Cap. 19 - Conspiração

Quando abri a porta, Marcela surgiu preocupada.

— Oi, Lost... Como Kelly está? — Fiz um gesto de silêncio e ela abaixou o volume da voz. — Fiquei sabendo que ela chegou muito bêbada ontem... Sinceramente, nunca tinha acontecido...

— Calma, Marcela! O pior já passou...Como ficou sabendo? — Sussurrei.

— Uma das colegas do evento... —Marcela respondeu no mesmo tom.

Fomos interrompidos, pela voz zangada de Kelly, que continuava no quarto.

— O que os dois cochicham de mim?

Ao ouvir a voz de Kelly, Marcela pediu licença e dirigiu -se até a amiga. Eu a segui mais atrás, mas parei em frente à porta como um cão de guarda.

— Oh! Querida! Você quer me matar de preocupação? As meninas disseram que você estava impossível ontem.

Ouvi Kelly respondendo.

— Fala baixo! Não quero que Lost saiba...

Não aguentei. Impelido por um sentimento que eu não conseguia definir ainda, entrei no quarto dela:

— O que eu não devo saber?

Nós nos olhamos. Eu, desafiador e ela mordendo o lábio inferior, nervosa. Marcela interveio para defender a amiga:

— Coisas de mulher, Lost... O que faz aqui? Você não ficou de visitar um estabelecimento da praia? Ouvi minha sogra dizer isso...

— Vou amanhã, já falei com o dono. — Continuei, sem arredar o pé.

— Ora, mas se quiser, pode ir. Fico com ela. — A garota falou insistente.

Ele respondeu de imediato:

— Não precisa se preocupar, Marcela, fico com ela.

Só então notei que Kelly não estava nada satisfeita e resmungou:

— Escuta aqui, vocês dois, não estou inválida! Só estou com dor de cabeça! Ninguém precisa ficar aqui!

— Não! — Eu e Marcela gritamos, unânimes .

Kelly começou a se levantar.

— Então fiquem aí! Vou tomar banho.

E dito isso, ela pegou roupas e saiu em direção ao banheiro.

Momentos depois, já na sala, eu e Marcela, sentados frente a frente, depois de travarmos olhares desconfiados, começamos um diálogo:

— O que aconteceu na festa? — Perguntei bem firme para não dar alternativa de Marcela se esquivar.

A garota prendeu os lábios e balançou a cabeça. O olhar dela se voltou para a porta do banheiro.

— Vamos, conte!

Marcela ficou mais desconfiada ainda.

— Por que eu deveria? Mal conheço você... A minha amiga aqui é Kelly e não acho que ela gostaria que eu falasse da vida dela pra você.

Ao ouvir aquilo, percebi que minha postura autoritária nao ia surtir o efeito desejado. Nem entendi porque falei daquele jeito. Seria assim que eu falava com outras pessoas no passado?

Fiquei preocupado de Kelly sair do banheiro e eu ficasse sem saber nada. Suspirei e com olhar suplicante, recomecei:

— Desculpa, Marcela, é que fico tão preocupado quanto você...Ela precisa ser mais cuidadosa...Ó céus.

Eu estava tão nervoso, que não conseguia expressar meus sentimentos para a amiga de Kelly. Eu deveria dizer a ela também como eu me sentia em relação à Kelly?

Ela me olhava surpresa e encarando-me, disse:

— Nossa! Você nem disfarça!

Gelei. Pelo visto denunciei-me sem esforço algum, mesmo assim tentei ganhar tempo:

— O que você está dizendo, Marcela?

Ela deu uma gargalhada e puxou a cadeira, aproximando-me de mim , jogou na minha cara as evidências dos meus sentimentos tão notórios.

— Você está realmente apaixonado por Kelly! Ai, meu Deus! Estou pasma!

Olhei rapidamente para o banheiro. Kelly continuava no banho. Sem graça, perguntei a ela:

— Puxa! Está tão evidente assim?

Ela confirmou:

— Totalmente!

Fiquei quieto. Era interessante que as pessoas estavam percebendo, menos Kelly. O problema é que talvez não fosse correspondido e o clima entre nós dois na casa ficaria muito estranho.

Marcela pegou em meu ombro e perguntou:

— Você jura que não vai comentar nada?

Meu coração acelerou. Sem vacilar confirmei com a cabeça e fiquei na expectativa torcendo para que não fosse algo que eu não suportasse ouvir.

— Tem minha palavra.

Marcela deu um sorrisinho.

— Tudo bem...É que Luís apareceu na festa...

Senti uma punhalada invisível fincada em meu coração. Estava doendo aquela revelação... Será que ela teve una recaída e ficou com aquele cara?

— O quê? Não é possível...

— Sim... Ela dançava e Luís meio que tentou beijar Kelly e então... Ela fez um escândalo!

Senti a raiva crescendo na mesma proporção do ciúme.

— Safado! E a namorada dele?

Marcela suspirou. Com a feição séria, continuou:

— Ele estava sozinho e certamente achou que podia ter uma chance com Kelly! Quebrou a cara!

Então, tomei a palavra:

— Ela chegou aqui muito bêbada! Ele é tão cafajeste assim que queria se aproveitar dela? Se eu o vê de novo, vou quebrar a cara dele!

Marcela me observou de cima abaixo como se estivesse me avaliando.

— E você se comportou bem? Minha amiga estava bêbada, então...

— Jamais me comportaria igual aquele... Aquele...

Marcela riu de novo.

— Relaxa, Lost! Era só um teste... Vejo que você é do bem... Agora fiquei confusa sobre uma coisa, porque Kelly me disse que voce está saindo com Marina...

— É uma longa história! — Respondi sem pestanejar.

Marcela também não vacilou:

— Tô de folga! Tenho o dia inteiro pra ouvir você, Lost!

— Ok! — Tranquilamente, revelei: — Marina é uma amiga apenas.

— Não é isso o que Kelly acha... Vocês parecem um casal, não amigos.

—Ela está enganada. Vou contar pra você o que precisa saber, mas em troca preciso de sua ajuda pra conquistar Kelly.

— Ora, ora...Que bandido você é... — Ela riu. — Conta vai. Ajudo você.

Então resumidamente, revelei o que estava acontecendo com Marina e que pretendíamos fazer para chamar a atenção de Kelly.

— Entendeu, agora?

— Nossa! Acho que essa tática não cai bem pra Kelly. O máximo que vai conseguir é afastá-la por supor que realmente vocês estão juntos.

— Bom, então o que você me sugere?

— Ah, Kelly é uma garota simples, romântica... Se ela estiver interessada, nem precisará fazer muito, pois ela quando gosta de alguém é pra valer.

— Mas como posso ter certeza se tenho chance? O que você acha que eu devo fazer pra conquistá-la?

— Bom... É difícil dizer...Pensei que homens apaixonados tivessem um manual romântico ao nascer.

— Fala sério, Marcela!

A porta abriu e Kelly saiu do banheiro de blusa branca de algodão e macaquinho azul jeans. Ela pôs as mãos na cintura e tornou perguntar:

— estou sentindo cheiro de conspiração entre vocês dois...O que há com vocês? — E voltando-se para a amiga, ameaçou num tom de bincadeira: — Olha, Marcela, eu te risco já da minha lista de amigos!

— Sua vida perderia a graça!

Ambas sorriram e foram para o quarto trancando a porta dessa vez.

Como eu não ia ter oportunidade de continuar a conversa com Marcela, saí, levando a TV de Kelly para a assistência.

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