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E do susto que já havia passado, tentei chamar o Wallace, mas minha voz saiu trêmula, engasgada com soluços incontroláveis. Ele se virou para mim e, ao me abraçar, sua fúria se intensificou ao perceber meu estado: meu rosto inchado, os lábios e têmporas sangrando e os cabelos despenteados. Nesse momento, vi em seu olhar uma fúria pura, quase primal.

Ele virou-se para o Jones, baixou-se e agarrou seu pescoço com uma força que parecia sobrenatural, levantando-o como se fosse um boneco de pano. Com a voz carregada de raiva, perguntou: —Qual foi a mão que bateu nela? Fala!— O silêncio do Jones o deixou mais furioso; ele estava tão apavorado que parecia um homem diferente, algo que ninguém jamais tinha visto antes.

Então, Wallace disparou com uma fúria descomunal: —Já que você perdeu a língua e não vai falar, vou me certificar de que nenhuma das suas mãos seja usada novamente para bater na minha esposa!—As palavras reverberaram no ar pesado do restaurante.

Todos os presentes saíram apressadamente para fora, assistindo à cena com olhos arregalados. Muitos estavam espantados com a menção de —esposa,— pois ninguém sabia que ele havia despertado do coma ou que era tão bonito mesmo quando estava com raiva.

Em um movimento tão rápido que mal consegui acompanhar, Wallace agarrou as mãos do Jones. O som de ossos quebrando foi ouvido e os gritos dele ecoou pelo ar enquanto olhávamos em choque: seus dedos e mãos estavam quebrados. A brutalidade da cena era impressionante e a admiração pulsava em todos nós. Eu sabia que aquele momento mudaria tudo entre nós — um ato de amor feroz em meio ao

caos.

Ele se virou para mim e me abraçou, preocupado, perguntando se eu estava bem. Encostei meu rosto em seu peito, entre soluços, enquanto me deixava envolver pelo calor do seu corpo musculoso. Com a voz tremula, confessei que estava com muito medo.

Ele acariciou meu rosto com delicadeza e disse: —Fica calma, eu estou aqui. Não vou permitir que te machuquem de novo.— Em um gesto protetor, me levantou em seus braços e começou a caminhar em direção à nossa casa. Deitei minha cabeça em seu peito, envolvendo seu pescoço com os braços; ele andava como se eu não pesasse nada.

Quando chegamos em casa, ele me deitou suavemente na cama e sentou-se ao meu lado, acariciando meus cabelos com uma ternura que aquecia meu coração. Com sinceridade, pediu desculpas

—me perdoe Laís por ter chegado atrasado. Eu sorri entre lágrimas e disse:

—Você não chegou atrasado Wallace, chegou na hora certa e me salvou. Mas notei que ainda havia uma centelha de fúria em seu olhar. Ele se inclinou para mim e declarou: —Eu nunca me perdoaria se acontecesse algo com você.

Depois me cobriu com um cobertor e ligou o ventilador, criando um ambiente fresco e acolhedor. Levantou-se e foi à cozinha preparar um copo de suco de maracujá com leite, trazendo-o para mim como uma forma de me ajudar a acalmar. Sentou-se ao meu lado e, em meio ao silêncio reconfortante, perguntei:

— como você ficou sabendo do que estava acontecendo?.

Ele me olhou com preocupação e disse:

— Eu não sabia... Fiquei com saudades e fui te buscar. Você saiu hoje de manhã sem falar comigo. Achei que tinha acontecido alguma coisa ou que você estava com raiva de mim.

Senti meu coração apertar e respondi:

— Desculpa, Wallace. Eu não deveria ter saído sem falar com você; estava atrasada.

Mentir sem querer dizer que estava me corroendo de ciúmes do abraço dele com a Viviane.

— Tudo bem, mas me promete que nunca mais vai sair sem se despedir de mim.

— Tudo bem, eu prometo.

A verdade é que, naquele momento delicado entre nós, o medo de perdê-lo era maior do que qualquer outra coisa.

Acordei hoje cedo e fui ajudar na comunidade, atendendo ao pedido da dona Cecília, que precisava de uma mão amiga. Enquanto eu estava lá, uma moça muito bonita apareceu. Ela era encantadora, mas nada se comparava à minha Laís. A moça começou a contar algumas piadas engraçadas, e eu ri muito, me divertindo com sua energia contagiante. De repente, ela me abraçou. Eu retribuí o abraço sem pensar muito, mas logo percebi que não era apenas um agradecimento pela ajuda; havia algo mais ali, um interesse que eu não esperava.

Quando me afastei, percebi que Laís já havia saído de casa, eu só consegui ver suas costas se afastando ao longe. Uma preocupação começou a surgir em meu peito: o que aconteceu? Todos os dias ela fala comigo antes de sair para o trabalho. Será que fiz algo que a incomodou?

Entrei em casa e perguntei à dona Larissa se havia acontecido algo com Laís, já que ela saiu sem se despedir. Ela me tranquilizou, dizendo que estava tudo bem. Mas eu tinha a sensação de que algo estava errado; talvez Laís não tivesse me visto.

Fiquei o dia todo pensativo, ajudando todos na comunidade, mas sem conseguir tirar Laís da minha cabeça. Olhei no relógio e percebi que faltava uma hora para ela sair do trabalho. Decidi ir buscá-la.

Ao chegar na rua do restaurante, vi uma cena horrível: um homem arrastava uma mulher para dentro de um carro. Meu coração disparou ao perceber que quem estava em apuros era minha Laís. Sem pensar duas vezes, aumentei os passos para alcançá-lo antes que ele ligasse o carro e fugisse.

Pensei comigo mesmo: esse cara deve estar pedindo pra morrer deve estar cansado de viver! Uma fúria tomou conta de mim enquanto avançava em direção ao desgraçado. Ele já estava sentado no banco do motorista quando consegui puxá-lo para fora do carro. Assim que o tirei de dentro do veículo, dei um soco em seu rosto, quebrando seu nariz e jogando no chão.

A raiva dentro de mim parecia não ter fim enquanto eu segurava seu pescoço sufocando-o e desferia uma sequência de socos. Mas então ouvi um movimento atrás de mim e olhei por cima do ombro. Vi Laís ali, parecendo engasgada em seus soluços.

Num instante, deixei o desgraçado de lado e corri até ela, envolvendo-a em meus braços num abraço apertado. O mundo ao nosso redor desapareceu enquanto eu tentava confortá-la e garantir que ela estava segura novamente.

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