Cap. 12 - Lágrima Solitária

Quando cheguei de mais um evento, estava estafada. Só queria chegar em casa e dormir. Abri a porta e liguei a luz da sala.

Provavelmente, Lost estava dormindo e eu procurei não fazer barulho.

Olhei em volta da casa e fiquei emocionada. Mais uma vez, para minha alegria, a casa estava limpa, a louça, lavada.

Como sentiria falta daquele mendigo e não era apenas porque era um homem caprichoso no que fazia na casa.

O relógio apontava para três da madrugada. Deitei-me no sofá e olhando fixamente para o teto, relembrei de algumas situações do domingo.

A fala de Marcela ainda martelava na minha cabeça. "Enquanto você não sabe quem ele é, pelo menos divirtam -se. "

Ainda bem que no evento ela não me atormentou com essa ideia e nem comentou sobre nada envolvendo Marina e Lost.

Talvez porque não tiveram tempo. Muitos convidados para poucos que serviam.

Fiquei ali no sofá, tentando decifrar se Lost dormia, se havia lembrado algo ou se o beijo que quase aconteceu era só curiosidade por parte dele.

Só sabia que os olhos pesavam tanto! "Oh, Lost, o que está fazendo comigo? " Foi meu último pensamento.

— Kelly?

A voz grave de Lost me fez abrir os olhos lentamente!

— Hum... Vai dormir, Lost!

Ele ficou quieto, então os meus olhos pesados me chamavam de volta para um belo sono, quando novamente, ele falou:

— Kelly, acorde!

Resmungando, perguntei:

— Por que? Acabei de cair no sono...Me deixa em paz...

— Kelly, você dormiu no sofá e já são oito horas!

"Bom, ainda bem que era um sonho, nada mais. Talvez até ele mesmo era um sonho..."

— Vou precisar sair. A sua tia deve está me esperando para arrumar o telhado e você não acorda!

Quando ouvi isso, fiquei alarmada. Levantei-me num salto.

— Que droga! Vou preparar o café...

— Já fiz. —Ele me olhava com um ar zombeteiro. — Esse sofá é mágico. Pensei até que havia se transformado na bela adormecida.

Ele falou assim e foi -se afastando.

— Tchau, Kelly!

E saiu.

Um suspiro veio e fiquei pensando porque cada vez mais ele estava tomando espaço em meus pensamentos.

Lembrei do quase beijo. Foi por pouco, ainda bem que não aconteceu, ainda mais que ele parecia estar 'arrastando asas' para o lado de Marina.

Na terça-feira, novamente vi os dois juntos na porta da minha casa. Ele, sentado na calçada e ela, na cadeira com Guto no colo.

Eu não queria, mas o ciúme veio imediatamente e tive vontade de confrontar os dois. O que estava rolando entre eles?

— Oi, Marina!

— Ei, amiga! — A fala era natural e percebi que Lost ficou sério.

Guto sorriu para mim e gritou animado:

— Tia Ké!

— Oi, meu príncipe!

— Quer entrar!

Marina comentou:

— Desde que cheguei pra conversar com Lost, que Guto está querendo entrar, achando que você está aí.

— Calma, vou abrir a porta, bebê. — Curiosa, perguntei com os olhos fixos em Lost: — Mas por que estão aqui fora?

— A brisa que vem do mar está maravilhosa. Lá dentro estava um forno.

— De fato. Chegamos nos dias mais quentes finalmente. — Respondi.

Abri a porta e Guto correu para a sala.

— Ama "arrumar"minha casa, essa coisinha linda. — Falei com tom brincalhão, embora estivesse tensa.

Marina sorriu e disse:

— Fica logo com ele pra sempre!

— E você, Lost, terminou o serviço com minha tia?

— Sim e já consegui outro serviço no telhado de lá da praia. Vou começar na semana que vem.

Fiquei surpresa.

— Vejam só ... Está prosperando!

— Sim, sou um homem de sucesso.

"O sorriso dele... Meu Deus! " Desviei os olhos para Marina, que era mais tranquilo.

— Vou ver o Guto, podem continuar conversando!

Saí com o sorriso nos lábios e o coração com sentimento de perda. Agora eu, além de encalhada, estava possessiva. Seria possível que eu ia querer me apaixonar por alguém que não estava interessado em mim?

Guto puxou minha mão para brincar e tentei me distrair, mas estava difícil. Imaginar Marina e Lost se beijando estava sendo meu fim.

Perspectiva de Lost

— Não falei pra você, Marina? Ela nem liga pra mim! — Suspirei, desanimado.

— Puxa vida, Lost, realmente você está em maus lençóis... Será que ela ainda gosta de Luís?

Meu desânimo aumentou mais ainda com essa possibilidade.

— Deve ser isso, que ódio!

— Bom, pensei que a reação dela fosse diferente... Acho que Kelly está cada vez mais casca dura. Sabe, Lost, precisamos ser mais ousados... Sairmos juntos.

A proposta de Marina era interessante, mas sentia-me constrangido por ter que mentir para testar os sentimentos de Kelly.

— Será que isso resolveria mesmo? Ela parece não me notar, exceto o dia que quase nos beijamos...

— Ah, Lost, fiquei tão chateada por esse dia! Se não fosse por mim, já saberíamos se ela sente algo por você. Só faço besteira!

— Não se culpe, Marina. Como você podia saber?

Ela concordou com a cabeça.

Ficou pensativa e eu, triste.

— Tenho uma ideia. No final de semana, vou levar o Guto para ver a mãe do meu ex... Ela quer ver o neto. Sei que é loucura, mas ao nos ver saindo juntos, pode ser que ela fique com ciúmes, quem sabe...

— Será que devemos? Tenho medo de ela ficar zangada por estar abusando da sua hospitalidade ou algo assim.

— Bobagem! Você vai ficar o tempo todo de braços cruzados? Pelo que entendi, está afim dela desde que a viu pela primeira vez! Não perca tanto tempo assim!

— Você tem razão.

— E lembra o que te falei. Faça ela pensar que estamos juntos.

— Não vai ser fácil, mas bem, que dessa vez eu tenha mais sorte.

Perspectiva de Kelly

Logo depois que Marina se foi com Guto, perguntei a Lost:

— Estou vendo que você está conseguindo conquistar o seu espaço. Está trabalhando e parece-me que Marina está caidinha por você...Parabéns!

Foi um esforço enorme manter a neutralidade nas palavras. O olhos dele se estreitaram como se quisessem saber além do que eu disse.

— É, sou agradecido a você por tudo isso.

Virei-me para que ele não me decifrasse a tristeza.

— Sobre você e Marina, não precisa se preocupar comigo...Vocês podem namorar à vontade.

Ele ficou em silêncio por um instante. Depois disse:

— Claro, vou fazer isso... Temos até um compromisso no final de semana...

— Sério? Ah, beleza! —Virei-me e fitei-o destroçada.

— Será um almoço. Vou conhecer algumas pessoas da família dela.

— Está ficando sério! Vida nova do Lost, boa sorte!

Saí de perto dele e uma lágrima solitária surgiu, mas limpei com a mão rapidamente.

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