Capítulo 19

Meu primeiro pensamento foi me perguntar o que Rafaela fazia alí, só depois me dei conta de que eu quem estava no prédio que ela mora. Foi preciso olhar ao redor para me situar e isso fez minha cabeça girar, senti meus pés se desestabilizando e ela teve que me segurar.

— O que faz aqui nesse estado a essa hora da manhã, Giulia?— Seu tom era como de uma mãe falando.

— Não pense que vim para te ver! — Me desvencilhei de suas mãos e dei um passo atrás. — Estou com uma amiga... — Olhei mais uma vez ao redor e não havia sinal de Maria Luiza, ela tinha de fato subido sozinha e eu não fazia idéia de qual apartamento morava. — Preciso ir para casa. — Novamente ela segurou em meu braço e me afastei de forma brusca. — Não me toca, por favor!

— Vem comigo Giulia, você não está bem — insistiu.

Olhei para saída do prédio, mas estava com a boca seca, minha mente um caos depois de uma noite inteira em claro bebendo e para comple sentia que minha pressão estava baixando. A ânsia me fez acreditar que acabaria vomitando ali mesmo, então apenas confirmei e Rafaela voltou para dentro do elevador comigo.

A cada andar minha ânsia só aumentava, achei que não daria tempo, mas assim que abriu a porta corri em direção ao banheiro e aí já viu né, coloquei tudo o que tinha e o que não tinha para fora. Depois chorei no chão em posição fetal lamentando todo meu azar.

Como eu tinha tanta falta de sorte ao ponto de conhecer alguém em uma boate e essa pessoa morar no mesmo prédio de quem mais tentei evitar durante o dia anterior e mesmo assim depois de toda aquela noite acabei justo no apartamento dela.

Avistei Rafaela parada na porta do banheiro segurando um copo com remédio e escondi meu rosto com o braço. Não estava arrependida por ter enchido a cara, afinal minha noite foi incrível, o ruim mesmo era a situação atual.

— Toma isso, vai se sentir melhor. — Ela se aproximoune agachou a meu lado. — Depois toma um banho, dorme um pouco...

— Rafaela? — murmurei, ainda com o rosto escondido. — Não quero mais ficar com você. — Ela nada disse, então afastei o braço para olha-la. — Entendeu?

— Podemos falar sobre isso depois — disse me entregando o copo.

Tomei o bendito remédio, assim como também o banho e após sair do banheiro me joguei naquela cama confortável e adormeci.

Quando acordei, só acordei porque Rafaela me chamava e quando sentei na cama ela informou que já eram quase três da tarde, estava com uma bandeja onde haviam frutas, água e uma sopa. Me ajeitei na cama e tomei logo a água, depois tentei ajeitar meus cabelos fazendo um coque, ignorando o fato dela estar sentada diante de mim.

— Você precisa comer — apontou para a bandeja.

— Nunca mais vou beber — murmurei para mim mesma e ela sorriu.

— Vou te deixar a vontade. — Observei ela sair e então decidi atacar a comida aproveitando que não estava mais enjoada e minha barriga roncava de fome.

Quando terminei, levantei da cama e saí do quarto levando a bandeja para a cozinha, não encontrando Rafaela em lugar algum. Enquanto colocava tudo na pia Shrek surgiu se alisando em minhas pernas e eu agachei para toca-lo.

— Está me enganando novamente? — Deslizei a mão por seu pêlo e quando vi que ele iria me atacar, afastei a mão rapidamente. — Seu falso! — apontei, antes de levantar e dar de cara com Rafaela na porta da cozinha.

— Podemos conversar agora se quiser — falou ela e concordei.

Seguimos até a sala onde sentamos no sofá, uma de frente pra outra. Rafaela logo pegou minha mão entre as dela em um gesto carinhoso e deslizou os dedos por minha pele fazendo pequenos círculos, sem nada dizer por um tempo. Eu não sabia por onde começar, afinal o álcool já havia me deixado pensar melhor, mas claro que meu desejo ainda era o mesmo, dar um fim naquilo e voltar a ter minha paz, sem toda aquela complicação de uma relação que só existia na minha cabeça.

— Você falou sério? — perguntou ela, inicialmente sem me olhar diretamente nos olhos, mas quando o fez eu só consegui mover a cabeça confirmando. — Foi alguma coisa que eu fiz?

— Não... — neguei. — Quero dizer... talvez... Na verdade acho que não estamos na mesma sintonia — falei tão baixo que minha voz quase não saiu.

— O que seria a mesma sintonia? Seja sincera Giulia.

Por que era tão difícil expor aquilo? Eu queria dizer com todas as letras o que estava sentindo, mas não conseguia. Não queria ser a idiota que confessava desejar ter um relacionamento com ela e no final levar um fora. Preferia dizer que não queria mais nada com ela e ponto!

