Haviam se passado dois meses, eu comecei a fazer um curso online de língua portuguesa brasileira, e meu pai vendo o quanto eu me empenhava em aprender, resolveu contratar um tutor três vezes por semana para me dar aulas particulares intensivas, e isso me ajudou muito a compreender o que os meus colegas diziam.
Eu conseguia pronunciar algumas palavras complexas, e falar pequenas frases, mais é claro, não eram feita as concordâncias cem por cento corretas, mas eu conseguia entendê-los e me comunicar melhor, sem ter que apontar sempre para algo, já que isso para mim, era uma forma rude de tentar me comunicar com as pessoas e nem usar o tradutor para tudo.
Eu entendia o que a professora falava a maior parte do tempo, o que ela explicava na louça e o que os meus colegas falavam, também era mais compreensível. Eu não entendia algumas palavras como "véi", "mané", "caraio", algumas coisas assim e os seus gestos com as mãos e as poses, eu realmente tentava traduzir isso, mais eu não conseguia, eles eram bem complexos com certas coisas e olhares, sem contar que sempre se contrapunham em algumas falas, como, "Tem água, mas não tem", "Veja o áudio que ele me mandou", era algo absurdo e complexo, como se via algo que se ouve ou tem algo que não tem? Eu realmente me sentia perdido.
Mas o que mais incomodava nisso tudo, era que eu buscava compreendê-los e me comunicar, por causa da minha nova suposta amizade, que eu havia feito. Murilo parecia me odiar, eu tentava conversar com ele, no entanto ele me olhava disperso, às vezes simplesmente nem me encarava, me ignorando por completo, eu tentava entender o que eu havia feito para ele, mas não conseguia compreendê-lo, eu tentava me aproximar, mas ele fugia de mim, e a professora sempre brigava com ele, porquê ele dormia muito na aula ou ficava desenhando no seu caderno o tempo todo mastigando o seu lápis. Ele sempre parecia distante de tudo, e só o via copiar algo no caderno, quando as professoras de geografia ou de matemática davam aula, já as outras matérias ele enrolava, ou simplesmente ignorava tudo ali em seu redor, até alguma mestra bater com força em sua carteira o fazendo os olhar e copiar a matéria da louça, sem contar que sua mania de roer as unhas pareciam que o prejudicava, não era a primeira vês que via seus dedos enfaixados com esparadrapos.
Aquele garoto vivia sozinho sentado no banco do pátio, eu quase não o via com ninguém, eu buscava entender porquê ele era tão diferente, até nas aulas práticas de educação física, o professor não o incentivava a participar, a única coisa que Murilo fazia na aula, era buscar a bola, pegar as roupas sujas, entregar o sabão e toalhas limpas para os jogadores e depois as pegava de volta jogando na máquina de lavar, e as entregava para o treinador, para ele levar e secar as toalhas molhadas junto dos uniformes. Eu tentava lhe ajudar ou dar lhe um oi, mas ele se retraía e franzia o rosto rudemente para mim, me mandando ir embora.
Sinceramente aquilo me incomodava muito, algumas vezes os nossos colegas conversavam com ele, depois o chamavam daquele apelido que me ensinaram e sorriam, aí ele sorria e respondia sempre a mesma coisa, parecia que aquele apelido era um bordão, as pessoas o chamava de "retardado" e ele respondia que "era inteligente e só demorava um tempo para aprender".
Era a aula da professora de português, ela sempre gritava com os alunos que cochichavam ou não prestavam atenção na aula, como eu não queria que ela gritasse perto da gente, eu olhei para o Murilo e percebi que novamente, ele enfiou a cabeça dentro da mochila se escondendo roendo suas unhas que já estavam na carne viva.
Aí eu o cutuquei e ele se levantou assustado e me encarou quieto e se virou novamente murmurando algo na qual não consegui ouvir e muito menos compreender, depois o cutuquei novamente e apontei para a professora, tentando o alertar sobre ela, eu odiava quando ela gritava, isso era horrível! Então Murilo, colocou a mochila por baixo da mesa, e encarou a professora e depois para o seu relógio e passou a mão no rosto, de uma maneira tão rígida, e ele fez uma expressão de angústia e desgosto, e abaixou a cabeça, a cobrindo pelo seu braço.
