14. Amanda – Pequenos Sinais

Faz algumas semanas que estou trabalhando com o Adam. Posso dizer que o mau-humor dele regrediu um pouco, ele se tornou menos ácido, porém os movimentos aparentemente não deram sinais ainda. Hoje irei fazer novamente a massagem para podermos verificar se ele adquiriu sensibilidade em algum local. Os exercícios são constantes, mas levam tempo para evolui, porém, a Carla estar muito animada porque esse foi o maior tempo que um médico permaneceu com o Adam, devido ao fato dele dispensar todos eles. Já tenho passe livre na casa, então sempre que chego foi direto para a cozinha cumprimentar a Madalena e sempre encontro a Carla lá também.

– Bom dia a todas! – Vou até a Madalena e a cumprimento com um beijo.

– Bom dia, minha menina!

– Como amanheceu meu limãozinho hoje, Carla?

– Azedo como sempre, Amanda! Não sei se o fato de hoje fazerem 5 meses do acidente ou se por algum outro motivo.

– Não sabia desse fato, mas vou lá tentar fazer uma limonada.

Deixo a cozinha com elas sorrindo, e me dirijo até o quarto do Adam. Chego lá o encontro defronte a janela, com um olhar perdido. Acredito que as lembranças o esteja assombrando hoje, então vou tentar ser o máximo compreensiva possível.

– Oi, meu paciente predileto! Bom dia!

– Você costuma falar isso para todos?

– Apenas para os prediletos!

Então ele vira a cadeira e me olha. Seu olhar parece triste, e entendo. Segundo a Carla, o rapaz que morreu no acidente era como um irmão para ele, e a moça, bem eles namoravam a alguns anos já. Então nem consigo imaginar o que ele deve estar sentindo, ainda mais preso numa cadeira de roda. Mas vou tentar animar o dia dele.

– Estou disponível para te dar uma massagem hoje, começar bem seu dia.

– Meu dia começaria bem, se eu pudesse sentir suas mãos. – Ele me fala triste.

– Temos que ter paciência, Adam. Vamos evoluindo tijolinho por tijolinho, e eu estarei aqui com você a cada passo. Não vou desistir até você mostrar melhoras. Vamos para a cama agora!

Então, depois do Adam deitado de forma confortável, inicie a massagem, começando pelos seus pés. Ele também estava passando por outros profissionais como havia recomendado no começo. Quando a massagem chegou ao seu braço direito, escutei ele suspirar. Acho que ele nem se deu conta disso. Então voltei a repetir o movimento e do nada os dedos dele mexeram.

– Adam, você estar sentindo o que estou fazendo? – Foi aí que ele se deu conta.

– Estou sentindo pequenos choques. – Ele fala surpreso.

– Olha sua mão direita. – Então voltei a fazer os movimentos.

– Não acredito nisso! É serio que ela estar mexendo?

Então ele abriu um lindo sorriso e continue com a massagem. Ali foi o nosso primeiro sinal que seus músculos estavam se regenerando, aos poucos e lentamente, mas já era positivo. Fiz o mesmo com o outro braço, e nesse o Adam já sentiu seu ombro, e isso me deixou muito feliz. Parecíamos que tínhamos ganhado nosso presente de natal naquele momento. Ambos tínhamos enormes sorrisos no rosto. Quando a Carla chegou se surpreendeu pela nossa felicidade, então o Adam contou a novidade para ela. Para alguém que já havia perdido completamente as esperanças aquilo era uma grande evolução.

– Precisamos comemorar isso! – Carla falou.

– Calma, mãe, precisamos descobrir se isso é devido a algum movimento involutório ou se realmente estamos evoluindo.

– Existe alguma forma de descobrir isso, Amanda? – Carla me pergunta

Nesse momento vou até minha bolsa e de lá tiro uma bola de tênis. Ela é um pouco pesada, mas mais servir para aquilo. Levo a bola até o Adam, coloco na mão dele e fecho seus dedos, então apoio seu braço para fora da cama, com a bola virada para baixo, então tiro a mão e o Adam consegue segurar a bola. Ficamos olhando para a mão dele de forma admirada. Pequenas evoluções que nos trazem enormes felicidades. Vejo que a Carla tenta segurar o choro, enquanto o Adam tem um sorriso lindo no rosto. Pego o palito que se encontra em minha mão e passo na mão do Adam e ele me olha ainda mais surpreso.

– Você estar sentindo né? – Eu pergunto.

– Sim, Amanda, finalmente estou sentindo algo.

Então a Carla corre e me abraça emocionada, já não contendo mais as lágrimas e aquele dia que parecia que seria só mais um dia triste, se encheu de esperanças e felicidades.

– Mamãe, a senhora vai matar a doutora sufocada dessa forma, e ela não poderá mais continuar meu tratamento.

– Hum, agora você estar preocupado com seu tratamento, Adam? – A Carla pergunta brincando com ele.

– Que evolução, em Carla! É até estranho para alguém que achava que minha presença não era necessária, já que eu não fazia milagres.

– Vocês duas agora vão ficar curtindo com minha cara? Se for, hoje damos por encerrado os exercícios.

– Nada disso, Sr. Adam! Nem tente se livrar de mim. Temos muito o que fazer hoje.

Então começamos com os outros exercícios, na metade deles, a Carla entra com uma cara não muito boa, me olha e olha para o Adam.

– A enfermeira que viria teve um imprevisto no caminho, outra já estar sendo providenciada, mas não chegará a tempo de fazer o procedimento do CAT.

– Eu aguardo a outra chegar, mamãe!

– Corre o risco de você ter infecção urinaria, Adam, se o procedimento não for realizado. Você quer novamente voltar ao hospital?

– Não vou permitir outra pessoa fazer, mamãe! Mesmo a senhora informando que pode fazer, é humilhante.

– Então, você prefere ser orgulhoso ao ponto de ter que ir para um hospital, regredir no seu tratamento, do que me permitir fazer?

– Isso mesmo! – Adam fala já transtornado.

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