Capítulo 07

— Filha, você sabe muito bem que não gosto de me intrometer em sua vida pessoal, mas dessa vez é diferente — começou minha mãe enquanto eu estava encostada na pia da cozinha com os braços cruzados e a cabeça baixa, ainda envergonhada.

No primeiro momento todas ficamos completamente sem jeito, mas ela passou direto para a cozinha murmurando algo sobre pegar uma faca, então sugeri que Rafaela fosse embora, pois seria melhor conversar logo com minha mãe para não deixar um clima estranho como já havia acontecido antes, quando ela me pegou na cama com uma amiga.

Beijando, ok? Eu nunca levei ninguém para transar em casa.

— Mauro e Rafaela não se dão muito bem quando se trata dos relacionamentos da filha. Se descobrir que ela está de caso justo com você...

— Ele é homofóbico?— Fui direta e ela ficou em silêncio, mas seu olhar já dizia tudo.

— Precisamos trabalhar isso — afirmou e rolei os olhos me afastando da pia.

— É sério isso? Mãe, lembra o que disse quando terminou com seu último namorado? — Ela coçou a cabeça, seu olhos não encontrando os meus. — Disse claramente que não era centro de reabilitação para marmanjo machista! Agora me aparece com um homofóbico.

— Não é como se estivesse no currículo dele, Giulia! Você sabe muito bem que estamos nos conhecendo faz um tempo, mas só com a intimidade percebi frases que me levaram a crer nisso, depois ele deu a entender ser contra a última relação da filha, mas só agora faz todo o sentido.

— Mãe, pensei que estivesse saindo com um cara legal e não com um que tem problemas com a filha por causa da sexualidade dela. Mas eu não tenho o direito de me intrometer também, então apenas vamos tentar não nos machucar, ok? — Ela confirmou e então acariciou meu rosto com o polegar, me fazendo dar um breve sorriso.

— O que você tem com a Rafa? É sério?

— É complicado... — confessei. — Na real não temos nada além de atração.

— Não quero que minha vida pessoal interfira na sua. Não tenho medo por estar namorando ele, mas sim por temer que vocês venham a ter algo mais sério e ele acabe sendo um problema. Mas quero que faça o que seu coração mandar, certo? — Sorri confirmando, depois abracei ela.

Era sempre assim, primeiro ela tentava abrir meus olhos e falava sobre seus medos em relação a mim, para no final me apoiar e deixar claro que estará aqui de qualquer forma.

Eu tenho sorte por tê-la como mãe. Mas e ela? Será que não merece ser feliz?

Me sentia mal sempre que via que seus relacionamentos não deram certo. Ela se fazia de forte, mas no fundo eu sabia que não era bem assim.

— Eu sei que vai tentar mudar a cabeça do Mauro — murmurei, ainda abraçada a ela. — Sei que gosta mais dele do que daquele último. Só não esquece que tudo tem limite.

Depois de toda aquela conversa lembrei que estava com fome, afinal minha barriga roncou, então decidi jantar.

Quando terminei e fui para o quarto, vi que havia uma mensagem de Rafaela e sorri notando que ela havia mudado a foto do WhatsApp. Abri a imagem para observar melhor aqueles lábios vermelhos chamativos que eu não conseguia nem acreditar ter beijado horas antes. Podia lembrar perfeitamente a textura e a forma deliciosa que eles se moviam contra os meus. E as mãos dela em minha pele... Céus eu definitivamente estava perdida em meio a tanto desejo por aquela mulher.

Depois de divagar sorrindo e suspirando ao relembrar a cena anterior, finalmente decidi responder a mensagem.

...Rafaela: Como foi com sua mãe? 11:10 PM...

...Giulia: Tudo bem. Ela é uma pessoa incrível quando se trata de conversas que deveriam ser constrangedoras. 11:20 PM...

...Rafaela: Que bom, fico mais calma. Achei que ia dar problema."11:21 PM...

...Giulia: Pelo que fiquei sabendo o nome do problema é outro... Mauro. Não é? 11:21 PM...

...Rafaela: Então você ficou sabendo? Bom, ele é do tipo que prefere viver fingindo que foi uma fase minha e já passou, assim nos matemos próximos. Mas ele não tem nada a ver com minha vida pessoal mesmo, então não há com o quê se preocupar. 11:22 PM...

...Giulia: De fato! Além do mais que nós não temos um relacionamento, então tudo bem. 11:23 PM...

Nós não costumávamos nos despedir, sempre dava para entender quando o assunto havia acabado. Antes isso não parecia problema algum, mas eu estava necessitando ter mais tempo com ela, então pensei que puxaria assunto, mas ela simplesmente sumiu, então só me restou lamentar.

O dia seguinte era sábado e para minha surpresa logo pela manhã Jéssica me convidou para um churrasco durante a tarde na casa dela. Era bem raro, mas acontecia dela me convidar para eventos familiares, então eu fui como em todas as outras vezes, completamente despreocupada, afinal Mari nunca estava presente.

Mas como o destino é uma caixinha de surpresas, bastou eu pisar no gramado do quintal — onde todo mundo bebia e conversava animado próximo a uma pequena piscina _ avistei minha chefe sentada numa mesa embaixo de um guarda sol, ao lado de Jéssica que acenou sorrindo.

Tive que respirar fundo antes de me aproximar.

— Oi Gi, quer linguiça? — A mãe de Jéssica me ofereceu colocando uma bandeja enorme diante de meus olhos, mas eu sorri agradecendo e recusando.

