Capítulo 03

— Ainda não consigo acreditar em tamanha coincidência — repetiu minha mãe pela décima vez.

Já estávamos terminando o jantar. Rafaela já havia comentado de uma forma bem clara sobre termos nos encontrado antes, na agência. Eu nem queria entrar muito em detalhes, mas o pai dela começou a me encher de perguntas.

Passei o tempo todo sem jeito diante do olhar e a postura da CEO que estava sentada bem na minha frente. Por sorte, Hanna que era bem tagarela, estava sempre mudando o assunto da conversa.

— Adorei o jantar e a conversa, mas agora se me derem licença vou fazer vídeo chamada com meu maridinho — anunciou Hanna levantando da cadeira e saindo rapidamente.

— Ele está viajando a trabalho — explicou Mauro quando a filha sumiu no corredor.

— Hanna parece bem jovem, quem olha pensa que ainda tem dezessete — comentou minha mãe.

— Realmente — confirmou o homem. — Casou-se cedo.

— E você Rafaela, pensa em casamento? — Minha mãe e seus questionamentos. — Tem cara de quem é mais focada no trabalho.

— Pelo que vejo você lê bem as pessoas — falou a Bianchi, enchendo novamente a taça de vinho. — Não tenho planos de casar.

— A Rafa sempre foi muito estudiosa e focada nos próprios objetivos. Não é atoa que agora administra o próprio negócio — disse Mauro todo orgulhoso. — Mas não pense que esqueci os netos que me prometeu quando mais jovem — brincou.

Pela primeira vez vi a mulher ficar sem jeito, dando um sorriso que fez seus olhos ficarem apertadinhos. Ela baixou a cabeça e vi seu sorriso sumir, seu rosto tomando outra expressão, como a anterior fosse apenas fachada, para não demonstrar o quão incomodada ficou.

Será que ele sabia sobre a sexualidade da filha? Me perguntei. Bom, não era da minha conta.

— A Gi é uma encalhada. — Minha mãe soltou aquilo simplesmente do nada e meus olhos quase saltaram. — Nunca focou muito nos estudos, mas também não vejo sequer sair com ninguém para se divertir de vez em quando. Mas aos menos a idade fez com que buscasse algo melhor profissionalmente, tanto é que está na agência...

— Mãe — murmurei entredentes.

A minha sorte foi que Mauro, mesmo rindo — de mim com certeza — mudou o assunto, chamando ela a juntar-se a ele na lavagem da louça e assim o assunto morreu. Me ofereci para ajudá-los, mas eles queriam ter aquele momento a sós, como se fosse algo muito divertido, então apenas levantei me preparando para ir embora, mas Rafaela fez o mesmo e pegando a garrafa de vinho me lançou um olhar intimidador.

— Que tal uma última taça na varanda? — convidou e eu pensei em negar, mas não queria fugir assim, então apenas confirmei e após pegar uma taça seguimos até a varanda na frente da casa.

A rua estava vazia, somente lá na esquina algumas crianças brincavam fazendo algazarra. O céu estrelado tentava se destacar mesmo com a iluminação da cidade. O vendo frio me fazia estremecer um pouco. Observei Rafaela enchendo a taça dela e logo em seguida a minha, depois colocou a garrafa encima do parapeito e encostou-se ao mesmo.

— Meu pai é viciado nesse vinho — comentou observado a taça entre as mão. — Mamãe odiava que ele bebesse, mesmo que não cometesse exageros. Ela não gostava de nenhum tipo de bebida e diversas vezes tentou mudar isso nele. — Ela virou o rosto para me olhar e os lábios se curvaram em um breve sorriso. — Espero que dê tudo certo entre ele e sua mãe.

— Eles parecem se dar bem — comentei, também me apoiando ao parapeito.

O silêncio se fez presente nos minutos seguintes. Dei um gole na bebida tentando me manter calma, pois aquela situação era meio desconfortável.

— Está indo tudo bem no trabalho? — Ela quebrou o silêncio.

— Acho que você saberia caso não estivesse. — Quase bati em minha própria boca após dizer aquelas palavras. — Quero dizer...

— Você tem razão, estou por dentro de todos os assuntos de minha agência.

— Podemos deixar uma coisa bem clara? — falei o mais séria possível. — Eu não tenho nada a ver a Mari. Sou amiga da irmã dela, somente isso.

— Eu não...

— Sei o que pensou por eu ter entrado lá como assistente dela.

— Giulia, imagino que tenha ouvido muitas fofocas a meu respeito, mas ao contrário do que possa estar pensando, não costumo misturar minha vida profissional com a pessoal, tanto é que a Mari ainda trabalha comigo. Minha única curiosidade em relação a você foi devido seu currículo e... Confesso que após ver sua foto lembrei de nosso primeiro encontro, então quis apenas confirmar.

