles dois, principalmente de Thomas, que amou a Vic desde sempre, mas por muito tempo em segredo. Ele esteve com ela desde o início de sua vida amorosa e muitas vezes tentou seguir em frente, mas não foi possível esquecer ou superar aquele amor. Eu sentia inveja sempre que pensava sobre como Thomas se sentiu quando Victoria finalmente se deu conta dos próprios sentimentos.

Funguei sentindo a lágrima descer por meu rosto, mas tentei me recompor.

Os noivos se beijavam e todos aplaudiram.

— Toma. — Tália surgiu ao meu lado me entregando um lenço. — Trouxe por precaução. — Quando olhei para ela vi que estava no mesmo estado que eu, então estiquei a mão e sequei o canto de seu olho. Nós duas rimos, logo em seguida sequei minhas lágrimas.

Depois da curta cerimônia, os noivos cortaram o bolo e tomaram champanhe entrelaçando os braços, protagonizando uma cena clichê.

— Estou tão feliz — disse Victoria me abraçando enquanto Tália atacava os bem-casados, logo atrás de mim.

Aproveitamos para dar nosso presente e o casal custou acreditar ser verdade. Foi bonitinho como se abraçaram e se beijaram depois de nos agradecer mil vezes.

— Espera, eu também tenho um presente para vocês — anunciou Vic indo pegar o buquê, que antes havia deixado sobre a mesa.

Eu arregalei os olhos ao vê-la com aquilo na mão vindo em minha direção, mas ao invés de me entregar, ela o entregou para Tália que ficou tão confusa quanto eu.

— O-obrigada? — Ela sorriu sem graça. — Eu nem sei o que dizer. É minha primeira vez pegando um buquê.

— Ganhando, na verdade — falei e nós quatro rimos.

— Agora só depende de vocês — disse Thomas antes de segurar a mão de Victoria que piscou para mim e os dois saíram, me deixando completamente sem graça.

Nós dávamos um presente daqueles e em troca eles me aprontavam uma dessas?

Como olhar para Tália? Eu estava totalmente envergonhada.

— Não entendi muito bem, mas... — falou ela que balançava o buquê. — Acho que é um buquê para nós duas. — Confirmei, forçando um sorriso. — Uma de nós vai casar primeiro, talvez.

— É, talvez a Alice... — Nem continuei a frase, me arrependi por ter tocado naquele nome.

— Nós terminamos — falou Tália rapidamente, me surpreendendo. — Na verdade nem começamos direito, mas percebi que não era o que realmente queria.

Eu praticamente lutei com meus próprios lábios que claramente desejavam se curvar em um sorriso. Parecia que um grande peso havia saído de meu peito. Uma sensação de alívio exagerada eu diria.

Desde quando? Eu havia ficado todo aquele tempo me torturando por achar que ela estava em uma relação quando na verdade estava livre? Eu poderia ter me declarado de uma vez e... Não! Correria o risco de ter estragado tudo caso ela não quisesse nada comigo. Ainda mais naquele estado, quando dependia de minha ajuda.

Imagine o quão estranho seria se ela me dispensasse.

— Meninas, venham! — gritou Thomas quando uma música começou a tocar.

— Meu Deus — falou Tália. — Essa música é...

— Tema do filme Footloose, a favorita deles — contei.

— Isso é muito antigo. — Ela riu.

— Eles amam isso desde a infância.

— Eles não vão... — Nós duas observamos o casal que começou a fazer os passos em meio ao café, do jeitinho que só eles mesmo conseguiam porque lembravam muito bem depois de verem o filme um milhão de vezes.

Victoria nos chamou e assim como os outros fizemos nossos passos de dança improvisados. O pior é que havia um fotógrafo contratado que estava registrando tudo, então era melhor nem pensar muito em como aquilo iria parecer futuramente.

Tália, claro, não podia exagerar, mas eu dancei por ela que ria me vendo girando ao seu redor.

Foi a festa de casamento mais divertida da história de Irenoi. Os fofoqueiros até passavam na frente do café só para tentar ver alguma coisa através do janelão.

— Não é engraçado como quem é julgado, no fim das contas, é mais feliz do que quem perde tempo julgando? — comentou Tália enquanto subiamos os degraus da escada de casa.

— O que te fez pensar sobre isso?

— Quando cheguei a Irenoi as pessoas mais julgadas eram Thomas e Victoria, mas eu acho que não existe ninguém nessa cidade mais bem casado e feliz quanto eles — paramos enquanto eu abria a porta.

Isso porque eu ainda não casei com você, doutora Tália. Pensei comigo mesma, vendo ela entrar na frente.

Se ela está livre, porquê não tentar conquista-la?

— Luiza, você está num universo paralelo de novo?

Eu ri, finalmente fechando a porta.

