#5

ISADORA

Isadora abriu os olhos e fitou o teto branco estranho,

totalmente diferente do teto cheio de estrelas do seu quarto, o mesmo quarto

que ocupava desde criança. De repente as memórias do que acontecera nas últimas

horas voltaram à sua mente e ela deu um pulo na cama, desnorteada, sem saber

quanto tempo havia passado desde o momento em que se deitara ali.

Lembrou de tudo. Tinha saído da casa do pai para se casar

com um homem que nunca vira em toda sua vida. Pensou no pai e imaginou se ele

já havia se alimentado e tomado os remédios, o idoso sempre esquecia, ela

precisava entrar em contato com Fernando e pedir informações sobre o pai.

Levantou-se da cama e foi até a janela, o sol ainda não

tinha aparecido, mas a madrugada já estava indo embora. Sentiu alguém se

aproximando e se virou, assustada.

Era seu marido, o homem sombrio parecia não ter dormido nem

um pouco, ele não estava de paletó e gravata como no dia anterior, trajava

apenas camisa e calça social de cor preta, os primeiros botões da camisa

estavam abertos e as mangas cumpridas enroladas até a altura do cotovelo.

Aquela cicatriz no meio do rosto tornava a expressão do

homem sinistra, Isadora tentou controlar o arrepio de medo quando ele começou a

falar, a voz soturna.

- Venha. - disse\, pelo visto o homem sempre economizava nas

palavras, nem mesmo um bom dia foi dito por ele.

- Para onde? – quis saber\, receosa.

O homem não respondeu, aproximou-se dela e envolveu seu

pulso com a mão, enquanto a puxou para fora do quarto, o aperto não era forte,

mas aquela ação repentina revoltou Isadora.

- Senhor\, temos que conversar sobre isso. Não aceitarei ser

tratada assim.

Ela estava disposta a ficar ali e pagar a dívida que o pai

tinha, mas não aceitaria abusos, de nenhuma forma.

Os dois entraram no mesmo escritório do dia anterior e,

sentado em uma das poltronas do lugar, estava outro homem.  Um rapaz alto e magro, cabelos um pouco

grisalhos, e, ao contrário do sócio, parecia simpático. Ele se levantou de onde

estava e aproximou-se sorrindo, estendendo a mão quando chegou perto o

suficiente.

- Olá\, sou Leonardo\, amigo e sócio de Gabriel.

Ela apertou a mão oferecida e retribuiu o sorriso.

- Como falei ontem\, há um contrato que especifica suas

obrigações, assim como as minhas. Leia. - o homem que era seu marido disse,

interrompendo a interação de Isadora e Leonardo. Ele entregou a ela um bloco de

folhas e a moça suspirou.

Ela adorava ler, quando tinha uma folga sempre lia, passava

horas lendo, mas era diferente quando tinha que ler aquele tipo de coisa...

coisas legais.

Folheou o calhamaço e suspirou, o homem passou a noite

escrevendo tudo aquilo… era esse o motivo de tanto mau-humor tão cedo.

Iniciou a leitura e, vez ou outra, perguntava sobre alguns

termos técnicos jurídicos que eram respondidos por Leonardo.

Não tinha experiência com aquilo, mas acreditou que os

termos não eram abusivos e, antes mesmo de ler até o final, a moça assinou.

- Srta. Isadora\, não quer ler o contrato todo? - o homem

simpático disse, preocupado.

- Não é necessário. - ela respondeu e levantou – Há algo

mais? - perguntou.

- Não\, é só isso. - Gabriel respondeu\, sério e seco\, como

sempre.

Isadora assentiu e saiu do escritório, andou pelo corredor e

voltou para o quarto. Decidiu que sofreria o menos possível com aquele acordo,

então foi até o banheiro da suíte fazer sua higiene matinal, em breve começava

uma nova etapa da sua vida e ela queria se convencer que tudo daria certo.

Depois de um longo banho, a moça olhou para o reflexo no espelho e suspirou.

Aproveitou o momento no chuveiro para chorar, sentia tanta falta do pai, dos

alunos e dos amigos, a vontade de chorar era constante, mas não poderia ser

fraca e desistir, aquele homem, seu marido, era implacável, nunca desistiria do

contrato devido ao sofrimento dela.

