Capítulo 15

Apertei o celular em minha mão enquanto caminhava pela calçada em direção ao único carro estacionado próximo a esquina. A luz do poste alí estava tão fraca que quase nem existia iluminação e nem pessoas, então pude ir menos preocupada com a possibilidade de que Mauro saísse de repente e reconhecesse o carro da filha.

Me senti uma fugitiva quando abri a porta do passageiro e entrei rapidamente. Parecia que estava fazendo uma coisa super errada e a sensação era um misto que eu não conseguia decifrar.

Não fui capaz de olhar para Rafaela de imediato, fiquei encarando através do parabrisa.

— Vamos para outro lugar — falou ela ligando o carro.

Eu odiava aquele silêncio, queria começar logo o assunto para finaliza-lo o mais rápido possível, mas pacientemente seguimos, até eu notar que estávamos chegando ao prédio onde fica o apartamento dela. Olhei para Rafaela pelo canto do olho e ela pareceu fazer o mesmo, então virei o rosto rapidamente.

— Sugere algum lugar mais tranquilo que minha casa? — questionou.

— Não estou reclamando. — Dei de ombros.

— Por quê está tão arisca? — Virei o rosto para encará-la. — A essa altura do campeonato não é como se não nos conhecêssemos um pouco.

Chegava a ser um insulto o quão linda ela estava naquela noite, fazendo meus pensamentos se embaralhar antes de formular uma resposta.

— Pareço arisca? Você pode ser astuta e claramente pensar que consegue tudo o que quer, mas comigo talvez não funcione da mesma forma que com as outras. — Aproveitando que o carro já estava parado abri a porta e saí.

— De fato eu ainda não havia me deparado com alguém que após dormir comigo fosse pra cama com a Mari — falou em alto e bom som ao sair do carro e eu quase voltei para dentro do veículo ao notar um casal na garagem ouvindo aquilo.

— Podemos subir antes de começar a falar sobre isso? — pedi, fazendo a volta no carro quase correndo para o elevador.

Eu estava chateada por tantos motivos que já nem sabia mais pontuar todos eles. Talvez no fundo minha maior chateação fosse comigo mesma, por ficar me iludindo e logo depois percebendo que as coisas não sairiam como esperava.

Tudo o que queria era esclarecer que não havia ficado com Mari e finalizar tudo com Rafaela.

Assim que entramos no apartamento ela pediu que esperasse um pouco, antes de seguir para o corredor. Sentei no sofá e quando menos esperava o gato pulou em meu colo causando um baita susto. Da última vez não o tinha visto. Ele é cinzento e peludo, tão bonito que após a reação inicial desejei aperta-lo. Deslizei a mão por seus pêlos devagar e em recompensa recebi uma lambida que me fez sorrir, mas no segundo seguinte o traiçoeiro agarrou minha mão com as unhas das duas patas.

— Caralho! — gritei tentando fazer com que me soltasse e bastou Rafaela aparecer o danado me largou, pulou de minha perna e saiu pela casa.

— Ele te machucou? — perguntou ela se aproximando.

— Nada demais — afirmei balançando a mão, sentindo arder.

— Vai lavar a mão. — Toda mandonda indicou a porta do banheiro e segui até lá onde lavei sentindo as pequenas feridas ardendo.

Quando voltei para a sala Rafaela não estava lá, mas logo surgiu carregando um remédio que parecia muito aquele methiolate que a gente usava quando criança. Então ela pegou minha mão e aplicou encima do ferimento.

— Desculpa, o Shrek não gosta de estranhos. Pronto... — falou soltando minha mão.

— Ele é bem falso — comentei e ela riu. — Quem escolheu esse nome? A Mari?

— Você conhece ela hein...

— Não da forma que você está pensando. — Ficamos nos encarando sem nada dizer, até ela desviar o olhar.

— Você disse que ficou com alguém.

— Nem mesmo se a Mari fosse a última mulher na face da terra eu teria coragem de ir pra cama com ela — afirmei com toda a certeza que havia em mim.

Não tinha a mínima possibilidade de eu cair nas garras daquela maluca.

— Se eu disser que não dormi com a Erica, você acredita? — Ela me encarou com aquela profundidade que faz tudo ao redor sumir.

