Demorei a compreender o que tudo aquilo podia representar para mim, mas assim que entendi, a minha reação foi imediata:
— Ah, não!
— Ah, sim! É a única saída, amiga! Você pode mantê-lo aqui tranquilamente, enquanto ele acha a família ou resgate o passado dele!
— Ele não vai concordar!
— Você sabe?
Ele se remexeu e virou-se no sofá, ficando de costas para nós. Aguardamos ele ficar imóvel novamente.
Assim que percebi que ele até roncava baixinho, voltei a falar:
— Vamos pensar em outra coisa...
— É só de mentirinha! Vai ser divertido! Melhor assim que ser bombardeada por Felipe e Lena.
— Pior que você tem razão. Eles ficariam terrivelmente escandalizados.
— Pronto, chegamos ą um consenso! Agora é claro que ele não pode aparecer assim... Seu primo pode reconhecê-lo.
— Será? Meu primo é péssimo em lembrar de fisionomias. É capaz de olhar um rato e achar que é um gato.
Marcela abafou o riso com a mão, e depois, argumentou:
— Você vai correr esse risco? Não se pode dar brecha para o azar. Se quiser, posso fazer milagre...Só levá-lo no salão que trabalho.
— Tá, mas se ele não concordar?
— Bom, só se ele for idiota! Quem diria, amiga! Mal posso acreditar que você fez isso.
— Pode parar! Já disse que ele está aqui por uma boa causa.
Ela riu.
— Vou trabalhar, amiga... Trate de levá-lo na próxima sexta-feira à tarde que eu o atendo no salão, enquanto você faz o bolo... Ah, compre logo uma roupa legal para ele...
— Não sei com que dinheiro...
— Compre fiado, oras! Não se preocupe, falo com uma parceira da loja, vizinha do salão onde trabalho, e quanto à transformação do seu querido mendigo, é por minha conta!
— O nome dele por enquanto é Lost e não sei se vou conseguir mentir, não ...
— Ok! Lost. Nome diferente... — Ela me abraçou e disse: — Deixa de ser boba! Vai conseguir sim. Tchau, amiga!
Apenas acenei. Ela saiu, fechando a porta. Minha cabeça estava um turbilhão de emoções. Como pude me envolver numa loucura daquela?
Suspirei, nervosa . Ao virar-me, encontrei o homem ainda deitado, mas os olhos dele estavam sobre mim.
— Bom dia, Kelly...
— Oi, Lost...
Ele se mexeu e ao levantar -se, ergueu os braços e espreguiçou-se.
— A pessoa que estava falando com você...É sua amiga?
Levei um impacto e ansiosa, perguntei:
— Sim. Você ouviu alguma coisa?
Lost fez silêncio. Coçou o queixo cabeludo e revelou:
— Bem... Não vou mentir pra você, ouvi sim...Ela quer que eu seja seu namorado de mentira e que eu vá ao salão, por causa da sua família, não é isso?
De surpresa, fiquei revoltada e me aproximei dele:
— Ah, seu malandro! Quer dizer que estava fingindo? Até roncou de mentira!
Ele riu, divertindo-se da minha cara e fiquei mais irritada ainda.
— Eu só estava entrando no personagem!
— Engraçadinho! Estou me metendo numa grande enrascada pra salvar sua pele, entendeu?
Ele continuava rindo e tive vontade de expulsá-lo e não ver a cara dele nunca mais.
— Desculpe, Kelly, mas é que você zangada, fica muito engraçada!
— Ah! Ah! — Imitei uma risada com ironia. — É... Mas você não vai aceitar, né?
Perguntei ansiosa para ele recusar, no entanto, as palavras dele não eram animadoras para mim.
— É uma história meio maluca, mas sua amiga tem razão... É a única maneira de eu poder ficar aqui sem me sentir mal por você...— Ele foi ficando sério, olhar penetrante. — Agradeço tudo o que tem feito por mim, então eu aceito!
