#10

Isadora

Pensou em ir até o escritório para conversar com Gabriel, mas os sons de coisas quebrando dentro do cômodo fizeram com que a moça desistisse. Foi até o quarto de José e encontrou o menino já acordado, brincando com alguns carrinhos.

Isadora aproveitou para ensinar a lição de casa do garoto, que parecia ter uma melhora significativa na escola, até recebia elogios da professora. Aquilo aquecia o coração dela, pelo menos alguma coisa boa sairia de toda aquela confusão.

Depois que terminaram, desceram para o jantar. Antes de chegarem ao destino, foram parados por Irene e uma moça loira, alta e magra, que parecia bem antipática. O olhar dela perfurou Isadora de uma forma que deixou a garota envergonhada.

- Olá, Isadora, querida. - Irene disse sorrindo – Esta é minha irmã, Estela. Ela chegou de Londres hoje.

A mulher olhava para Isadora com um ar de nojo, embora tivesse um sorriso no canto da boca. Os olhos dela passavam dos pés à cabeça da outra, como um raio-x, seu ar era desaprovação.

- Prazer. - Isadora disse envergonhada, puxando a blusa, tentando cobrir alguma coisa que parecia errada, mas era impossível porque aquelas eram as roupas da esposa de Gabriel, então nem poderiam estar rasgadas ou manchadas.

- Vamos, tia Isadora! Estou morrendo de fome! - José pegou a mão dela e puxou, sem se importar em falar alguma coisa para a recém-chegada.

Às vezes ela não sabia o que tinha feito para merecer aquele anjo, mas com certeza, foi algo muito bom. Graças à criança, ela estava aguentando ficar naquela casa enorme e sozinha, com saudade do seu pai e seus amigos.

Chegaram à sala de jantar e encontraram Rafael e Gabriel conversando, os dois estavam tão concentrados que não perceberam a chegada deles.

Isadora colocou José na cadeira e se sentou ao seu lado. Logo em seguida, as irmãs chegaram, sorrindo.

- Gabriel, estava com tanta saudade! - Estela disse, enquanto ia na direção dele e o abraçava.

Gabriel apenas assentiu, nem mesmo levantou ou retribuiu o abraço, ele parecia não se importar com a presença dela.

- Londres é muito fria esses dias. Senti falta de todos. – ela se dirigiu até o lugar ao lado da irmã e olhou Isadora com desprezo – Não sabia que agora seus empregados sentam à mesa com a família.

Gabriel olhou para a mulher com o semblante fechado, mas ela não desistiu.

- Acho que você deveria selecionar melhor seus empregados. – disse enquanto pegava os talheres e começava a comer.

- Estela! - ele gritou batendo o punho na mesa e assustando todos – Você está abusando.

A mulher o fitou, assustada e depois disso todos permaneceram calados, embora Isadora ainda sentisse o calor do olhar de ódio daquela moça que nem conhecia.

Não conseguiu comer. Os acontecimentos com Theo e a chegada daquela mulher tiraram seu apetite. Assim, quando percebeu que José já havia terminado a refeição, pediu licença a todos e se retirou com o menino.

Não sabia o que tinha feito com aquela moça, mas decidiu ficar longe dela. Queria viver aquele ano de forma tranquila, sem nenhum transtorno, para que as consequências não recaíssem sob seu pai.

#

Gabriel

O homem andava de um lado para outro, esperando impaciente a volta da sua “esposa”, que tinha subido com José depois do jantar.

Não gostara nada do jeito que Estela tratara Isadora, mas preferiu não falar mais nada, chegaria o momento de colocar a irmã da cunhada em seu devido lugar.

Olhou para o relógio mais uma vez e decidiu ir até o quarto de José, porém antes que chegasse à porta, esta foi aberta e Isadora entrou, parecendo desanimada. Ela olhou para Gabriel por alguns segundos, mas logo desviou os olhos para o chão e saiu em direção ao banheiro.

-Espere. - o homem pediu – Você não deve dar importância ao que Estela disse.

- Tudo bem, Sr. Gabriel. Não tem problema. - falou.

Mas é claro que havia problema!

Ela fora atacada por Estela, sem nenhum motivo.

- Amanhã nós vamos passear com José. - Gabriel disse surpreendendo a si mesmo. Não sabia por que falava as coisas de impulso quando conversava com ela – Esteja pronta às 08h.

A moça apenas assentiu, parecendo um pouco confusa. O homem saiu do quarto e voltou para o escritório, pensando para onde ia levar o filho e a moça na manhã seguinte.

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