Minutos antes talvez não acreditasse, mas lá estava eu rendida. Mesmo sem que nada tivesse sido dito ou feito eu sabia que estava entregue, tudo o que queria era que ela me tomasse alí mesmo. E foi como de Rafaela lesse meus pensamentos, pois sua ação seguinte foi inclinar e segurando meu rosto beijou meus lábios.

O que eu temia quando notei que estavamos indo para o apartamento dela, de fato aconteceu.

O que era para ser uma simples conversa foi muito além e em poucos minutos eu já estava completamente nua sentindo a quentura e umidade dela esfregando contra a minha.

Como conseguia fazer tão gostoso? Eu tava quase chegando ao ápice. Se esfregasse um pouco mais... Nossa, eu estava praticamente gozando. Faltava pouco e ela estava percebendo isso, ela ouvia meus gemidos e gemia em resposta. Eu estava quase em meu limite quando um toque em meu mamilo me fez de fato explodir em um orgasmo e enquanto estremecia senti que ela chegava também.

— Droga — reclamei quando ambas já estávamos dentro da banheira.

Com Rafaela atrás de mim derramando água em minhas costas e deslizando a ponta dos dedos por minha pele formando círculos. Me dava conta do quanto era fácil para ela fazer com que me desligasse de tudo. Eu diria que aquilo se tornava cada vez mais perigoso para mim.

— O que foi? — questionou, sem parar de descer os dedos em direção a minha cintura e subir novamente.

— Não estava em meus planos transar com você — confessei.

— Pois nos meus sim — afirmou e rapidamente virei para encarar aquele sorriso lindo. — O quê? Mesmo se você tivesse dormido com a Mari eu não deixaria de ter uma noite agradável a seu lado por causa disso.

— Se eu soubesse teria aproveitado que ela me deu mole... — brinquei e ela jogou água em meu rosto. — Mas falando sério, você não se importaria se eu ficasse com a Mari?

— Não é que não me importaria...

— Então você sentiria ciúmes — apontei e ela negou. — Ficaria incomodada, claro, seria estranho.

— Bom que você sabe.

Sim, eu sabia que seria muito estranho a pessoa com quem ela está ficando de repente ir pra cama com a ex. Eu só não sabia se ela ficaria incomodada por minha causa ou pela ex, mas isso eu não tinha coragem de perguntar.

Nunca se sabe o quê se passa pela cabeça de alguém que viveu um longo relacionamento. Quantas vezes vi gente flertando e no dia seguinte voltando com ex. Ainda mais Rafaela que já tem um histórico bem comprometedor.

Eu não estava preparada para ouvir nada, fosse verdade ou mentira preferia viver aquele momento sem me preocupar com o que viria.

— Se eu te dissesse agora que menti e que realmente fui pra cama com a Erica?

— Por que mentiria?

— Porque sabia que você não ficaria mais comigo — falou me deixando confusa.

— Afinal você mentiu ou não? — perguntei, já ficando impaciente.

— Não, mas de certa forma o que tinha na matéria não deixava de ser verdade. Nós estavamos naquele restaurante entre carícias, saimos exatamente da forma que havia nas fotos, mas não transamos.

— Por que não, se já estavam dando a maior pinta em local público? — Bufei. — Ai Rafaela conta outra né...

— Estou sendo sincera Giulia, não dormi com ela, não fiz nada além do que saiu na revista.

— Ela é uma das que você pega quando termina com a Mari, não é? Eu sei porque a Mari nem se abalou.

— Erica é uma colega... — Arqueei uma sobrancelha e ela sorriu. — Ok, nos divertidos quando estamos carente, mas somos colegas.

— Certo, não me interessa saber sobre esse tipo de amizade. — Voltei a ficar de costas e logo senti os braços dela ao redor de meu corpo me abraçando.

— Valorizo nossos momentos juntas, não farei nada que me leve a perdê-los. — Ela apoiou o queixo em meu ombro e virei um pouco a cabeça tentando visualizar seu rosto.

— Isso significa que temos um lance um pouco mais sério? — Apesar de me sentir idiota falando aquilo, tentei ignorar a vergonha, afinal era melhor esclarecer logo as coisas.

— Você é meu lance fixo — Um sorriso brincou em seus lábios e então ela beijou meu rosto antes de me puxar um pouco para trás e beijar minha boca.

