Cap. 7 - Amigo ou namorado?

— Pessoal, atenção! — Tia Lena exibiu o generoso pedaço de bolo. —Ofereço o primeiro pedaço de bolo a uma pessoa que mal conheci, mas já sei que é gente boa... Lost, com todo meu carinho.

O aplauso e a risada contagiante de Marcela , ficou só para ela mesmo, pois eu e Felipe estávamos surpresos com a aceitação tão rápida de tia Lena quanto ao desconhecido na minha família.

Normalmente ela não agia assim. Eu estava impressionada. Era demais para minha cabeça que lembrava muito bem o quanto minha tia era conservadora, pelo menos até o dia anterior.

Depois que todos ganharam bolo, subimos para o terraço. De lá era possível ver as ondas suaves e sentir a brisa refrescante do mar.

Sentamos e minha tia, nostálgica, começou a contar as aventuras de sua juventude. Olhei um instante para Lost. Percebi o quanto ele estava gostando de estar entre nós e ouvia atentamente as histórias.

Como eu estava parcialmente de frente para ele, a cada gole de refrigerante, podia observá-lo melhor.

Meu coração ficou aquecido com o sorriso dele. Bem, não era só o meu coração que estava esquentando... A imagem daquele novo homem não combinava em nada com o mendigo que conheci.

Desviei meus olhos e Felipe fez um gesto para que eu o acompanhasse. Dei uma desculpa e desci até a sala e aguadei-o, apreensiva.

Não demorou muito, ele veio até mim. Seu olhar desconfiado me fez ficar mais inquieta ainda.

— Bom, mocinha, tenho certeza que você anda escondendo alguma coisa!

— Eu?! Você está enganado. Falei a verdade.

— Para de mentiras pra cima de mim, Kelly! Sou seu primo e sei que quando você está mentindo.

— Não tô!

— Tá sim! Ele é seu novo namorado, não é? Por isso estava tão nervosinha essa semana!

Felipe entendeu tudo errado! Abri a boca para contra-argumrntar, mas quem disse que consegui articular o que eu queria?

— Não, Felipe...

—Não adianta querer me enrolar! Vi como se olham! Mas é bom a mamãe achar que são só amigos mesmo. Sei que já estamos entrando na década de 90 e os tempos são outros, mas como viúva de militar, minha mãe não aguentaria tanta modernidade da sua parte! É melhor assim...

"Dava para acreditar? !De repente Lost era meu namorado mesmo! Não, isso não ia ficar assim. Felipe precisava acreditar em mim."

— Olha, Felipe, o Lost não é...

Subitamente, ele me abraçou forte e com palmadas nas costas, sussurrou:

— Estou muito feliz que superou aquele imbecil do Luís! Parabéns, prima, você se superou, pois esse rapaz aí parece modelo de passarela.

— Tá, tá bom.... Agora me solte, que você está me amassando! Vou comer mais um pedaço de bolo.

Saí de perto dele, desconsertada. Cortei mais um pedaço. "Eu precisava de açúcar, estava muito nervosa."

E vendo que ele parecia querer tirar algumas dúvidas , corri de volta para o lugar que os outros estavam, mas não me juntei a eles. Fui até o parapeito do terraço à procura de ar, enquanto contemplava o vai e vem das ondas, devorei o bolo em segundos. Eu não parava de pensar:

"Estou perdida. Totalmente perdida!"

Percebi que Felipe voltou ao grupo e ele narrava algo do seu cotidiano de segurança no shopping da cidade.

— Kelly?

A voz de Lost me tirou do meu martírio.

— Tudo bem?— Ele perguntou, preocupado.

Respondi, agoniada.

— Tudo mal... Por culpa sua! —Sussurrei.

Ele me fitou com espanto e pela primeira vez, ficou bem próximo a mim. Eu podia sentir o seu hálito com cheiro do bolo de baunilha que fiz. (Adoro baunilha!).

— Pensei que tínhamos combinado que seria apresentado como seu namorado, mas você não fez isso.

"Céus, que droga era essa que o homem se tornou? Ele era charme e beleza num combo só!"

— É que o meu primo está convencido que menti..., em outras palavras, que sou sua namorada!

— O quê? — Ele exclamou, incrédulo para logo em seguida, irromper numa risada que chamou a atenção dos três que estavam mais afastados.

— Você tá rindo de mim? Para logo! — Ameacei.

Ele fez um tremendo esforço para se conter. Quando conseguiu, explicou:

— Ah, Kelly, é que sua tia também não acreditou na história que sou apenas um "amigo" e enquanto você estava lá embaixo, ela praticamente me pressionou contra a parede para eu falar a "verdade".

Fiquei apavorada na hora.

— Meu pai amado! Então... Você explicou que não somos...

— Do jeito que ela perguntou, acabei ficando nervoso e confessei que sou seu namorado!

— Você o quê?

Arregalei meus olhos, assustada e ele voltou a rir.

— Não olha agora, mas os três estão nos vigiando. É bem provável que estejam acreditando neste exato momento que estamos tendo uma discussão de ... Casal!

— Você não podia fazer isso! Você joga muito sujo, Lost!

Ele se fez de inocente e disse:

— Desculpa. Kelly, mas esse era nosso plano inicial, não era?

Não respondi. A raiva crescia dentro de mim. Ele estava se aproveitando da situação. Com certeza. Maldito mendigo!

— Em casa, a gente conversa!

Olhei então para o lado e notei que minha tia e o casal fingiram imediatamente que estavam conversando entre eles.

Voltei a falar com o trapaceiro do Lost.

— Bem, ainda assim vou continuar negando, até porque não sou e nem pretendo ser sua namorada mesmo!

Depois que disse isso, sai de perto dele. No meu pensamento, porém, o estrago estava feito. " Lost estava um gato e eu não podia nem sonhar em cair em tentação. "

— Kelly, quer mais pedaço de bolo?

— Já comi dois, tia... Preciso ir pra casa...

Nesse momento, Lost falou por trás de mim.

— É, precisamos ir... ( Bocejou).

A tia olhou para nós dois. Podia jurar que havia uma ponta de malícia em seu sorriso. Ela limpou a garganta e informou:

— Amanhã mando Felipe levar a cama pra você!

Felipe com desgosto, fez um muxoxo com a boca. Ele devia estar odiando toda aquela situação.

— Obrigado mais uma vez, Dona Lena.

Minha tia, muito simpática com Lost, abraçou-o.

— Será sempre bem-vindo. Amanhã se quiser aparecer para ajudar...

Ele me olhou rapidamente e respondeu:

— Prometi pra Kelly que consertaria o telhado dela, mas no domingo estou livre.