Todos da família da Jess eram legais, eu não tinha com o quê me preocupar, exceto pela Mari, claro.

— Como assim você não trouxe biquíni? — questionou minha amiga.

— Sabe que não gosto de ficar de biquíni na sua casa — falei entredentes olhando em direção aos tios dela que riam sentados em banquinhos afastados da piscina. Ela riu confirmando.

— Olha o milagre aqui. — Jéssica apontou Mari que mantinha os olhos no celular.

— Não tenho nada melhor para fazer. — Mesmo falando, Mari continuava focada no aparelho em mãos.

As cervejas não demoraram a surgir e eu logo comecei a aceitar as carnes e linguiças também. Tentando ignorar a Mari que também nos ignorava. Conversei com Jéssica sobre tudo um pouco, menos sobre trabalho já que não dava para falar mal da chefe tendo ela sentada à minha frente.

Jéssica se lamentava sobre o namoro e brigava por mensagem, quando de repente ela me solta uma que eu não esperava:

— Não vai acreditar quem pediu seu número ao Lucas. — Lucas era o namorado dela. — Ela mesma, a descarada da Sofia.

— Quê? — Quase cuspi a cerveja que bebia. Fazia uns dois anos que não ouvia aquele nome tenebroso.

— Que Sofia? — perguntou Mari chamando nossa atenção. — Aquela nojenta que morava aqui do lado? — A irmã confirmou. — Nossa... — Fez cara de nojo.

— Ela claramente não tem vergonha na cara! Lógico que não deixei o Lucas dar seu número né.

— Por que ela quer o número da Giulia? — Mari estava mais interessada na conversa que eu.

— Ela é ex da Giulia. — Jéssica falou como se fosse óbvio e Mari me olhou como se eu fosse um ET.

— Como assim? Eu não sabia que você curte a fruta.

— Então né, nem eu sabia sobre você — falei antes de dar um grande gole na cerveja.

—A Sofia não foi embora com um italiano? — perguntou minha chefe que já havia até mesmo soltado o celular.

— Sim, ela largou a Giulia para ir embora com um Italiano fedorento, agora voltou pedindo o número dela. Aí! — reclamou Jess ao sentir o chute que dei na canela dela por debaixo da mesa. Afinal não precisava dar tantos detalhes sobre meu último desastre amoroso.

— Nunca me enganou, sempre soube que era uma piranha de quinta categoria — afirmou Mari. — Coragem viu Giulia.

— Vamos esclarecer uma coisa aqui, ela não me deixou para ir embora com o fedorento. Eu percebi que ela estava afim dele e dei um pé na bunda antes de levar o chifre, ok? Jéssica você sempre conta as histórias acabando com a minha raça. Credo!

— Você não devia nem ter começado, ela era insuportável. — Enquanto Mari falava aquilo eu só conseguia imaginar que alí era o sujo falando do mal lavado.

A tarde seguiu assim entre conversas idiotas, comidas e bebidas.

Devo confessar que longe do trabalho e de Rafaela, a Mari até que conseguiu se mostrar um pouco mais suportável, dava para conversar com ela sobre assuntos aleatórios. Quando conseguimos encontrar assuntos em comum, do tipo que dava para todas opinar, foi mais fácil vê-la com outros olhos.

Tudo bem, antes eu estava julgando apenas por ser a ex da mulher por quem eu tava ficando caidinha. Nessa altura do campeonato eu já podia admitir ter um verdadeiro tombo por Rafaela, mas isso nem mesmo Jéssica ficaria sabendo, pelo menos não por enquanto.

Me envolvi tanto nas conversas que a bebida só ia descendo e nem vi quando já estava no meio dos tios da Jess, conversando sobre pesca. Meu pai curtia pescar. Quando eu era adolescente ele me levava para o interior, por isso tenho um vago conhecimento que me ajudou a engatar o assunto no meio daquele bando de homem barrigudo sem camisa, tudo vermelho depois de ter bebido horrores.

Eles riam tão alto que eu quase ficava surda, mas estava divertido. Só que Jéssica não demorou a me arrastar para o quarto dela, onde rapidamente peguei o celular, pronta para fazer uma besteira.

...Giulia: Saudade de você, gostosa. 07:01 PM...

...Rafaela: O quê está fazendo? 07:15 PM...

...Giulia: Bebendo na casa da tua ex. 07:16 PM...

...Rafaela: Hmmm então você está bêbada. 07:16 PM...

...Giulia: Só um pouquiiinho. 07:17 PM ...

...Rafaela: Entendi. Juízo, hein!? 07:17 PM...

...Giulia: Vem me buscar aqui???? 07:19 PM ...

...Rafaela: Está falando sério? *A*pesar de que você está bêbada... 07:20 PM...

...Giulia: Vem Rafaela, eu quero te ver! Te espero na esquina. Sei que vc sabe onde fica. 07:20 PM...

...Rafaela: Certo, chego aí em alguns minutos. Juízo! 07:21 PM...

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Comments

vanellus

vanellus

eu não desconheço o ser mais sincero que o bêbado

2024-01-19

2

𝖐𝖎𝖙-𝖋𝖔𝖉𝖊 ✡

𝖐𝖎𝖙-𝖋𝖔𝖉𝖊 ✡

diliça 😏

2023-02-25

2

Sammy

Sammy

Eu fingia desmaio kkkjjjks

2023-01-19

2

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