Certo, então analisando os fatos eu era o lance fixo antes dela voltar com a Mari. Bom, não era exatamente o que eu queria, pois sabia que minha insegurança não permitia viver algo do tipo e logo estaria caidinha de amores, mas o que poderia fazer?

Não tinha como recusar quando o beijo era tão gostoso e a mão dela descia para entre minhas pernas em busca de mais uma vez me satisfazer.

Preciso dizer que não fui para casa naquela noite?

Mais uma vez dormi sentindo aquele cheiro bom que exalava dela e acordei na manhã seguinte com o Shrek dormindo encima das cobertas — mais precisamente encima de mim. Rafaelafa não estava mais na cama e eu fiquei parada olhando o teto me sentindo paralisada, não conseguindo me mexer para não acordar o gato.

— Se você passar mais um minuto nessa cama sua chefe não vai gostar nada quando chegar atrasada — alertou Rafaela que saía do banheiro usando roupão.

— Você devia me contratar como secretaria, assim eu estaria agora na cama da minha chefe e não teria com o quê me preocupar — brinquei.

— Ah é? Agora quer benefícios por dormir comigo? — Ela sorria com aqueles olhinhos apertados enquanto retirava o gato de cima de mim e colocava de lado na cama, logo depois sentou e inclinou-se por cima de meu corpo me encarando de uma forma que me desconsertava.

— Sabe que estou brincando. — Não tive tempo para pensar, pois ela selou nossos lábios. — Mas... Me perdoa pelo prejuízo que dei a agência? — Ela franziu o cenho, mas logo pareceu entender ao que me referia.

— Vou resolver sobre esse assunto hoje mesmo, mas preciso pensar na questão do perdão, ok? Não queira dar uma de esperta e se aproveitar do fato de que passou a noite em minha cama. — Sorrimos e ela levantou indo em direção ao closet. — Vamos, você ainda tem que passar em casa.

Me despedi de Rafaela na esquina de minha casa e quando cheguei, minha mãe que tomava café, me olhou como quem pretendia dizer alguma bobagem referente a minha noite fora, mas se conteve e alertou que eu estava praticamente atrasada.

Foi uma correria até finalmente estar na agência, trabalhando. Durante a tarde Mari me comunicou que de fato Rafaela resolveu o problema com o fornecedor que aceitou fazer a troca do produto.

— Não há nada que ela não consiga. — Foram as palavras de minha chefe se referindo a Bianchi, com um sorriso orgulhoso no rosto.

Eu precisava admitir era muito fácil ser Rafaela Bianchi, se tratando de alguns assuntos.

— Janta comigo hoje? — falou Mari, mantendo o olhar no computador enquanto eu estava de pé diante de sua mesa.

— Se for por causa...

— Não é um pedido de desculpas. — Ela me encarou. — Juro que não vou dar encima de você, só preciso... De alguém para desabafar.

— Mari, eu não...

— Eu menti para você sobre já estar costumada em relação a Rafaela — confessou. — Me sinto péssima sabendo que ela está saindo novamente com a Erica. Eu odeio aquela vagabunda com todas as minhas forças porque sei que é a única capaz de tirar a Rafaela definitivamente de mim. Talvez por isso cometi aquela bobagem ao te beijar, tentando fugir dos sentimentos que tenho por ela.

— Mari, não acho que esse seja o caminho certo. Simplesmente se ame um pouco mais, cuide de si mesma e busque algo melhor. Não viva agarrada a um relacionamento que já chegou ao fim.

— Não consigo... — Sua voz embargada denunciou que estava prestes a chorar. — Eu a amo, Giulia! Vou acabar com a Erica ou quem quer que se meta em meu caminho. Não posso perdê-la!

Caramba, eu estava mesmo ferrada no meio daquele casal problemático, pois tudo o que desejava era mais noites como a anterior ao lado da mulher por quem Mari estava quase se descabelando naquele momento.

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Comments

gayzinha🏳️‍🌈

gayzinha🏳️‍🌈

Ir embora e se valorizar?????

2023-02-03

5

gayzinha🏳️‍🌈

gayzinha🏳️‍🌈

Mano eu sempre leio shereke Kkkkkkkkkkkkkk

2023-02-02

3

sua crush? ~ ♀️🔞

sua crush? ~ ♀️🔞

faz um trisal pow

2023-01-21

2

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