— Tudo bem então — murmurei antes de tomar mais um gole de vinho, tentando não pensar em minha foto.

— Sei que te devo um café — disse. E eu levantei o rosto para olhar em seus olhos. — Naquele dia eu estava uma pilha, mas depois analisei bem a situação e percebi que fui uma idiota.

— Não... — me interrompi enquanto pensava um pouco. — É, você foi — confessei e ambas sorrimos. — Mas não preci...

Me interrompi novamente quando meus olhos focaram na figura no outro lado da rua. Era Jéssica nos encarando com os braços cruzados e o pézinho nervoso batendo na calçada. Como eu conhecia muito bem minha amiga, rapidamente pedi licença a Rafaela e deixando a taça de lado, sai quase correndo ao encontro da outra que me fuzilava com o olhar.

— O que faz aqui a essa hora? — questionei ao me aproximar.

— Sou eu quem faço as perguntas aqui, dona Giulia. — Ela lançou mais um olhar na direção de Rafaela, logo depois segurou em minha mão me arrastando para a porta de casa. — Que flerte era aquele com a Rafa?

Arregalei os olhos ao ouvir aquilo, mas não respondi de imediato. Abri a porta e empurrei ela para dentro, não deixando de dar uma última olhada para a varanda onde Rafaela descaradamente mantinha o olhar fixo em nós, então fechei a porta e me voltei para Jéssica.

— Não tem flerte nenhum! Pirou?

— Me diz você! Não acredito que está de rolo com a ex da Mari.

— Qual o problema? Quero dizer, não estou de rolo coisa nenhuma!

— Amiga, a Rafa e a Mari tiveram a relação mais problemática de todos os tempos. Não se mete nisso por favor, é cilada. Maldita hora que pedi para ela te ajudar com o emprego.

— Ei, ei, ei! Jéssica por favor, para de enrolar as coisas, eu não tenho nada a ver com a Rafaela. Caramba, ela é filha do novo namorado da minha mãe, dá pra acreditar?

— O quê?

Jéssica estava tão surpresa quanto eu. Expliquei tudo o que rolou naquela noite e aproveite para incluir como conheci Rafaela, para que não ficasse nenhum mal entendido. Não pedi explicações sobre o relacionamento da irmã dela e a CEO, pois não era da minha conta, então era melhor apenas manter distância, até porque quem estava namorando era minha mãe, então não havia motivo para ficar mantendo contato com Rafaela. Tudo permaneceria em seu devido lugar.

Ficamos conversando por horas, afinal fazia tempo que nosso trabalho não nos permitia tempo para papear daquela forma. Jéssica era muito mais ocupada que eu e como estava namorando, dificilmente restava tempo para sair um pouco e relaxar, mas nós estávamos sempre trocando mensagens e ela até mesmo me ajudou com o emprego.

...***...

Na terça-feira minha TPM havia me torturado bastante, então após o expediente decidi me presentear com uma deliciosa torta de chocolate.

Entrei na cafeteria que ficava na frente da empresa, fiz o pedido e enquanto entregava o dinheiro para a caixa, outra mão se sobressaiu a minha me assustando.

— Inclui dois cafés no pedido dela — falou Rafaela a meu lado. E eu embasbacada encarei ela com o rosto bem próximo, mantendo o olhar na atendente. — Tudo em meu cartão, ok Lana? — Ela piscou para a garota, em seguida me encarou.

— Não...

— Não aceito não como resposta. — O olhar felino parecia ameaçador, então me resumi a dar um passo atrás tentando me manter sã em uma distância mais confortável. — Relaxa Giulia — falou baixo o suficiente para que somente eu ouvisse, tornando aquele momento um tanto desconfortável para mim. — Você sempre fica muito tensa quando estou por perto.

— O-o quê? — Sorri sem graça e abri a boca para retrucar, mas a moça do caixa devolveu o cartão dela que após um sorriso saiu desfilando pelo café, indo embora sem nem esperar para pegar o pedido.

— Mais alguma coisa? — A tal Lana do caixa perguntou com uma sorriso que me fez questionar se era para mim ou de mim.

Neguei e segui até uma mesa perto da parede de vidro que dava para a rua, a tempo de observar Rafaela entrando no carro e logo indo embora.

Até mesmo a forma dela se redimir era exagerada. Minha vontade era obriga-la a agir como uma pessoa normal para evitar que se repetissem momentos contrangedores como aqueles que me meti desde que nos conhecemos, mas eu não tinha nada a ver com ela e definitivamente estávamos quites. O assunto Rafaela Bianchi estava morto.

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Comments

izasink

izasink

nem eu………

2024-02-14

0

Yasmim e erick jesus Santos

Yasmim e erick jesus Santos

kkkkkkk só começou gata

2024-01-04

1

Neiva Mana

Neiva Mana

Nem eu dona nem eu... ksks

2023-12-06

1

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