15. Amanda – Detalhe

Eu faço um sinal para a Carla e ela sai do quarto, muito possessa. Então olho para o Adam que também estar muito transtornado. Vou até a mão dele e a seguro, então ele vira o olhar para mim, e tenho um sorriso no rosto, porque aquilo demonstra que ele sentiu meu toque.

– Sua mãe só estar preocupada com você! Você sabe o quanto esse procedimento é importante. No seu caso, uma simples infecção urinária, pode levar você a morte.

– Eu sei, Amanda! Mas minha mãe parece que não tem noção do quando humilhante me sinto por precisar dela para isso.

– Adam, ela não vai olhar você como um homem invalido, ela olha você como um filho amado. Minha mãe costuma dizer que para os pais os filhos nunca crescem, que vamos continuar sendo seus bebês. Isso me fazia rir na época, mas como médica já presenciei muitas dessas demonstrações para saber que ela não estava mentindo.

– Mais ainda assim, é humilhante. Minha mãe vai manusear meu pênis. Não posso concordar com isso!

– Eu sou sua médica, tenho qualificações para fazer isso, apesar de não ser meu papel com você. Você me permitiria realizar o exame?

– Não, de forma nenhuma! Nem pensar! – Ele fala nervoso

– Por que outra mulher pode e eu não? Sou médica! – Falo o encarando, sem entender aquela reação dele.

– Eu não te vejo assim! Não quero debater sobre isso. – Ele fala olhando para o outro lado.

Então vou até sua mão novamente e a aperto, fazendo ele olhar para mim novamente.

– Como você me enxerga, Adam? Fiquei curiosa, me fala por favor! Estou aqui para te ajudar, por que não posso fazer isso?

– Você é uma mulher atraente, Amanda.  Não quero que me veja vulnerável.

– Te ajudar te torna vulnerável? Então o que estou fazendo aqui? Quero te ajudar exatamente para não te ver vulnerável, Adam. Você indo parar num hospital impede o nosso progresso aqui. No momento que estiver fazendo o procedimento, você não será o Adam homem para mim, você será meu paciente. Como mulher continuarei enxergando você como um homem atraente, nada vai mudar, eu saberei separar as coisas, fui treinada para isso. Deixa eu te ajudar, Adam!?

Ele me olha indeciso no que fazer e eu esperei por ele, não queria deixá-lo constrangido e muito menos força uma situação desconfortante para ele, mas aquilo era para o bem dele, para prevenir que não houvesse um regresso, quando demoramos para ter um progresso.

– Tudo bem, vou permitir que você faça o procedimento. – Ele disse por fim.

– Obrigada pela confiança, Adam!

– Mas você vai me prometer que não falaremos sobre isso. E você será profissional...

– Tudo bem, Sr. Adam! – Falo debochada.

Durante todo o procedimento eu não troquei uma palavra com ele. Era como se eu estivesse fazendo o procedimento em alguém estranho para mim. Enxerguei apenas um paciente como tantos outros. Após ter concluído tudo, descarto as luvas e finalmente olho para ele.

– Você estar com fome? Vamos almoçar na sala hoje? Queria que você saísse um pouco desse quarto. – Mudei totalmente o foco do que tinha feito minutos atrás, e o vi respirar de forma aliviado.

– Todos me olham como um coitado, prefiro ficar aqui.

– Você é muito chato, Adam! Você é o primeiro a se ver como um coitado e depois acha ruim quando os outros fazem o mesmo.

– Quer dizer que quando você chegou aqui não reparou primeiro na cadeira?

– Não! Reparei no homem lindo que estava na cadeira, mas você foi tão arrogante que destruiu a minha primeira imagem de você. – Ele me olha analisando para ver se estou brincando. – O primeiro a ter preconceito é você mesmo, Adam.

– Mas todos me olham dessa forma, Amanda. Você foi a única quando chegou aqui que não considerou o fato de eu estar preso nessa cadeira.

– Porque a cadeira é apenas um detalhe, ela não é você!

Adam não se enxergava como eu o enxergava. Apesar de usar a grosseria como um escudo, quando ele baixava a guarda, eu conseguia ver o cara maravilhoso que ele era. Conseguia enxergar o Adam amoroso através dos olhos da Carla, o Adam gentil pelo olhar da Madalena e de outros funcionários da casa, mesmo quando eles falavam que agora tinham medo de se aproximar. O Adam, não conseguia enxergar que não era pena que existia nos olhares daqueles que trabalhavam ali naquela mansão, mas lamento por não poderem fazer mais por ele. Eles admiravam o patrão que um dia ele foi e lamentavam pelo acidente e o fato dele ter ficado preso a uma cadeira de roda.

– Quando você se permitir olhar para si, sem a cadeira de roda, você verá o que consigo ver e não dará importância aos pensamentos dos outros, Adam, apesar de saber que ninguém aqui sente pena de você, eles apenas lamentam o acidente e o que ele fez a você. Meu pai era um cara sábio, ele costumava dizer que as outras pessoas só podem te fazer sentir inferior se você permitir.

– É fácil você dizer isso, aparentemente sempre teve uma vida perfeita. – Ele teve a coragem de dizer.

– Quem falou isso para você, Adam? Minha vida nunca foi fácil, você nem tem ideia do que passei para poder chegar até aqui. Já tive que engoli muitos sapos, mas nunca deixei eles me matarem sufocada. Não queira dizer que foi fácil para mim, porque não foi, nunca tive cadeira na qual eu pudesse me esconder atrás. – Respondi irritada.

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