Eu admirava aquele lugar curiosamente, a parte chata é que eu não os entendia, e isso ficou bem evidente na segunda pela manhã, onde tive que ir para aula, eu não sabia onde a escola era, nem como chegar lá, eu fiquei completamente perdido, mesmo com o motorista me levando até na escola.
Meus pais já haviam levado os documentos para regularizar a minha matrícula, e assim a coordenadora levou-me até a sala que eu deveria estudar, mas antes disso muitas pessoas ficaram me encarando estranhamente, e começaram a se amontoar feito bisões quando tinham filhotes, eu comecei a ficar desconfortável com aquelas pessoas desconhecidas falando várias coisas ao mesmo tempo sorrindo, me tocando, gritando ao mesmo tempo.
E como eu não os entendia, eu simplesmente sorria para eles, e dizia "oi", era a única coisa que eu sabia pronunciar e mesmo assim não sabia se eu estava falando certo ou se eles estavam sendo receptivos, mas ao meu ver,.com os seus rostos alegres e risos constante ao me tocar, eles pareciam querer amizade comigo, e isso me deixou desconfortável e ao mesmo tempo confortável com aquilo tudo, eu iria ter várias amizades com pessoas nativas daquele país estranho, com comidas misturadas, salgadas e estranhas, ao mesmo tempo boas, algumas comidas eu ainda tinha receio de experimentar, mas algumas coisas como a paçoca, que é um doce de amendoim moído com farinha, açúcar e sal, é a coisa mais estranha e gostosa que eu havia comido naquele momento, mas nada superava as batatas chips, eu amo chips de batata e isso ganhava da deliciosa paçoca!
E tentando sair do eixo daquelas pessoas curiosas e que não paravam de falar coisas em minhas cabeça, eu vi um garoto sentado sozinho com um papel na mão, suas roupas eram divergentes, ele usava uma regata branca, com uma blusa de praia e uma calça larga, o fazendo parecer menor do que já era, seu rosto era muito engraçadinho, era redondinho e ele parecia ter uns dez ou onze anos do ponto de vista que eu o via, seus cabelos eram de tigela e negros luminosos, fazendo uma contraçào de cores, já que ele era muito pálido a ponto de ser mais branco que o meu pai, e tinha cabelos negros que refletiam a luz solar claramente fazendo aquela contradição, ele parecia desinteressado com a vida ou pensando em algo muito profundamente, pouco tempo depois ele sorriu e se levantou olhando alguém passar, nisso algumas pessoas que corriam o empurraram e aquele ser minúsculo o desequilibrando e quase caindo no chão, o papel se soltou o fazendo voar.
Então o papel foi completamente pisoteado, e ele olhava o papel no chão desolado, depois o pegou com uma cara tão triste, e nisso o amassou e o jogou no lixo, então o sinal tocou e todos começaram a ir para as suas salas e o perdi de vista, eu senti pena daquele menininho com roupas diversas em um look só.
Eu fiquei com pena daquele pobre infeliz, então fui até o lixo e peguei o papel que ele tanta lamentava agora saber o que era, curioso vi que era um desenho de uma garota, e embaixo estava escrito "Murilo", era a assinatura daquele pobre coitado, ele parecia pequeno e pálido, mas como o vi de longe, não tentei deduzir nada, mas ele parecia ser da quinta série e se o visse novamente, entregaria o seu desenho e o diria para não ficar triste, coisas ruins acontecem,as não podemos ficar tristes por causa de bobeiras.
Guardando o desenho fui para minha sala, com a companhia da coordenadora e quando entrei na sala, eu via a euforia daquelas pessoas me encarando e dizendo "oi" e outras coisas que eu não compreendia. A coordenadora me apresentou para a turma e para a professora que disse algo na qual eu não compreendi e a olhei feito um bobo, me senti envergonhado com aquela cena estranha e aqueles olhares dos meus colegas apontando para algumas cadeiras murmurando palavras indecifráveis para mim.
E com vergonha, eu vi uma cadeira vazia e do lado um garoto que parecia estar dormindo na mesa, pois deste a hora que eu havia chegado, ele não se levantou para me olhar, e confesso que achei aquilo desrespeitoso, mesmo sendo de uma cultura diferente, ele deveria ter um pouco de respeito com o seu tutor e comigo, já que todos pareciam ser receptivos comigo, exceto esse que provavelmente queria dormir na aula.