Fiquei impactada com o olhar cada vez mais intenso e a resposta dele. Afastei-me rapidamente e antes de ir para a cozinha, falei:
— Mas eu não aceito!
( Uma semana depois, dia do aniversário da tia Lena)
Enquanto tirava o bolo do forno, lembrei-me de como Marcela me importunou nos dias seguintes, até que me convenci de que a única forma de não ser atormentada por minha família, era transformar Lost em meu namorado.
O bolo ficou esfriando em cima da mesa. Saí com ele para levá-lo até o salão.
No caminho, expliquei, categórica:
— Deixa que só eu falo para você não se confundir. Vou dizer que não sabe falar muito bem português e que nos conhecemos a um mês atrás num evento. Ok?
— Entendi.
— Quando terminar, arrume-se por lá mesmo, então pegamos o bolo e descemos até a praia.
— Combinado. Estou achando você nervosa. Relaxe, Kelly...
— Falar é fácil!
Ele deu um risinho e me olhou de um jeito que me deixou mais nervosa ainda.
Continuamos a andar em silêncio, até que chegamos. Marcela o cumprimentou e ele respondeu com educação.
— Pode ir, Kelly! Ele está em boas mãos e eu o ajudarei a escolher a roupa.
— Tá, vou voltar para confeitar o bolo. Mais tarde, passo por aqui.
— Tudo bem. Até mais.
No momento que eu ia saindo, senti -me como se fosse a mãe que deixaria o filho pela primeira vez na escola. Meu coração estava angustiado e ao olhá-lo nos olhos percebi que ele também estava inseguro.
— Até mais Lost .
— Até mais, Kelly.
Virei-me na direção da saída e voltei para casa.
De repente, a casa parecia vazia sem a presença dele. Era impressão minha ou realmente estava me acostumando mal com a presença dele?
Não podia me apegar a ele. Lost estava ali de passagem. Assim que recuperasse a memória, ele iria embora e faria parte apenas de minhas lembranças.
Voltaria a ter a pia repleta de louças sujas, casa revirada pela bagunça e a desorganização voltaria ao normal.
Que lástima! Por mais que não quisesse admitir, sentiria falta da companhia dele.
Enquanto pensava, comecei a confeitar o bolo.
Logo depois, fui me arrumar. Escolhi um vestido amarelo claro de renda e sandálias brancas.
Escovei o cabelo e fiz uma maquiagem discreta. Depois de pronta, já anoitecendo, retornei para o salão.
Marcela e duas outras funcionárias do salão formaram um círculo e conversavam, mas nem sinal de Lost.
Fiquei alarmada.
— Amiga, Você está formidável!
— Obrigada... Onde está Lost?
Elas riram maliciosa. Marcela sussurrou:
— Você não vai acreditar...
— O quê você está dizendo?
— Olhe você mesma.— Ela gritou: —Lost, Kelly chegou!
A porta de um dos cômodos abriu e Kelly , extremamente surpresa, avistou o homem que foi surgindo em sua direção.
Meus olhos se prenderam nos dele.
(Imagem meramente ilustrativa)
Sem a barba e bigode crescidos e cabelo num corte curto e moderno, fiquei de queixo caído. Que homem lindo era aquele? Parecia que tinha rejuvenescido uns dez anos!
Lost, o mendigo maltrapilho, sujo e peludo, transformou-se no homem mais fascinante que via em toda a minha vida.
— Droga! — Escapou da minha boca.
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Atualizado até capítulo 98
Comments
elenice ferreira
ainda bem que as autoras tem excelente gosto, qdo colocam esses deuses como referência!
2025-02-06
1
Terezinha Taramelli Yamada
Eu desconheço homem mais lindo q esse,sou apaixonada por esse ator William Levy
2024-11-20
3
Zenilda Soares
esse homem é muito lindo
2024-11-26
1