Capítulo 02

Eu já estava nervosa, mas depois daquele olhar e sorriso, meu estado foi para níveis inimagináveis. Já não sabia bem como era falar, talvez tivesse voltado no tempo e me tornado um bebê que mal consegue balbuciar alguma coisa e que anda tropeçando, pois foi justamente isso que aconteceu, eu tropecei em meus próprios pés quando me forcei a caminhar até a cadeira diante da mesa.

A mulher não expressou nada diante de meu claro nervosismo, apenas me observou com uma calma assustadora até que sentasse, podendo relaxar ao menos as pernas.

— Que coincidência, não? — começou ela. — Estava aqui olhando seu currículo e notei que tem pouca experiência no ramo.

Gelei dos pés a cabeça, lembrando que havia uma foto horrorosa em meu currículo.

— S-sim, me formei em...

— Educação física — concluiu me deixando sem fala, então somente confirmei. — Mas nunca atuou na área.

— Perdão, mas eu já respondi todas essas perguntas para a moça no RH. Bem, eu já trabalhei em uma empresa anteriormente como recepcionista e a Mari...

— A Mari se solidarizou e decidiu ajudá-la diante de sua situação financeira. Tudo bem Giulia, não estou aqui para julga-la, simplesmente gostaria de conhecer melhor a pessoa que Mari escolheu a dedo como assistente pessoal. — Ela voltou a juntar os papéis sobre a mesa, desviando o olhar para eles. — Espero que dê seu melhor no trabalho, pois não costumo passar a mão na cabeça de pessoas contratadas por indicação. Agora, se me der licença.

— Garanto que não darei menos que o meu melhor — afirmei, não conseguindo esconder uma certa raiva em cada palavra e até mesmo no olhar que lancei para ela que não voltou a me encarar.

Mulherzinha nojenta! Tinha que ser justo ela alí? Tantas pessoas na face da terra e justamente a mulher sexy do Starbucks tinha que me recepcionar com sua maneira fria e estranhamente atraente?

Os céus estariam me testando para ver até onde aguento sob pressão?

Não era possível que depois de seis meses de desemprego eu teria que rebolar para não desagradar a CEO da empresa. No fundo eu já sabia que entrar num emprego daquela forma me faria correr o risco de passar por situações semelhantes, mas tinha que ser justo com aquela mulher?

— Finalmente encontrei você! — Em meio a minha reflexão assustei-me ao encontrar Mari no corredor. — Onde estava?

— Bem, a...

— A Rafaela te chamou, não é mesmo? — Observei ela revirar os olhos antes de me dar as costas. — Bem a cara dela — murmurou. — Vem, vamos ao trabalho.

Não posso dizer que aquele emprego seria difícil, muito pelo contrário, parecia divertido apesar de cansativo. Mari é responsável pela parte de decoração, então eu fiquei responsável por contatar fornecedores e anotar cada mínimo detalhe, principalmente durante as reuniões sobre os eventos. Naquela semana em especial seria um noivado.

Eu também era responsável pelo café, entre várias outras pequenas coisas que me deixavam sempre em movimento.

Não voltei a ver a tal Rafaela durante aquela semana e confesso ter sentido um certo medo de esbarrar com ela em algum lugar da agência, mas não aconteceu.

Com o fim de semana se aproximando, estava eu na cafeteria do outro lado da rua em que fica o prédio da empresa. Não era meu lugar favorito, primeiro porque os preços eram absurdos e segundo porque as pessoas da agência estavam sempre por lá e eu senti uma certa dificuldade em interagir com eles, não sei bem o motivo, mas meu santo não bateu com o de ninguém alí.

— Senta aqui com a gente, Giulia — chamou Mel, uma das garotas da área de marketing, como se ouvisse meus pensamentos enquanto estava encostada no balcão com meu capuccino em mãos.

— Você deve estar estressada, a Mari hoje tá uma pilha — comentou Rhuan, também do Marketing, quando me aproximei da mesa.

— Será que a Rafaela não deu conta do recado ontem a noite? — O comentário de Mel me fez arquear as sobrancelhas, mas todos riram concordando com ela.

Como assim, Rafaela e Mariana tem alguma coisa?

— Ouvi ela gritando com você logo cedo — disse Rhuan me olhando e todos pareciam esperar uma resposta.