Enquanto a professora falava, eu encarava aquele garoto, que às vezes olhava para frente, quando a professora gritava algo o apavorando, então ele escrevia alguma coisa em seu caderno olhando o quadro e repetindo, voltava a olhar o nada e abaixar a cabeça novamente para dormir.
Depois de muito o observar, eu percebi que era o mesmo infeliz do desenho, aqueles cabelos pretos, e aquela palidez, era o mesmo garoto, só que de longe, ele parecia ter dez anos e de perto seu rosto era mais rechonchudo, e ele tinha muito pelos nos braços! Então o cutuquei, provavelmente ele estava de coração partido, por isso estava daquele jeito, no fundo da sala excluído de todos. E o cutucando ele me encarou assustado, e eu mostrei o desenho que ele havia feito e reparei que o garoto também tinha sardas e suas bochechas ficaram rosadas quando o chamei atenção, isso me deixou intrigado pois suas sardas destacaram juntamente de seus olhos castanhos escuros e com aquelas olheiras vista de certo ângulo, pareciam ser receptivaa e chamativas demais.
_ Shíl mé go raibh an líníocht go hálainn! An ndearna tú é? Eu achei o desenho lindo! Você quem o fez? (Eu o encarei, mostrando o desenho sorrindo).
_ Isto estava no lixo, por que você pegou isso? Está sujo! (Ele dizia me encarando calmamente).
_ Ní thuigim thú! Is leatsa é nach ea? Tá do ghnéithe go hálainn! _ Não entendo você! O desenho não é seu? Seus riscos são lindos! (Eu havia esquecido que não o entendia, então eu passava o dedo sobre o desenho o mostrando, e sorri para ele).
_ Meu nome? É Murilo! Isso é lixo, tem que jogar fora, olha, está rasgado e sujo! As pessoas pisaram nele, não serve pra nada! (Ele encarava o desenho e virou para frente).
Aí eu o cutuquei de volta, tentando devolver o que era dele e sorri, nisso a professora gritou de novo e ele a encarou assustado, e ficou aplumado em sua carteira com um rosto franzido, e suas bochechas ficaram rosadas de uma hora para outra, eu achei engraçado, nem meu pai mudava de cor assim, apesar dele ser muito loiro e aquele garoto ser nativo.
_ Cén fáth a screadann múinteoir an oiread sin? Nach bhfuil sí ag an rang? _ Por que a professora grita tanto? Ela não está ministrando à aula? (Eu o perguntei confuso e ele me olhou com canto de olho).
_ Meu nome é Murilo! Mu-ri-lo! Agora faz silêncio se não eu vou parar na cadeira de novo! Mu-ri-lo, Me-ri-lo! (Ele começou a falar estranhamente e eu não o compreendia, o garoto só repetia aquelas palavras, e tentei entender o que ele queria dizer).
_ Mu-í-lhio? (Eu o encarei confuso).
Aí ele pegou o seu caderno e escreveu grande aquela mesma palavra que estava em seu desenho, desviando o seu olhar para frente sério e voltando o seu olhar a mim discretamente.
_ Olha, Murilo! Repete comigo! MU- RI-LO! (Ele passava o dedo no caderno me mostrando aquilo e depois apontou para si, então o entendi).
_ Mu-ri-lo? (Ele tentava dizer o seu nome para mim e eu o imitei atento, eu dizia sério e o encarei e ele me olhava feito um lobo raivoso, suas sobrancelhas esquivaram e depois ficaram mais soltas, elas eram tão cabeludas, mas eram aparadas).
_ Isso, o meu nome é Murilo! Qual o seu? (Ele sorriu para mim quando eu disse o nome dele, o seu sorriso era diferente eu fiquei vermelho o vendo sorrir, aquela bobeira me atraiu por alguns segundos e desviei meu olhar envergonhado).
_ Mu-ri-lo! Murilo! Mu-ri-lo! (Eu passava o dedo em seu caderno, e pronunciava feito ele, queria impressioná-lo, mesmo sem motivos, eu o achei interessante).
_ O seu nome é Murilo também? Que legal, dois Murilos, vamos ser que bem irmãos de nome! (Eu o encarava e não o entendia, então fiquei confuso de novo, eu queria aprender o português deles, eu iria aprender para entendê-lo).