— Vamos pedir o jantar no Lagosta hoje e de sobremesa… — Abri minha bolsa onde enchi de bem-casados que estavam enrolados em guardanapos.

— Não acredito que fez isso. — Ela riu.

— Eu vi o quanto gostou deles.

— Você não existe!

— Existo sim. — Sorri antes de suspirar aliviada, novamente, olhando aquele sorriso lindo e livre, diante de mim. — Quer ajuda para tirar a roupa? Uma água? Um café? Vou guardar nossa sobremesa.

Segui até a cozinha ouvindo ela pedir água.

Minha mente só conseguia repetir que Tália estava solteira.

No resto da tarde eu tinha muita coisa para fazer, principalmente roupas para lavar, mas claro que minha mãe surgiu para fazer isso por mim. Eu poderia morrer recusando e ela não desistiria, por isso deixei que fizesse de uma vez, enquanto contava como foi o casamento.

— Seu pai queria vir a qualquer custo, mas consegui enrolar ele — dizia ela enquanto eu estava encostada na grade da varanda de trás, olhando o telhado da casa ao lado, me perguntando o que fazer para conquistar Tália. — Luiza? Ô Luiza? Tá dormindo, menina?

— Ai mãe, o que tem ele vir aqui? A cidade já fofoca sobre mim.

— Com certeza os amigos do seu pai não tem coragem de contar a ele, só por isso ainda não ficou sabendo.

— Contar o quê? Pelo amor de Deus espere até que eu realmente faça algo, antes de fazerem uma tempestade em copo d'água.

— Até quando vai... — Ela baixou o tom, olhando em direção a porta, aparentemente tentando evitar que Tália ouvisse. — Até quando vai negar?

— Não tô mãe, eu juro!

— Então o quê?

Me aproximei, me encostando na máquina de lavar, tentando falar o mais baixo possível.

— Eu gosto dela — confessei de uma vez.

— Tá vendo! — Mamãe bateu em meu braço com a blusa que segurava.

— Ai mãe, para!

— Minha filha isso é errado.

— É errado mãe? Sério?

— Só não quero que se machuque, Luiza.

— Falando assim tão séria parece até que está com raiva de mim. — Cruzei os braços vendo ela de cara fechada. — Mas não tá, né? — Cutuquei ela que bateu em minha mão, mas fiz novamente enquanto ela se afastava até que eu a abraçasse por trás, deitando a cabeça em seu ombro. — Eu amo vocês mãe, mas pode ser que eu ame uma mulher também. E tá tudo bem.

— Para o seu pai não vai tá nada bem.

— Precisam de ajuda? — Tália surgiu na porta e minha mãe bateu em meu braço me fazendo solta-la.

— Ajuda mais repousando — disse ela apontando para a médica que sorriu me olhando.

No fim as contas minha mãe não permitiu que eu comprasse comida, me obrigou a ajudá-la na cozinha.

Ela queria que eu assumisse já estar acontecendo algo entre mim e Tália, e eu não entendia de onde tirou aquilo, até lembrar sobre seu comentário no hospital, sobre nossa troca de olhares. E também lembrei do fato de Victoria ter descaradamente entregado o buquê para Tália.

Elas haviam percebido algo que eu não?

— Mãe? — chamei enquanto caminhava com ela subindo a rua. Já era noite, por isso me ofereci para acompanhá-la até perto de casa. — Acha que existe alguma chance dela sentir alguma coisa por mim?

— A médica? — perguntou e confirmei. — Como vou saber dos sentimentos dos outros?

— A senhora falou da nossa troca de olhares. Dos meus olhares eu sei, mas quanto aos dela...

— Acho que dá pra saber quando alguém gosta da gente. Eu pelo menos soube quando seu pai estava interessado em mim.

— Eu não sei. Nunca gostei de ninguém como gosto dela e isso me dá um medo que não me deixa pensar direito.

— Medo de quê? Se já tem coragem até de assumir isso pra mim com tamanho descaramento!

— Medo de perder ela de vista. Medo que ela se afaste, vá embora. Que não queira nada comigo e isso estrague nossa amizade.

Minha mãe suspirou parando de andar e virou para mim.

— Não acredito que estamos tendo essa conversa, minha filha. Nunca imaginei que você ia por esse caminho. Mas para o seu bem, mesmo que isso vá contra o que eu e seu pai esperamos de você, digo que faça o que manda seu coração.

Seguir meu coração. Era o que Tália sempre me dizia.

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Comments

Carvalho

Carvalho

tira essas palavras do pensamento e coloca pra fora. pelo amorrr, eu abrir um sorriso aqui ... a história tá boa

2023-06-05

2

mabs_

mabs_

Pois eu n lutei... juro q o sorriso q eu abri agora foi automático kkkkkkkkk

2023-02-26

5

Cleidiane Oliveira

Cleidiane Oliveira

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2023-02-26

1

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