Eu não o entendia, mas sabia que sua atitude também não era uma forma boa de se ajudar, mesmo não gostando da aula, deve-se ao menos ter respeito pelo o seu mestre, e isso ele não estava tendo, por isso suas notas eram baixas, e ele vivia chorando no banheiro com vergonha de baixo desempenho, alegando ter estudado e se esforçado muito para conseguir fazer os testes! Então chamei sua atenção novamente, e sem resposta, eu o cutuquei sério, não queria vê-lo chorar novamente por causa de notas ruins, e seu baixo desempenho vergonhoso para si e sua família.
_ Retartadu! Precisa prestar atenção aula! (Eu falei bem sério a ele).
_ EU NÃO SOU RETARDADO, SEU GRINGO IDIOTA! (Nisso ele se levantou e me deu um soco furioso, aquilo me tonteou na hora, eu perdi um pouco da noção onde eu estava e o que eu estava fazendo).
_ O que está acontecendo aí atrás? (A professora olhou furiosa para gente e os nosso colegas apontaram para o Murilo o chamando de retardado também, eles diziam que o retardado havia batido em mim, eu os olhei confuso e Murilo balançava a cabeça nervoso com cara de ódio).
_ Esse idiota todo dia me xinga! Fica me infernizando o tempo todo, junto desses merdas que me chamam de retardado! Eu já falei que não sou retardado, eu aprendo as coisas também! Que saco! (Ele dizia tão vermelho apontando para mim, eu não o maldizia, pelo menos eu pensava que não, eu não o xingava, por que eu faria uma maldade dessas?).
_ Isso aqui não é lugar de brigas e xingamentos! Você controla a sua língua e pare de xingar! Agora levanta os dois e vão já, para a diretoria! Eu não tolero esse comportamento dentro da sala de aula! (A professora dizia furiosa e eu fiquei assustado com aquilo, eu não queria causar transtorno, muito menos irritar a mestre e o Murilo, no qual sempre o achava engraçadinho com suas bochechas rosadas).
Eu fiquei pasmado com tudo aquilo, Murilo havia me batido e gritado comigo do nada, então a professora vendo aquilo, nos tirou da sala e nos levou para a sala da diretoria, e lá a diretora mandou nós dois entrarmos juntos, e ela começou a falar muitas coisas, e eu confesso que algumas palavras ou colocações eu não compreendia, assim como a atitude brusca e rude de Murilo comigo.
_ Por que você estava o xingando, Díoman? Nessa escola não toleramos esse tipo de comportamento inadequados! (A diretora me olhava com desaprovação, parecia a tia Aghna quando eu fazia algo errado para ela, eu me senti horrível, estando naquele lugar).
_ Eu não xinguei! Ele meu amigo! Dia ruim, não? (Eu encarava Murilo, chateado com ele, ele era muito temperamental e não deveria descontar suas frustrações em mim).
_ Ele me xinga sim! Todos os dias, junto com o time de futebol, aquelas garotas da turminha da Deyse, as amigas dela Maria Alice e o Nicolas do terceiro ano, e o resto da escola toda! Eles me chamam de retardado, que minha mente é um mingau, que sou um débil mental e que só passou por ter laudo, como se eu não me esforçasse pra nada! Eu tento, eu estudo com aquela merda psicopedagoga, com a neura, com a terapeuta e me sinto louco, eles falam que sou idiota e deveria ficar junto dos outros da APAE! Eu sou normal, a minha mãe fala que sou normal, por que todo mundo me chama assim? Por que eu faço terapia, é por isso? Quero que todos queimem nos quintos dos infernos junto desse desgraçado e aquela maldita mulher horrorosa! (Ele dizia tão frustrado para ela e ficou encolhido no canto, praguejando tudo e todos e começou a colocar a mão na cabeça se arranhando com seus dedos machucados, aquilo me assustou muito).
