Capítulo 04

Passei a manhã de domingo ajudando minha mãe com as roupas e fazendo faxina na casa. Na hora do almoço meu pai trouxe baixão e galeto, então nós sentamos ao redor da mesa e comemos conversando, afinal mamãe não para um minuto.

Depois do almoço lavei a louça enquanto meu pai analisava a casa, fazendo planos de criar um suporte para meus vasos, enquanto minha mãe assistia TV confortavelmente.

Essa é a vida da filha única quando sai de casa para morar sozinha. Eu pisco e eles estão aqui, como se estivessem na própria casa. Por um lado é bom, mas por outro nem tanto.

Eles foram embora lá pelas duas da tarde, então pude ficar jogada no sofá assistindo o primeiro episódio de várias séries na tentativa de encontrar uma que despertasse meu interesse.

Assim meu dia passou.

Durante a noite tentei usar uma roupa menos maltrapilha, já que teria visita. Era a primeira vez que eu mal conhecia alguém e essa pessoa já vinha na minha casa. Estranho até, mas tudo bem, seriam apenas algumas cervejas.

Uma coisa é certa, a mulher é pontual, porque quando ouvi duas batidas na porta olhei no relógio encima da cômoda em meu quarto e vi que era exatamente oito da noite. Corri para abrir e ela com um sorriso levantou duas sacolas, então dei passagem para que entrasse.

— Obrigada por me fazer companhia — falou colocando as sacolas sobre a mesinha de centro e sentou no sofá, retirando a bolsa que estava trespassada em seu corpo. — Odeio domingo a noite.

— Nem me fale.

Abri a sacola e retirei duas cervejas que deixei encima da mesa. O resto levei para a geladeira antes que ficasse quente.

— Amanhã é segunda, então sempre tenho uma preguiça antecipada — comentei.

— Amanhã é minha folga. Eu simplesmente não gosto de domingos — disse ela enquanto eu estava voltando para a sala carregando o abridor, mas observei que já tomava um gole da cerveja.

— Ué como você abriu? — perguntei colocando as mãos na cintura.

— Técnica de uma profissional. — Ela sorriu e eu ri também, sentando no chão mesmo. — Meu pai era alcoólatra, então eu abria as cervejas dele. — Riu novamente, mas algo me disse que não era tão divertido como ela tentou fazer parecer. — Trouxe calabresa. Gosta?

— Ah não, sério? — Inclinei para abrir a sacola e logo peguei uma rodela da linguiça. — Se deixar eu como quilos disso aqui.

— Você já percebeu que faz alguns minutos desde que estou na sua casa, sem contar nossos dois encontros anteriores, mas até agora não nos apresentamos?

Arregalei os olhos ao perceber aquilo. Que tipo de louca deixa entrar na sua casa alguém que nem conhece e sequer sabe o nome?

— Prazer, Tália. — Ela estendeu a mão que ao segurar senti o quanto estava gelada devido a cerveja.

— Assim como a música.

— Música?

— Esquece! Me chamo Luiza — falei olhando em seus olhos escuros e aparentemente cansados.

— Obrigada por me receber, Luiza. E mais uma vez salvar meu dia. Você é quase um anjo em minha vida.

Eu ri de seu exagero, então abri minha garrafa com o abridor, em seguida tomei um gole.

— Notei que aquele homem ia ficar com minha carteira. Seria meu fim, afinal não tenho tempo para nada desde que cheguei aqui.

Bom, aquilo foi a deixa que eu precisava para procurar saber mais sobre a estranha em minha casa.

Acabei confirmando minhas suspeitas a respeito dela ser a médica nova que chegou recentemente. Também contou sobre seus planos de encontrar uma casa para comprar na cidade, afinal a pensão da Marta não era exatamente um lugar para viver, era algo mais provisório.

Por sorte eu sou muito bem informada e sei dicas de onde ela poderia procurar casas pequenas e com um preço bom, algo bem difícil de encontrar no centro da cidade, mas eu encontrei, então não era impossível.

Contei um pouco sobre meu trabalho também, mas não tinha muito o que quisesse compartilhar sobre minha vida pessoal com uma estranha.

Entre conversas e bebidas, Tália sentou-se também no chão, encostada ao sofá. E eu, que comi toda a linguiça, fiz o mesmo, ficando ao lado dela que parecia cansada até mesmo para pensar no que falar. Não era pra menos, trabalhar no hospital devia ser muito cansativo. Mamãe sempre narrava a saga de cada médico que passava por lá e não aguentava seis meses devido a sobrecarga pelo fato de terem poucos profissionais e muitos pacientes que vinham até mesmo de cidades vizinhas. Por isso quando o assunto faltou eu liguei a tv na mesma série que estava assistindo anteriormente, para deixá-la relaxar um pouco. Não demorei a notar que ela cochilava com a cabeça jogada para trás. Deixei que ficasse um pouco naquela posição, enquanto juntava toda a bagunça e levava para a cozinha. As cervejas não chegaram nem perto de acabar, mas eu estava levemente tonta.