_ Is mise Díoman, deas bualadh leat, Murilo! _ Meu nome é Díoman, prazer em conhecê-lo, Murilo! (Eu dizia empolgado para ele).
_ Você fala engraçado, eu não te entendo! (Ele me olhava confuso e sem graça).
_ Díoman! Díoman! (Eu apontava para mim e repetia meu nome para ele entusiasmado igual aquele baixinho).
_ Thiomã? Thiumã? Esse é o seu nome? (Ele tentava pronunciar confusamente meu nome).
Então eu peguei o caderno que ele havia escrevido o seu nome e escrevi o meu, depois fiz idêntico a ele, passei meu dedo e pronunciei lentamente meu nome, eu também não havia entendido o que ele dizia, então eu o compreendia naquela confusão linguística.
E com muito custo ele conseguiu falar meu nome corretamente, e então ficamos praticamente a aula toda dizendo nossos nomes e ele falando nomes de objetos que estavam presentes ali. Murilo era muito paciente, ele dizia o nome lentamente para mim e eu repetia. Pena que a professora gritava toda hora e ele a encarava assustado e se retraía, parecia que ela brigava somente com ele, pois os outros nem pareciam se importar com o jeito que ela falava na sala, e depois de alguns minutos conversando, ela chegou em sua mesa, deu um tapão e me assustei com aquilo, ela dizia coisas com um rosto muito irritado e o pegou pelo braço e o colocou em um canto da sala sentado em uma cadeira, os outros colegas riam daquilo, eu fiquei perplexo com aquela cena que parecia ser engraçada, talvez fosse comum colocar os alunos naquele canto para estudarem melhor.
Na hora do intervalo, várias pessoas se rodeavam em minha volta e me mostravam objetos e dizia seus respectivos nomes e depois pareciam que queriam que eu os imitasse, aquilo era muito cansativo, pois eu não os entendia e ficar tentando decorar tudo de uma vez é extremamente confuso, ainda mais quando haviam várias pessoas exigindo que você falasse as coisas ao mesmo tempo, eu não sou um robô para entender tudo, mas eles não compreendam e só ia aumentando pessoas ao meu redor, aquilo já estava me incomodando.
Nisso eu vi o Murilo sentado sozinho novamente, ele parecia distante das coisas, então com algumas garotas da minha sala me seguindo, eu as cutuquei e apontei para ele e a encarei, com cara de confuso, por que ele sempre ficava sozinho olhando para o nada, parecia que ele não era muito bem tratado feito os outros, ou talvez ele era antissocial e o forcei a conversar comigo e por isso a professora o levou para um canto, para ele descansar da nossa conversa. Eu balancei a cabeça negando, ele não parecia ser antissocial, ele parecia ser amigável.
_ Se eu fosse você não andava com ele, é perigoso você ficar retardado! Sabe ele é um idiota, só passa de ano por causa de seu lado de retardado! (Ela falava algo muito sério e eu não a compreendia, as meninas do seu lado riram e começaram fazer gracejos imitando um primata).
_ Murilo! (Eu apontava para ele confuso e a encarava, acho que elas não entenderam que eu não queria falar de primatas, queria compreendê-lo).
_ Ele é retardado! Re-tar-da-do! Retardado! (Ela repetia aquela palavra tantas vezes, que eu tentei imitá-la).
_ Re-ta-do? Retatadu? (Eu tentava imitá-la, mas era complexo demais falar tantas coisas no mesmo tempo).
_ Isso! Ele é um retardado, e você não pode andar com ele, se não você vai ficar burro igual a ele! (Enquanto ela falava aquilo, as outras pessoas a encarava sorrindo e afirmando com a cabeça o que ela fizia).
_ Aí você vai ter que andar com laudo também, porquê você vai ser um retardado por andar com aquele idiota esquisito! (A menina falava rindo, provavelmente ela dizia algo sobre ele, eu queria entendê-la, mas sorri também).
Então me senti feliz, me sentia inserido em um grupo, pois as pessoas me aprovavam e riam comigo, e quanto mais eu pronunciava aquelas palavras, mais eu queria aprender a me comunicar com o Murilo, e fiquei feliz quando elas pronunciavam o seu apelido, na qual eu tentei aprender o mais rápido possível, para chamá-lo para conversar.
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Atualizado até capítulo 71
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