Capítulo 17

Fiquei gelada quando avistei aquele homem, mas o incrível é que Rafaela não o viu e simplesmente foi embora, então eu rapidamente tentei desviar o olhar e forçar minhas pernas a seguir o caminho de casa, só que por minha visão periférica pude percebi ele se aproximando. Pensei em andar mais rápido, mas não queria dar uma de louca e sair correndo, então com um nervosismo horrível notei ele chegar próximo o suficiente para que eu parasse e o olhasse no intuito de fingir querer saber o que desejava dizer, apesar de que na real eu não queria.

— Você não tem vergonha, menina? — Começou ele.— Toda noite saindo do carro de alguém diferente. Se fosse pelo menos com homem, mas anda envergonhando sua mãe que é uma mulher trabalhadora que te criou praticamente sozinha e faz tudo por você! Daqui a pouco estão falando por aí, não só de você como também dela...

— Espera, o quê? — Precisei de uns segundos para absorver tudo aquilo que ele disse, antes de responder. — Me deixa esclarecer uma coisa aqui. — Ele ainda tentou me interromper, mas falei em tom um pouco mais alto. — Você não tem nada a ver com minha vida. Nem você e nem ninguém! Não fale como se soubesse das vivências de minha mãe ou das minhas. Chegou agora na história e vem querer dar lição de moral? Eu poderia estar saindo de quantos carros quisesse, com quantas mulheres quisesse e ainda assim não seria da sua conta nem do bairro. Não me interessa o que pensam os outros, vivo minha vida, pago minhas contas assim como faz minha mãe e como ela me ensinou, então não me venha com esse papinho ridículo. Boa noite!

Saí andando apressada me afastando dele. Apesar de ter dito tudo com segurança e firmeza, em meu interior ainda me sentia igual um bichinho assustado.

Ele não havia reconhecido Rafaela e isso já era um alívio. Apesar dele não ter nenhuma relação comigo, não era legal ter que ouvir aquele tipo de coisa, imagine ela ouvindo críticas do próprio pai.

Quando cheguei em casa não encontrei minha mãe e nem queria, pois não sabia como contar aquilo, afinal conhecendo ela era óbvio que ia na mesma hora dar início a uma discussão. Eu me sentia péssima por ela, pois desde que começou com Mauro não vi sinal de briga entre eles, no entanto aquilo não significava que ele fosse o homem perfeito. Se alguém é incapaz de respeitar a vida pessoal da própria filha e tem coragem de criticar na cara dura a filha dos outros, eu acredito que passe bem longe de ser o ideal.

Cometi o erro de ficar horas e horas pensando sobre aquilo e assim meu sono foi embora, graças a isso acordei super atrasada no outro dia. Minha mãe já estava saindo para o trabalho e disse que não me acordou por achar que eu não tinha voltado pra casa na noite anterior.

Cheguei na agência e encontrei aquela Mari furiosa me arrastando para trabalho externo. Segui com fome até o meio dia quando já estava a ponto de ter um troço e finalmente pude almoçar, mas como não estávamos na agência, o almoço foi com ela em um restaurante próximo ao lugar em que estávamos trabalhando.

— Sabe o que mais amo nessa profissão? — falou ela enquanto eu me deliciava com a sobremesa. — Quando entrego um trabalho e as pessoas dizem que ficou melhor do que esperavam. Enquanto estou em uma sala idealizando e tudo não passa de planos, mesmo sabendo de minha própria capacidade e de toda equipe da agência, nunca me sinto segura completamente de que vai dar certo, sempre estou tensa e nervosa temendo que algo dê errado, mas aí começo a por em prática e no fim o resultado sai maravilhoso.

— Todos os seus projetos são ótimos — afirmei. — Eu acho incrível quando você tem um talento e encontra uma equipe que consegue trabalhar na mesma sintonia.

— E você, nunca pensou no quê é boa? Não pretende passar a vida como assistente. Não é? Tem algo na agência que gostaria de fazer? — Aquelas perguntas me pegaram desprevenida.

— Bom... Me acho uma alma perdida — confessei. — Sempre trabalhei com o que me desse dinheiro. Claro que desejo ainda me encontrar e que o tempo está passando, mas por enquanto não posso afirmar nada.

— Devia aproveitar essa oportunidade na agência e olhar cada cargo com olhos mais atentos. Talvez seja sua chance de se encontrar numa área. A agência te permite isso, quem entra tem a possibilidade de evoluir profissionalmente, tem gente que começou como assistente e hoje está lá encima. A Rafa faz um trabalho incrível e eu sempre adimirei muito isso nela. Você não tem noção do tamanho do poder que aquela mulher tem e talvez nem ela mesma consiga imaginar a proporção, mas é algo surreal para uma única pessoa. No início ela tinha uma sócia, mas aí não deu certo, ela comprou a parte daquela vadia e... Enfim, estou falando muito, precisamos voltar ao trabalho!

