Kelly se afastou de imediato, assustada e senti uma frustração que apertou o meu peito no frio da solidão. Que droga!
— Deve ser sua amiga... Marina! — Falei, forçando naturalidade.
— Marina? — Ela perguntou ainda, com olhar perdido.
— Vou lá abrir.
Respirei fundo e saí rapidamente da presença dela. Abri a porta e uma garota baixa de cabelo curto e corpo bem feito, apareceu de mão dada com uma criança de dois anos.
Por trás de mim, Kelly cumprimentou, já recomposta:
— Oi, Marina! Trouxe meu Guto! Cadê o gatinho da tia?
— Tia Ké!
O menino gordinho, com bochechas rosadas e sorridente, soltou-se da mãe, correu e jogou levemente o corpo para ser carregado por Kelly que começou a apertá-lo e ele gargalhava.
A mãe do menino me agradeceu e foi entrando.
— Ele estava morrendo de saudade, amiga! — Marina falou, sorridente! Ah, eu também! Como vai minha bolinha falante?
—Tô bem! — O menino respondeu, abraçando-a novamente
Então Kelly, perguntou a mim:
— Voce já conhece Marina, Lost?
A amiga de Kelly olhou para mim e sorriu com simpatia.
—Nós nos apresentamos um pouco mais cedo. — Esclareci a Kelly, que olhou para nós dois, surpresa.
Marina explicou:
— Sim... Ouvi que tinha alguém na casa e pensei que fosse você, Kelly! Não sabia que tinha mais alguém, você nem disse nada!
— Oh, desculpe-me, amiga, tanta coisa pra resolver que acabei esquecendo...
Enquanto as amigas conversavam não sei descrever a sensação de ver Kelly com o garotinho nos braços, mas senti o desejo inconsciente de abraçá-la também, fazer parte daquele momento em que ela e a criança estavam , numa sintonia como se fossem mãe e filho.
— Ok! Procurei por você, pois preciso comprar alguns itens no mercado que estão faltando...
— Sua mãe saiu? — Kelly perguntou, enquanto cheirava o pescoço de Guto e ele ria, espontâneo.
— Ela foi lavar roupa para ganhar uns trocados.
— Oh, tudo bem, fico com ele até você chegar. Ela agradeceu e despediu-se de nós.
Depois que Marina saiu, Kelly parecia voltada só para o menino e sentou-se no chão da sala para brincarem.
Sabendo que minha oportunidade de beijá-la não ia rolar, fui para cozinha satisfazer pelo menos a barriga, que roncava.
Comecei a mastigar a comida que estava deliciosa, mas a lembrança de minutos atrás, tão viva nos meus pensamentos martelava toda hora.
"Se não fossem as batidas na porta, o que faríamos depois do beijo? " Olhei na direção dos dois e nesse momento, Guto correu até mim e falou:
— Papai!
Kelly veio mais atrás e riu do meu rosto surpreso.
— Papai?! É sério isso?
Kelly soltou uma risada linda. E pegando Guto, que insistia em abraçar a minha perna, ela falou:
— Deixa ele terminar o almoço, meu amor! Depois você brinca com seu "pai"!
E saiu, sorrindo.
Quando terminei o almoço, juntei-me a eles, sentando-me no chão. O menino veio sentar no meu colo e tornou a me chamar de pai.
—Tô ficando preocupado... Será que ele está me reconhecendo? — Perguntei confuso .
—Nao é isso, seu bobo! É que Guto é criado pela mãe e pela avó. Quando encontra um homem, seja qual for, ele chama de pai.
— Mas por que ele faz isso? O pai dele não fica chateado? — Perguntou, aliviado.
— Ele não vê o pai com frequência ... Sente falta da figura masculina em sua vida, Eu acho.
— Pobrezinho...
— O pai não assumiu e só vem para trazer mantimentos. Marina tenta ganhar a vida vendendo acessórios na praia. Vida difícil, ainda mais tendo que se virar praticamente para ter o que comer e manter o filho.
Fiquei triste ao ouvir aquilo. Um homem que deixava para trás mulher e filhos era um covarde na minha opinião.
— Um homem desses é um idiota! Creio que eu não teria coragem de abandonar um filho assim.
Kelly com tom irônico, disse:
— Como você sabe? Nem lembra de nada... Mas caso tenha esposa, vai apanhar pra valer, porque eu faria isso.
— Sério? Que violenta! — Ele entrou na brincadeira.
— Sou uma santa, Lost, mas se mexer no meu calo...
— Nem me fale! Até hoje tenho pesadelos com sua "arma" apontada pra mim!
— Era uma tesourinha de cortar unha, Lost!
— É, mas fiquei com tanto medo que na minha cabeça era uma tesoura de meio metro.
Kelly riu à beça. Eu me regozijava em prazer ao vê-la descontraída.
Depois disso, os dois passaram a brincar com Guto. Jogavam uma bola para ele, que devolvia, ora para mim , ora para Kelly.
Entre uma brincadeira e outra, às vezes os nossos olhares se encontravam.
Para quebrar o silêncio, voltei a falar:
— Estive pensando... E se eu descobrir que sou um homem rico?
Ela, cheia de bom humor disse:
— Então eu vou realizar meu sonho de viajar num Cruzeiro internacional!
— Mesmo?
— Sim. Minha chance de conseguir uma baita recompensa.
—Do jeito que está falando poderia ir presa...
— Não te sequestrei.
— Posso afirmar o contrário.
Ela deu uma risada e Guto acompanhou.
— Veja, Guto, como seu pai é esperto! Já quer me passar pra trás.
Nós ficamos especulando sobre várias possibilidades sobre minha identidade. Um mafioso, um foragido do hospício, um simples pai de família com filhos e animais de estimação. A lista era grande.
— Já imagino a cena, Lost: "Querida, vou ali rapidinho comprar um cigarro!" e não voltou mais.
Eu estava adorando aquela conversa maluca só pra vê-la sorrir. Ela tinha uma imaginação fora do comum e eu estava cada vez mais caído por ela.
Ficamos brincando com Guto até que a mãe dele voltou. O menino correu para mãe todo feliz.
— Mamã, mamã! vem brincar! — Guto falava, empolgado
— Ah, não! Vai já tirar um cochilo!
O menino não gostou da ideia e choramingou.
Marina o ergueu nos braços e ninando-o, agradeceu:
—Oh, gente, valeu mesmo.
— Tá bom, Marina, quando precisar, você já sabe! — Kelly falava enquanto a acompanhava até a porta.
Assim que Kelly se despediu dela, ela pôs as mãos no bolso da bermuda e disse:
— Vou começar a organizar minhas coisas para o evento de hoje.—- Ja? Você vai chegar mais cedo ?
— Creio que não. Aniversário de quinze anos termina bem tarde.— Tá bom... É seguro chegar de madrugada? Fico preocupado com você.
Ela desviou os olhos de mim, sem jeito.
— Venho de carro com a equipe então não tenho com o que me preocupar.
Sem mais como segurá-la, murmurei:
— Fico mais tranquilo agora.
Ela forçou um sorriso e logo em seguida fugiu para o quarto.
O que sobrou dela na sala foi só o perfume. Suspirei, frustrado.
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Atualizado até capítulo 98
Comments
Anilda Alves da Cruz
pelo que entendi que ele teve uma lembrança alguém tentou matá-lo
2024-08-08
5
Angel Caldas
Aposto que tem uma cobra do deserto, pra atrapalhar qdo ele recuperar a memória!
2024-06-07
1
Adriane Alvarenga
Kelly também está se apaixonando por ele..
2023-10-25
8