Ainda eram dez da noite, mas o sono já começava a me pegar, afinal minha mãe me acordou mais cedo do que eu pretendia. E como no dia seguinte tinha aula era melhor ir dormir.

— Tália? — chamei baixinho, tocando no ombro dela. — Tália? — repeti mais alto, mexendo um pouco mais minha mão e ela abriu os olhos, endireitando a cabeça rapidamente.

— Nossa, eu dormi. — Eu ri baixinho e ela passou a mão no rosto, ainda meio confusa. — Estou um caco, preciso ir...

Tália levantou-se e pediu para ir ao banheiro. Na tentativa de ajuda-la a acordar melhor antes de ir. Quando voltou dei-lhe um copo d'água, que ela tomou observando os desenhos das crianças que eu costumava colocar em minha geladeira e comentou sobre o quanto minha casa era bonita e aconchegante.

— Obrigada. — Sorri, feliz pelo elogio.

Eu não sabia que ia gostar mais de receber um elogio a minha casa do quê a mim. Ninguém nunca tinha elogiado minha casa antes.

Eu acompanhei ela até a porta.

A médica já saía quando virou para mim que estava encostada ao portal observando.

— Obrigada a você...

— Desde que nos conhecemos você só diz obrigada — comentei e ela riu assim como eu. — Não há porque agradecer, gostei da sua companhia.

— Certo. — Fez um sinal com os dedos, visivelmente embriagada. Eu só não sabia se era de sono ou pelo álcool. — Te agradecerei de outra forma.

Então ela fez a coisa menos provável naquele momento. Tália simplesmente segurou meu rosto com as mãos e uniu nossas bocas em um selinho tão rápido que eu mal senti, mas fiquei de olhos arregalados mesmo depois que se afastou.

— Boa noite, Luiza!

A mulher saiu descendo a escada e eu fiquei lá em pé, ainda paralisada tamanho choque diante do que havia acabado de acontecer.

Foi assédio?

Eu dei a entender que queria?

Ela estava bêbada?

Nunca em minha vida havia passado por situação mais difícil de classificar. Ela não pediu desculpa. Mas havia motivo?

Claro! Ela me beijou do nada. Se é que aquilo poderia ser considerado beijo.

Vai ver de onde ela vem as pessoas se despedem assim. Ok, mas eu nunca fiz tal coisa.

Que loucura era aquela?

Eu já estava na cama me preparando para dormir e aquilo ainda não parava de rondar minha cabeça. A imagem da minha boca e a da mulher se tocando me causava um frio na barriga que logo tornou-se uma leve excitação.

E bem, eu imaginei que para tentar fugir de meus pensamentos cheios de perguntas sem respostas era melhor aproveitar meu nomento excitada.

Comecei a me tocar de forma íntima, sentindo as sensações prazerosas aumentando gradativamente, mas o ponto alto foi quando imaginei que ao invés da minha mão havia a de Tália, então parei imediatamente o que fazia e respirei fundo.

— Você está bêbada, Luzia — falei a mim mesma voltando a me tocar, fechando os olhos e novamente me deixando levar pelas sensações, independe do que pensasse, afinal eu estava bêbada. Disse a mim mesma novamente.

...(...)...

Eram seis e meia quando eu, pronta para ir trabalhar, abri a porta da frente e percebi que havia um papel encima da mesa na varanda, com um de meus jarros encima impedindo que voasse, então peguei o mesmo e novamente me surpreendi com Tália. Era um bilhete onde ela pedia desculpa, mas não especificava exatamente o motivo, logo embaixo havia um número de telefone.

Eu sorri tentando imaginar que horas ela havia deixado aquilo ali, afinal ainda era muito cedo.

Segui para o trabalho pensando naquilo que por mais bobo fosse, conseguiu ocupar minha mente de uma maneira inexplicável, mas minhas crianças logo trataram de fazer tanto barulho que nem era possível ouvir meus próprios pensamentos.

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Comments

Jérsica Santos

Jérsica Santos

talia não besta no lugar do obrigado da um celinho

2024-05-21

0

Carvalho

Carvalho

eu achei muito fofa

2023-06-04

1

sua crush? ~ ♀️🔞

sua crush? ~ ♀️🔞

o álcool: oxe fia eu tenho culpa de nada

2023-04-29

0

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