Eu estava surpresa por aquela conversa. Mari conseguia ser uma boa companhia as vezes, mas de quebra ainda me deixava curiosa a respeito de Rafaela. Mas eu poderia perguntar a ela mesma, não é? Isso se nós não fôssemos pra cama após trocar duas palavras.

Aquela mulher ia me deixar louca!

No meio da tarde voltei para a agência sozinha e só então lembrei das fofocas que andavam rolando a meu respeito, afinal enquanto passava pelo lounge, onde alguns funcionários tomavam café aproveitando os minutos de descanso, pude ouvir meu nome sendo pronunciado e logo em seguida o de Mari, mas falei a mim mesma que não ia me estressar.

O problema é que enquanto tomava meu café em uma parte mais afastada dos outros, ouvi alguém falando:

— Sim, ela se estressou quando a namoradinha chegou atrasada, mas logo as duas saíram. Com certeza a assistente foi acalmar a fera na cama.

Ouvir aquilo fez meu sangue subir à cabeça e me esquivando de um jarro que impedia minha visão do grupo de mulher, me aproximei das quatro que antes riam, mas ficaram sérias ao me ver.

— Vocês vem aqui para trabalhar ou fofocar sobre minha vida? Se vou pra cama com alguém é da conta de alguma de vocês? Eu ando questionando quem são as pessoas com quem transam? Então porquê estão tão interessadas em minha vida pessoal? — Tanto elas quanto as outras pessoas presentes no espaço estavam em silêncio, então eu simplesmente dei meia volta, joguei o copo no lixo e saí.

E saí tão apressada, sentindo o rosto quente de vergonha, que só parei quando me choquei com alguém. Para minha surpresa as mãos que me seguraram pelos braços me mantendo firme no chão eram de Rafaela. Levantar o rosto e encontrar aquele par de olhos me desestruturou inteira, tudo o que eu queria era abraça-la e pedir que preparasse um daqueles banhos para me relaxar, pois me sentia sobrecarregada desde a noite anterior. Depois do encontro com Mauro ainda tive uma noite mal dormida, o trabalho, as fofocas, eram tantas coisas.

— Onde vai com tanta pressa? — perguntou ela após olhar ao redor, mas estávamos sozinhas alí.

— Posso te pedir uma coisa? — Ela confirmou com a cabeça. — Demite todos que estão no lounge — brinquei e ela deu um largo sorriso.

— Por que eu faria isso? Estavam falando de você e Mari? — Arqueei as sobrancelhas e já ia falar algo, mas ouvimos o burburinho de todos que saiam do lounge voltando ao trabalho, por isso rapidamente Rafaela me puxou pela mão me levando em direção a uma porta que dava acesso às escadas onde entramos e pudemos ficar novamente sozinhas. 

— Como você sabia sobre as fofocas? Ah é, você deve ter vários informantes.

— Sim, tenho meus informantes — confirmou.

— Então me perdoa se eu quebrar a cara de alguém. Realmente gosto de trabalhar aqui, mas minha mão, ela... — Me calei quando Rafaela segurou meu rosto e selou nossos lábios.

— Você é tão esquentadinha — falou baixinho antes de sorrir e me beijar.

Aquela boca... Aquela maldita boca viciante que tinha um efeito perigoso, do tipo que me deixava descontrolada ao ponto de me pegar apertando a bunda dela durante o beijo. Rafaela sorriu em meus lábios finalizando com selinhos, mas eu estava grudada a ela e quase não permiti que se afastasse.

— Controle-se, Giulia — alertou de um jeito tão sexy. — Nada de brigas aqui e nada de tentar me seduzir, senão te arrasto para minha sala agora mesmo.

— Isso é uma ameaça? — Pressionei seu corpo contra a parede. — Olha, estou ficando com vontade de me tornar fora da lei... — Nos beijamos novamente e dessa vez foi ainda mais intenso. O suficiente para que eu esquecesse onde estávamos, mas finalizamos antes que chegássemos longe demais, afinal precisávamos trabalhar.

Me despedi de Rafaela e saí primeiro da sala. Enquanto voltava ao trabalhão me questionei se devia contar a ela sobre o encontro com o pai, então conclui que sim, o certo era dizer que quase fomos pegas, mas no fim só eu fui e rendeu aquela conversinha desagradável.

Quando o dia tinha finalmente acabado e eu pude ir para casa, saí um pouco depois da grande maioria para não ter problema com elevador cheio, mas quando entrei no mesmo, com portas prestes a fechar, alguém impediu e para minha surpresa esse alguém era a tal editora chefe da revista, a Erica.

— Oi, Giulia...

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Comments

Cleidiane Oliveira

Cleidiane Oliveira

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2022-11-13

1

Nataly Lopes

Nataly Lopes

De novo essa Érica,mais confia no teu taco Giulia

2022-11-13

2

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