Depois a diretora conversou com ele, porquê parecia que ele estava tendo alguma coisa lá dentro, pois ele tampou seus ouvidos e encolheu de um jeito, que nada o fazia parar, e quando ele começou a fazer aquilo, a diretora mandou a secretária ligar para a sua mãe e me mandou eu sair de lá de dentro e que iria chamar a minha mãe também, eu fiquei confuso e assustado com aquela situação, mesmo assim, eu fiquei sentado na sala da secretaria a encarando, esperando meus pais quieto.
_ Eu não compreendo significado das palavras correto! Não quis ofender, Murilo! Não saber que ele ia ficar assim! Mãe ficar brava comigo! (Eu a encarei pensativo e horrorizado, quando lembrava dele tendo crises dentro da diretoria e como minha mãe ficaria sabendo que agi feito a tribo que roubou Dagda, eu o fiz infeliz e silencioso, eu não o queria deixar triste, eu fui mal).
_ Cuidado com as amizades que você faz! Às vezes as pessoas falam uma coisa, que não é! Aí, isso que acontece, você fala algo pensando que é outra coisa e seu colega da crises de pânico, por causa disso! Mtais fica tranquilo, não é a primeira vez que isso acontece!, daqui a pouco o Murilo para e se controla, a mãe dele está chegando aí e com certeza ela vai trazer remédios para o controlá-lo, e se ela não vier, alguém vai vir! (A secretária dizia calmamente e nem parecia se surpreender com aquilo).
Eu me sentia horrível vendo ele daquele jeito, passaram alguns minutos depois daquele incidente e uma mulher loira e baixinha, chegou na secretaria e a secretária a mandou entrar, depois de um longo tempo ela saiu da diretoria com o Murilo do seu lado e foram embora, eu o encarei, e ele parecia estar melhor, apesar do seu rosto está todo arranhado e vermelho.
Minha mãe foi chamada na escola, mais quem veio foi o meu pai, e depois que a diretora conversou com ele, fomos liberados, eu ganhei uma advertência por mal comportamento, o pior daquilo tudo, que eu nem sabia o que realmente eu tinha feito, nisso eu fui cabisbaixo o percurso todo para a casa, eu fiquei sem graça com aquela situação que me encontrava, e fiquei mais desolado ao ver a minha mãe tentando entender o que havia acontecido, se nem eu compreendia o que de fato aconteceu.
_ Uau, que belo narizão vermelho! O que você fez que está com essa cara toda acabada e ter me chamado de surpresa? (Eu havia ligado para Ashlyn, ela me ajudaria com meus problemas).
_ Eu ofendi uma pessoa, eu não sabia o que falava e ela ficou muito chateada comigo! Eu a xingava sem ao menos saber que o que eu dizia eram palavras de baixo calão! Nisso acabei levando um murro no nariz! E eu não sei o que faço, estou completamente constrangido com essa situação horrível! (Sim, meu nariz é um pouco grande e ele acertou em cheio no meu nariz, e estava latejando e doendo, parecia que eu havia o quebrado, mas a minha mãe só invés de querer me proteger, me mandou eu ter cuidado com as minhas amizades assim como a secretária dizia a mim, só depois ela olhou o meu nariz e diz que aquilo iria ficar bem no outro dia).
_ Meu Deus, jovem rebelde, o que você quer que eu faça? (Ashlyn claramente me olhava focada em outra coisa, ela me encarava e olhava para baixo o tempo todo).
_ Eu gosto muito da amizade dele, e quero me reconciliar, mas ele não quer me ouvir, essa pessoa me ignora, eu acho que a fiz muito mal e eu não sei como ganhar o seu perdão! O que você faria nessa situação, Ashlyn? (Perturbado a dizia, eu não queria perdê-lo por causa de um erro injusto, eu não queria magoá-lo).
_ Olha, se eu fosse você deixaria as coisas se acalmarem e depois o mandaria um pedido de desculpas, escreva um cartão, ou lhe dê algo legal! Você é bom em pedir desculpas e fazer amizades, Díoman, logo essa pessoa te perdoa, você é muito fofo para ser desprezado, então não fique aflito com isso, ele vai te compreender com o passar do tempo! (Ashlyn era a minha prima, e minha irmã mais velha, eu a ouvia atento, eu sabia que ela era faladeira e esperta, eu confiava nela e sabia que seus conselhos valeriam de alguma coisa).
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Atualizado até capítulo 71
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