CAP. 11 - Marina na área

Perspectiva de Kelly

O domingo estava bem ensolarado o que garantia boas vendas e estávamos entusiasmados, arrumando as mesas e cadeiras, no aguardo dos banhistas, que começavam a aproveitar o mar.

Entretanto, tia Lena estava mais uma vez chateada e tudo porque no dia anterior, assim que saí do restaurante, a Companhia Lancaster, através de alguns funcionários, passaram distribuindo convites para os comerciantes da área para uma proposta amigável de negociação dos imóveis.

— Puxa, tia, que pena que eu não estava aqui. Eu ia dizer umas poucas e boas para eles, pois da última reunião , disseram que o tal do Hans Lancaster viria pessoalmente para tirarmos as dúvidas e ele nunca apareceu!

— Bem lembrado, minha filha! Na próxima reunião se ele não estiver, nem fico pra assistir, pois eles ficam só enrolando e todos ficamos preocupados com essa situação que é tão desgastante!

Lost, que estava por perto, ouvindo nossa conversa, perguntou:

— Quem é esse Hans... Lancaster?

Minha tia respondeu:

— O excêntrico e detestável CEO da Companhia Lancaster. Ouvi dizer que odeia aparecer em público e que só pensa em ganhar dinheiro. É capaz de vender até a alma, só pra conseguir o que deseja!

— Um mimado, isso sim! Tem tanto lugar no mundo e ele se engraçou logo por este lugar! O pior que não desiste de jeito nenhum e poucos comerciantes ainda resistem! Se ele construir esse hotel, todos estarão perdidos, especialmente os que trabalham na informalidade... Ele não suporta pobre, então quer que a praia se torne privativa para seus hóspedes!

— Isso é um absurdo! Vejo como as pessoas daqui sofrem para ganhar o sustento! Mesmo que paguem o valor do imóvel, isso não resolve o problema de vocês.

— Exatamente, Lost, por isso que vamos lutar até que ele desista! Quando é a reunião, tia? Pois quero ir com a senhora!

— Daqui a quinze dias.

— Pois eu vou também, tia! Quero ficar cara a cara com esse playboyzinho!

Marcela interveio:

— Depois vocês conversam sobre isso. Pois os clientes estão chegando.

Nós, então, procuramos os nossos postos. Eu e Luna, a cozinheira que estava doente a semanas atrás, ficamos na cozinha preparando os pedidos. Minha tia ficou no caixa. Marcela, Felipe e Lost ficaram no atendimento aos clientes.

O tempo passava e naquele dia, o restaurante estava bem cheio, então Marcela começou a ajudar tambem na cozinha.

Quando o movimento ficou mais fraco, pudemos relaxar mais e então sentei numa mesa para o almoço e Marcela me acompanhou. Depois seria a vez dos homens.

De vez em quando meus olhos pousavam em Lost, que aparentemente, estava sendo um ótimo garçon.

Marcela chamou a minha atenção para ela.

— Escuta, Kelly, vamos na quarta-feira explorar a área da pedra branca na praia das gaivotas. Confio quando você vai, pois Felipe se perde muito!

— Ah, claro! Hora de me redimir com vocês! Falei com ironia

— Convidei seu amigo e ele concordou!

— Hum...Ok.

Fiquei em silêncio. Concentrei-me no meu prato e voltei a comer

Marcela voltou a falar:

— Quando eu estava atendendo aqui fora, vi várias mulheres dando em cima do seu amigo.

Fingi que não fiquei impactada com a informação e fiz um gesto com a mão de pouco caso.

— Não ligo. Você sabe que ele não é meu namorado de verdade.

Marcela olhou para ele e disse:

— Ainda tem tempo de mudar de ideia... .Tá arrasando corações ... Até agora nem acredito que ele é aquele mendigo fedorento.

— Nossa, Marcela, estou comendo!—Falei com a boca cheia.

Minha amiga riu do meu comentário e continuou:

— Não vai me dizer que está com nojo! — Marcela perguntou com ironia e depois disse:

— Doida pra saber quem ele é, sabe? Fico agora bisbilhotando tudo, até assisto jornal agora!

— O quê? Essa é demais! Tá virando gente, hein, Marcela!

— Ele parece ser boa pessoa, mas esse mistério de amnésia... Olha, amiga, ele precisa de um médico!

— Outro dia eu sugeri isso, mas ele me disse que prefere recuperar sozinho. Creio que tem medo, no fundo, de saber quem é e pelo que parece, ę um pobretão como a gente!

Marcela deu uma risada.

— Isso é um mal sinal... — Então ela parou por um instante e perguntou: — O que Marina faz ali de prosa com ele?

Virei de imediato. Os dois estavam distantes do restaurante e conversavam como se fossem velhos amigos.

— Desde quando são tão íntimos? —Ela perguntou em alerta.

— Ontem.

Falei como se conheceram e depois Marcela disse:

— Kelly, você sabe que Marina está solteira e Lost também, então se você não agir, ela é uma forte concorrente.

Para disfarçar o sentimento de posse que eu estava sentindo por Lost, menti:

— Por mim ele pode ficar com quem quiser, não tenho nada com ele!

— Ah, você é uma tonta mesmo! Queridinha, enquanto você não sabe quem ele é, pelo menos divirtam -se! Sua própria família já aceitou!

— Que bobagem, Marcela! Não sou dessas, não! Como vou me envolver com um homem que nem sabe quem ele é? Eu lamento! Eles até fazem um belo casal, olha lá!

Marcela olhou novamente para Marina e Lost.

— Não, Amiga, definitivamente não! Vocês combinam mais, porém, você já decidiu, então não está aqui quem falou!

Marcela continuou a degustar a sua refeição e sutilmente fixei meu olhar nos dois.

Senti um incômodo terrível em vê-los juntos e como minha mente pegava ares rapidamente, já imaginava cenas mais ousadas entre os dois.

Quando menos eu esperava Marina já estava parada me olhando.

— Ei, meninas! Tudo bem com vocês?

Respondemos que sim.

— Cadê o Guto? — Perguntei, com raiva de mim mesma por sentir certa repulsa da voz de Marina.

— Está com a avó. Na hora que vocês subirem, posso ir com vocês?

Percebi o olhar de Marcela em mim, mas forcei um sorriso e falei:

— Claro que pode!

— Tá bom! Vou ficar por perto! Eu já até falei com Lost e ele vai me chamar caso necessário.

Fiquei sem palavras. Observei que ele atendia um cliente distraído e voltei-me para Marina.

— Ok.

Ela sorriu com a simpatia de sempre e de repente imaginei um sorriso falso por trás da verdadeira intenção dela que era fisgar Lost.

— Volto já!

Marina foi se afastando, mas antes chamou a atenção de Lost para si, que acenou para ela e ficou um instante parado, observando-a

— Aí tem! Você tem certeza que se conheceram ontem? Você praticamente não para em casa...E hoje ainda tem evento! Se você não marcar território, Marina vai ganhar essa parada!

"Porcaria! Marcela minou minha mente e agora eu não paro de pensar bobagem. Seria por isso que ele havia perguntado se eu ia chegar mais tarde?"

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