Cap. 6 - O aniversário da Tia Lena

Não era à toa que quando cheguei no salão as funcionárias e clientes estavam suspirando.

Eu mesma não acreditei quando o vi todo estilos à minha frente.

Bom, não foi só o estilo que chamou minha atenção.

Nossa! Que Corpo maravilhoso!

Era difícil desviar os olhos do rosto com sobrancelha bem feita, nariz e lábios perfeitos.

Os olhos de um azul profundo, também me examinavam admirados, mas assim como não comentei, ele também se manteve calado.

( Imagem meramente ilustrativa)

As mulheres do salão o cobriram de elogios e eu senti algo inexplicável. Pegou-me de surpresa.

Ciúme? Não, impossível, né? Era só uma simples reação ao novo. Sim, era isso. (Tentei me convencer.)

E isso me fez lembrar, que eu devia parar de pensar bobagem.

Marcela veio logo e disse:

— Novo homem, não ?!...Estou tão orgulhosa! Agora sim!

Ele sorriu.

Meu coração acelerou, um calor foi subindo. "Nossa! Cadê o mendigo Lost?"

— Obrigada, Marcela! Bom trabalho! Agora precisamos pegar o bolo, né , Lost?

Ele concordou com a cabeça.

— Também já vou! —Marcela se aproximou e cochichou:— Aproveita esse gatão, amiga!

Disfarcei o espanto. Olhei-a com advertência.

— Até mais, Marcela!

Eu e Lost saímos do salão e à princípio, ficamos calados, até que ele me perguntou:

— Então, gostou do meu novo visual?

Ele rodopiou no meio da rua deserta e comecei a rir.

Fui cautelosamente sincera:

— Nada mal! Antes você estava parecido a um personagem de desenho... O capitão caverna!

— Capitão o quê?

Kelly riu da fisionomia intrigada dele.

— Era uma criatura peluda e engraçada que usava um tacape. Ele foi encontrado congelado pelas panteirinhas: Brenda, Kelly e Sabrina, que eram jovens aventureiras e ele se juntou a elas para armar muitas confusões!

— Credo, Kelly, vi um desenho dele estampado na parede do seu quarto. Estou decepcionado!!

— Ora, mas eu amo esse personagem! Um dos meus preferidos!

Com essa frase, senti uma mudança nele. Lost ficou tenso e eu, envergonhada com a reação inusitada dele, calei-me. Depois ele disse:

— Que bom que você vê além das aparências Kelly!

Baixei meus olhos para o chão.

— E você, Lost, também é assim?

Chegamos na frente da minha casa e ele me fitou devagar e com carinho.

— Espero que sim!

" Como um mendigo sujo e sem graça pôde se tornar naquele gato?"

Como notei que o olhar dele era intenso demais para que eu o encarasse, desviei-me para a porta e mudei o assunto:

— Bom, vamos pegar o bolo...

Momentos depois, antes de entrar na casa da tia Lena que ficava ao lado do restaurante dela, respirei bem fundo e apertei a campainha.

Olhei para o lado e Lost segurava o bolo com cuidado e aparentemente, estava tranquilo.

Minha tia abriu a porta. Ela sorriu comigo, mas seus olhos pousavam em Lost com curiosidade.

Com a chegada do bolo, Marcela puxou a canção dos " parabéns a você" e não tive tempo de apresentá-lo .

A homenagem, momentaneamente, mudou o foco da tia que se desmanchou em alegria.

Lost , caminhando devagar, pôs o bolo no centro da mesa e juntou -se a nós, batendo palmas.

Eu estava cada vez mais nervosa, principalmente porque notei o meu primo com olhar interrogativo sobre mim.

Ele não ia deixar de me encher de perguntas e só de imaginar o que tinha de responder, ficava até sem fôlego.

Assim que terminamos de cantar, tia Lena pediu a palavra:

— Oh, meus queridos! Obrigada! Vocês são formidáveis e agradeço a Deus por ter vocês em minha vida, e claro, hoje é um dia tão significativo pra mim, pois tenho o privilégio de fazer hoje cinquenta e três anos com saúde e o amor todo especial de vocês!

Nós vibramos com o discurso.

Mais palmas e assobios. Ela nos observava, cheia de afeição até que novamente lançou o olhar curioso sobre Lost.

— Bem, Kelly, apresente-nos esse rapaz tão gracioso!

Um tremor tomou conta do meu corpo, enquanto olhava para minha tia. Gaguejei:

— O nome d- dele é Lost...Ele... é... M-meu ... Amigo!

Só depois que falei foi que tomei consciência da besteira que fiz. Rapidamente fui colhendo as reações de cada um, na sala.

Lost ficou surpreso. Marcela fechou os olhos e balançou a cabeça, com total desaprovação. Felipe tinha um olhar perigosamente ameaçador para mim e minha tia ficou séria.

— Como assim?

Fui explicar, me tremendo:

— Ele, bem, ele ....

Lost falou num português bem eloquente:

— Estou hospedado na casa dela para conhecer essa linda cidade e ela me convidou para conhecer a família que tanto ama.

Tia Lena ergueu uma das sobrancelhas, avaliando Lost com atenção, e por fim, exibiu um sorriso satisfeito.

— Ah, seja bem-vindo, Lost. Gostei de você, viu?

Ela não brigou comigo, incrível! Confesso que tive vontade de desmaiar de alívio.

Felipe interveio, sério:

— De onde vocês se conhecem?

Entrei em pânico. Lost abriu a boca para responder, mas eu fui mais rápida:

— Calma, Felipe, que modos são esses, né, tia? Eu o conheci num evento...

— Tô achando estranho porque conheço todos os seus amigos e eu não sabia nada sobre...

— Felipe! — A tia engrossou a voz, irritada. — Vá buscar os pratos para eu repartir o bolo!

Meu primo me fuzilou com os olhos e eu fingi que não percebi. Minha tia continuou, agora pegando nas mãos de Lost.

— Mas me conta, onde você está dormindo? A casa de Kelly é tão apertadinha!

Engoli em seco. Minha tia estava testando o rapaz ou o quê?

— No sofá!

— O quê? Aquele sofá vai entortar sua coluna de tão pequeno. — Virando-se para mim, ralhou: — Isso é jeito de tratar um hóspede? Por que não arrumou o antigo quarto do seu pai para dar mais conforto ao seu amigo? Trate de resolver isso imediatamente!

— Mas tia, não tenho outra cama...

— Tenho uma aqui que era a de Felipe! Amanhã mesmo, vamos providenciar isso, tá Lost?

— É muita gentileza a sua! — Ele sorria, enquanto me olhava de jeito travesso. Marcela estava pasma com a reviravolta da situação e sutilmente , mostrou um gesto de positivo com o dedo polegar para mim.

O meu primo voltou, entregou os pratos para a mãe dele e fez questão de ficar próximo a mim.

— Quero saber dessa história direitinho! — Ele cochichou.

Sorri, disfarçando. Eu estava prestes a sair correndo para minha casa, trancar-me lá e nunca mais sair só de vergonha, mas segurei firme.

Tia Lena partiu o bolo e adivinhe para quem foi o primeiro pedaço?

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