Na sala de aula, eu o via riscando su caderno descontraído, enquanto a aula era desenvolvida, nisso em um gesto para chamar sua atenção, eu o cutuquei animado, e assim ele me olhou assustado, ele resmungou algo e depois riu para mim e fiquei vermelho de novo.
_ Retatadu! (Eu disse empolgado para ele, assim nos iríamos nos conectar de fato, eu já sabia seu apelido, e apelidos é algo extremamente íntimo, assim como dizer nosso primeiro nome, coisa que não é muito comum na Europa, mas para aquele povo era, na Europa só se diz o primeiro nome para quem é extremamente íntimo na nossa vida, tirando isso, só era permitido chamar pelo sobrenome, mas isso não era comum aqui, e eu achava desrespeitosa essa cultura deles).
_ Retardado?! (Ele me olhou de um jeito e depois virou o rosto para frente).
Ele parecia ter ficado tímido com aquilo, pois seu rosto continuou com a mesma expressão, no entanto, agora ele parecia mais quieto que antes, talvez eu o deixei tímido com o seu apelido, talvez aquilo era só dito quando a pessoa era bem próxima a ele, eu fui rápido demais ao falar aquilo, havíamos conversado há pouco tempo, eu fui atrevido demais.
Na hora da educação física, eu o olhava aquela quadra enorme e os garotos me guiaram até o vestiário, eu não os entendia, mas os seguia animado, lá todos se trocavam falando algo e rindo animados, eu não os entendia e ria junto, queria me enturmar com todos de qualquer maneira.
Depois o professor entrou lá e nos mostrou a bola, era diferente das nossas na Inglaterra, mas eu tentava compreender um pouco mais daquela cultura excêntrica deles.
Assim o treinador nos mostrou o jogo de bola, eles chamavam de futebol, era quase parecido com o nome dado na Inglaterra, que é "football", já tínhamos jogado isso lá, não era muito comum, mais jogávamos isso também.
O que era mais esquisito, era a maneira que eles se empolgavam correndo atrás da bola, e como brigavam e comemoravam a cada lance jogado. Era completamente diferente da minha vida, mas mesmo estranhando, eu gostava daquilo.
E jogando, alguém chutou a bola forte demais, a fazendo sair da quadra e ir para fora, então o treinador apitou, e fez um gesto com a mão, então eu olhei para onde ele apontava, e na arquibancada o Murilo se levantou para buscar a bola, ele não estava vestido como a gente, ele tinha uma roupa diferente, e eu nem tinha notado que ele não estava participando, até as garotas jogavam vôlei na outra metade da quadra e ele não participava de nada.
Na hora que aquela aula acabou, fomos ao vestiário tomar um banho e ele foi junto, enquanto os outros se despiam eu o via pegando as roupas sujas e colocando em um cesto, depois que eles entraram no chuveiro, Murilo entregava as toalhas por cima e depois ele ficou em pé perto dos armários cabisbaixo, ele parecia estar distante, e o encarando, eu percebia que ele era diferente e tímido, eu o achava bonito com aquelas sardas em seu rosto e seus olhos castanhos escuros esbugalhados, olhando para o chão bem quieto na sua.
Depois que tomei banho, e saí via que ele continuou no mesmo lugar, só que agora recolhendo as toalhas molhadas dos outros, os garotos não eram muito de falar com ele, talvez porquê ele fosse tímido, então eu me aproximei e entreguei a minha e sorri.
Nisso ele pegou a toalha e colocou junto as outras em silêncio, então o encarando eu via que ele me ignorava, ou pensava em algo que o preocupava, aí eu tentei animá-lo um pouco.
_ Retatadu! (Eu ri para ele, e os garotos que estavam ali nos olharam e começaram a rir).
_ Cara, até o novato sabe que você é um imbecil retardado! (Um garoto dizia isso a ele sorrindo).
_ Eu não sou retardado! Sou inteligente, só aprendo um pouco mais lento que os outros! (Murilo falava sério com ele).
E olhando os outros, que os encaravam, eles pareciam sorrir, e um deles me abraçou dizendo algo, mas eu não os entendia direito.
_ Cara, você é incrível! (Ele dizia isso sorrindo, e eu sorri para ele sem entender nada).