Limpou as poucas lágrimas que haviam escapado novamente,

pegou uma toalha para secar os cabelos e saiu do banheiro, mas quase infartou

ao encontrar José sentado na cama, manuseando um aparelho celular. Antes que

pudesse voltar para o banheiro sem ser vista, o garoto levantou a cabeça e

olhou para ela.

- Tia Dora\, você dormiu aqui com meu pai?

Sentiu as bochechas esquentando, o menino parecia esperto

demais para ser enrolado, como explicar ao pequeno que ela dormiria ali pelos

próximos doze meses?

Jogou a toalha para o lado e sorriu.

- José\, você já tomou café? - perguntou.

- Não\, tia\, estava indo para lá. Procurei meu pai\, mas não

encontrei. Você vai comigo? - o pequeno ofereceu a mão que ela aceitou com

alegria.

A presença da criança era um alívio para seu coração

sofredor. Ele era um pedacinho dos seus alunos, assim como era do seu pai, eles

tinham o mesmo nome e o menino a chamava pelo mesmo apelido que o pai, “Dora”.

Enquanto desciam as escadas de mãos dadas, o pequeno falava

sobre um jogo de videogame específico que Isadora já ouvira os alunos falando,

assim, vez ou outra, emitia sua opinião.

- Bom dia\, papai! - a voz da criança trouxe Isadora para a

realidade.

Eles já estavam no andar de baixo, rumo à sala de jantar

quando foram interrompidos pela chegada do dono da casa. Isadora olhou para o

homem e observou enquanto ele abraçava o filho e beijava o topo da sua cabeça.

- Bom dia\, pequeno fogo. - o homem respondeu para o pequeno.

O “casal” se fitou e a moça sentiu o corpo arrepiar quando

as íris escuras encontraram os olhos dela. O olhar dele era frio e a fitava

como se quisesse perfurá-la.

- Papai\, a tia Isadora vai dormir aqui todos os dias? No seu

quarto? – pelo visto o menino não tinha esquecido o assunto.

- Sim\, meu pequeno. - o homem respondeu\, encarando Isadora –

Por um tempo ela ficará aqui conosco. É um problema para você?

O homem continuava sério, mas ao falar com o filho, a voz

dele se tornava mais serena, os olhos ficavam um pouco mais suaves.

- Não\, papai. Eu gosto dela. – o garotinho respondeu\,

enquanto olhava para a moça e sorria.

Isadora retribuiu o sorriso e o peso que sentia no coração

desde o dia anterior, aliviou um pouco. Pelo menos teria a companhia do pequeno

José para sobreviver àquele ano.

O menino deu uma mão à Isadora e a outra para o pai e assim

os três foram para a sala de jantar, onde encontraram Rafael e Irene já fazendo

o desjejum.

- Bom dia! – o homem saudou a todos com um sorriso no rosto

– Que alegria vê-los juntos!

Isadora viu Gabriel fazendo um sinal negativo para o irmão,

enquanto acenava para José. Ele não queria que o menino soubesse do casamento e

assim seria mais fácil, a criança não precisava ficar confusa depois que o

contrato terminasse.

- Bom dia. – o dono da casa disse\, seco\, enquanto sentava à

cabeceira da mesa.

José sentou-se do lado esquerdo do pai e Isadora não sabia

onde sentaria, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, o garotinho puxou

sua mão e pediu que ela ficasse ali com ele.

A refeição foi feita, na maior parte do tempo, em silêncio,

embora a moça sentisse o olhar da cunhada de Gabriel em si.

- Bem\, preciso ir até a empresa. - o homem falou\,

levantando-se – Fique com José, mais tarde nos falamos.

Ela assentiu, o homem se despediu do filho com um beijo no

rosto e saiu.

- Tia\, preciso me arrumar para a escola. Você me ajuda?

- Claro\, querido. Vamos. - ela ajudou o menino a levantar e

então os dois subiram novamente, para poderem iniciar o primeiro dia dos

trezentos e sessenta e cinco em que Isadora estaria presa ali.

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Comments

Vó Ném

Vó Ném

Verdade a cunhada é gananciosa. acho que querias a Esposa dele

2025-02-09

0

Patricia M

Patricia M

o menino já aceitou a Isadora só falta o pai kkkkkk

2024-09-24

2

Isabel Gasparin

Isabel Gasparin

essa cunhada vai dar trabalho.....

2024-08-17

4

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