— Um fornecedor estava dificultando as coisas, nada demais... — Dei de ombros.

— Relaxa Gi, você pode desabafar com a gente. — Mel colocou a mão em meu ombro  — Ninguém naquela empresa aguenta mais os dramas dela por causa da CEO. Esse foi o pior romance de escritório que poderia ter acontecido porque as duas tem um temperamento horrível.

— Verdade, em dois anos nós já vimos de tudo daquelas duas — concordou uma outra moça.

— Dois anos? — Não pude evitar demonstrar surpresa.

— Dizem que agora elas estão mesmo separadas, mas não boto muita fé — Rhuan deu um gole no café enquanto as outras três garotas sentadas ao redor da mesa confirmavam.

Eu nunca ia imaginar que a Mari fosse lésbica, ou bi, pan... enfim, que ela é do vale. Afinal sou amiga da Jéssica há anos e confesso que durante a adolescência tive uma certa queda por elai, que é irmã mais velha de minha amiga. Mas sempre que eu visitava elas a Mari estava saindo ou chegando de uma farra e nunca me deu muita atenção.

Como eu ia adivinhar? Vergonhosamente meu gaydar nunca foi muito bom.

Em meio a meus pensamentos consegui juntar as peças, lembrando de meu primeiro dia de trabalho quando Rafaela me chamou apenas para especular alguma coisa que na época não saquei. Então era isso? Ciúmes!

Quase ri da minha desgraça por não perceber que naquele momento estava no meio de um casal problemático. Bom, mas isso passou e eu não tinha mais nada a ver com aquelas duas.

...***...

— Como estou? — Minha mãe surgiu abrindo a porta de meu quarto me fazendo desviar os olhos do livro e analisar seu vestido.

— Linda, como sempre. Para onde vai? — Olhei o relógio em meu celular e era um pouco mais de sete da noite.

— Mauro me convidou de última hora para jantar com as filhas dele. — Ela riu, visivelmente nervosa. — Na próxima você vai também.

— Ok, divirta-se então.

Eu até tinha pensado em dizer que não queria me envolver em nada disso. Não queria ir a nenhum tipo de jantar em família, mas deixei que ela saísse sorrindo feito uma boba apaixonada cantarolando, me fazendo rir voltando o olhar para o livro até ouvir vozes na frente da casa, então decidi ir até a janela observar mamãe que abraçava Mauro e logo depois os dois atravessavam a rua até a casa dele de mãos dadas.

Voltei para meu livro e passou-se poucos minutos até meu celular vibrar, era minha mãe ligando, pedindo que eu levasse o saca rolhas, pois Mauro não estava encontrando o dele. Não suficiente, ela pediu que eu me vestisse adequadamente para aproveitar e ficar para jantar com a família. Claro que eu queria inventar qualquer coisa para evitar esse encontro famíliar com estranhos, mas mesmo assim não reclamei para não quebrar o clima dela, então apenas coloquei uma roupa mais apresentável, prendi meus cabelos que estavam uma bagunça e fui pegar o bendito saca rolhas.

Atravessei a rua com uma falta de ânimo enorme, pois definitivamente meu livro estava bem mais interessante. Dei duas batidas na porta da casa e ela logo foi aberta por uma garota com sorriso de orelha a orelha.

— Que rápida, Gi! — disse, como se me conhecesse há tempos. — Sua mãe não parou de falar sobre você. Vem, entra!

— Não, eu só vim trazer iss...

— Não faz nenhum sentido o papai ter convocado todas as filhas para conhecer a nova namorada e você que está do outro lado da rua, não estar presente! — Ela agarrou em meu pulso e praticamente me arrastou para dentro da casa. — Ah e prazer, eu sou a Hanna.

Não tive tempo de reação para nada, pois logo estavamos na sala de jantar onde avistei minha mãe rindo de maneira animada, assim como Mauro, mas o que atraiu meus olhos causando uma enorme surpresa foi a mulher ao lado dele. Era ela, Rafaela Bianchi.

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Comments

izasink

izasink

quer ver que a diaba é filha do mauro

2024-02-14

0

_xx.ma.ry.ana.xx_

_xx.ma.ry.ana.xx_

Ai gente tadinha kkkkkkk

2024-01-24

0

Lily💌✨

Lily💌✨

mn eu morria ksksk

2023-05-21

3

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