_ Tá vendo, Jão! Ele disse que não é retardado! "Só aprende mais lento que os outros"! Cara idiota! Deveria estar na APAE e não aqui com a gente! (Aquele garoto continuou falando com Murilo sorrindo e Murilo fez um rosto estranho).
_ Não me chama de idiota! Eu não sou retardado! Eu não preciso ir para APAE, eu sou normal! Eu só aprendi devagar! (Murilo fez um bico com a boca e ficou vermelho, e confesso algo em mim despertou-se quando ele fez aquilo com os lábios se corando novamente).
Assim o garoto continuou falando com ele, e eu continuei o admirando de longe, pois as vezes ele gritava e com um tempo, ele soltou as toalhas molhadas no banco e saiu de lá vermelho, com certeza aquele garoto era algo dele, pois o rosto de Murilo era tão diferente enquanto eles conversavam, ao mesmo tempo que ele parecia bravo, ele parecia tímido, eu queria entendê-lo.
Durante a aula com uma outra professora, eu não conseguia desviar o meu olhar dele, eu não entendia, mas parecia que aquele garoto era incrível, talvez eu estivesse ficando louco, eu nem o conhecia, mas o achava interessante, ele não parecia Henry que ficava atrás de mim para eu sentir algo, ele me fazia sentir algo sem ao menos me tocar, ou se exibir, ele era engraçadinho, não era como um atleta, e nem muito gordo, ele era médio, seu rosto era bem bochechudo, e suas sardas eram bem evidentes, talvez por causa da sua palidez e a contradição de cores de sua pele clara e seus cabelos negros luminosos, fazendo ficar bem mais chamativo com aqueles roupas horríveis desproporcionais para a ocasião, eu também não estava devidamente vestido, eu usava um cardigã e aquele lugar não parecia ser devido a usar aquela roupa no colégio, mas como ninguém se uniformização direito naquele lugar, talvez não fosse obrigatório, então minha preocupação com a vestimenta se tornou irrelevante naquele lugar.
Quando a aula acabou, eu o acompanhei com o meu olhar, queria que ele morasse perto de mim, eu gostaria de jogar futebol com ele, ou melhor andariamos de bicicleta, eu iria ganhar outra, a minha havia ficado em Brighton e ela já estava pequena, eu cresci muito do ano passado para esse, eu perdi várias roupas eu estava praticamente sem looks para ficar ali, eu estava com alguns que compramos antes de vir para cá, e eu comprei looks errados, aqui não é tão verde feito a Inglaterra e a Irlanda, aqui só tem cimento e poucas areas verdes, também não é margem, só havia morros e algumas margens. O encarando de longe, via que seu caminho era outro, e como eu tinha que esperar o carro me buscar, pois eu ainda não conhecia o caminho, eu fui até o caminho onde ele passou e o vi indo embora até o perder de vista, e me assustar com o motorista me chamando para ir embora.
Na hora que cheguei em casa, eu estava todo empolgado, que quando encontrei a minha mãe, eu não conseguia esconder meu entusiasmo com a nova escola, com aquelas pessoas, com tudo. Eu nem prestei atenção se ela estava ocupada ou não, eu corri até ela conversando como estivesse visto uma borboleta branca, eu estava muito contente, queria dizer tudo que vivi naquele primeiro dia de aula.
_ Mãe, eu conheci um garoto, pequeno feito o Coll, ele é muito engraçadinho, seu rosto é muito... Suas bochechas são gordas, e ele tem sardas! Seu nome é Murilo, ele parece um garotinho de longe, mas quando você chega perto, percebesse que ele é peludo, suas sobrancelhas são grossas e aparadas, e ele muda de cor o tempo todo! Ele é nativo, mas é tão pálido feito o pai, e seus cabelos nem são dourados, são negros! Ele é muito diferente, parece até Lugh, seu rosto é reluzente! (Eu falava lembrando de seu rostinho rechonchudo, toda vez que ele sorria, parecia que seu rosto brilhava).