— Rafaela, eu só não quero mais. Foi muito bom, eu realmente gostei do que tivemos. Obrigada por sua ajuda hoje, de verdade, você é uma ótima pessoa, mas é isso.

— Eu nem... Nem sei o que dizer, sinceramente não é o que esperava e nem o que eu quero, mas se essa é sua escolha...

— Tudo bem Rafaela, eu preciso ir embora, minha mãe deve estar preocupada. — Levantei rapidamente, desejando fugir dali.

Minha mãe sequer estava em casa, eu só queria sair logo e ficar sozinha. Estava tão confusa e triste. A tristeza crescia a cada minuto, me causando uma imensa vontade de chorar. Eu não imaginava que dar um fim naquilo me faria chegar a esse ponto, mas foi exatamente isso que fiz quando cheguei em casa; chorei.

Rafaela sempre parecia tão maravilhosa, mas naquele momento eu só conseguia sentir raiva dela, por mais que soubesse estar errada também por não ser sincera ao ponto de expor meus sentimentos. Eu sentia raiva por ela não fazer nada, por não perceber o que eu queria, por não querer o mesmo ao ponto de não me deixar ir embora. Estava mais que claro que eu fui a única idiota que ficou apaixonada tão rapidamente. Claro, ela tinha a Erica e quantas mulheres quisesse. Quem eu era? Um lance que poderia ser substituído por qualquer outro.

Sabe-se lá com quantas ela tinha um "lance fixo".

Lembrava-me muito bem como a Erica riu quando falei que eram amigas. Não eram amigas coisas nenhuma! Que ódio. Quanto ódio me dava ao imaginar isso.

Mas acabou, definitivamente.

No fim do dia, depois de muito lamentar em relação a Rafaela, percebi que o pior de tudo era que eu não fazia idéia de como encontrar Malu — a amiga que fiz de uma forma tão inusitada — a menos que fosse até seu endereço e tentasse me informar.

Na segunda-feira eu estava trabalhando como de costume, quando Mari me presenteou com um café, logo em seguida encostou-se na ponta de minha mesa cruzando os braços e me encarando, fazendo com que me sentisse desconfortável.

— Você está com problemas — afirmou ela.

— Estou? — assustada, me questionei sobre o quê havia feito de errado.

— Está na sua cara, olha essas olheiras profundas — Ela deslizou o polegar por meu rosto e no mesmo momento nos demos conta de Rafaela se aproximando. — Esqueci de dizer, temos reunião — murmurou antes de afastar-se com seu terninho vermelho e sorrir em direção a outra que me lançava um olhar, mas baixei o rosto fitando a mesa, fingindo trabalhar.

Preciso dizer que a reunião foi sufocante? Tentei ao máximo focar nos assuntos, mas a cada vez que Rafaela me olhava me desconcentrava toda. No final minhas anotações eram várias palavras sem sentido.

— O que é isso? — Mari falou baixinho apontando para meu bloco de notas todo rabiscado. — Você está péssima hoje. Por que não sai primeiro e verifica com a floricultura para confirmar a entrega na hora marcada?

— Mas... — Tentei argumentar, mas ela tocou em meu braço.

— Pode ir. — Sorriu fazendo sinal para a porta e meus olhos foram para além dela, lá na ponta da mesa vi Rafaela que falava com os outros, mas mantinha o olhar fixo em nós duas.

Levantei rapidamente e saí da sala. Lá fora o ar parecia até melhor, então fui fazer o que Mari havia mandado e depois aproveitei para ir tomar um café no lounge, na tentativa de espairecer antes de voltar ao trabalho, mas foi exatamente quando voltava que a reunião foi finalizada. Algumas pessoas saiam da sala e no caminho encontrei nada menos que Rafaela barrando minha passagem, ignorando todos que passavam por mim.

— Foi por ela? — indagou, com seu olhar me queimando como fogo.

— O quê? — Confusa olhei ao redor temendo que alguém começasse algum tipo de fofoca.

— A Mari, Giulia! Não se faça de desentendida...

— O quê? Rafaela, claro que não! — Olhei novamente ao redor. — Não acho que aqui seja o melhor lugar.

— Compareça à minha sala em meia hora — exigiu antes de sair pelo corredor em passos largos, me deixando com o coração quase saindo pela boca.

Aquela mulher definitivamente queria me enlouquecer!

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Comments

:)

:)

Como a Giulia é ingênua ...

2023-01-06

4

Hosana gatinha 😻

Hosana gatinha 😻

acho q a Mari tá gostando da Giulia mesmo pior q estou torcendo pela Mari pq tanto a Mari quanto a Giulia foram um caso da Rafa e elas estão sofrendo

2022-12-08

2

daniele cleffs da silva

daniele cleffs da silva

Ai Gi e agora vai lá e fala td que ta engasgado bota pra fora e ve no que vai Dar vc ñ tem nada a perder msm mulher ela si quiser que corre atrás 😏😏😉😉

2022-11-14

1

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