4. Amanda – Protegida

Todos começam a sair lentamente ainda comemorando o upgrade que tiveram da festa. Percebo que estou sendo observada enquanto sigo para a cozinha para buscar um copo de água.

– Você devia agradecer ao Bernardinho por permitir que a festa rolasse em sua casa. – Meu irmão fala para mim seguindo para a geladeira que terminei de fechar.

– Se você não percebeu já fiz isso. Mas se não fosse assim, eu seria a primeira a ligar para a polícia se eles não tivessem saído daqui. – Nesse momento meu irmão solta uma gargalhada.

– Depois de toda merda que eles fizeram, você ainda acredita que eles viriam? Você é muito ingênua, Amanda. Nessa comunidade quem manda somos nós agora!

– E eu não sei quem é pior, vocês ou eles!

Nesse momento meu irmão levanta a mão para me bater.

– Se você encostar um dedo nela, você não verá o dia amanhecer. – O Bernardo se dirige ao meu irmão de forma muito tranquila, como se ele não tivesse ameaçando tirar a vida de uma pessoa.

– Ela estar nos desrespeitando Bernardinho. Essa vadia estar cuspindo no prato que ela come.

– Eu não como nada de vocês, querido irmão. Tudo que eu tenho ou que eu preciso é graças ao dinheiro suado que ganho.

– Cale a boca, Amanda. Antes que eu perca a minha paciência com você! – Meu irmão grita.

– Felipe, a partir de agora você vai morar em minha casa, tem espaço suficiente para você lá e tenho certeza que você terá mais conforto que aqui. Pegue o que você precisa e o demais peço para alguém buscar aqui depois. – O tal do Bernardo fala para meu irmão.

– Obrigado, Bernardinho, não sei se conseguiria ficar ao lado dessa ingrata. – Meu irmão diz, se preparando para sair.

– Deixa eu só te dar mais um aviso, Felipe. – O Bernardo agora olha para meu irmão, dando as costas para mim. – Se você encostar um único dedo seu, na Amanda, eu quebro todos os ossos dos seus braços.

Isso pega meu irmão desprevenido e me assusta também. Mas resolvo não falar nada. Ele me analisa enquanto estou bebendo água, mas faço de conta que não percebo.

– A partir de hoje você terá a casa apenas para você, para que o que houve hoje não volte a se repetir. Qualquer coisa que você precisar, você pode falar para os guris que o recado chegará até mim. Você é uma garota linda e merece viver como uma rainha.

– Não estou pedindo sua proteção, Bernardo. Nunca precisei disso e tenho certeza que não vou precisar. Hoje mais do que nunca, ficou claro que não posso mais contar com meu irmão, mas meus pais me ensinaram bem a ser uma mulher mais que suficiente para mim mesma.

– Você é marrenta garota, mas gosto disso em você. Não abaixa a cabeça para ninguém.

– Meus pais sempre me ensinaram que se eu tivesse que fazer isso, fosse para admirar os sapatos da outra pessoa, e me desculpe, o seu não combina comigo. – O Bernardo solta uma risada estrondosa

– Tenho que confessar garota, você é atrevida, porém, admirável. Saberei se você precisar de algo, não será preciso você falar e nem pedir. Você conseguiu minha atenção e são poucos que conseguem isso. Te ofereceria uma carona para a faculdade amanhã, mas tenho certeza que você não aceitará.

– Você é um cara inteligente, Bernardo! – Falo de forma debochada.

– Sem problema, mas saiba que estarei à disposição quando você precisar. Quanto ao Felipe, ele é um garoto esperto, ele só é imaturo às vezes, precisa trabalhar mais sua paciência e descobrir que não pode jogar sozinho.

– Espero que ele saiba onde estar se metendo. O que ele precisa aprender é que erros e acertos são consequências de escolhas. E dependendo do erro as consequências são irreversíveis.

– Bem profundo isso! Mas seu irmão sabe o que é melhor para ele. Agora ele estar comigo e protegemos os nossos.

E assim ele saiu de minha casa. Me deixando ali sozinha com meus pensamentos. Sei que todas as escolhas do Felipe foram devido à perda de nossos pais, mas eu também perdi meus pais naquele dia e nem por isso comecei a andar com marginais e traficantes.

Olhei para a casa completamente revirada e sabia que teria uma longa noite pela frente. Comecei a fazer a limpeza, quando enfim, terminei, olhei para o relógio e eu tinha apenas duas horas para descansar, nesse momento deu vontade de eu matar o Felipe afogado na privada.

Assim que sair para a faculdade, me sentir observada, e aquilo começou a me deixar em pânico. Olhei para todos os lados, mas não via nada, porém aquela incomoda sensação continuava. Isso só teve um fim, quando cheguei a faculdade. Fiquei me perguntando se aquilo era pegadinha da minha cabeça depois do que o Bernardo me falou.

A Nayara, minha irmã do coração, estava me aguardando na entrada do meu prédio e ao notar minha cara, sabia que algo não estava bem.

– O que foi florzinha? O que tanto você procura com o olhar?

– Não sei amiga, estou com a sensação de estar sendo observada desde o momento que sair de casa, isso estar me causando pânico. Não sei se é coisa da minha cabeça, mas a sensação é horrível.

– Calma, Amanda, observei você chegando, mas não vi ninguém te seguindo. Vamos entrar, isso pode ser apenas nervosismo, sua vida anda bastante agitada, você tem corrido muito nesse último período.

– Depois do que me aconteceu, não tem como ser diferente, eu não conseguiria concluir a faculdade e ainda mais agora que o Felipe estar envolvido com os negócios do Bernardo.

– Mentira que seu irmão entrou nessa roubada. – Ela me olha assustada.

– Não só entrou, como ontem após uma discursão nossa, ele quase me agrediu. Ele só não o fez, porque o Bernardo o ameaçou. E disse que se ele encostasse um dedo em mim, quebraria todos os ossos dos braços de meu irmão. Quando ele levantou a mão para mim ontem, nunca fiquei tão decepcionada com o Felipe quanto naquele momento. Ele matou o pouco do respeito que eu ainda tinha por ele.

– Por que o Bernardo te defendeu?

– Eu não sei, mas por conta dele não fui agredida, e ele disse que a casa agora era minha e que qualquer coisa que eu precisasse falasse com seus "guris" que ele receberia o recado. Disse ainda que eu merecia viver como rainha. Porém, deixei claro para ele, que não precisava da proteção dele para nada.

– Amanda, quero estar errada, mas pelo que já ouvir falar do Bernardo naquela comunidade, só posso deduzir que ele estar interessado em você, toma cuidado amiga, esses tipos de cara, não aceitam não como resposta.

Olho para minha amiga, sem saber o que falar, lembro da sensação que tive do momento que sair de casa até chegar aqui. Será que tudo isso estava ligado? Ele disse que saberia se eu precisasse de algo, mesmo eu não falando. Eu estava sendo monitorada a distância? Isso era loucura demais.

As aulas transcorreram normalmente e assim que saímos da faculdade nos deparamos com o carro do Bernardo do lado de fora. Bernardo tinha um sorrisinho no rosto. Ele chamava a atenção por sua aparência. Alto, corpo forte com todos os músculos no lugar certo, olhos castanhos claros, quase mel, barba muito bem aparada, lindo, poderia dizer que se não fosse quem ele era, eu poderia até me apaixonar.

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