_ Mãe, eu quero aprender a língua nativa daqui! Eu consegui fazer um amigo, ele me deu o seu número! Conversamos a aula toda, eu não sabia o que ele dizia, mas, mesmo assim, pareciamos nos compreender! Depois lembramos que podíamos traduzir a nossa conversa, mas eu gostava mais de ouví-lo falar, do que apenas ler o que ele digitava! Murilo é muito legal, um pouco tímido, mesmo assim ele é incrível! Olha o desenho que ele fez, eu não entendi porquê ele o jogou fora, é um desenho belo, não é? Talvez ele pense que não é capaz de produzir algo belo, amanhã falarei a ele o quão talentosa suas mãos são! (Eu dizia a minha mãe, extremamente animado mostrando o desenho dele, eu havia guardado, parecia que Murilo não queria este desenho de volta, então o guardei comigo para lembrar de seu talento e como parecia ser fácil pegar o lápis e riscar o papel, pois ele fazia isso o tempo todo na aula, isso quando o pequeno Lugh mastigava ardentemente seu lápis ou perfurava sua borracha descontraído).
_ Que bom Díoman, seu amiguinho tem muito talento, mas você sabe que Ahana não fala português! Não conhecemos algum tutor para te ajudar a falar língua nativa daqui! (Minha mãe falava comigo gentilmente).
_ Mas como o pai consegue conversar com as pessoas? Eu quero aprender também, não quero ficar só imitando eles, sem entender nada! Quero compreendê-lo e saber que coisas ele gosta de fazer, Murilo não parecia confortável na educação física, ele estava sentado distante de todos na arquibancada, talvez ele tenha algum problema que o dificulte com as atividades físicas! (Eu dizia desesperado, queria conversar com o meu amigo novo e entendê-lo, queria ajudá-lo a praticar o futebol e vibrar com todos feito eu).
_ Seu pai fez intercâmbio, por isso ele conversa com as pessoas! Até ele encontrar os tutores e convencê-los a lhe dar aula de língua, será bem complexo! E se o seu amigo estiver com problemas, você saberá, não precisa ficar aflito com situações como essa! (Ela dizia concentrada em seus afazeres).
_ Então eu vou continuar conversando com o vento, sem rumo? Eu quero entendê-lo, sem precisar disso! Eu não gosto de conversar com alguém sem saber o que ela sente! (Eu dizia a encarando e mostrando o tradutor completamente frustrado).
_ Não fale isso! Eu não disse que você não iria ter um tutor! Eu falei que é complexo achar um agora, ainda mais que chegamos repentinamente aqui, tente ver os costumes deles e depois você aprende a compreendê-los também! Eu mesma, preciso de um linguista para mim e não estou ansiosa para isso, então seja calmo e espere até o momento que o seu professor chegará! (Ela me olhou séria, até parecia que ela se importava em conversar com os nativos, minha mãe só falava com quem lhe interessava, e nisso eu tinha certeza que ela não tinha interesse, nenhuma daquelas pessoas eram atrativas para ela, se fossem executivos, diretores ou algo do tipo, ela já havia achado o maldito tutor).
_ Está bem! (Eu a deixei quieta e saí de lá revoltado, eu iria conversar com um aparelho para me comunicar com pessoas, aquilo era uma droga).
Subindo as escadas eu fiquei no quarto procurando algo, para que eu pudesse os entender melhor, na internet tem muita coisa, mas como podemos saber se a fonte que estamos aprendendo é confiável? Então fui até meu pai, que conversava com um dos empregados na cozinha, ele parecia descontraído, e isso me incentivou a desafiar a vontade da minha mãe.
_ Pai! Quero falar igual ao senhor, quero entender as pessoas! Estou me sentindo estranho nesse lugar, não entendo nada, a minha mãe já disse que provavelmente irei ficar sem tutor, não quero me sentir estranho aqui! Eu fiz um amigo, mas não consigo entendê-lo e eu sei que você conhece os professores e que pode me colocar nas aulas de línguas! (Eu disse revoltado, eu não conseguia entender Murilo, queria aprender naquele momento a me comunicar).
Nisso ele me olhou e disse que ia me colocar em um curso, que não era para eu me preocupar, pois eu não iria me prejudicar na escola, por causa do idioma, e que isso era só uma fase, mas eu deveria ter calma, pois nem ele havia achado os tutores e que estava providenciando isso com os seus amigos e que não era para eu me alterar por causa de um amigo novo.
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Atualizado até capítulo 71
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