Os caminhos da vida

Jean batia em frente a casa que sempre foi dele, mas ninguém o atendia. Ele foi em sua nova moradia, buscou as chaves reserva e voltou para lá.

Sophia esperneava, enquanto a assistente social tentava convencê-la que ela ficaria só um pouquinho ali. Sandra encarou Julieta.

- Somos amigas! Mas não tem como manter a menina aqui desse jeito!

- Eu te pago muito bem para me ajudar! - Julieta brada com a mulher.

- É\, mas nessa vou perder o meu CRESS! - Sandra olha apreensiva para a menina que chora escandalosamente.

- Já falou com o seu superior? Ele vai ter que me dar a guarda! Foi abandono de incapaz!

- Ela não estava abandonada\, Julieta. O que pode dizer é que só a pegou para uma visita não planejada\, já que o pai precisou se ausentar. - Julieta bufa. - Se por acaso convencesse a menina\, poderia ter chance de ficar com ela.

- Sophia! - Julieta chama a menina que não para de chorar. - Olha pra mãe um pouquinho\, quero falar com você!

- Não! Você não é minha mãe! - Sophia queria saber o que tinha acontecido\, porque o pai a deixou lá na casa do Carlos e agora a mãe dizia que ele tinha a abandonado.

- Sou sua mãe\, sim! Quer que eu pegue a sua certidão de nascimento? - Julieta brigava com Sophia como se ela própria fosse uma criança birrenta.

- Eu quero o meu pai!

- Ele já deve ter contado que a professorinha é a mãe dela\, por isso está assim! - Julieta diz brava para Sandra. - Mas ela é minha filha por direito. O contrato diz que ela não pode se aproximar!

- Calma Julieta\, consegui uma reunião para amanhã de manhã. Até lá convença-a a parar de chorar! - Sandra massageia as têmporas.

Sophia ouve o barulho do portão. E se ergue do chão onde estava chorando. Ela sempre esperava o pai chegar, então conhecia de longe o barulho do alarme do carro e o portão se abrindo. Em menos de um minuto a porta se abriu e Sophia corre em direção ao homem!

- Pai! - Jean agarra a menina no colo enquanto olha horrorizado para as duas mulheres ali.

- O que pensam que estão fazendo? Dava para ouvir o choro dela lá da rua!

- Você a abandonou! Estou no meu direito de mãe! - Julieta grita. Jean apenas sacode a cabeça e sai dali com a menina nos braços.

- Não pode levá-la! - Sandra grita e ele se vira para encará-la. - Terão uma audiência amanhã pela manhã\, para o pedido de custódia… - Jean a interrompe com uma gargalhada seca.

- Estou indo agora mesmo à delegacia! Vocês não tinham o direito de pegá-la sem aviso prévio! Você não estava presente na última audiência? - Jean franze o cenho em desgosto. - Ah claro\, você é apenas acompanhante social\, não juíza! - Ele sai dali e acomoda a menina no carro\, que recomeça a chorar.

- Não quero ficar com ela! Ela é uma bruxa!

- Tudo bem\, meu amor. O pai já tá aqui!

- Onde você estava? Ela disse que você tinha me abandonado! - Sophia funga magoada.

- Não querida… - Jean abraça a menina. - Nunca a abandonaria. É que … - Ele pensa se deve dizer que a prof Carol sofrera um acidente ou não\, então a menina fala.

- A mãe… não a… ai… - Sophia coça a cabeça. - Ela... - Aponta para a casa. - Disse que a professorinha era minha mãe. Que professorinha? - Jean bufa\, fecha a porta e entra no banco da frente.

- Vou te explicar\, enquanto andamos até a polícia. - Jean coloca o carro em movimento. - Lembra da barriga de aluguel\, que te falei?

- Sim! - Sophia limpa o nariz na manga da blusa.

- Eu não sabia\, até dois dias atrás\, que era a prof Carol. Ana Carolina Quebert! - Jean balança a cabeça sorrindo. Aquilo era surreal. Quem explicaria aquilo? Eram os caminhos tortuosos e encruzilhados da vida\, mesmo.

Sophia ouve o pai falar e sua mente entra em transe. A prof Carol era a moça da barriga? A prof Carol era a sua mãe? Sophia arfa.

- Pai! A prof Carol é a minha mãe? - Jean olha a menina pelo espelho retrovisor.

- É…

- Meu Jesus Cristinho! - Sophia coloca a mão na boca. - Obrigada meu Deus do céu\, por fazer uma coisa boa na minha vida… - Sophia fecha os olhos e junta as mãozinhas fazendo uma prece e Jean não se impede de sorrir diante a cena.

- Onde ela tá? Ela já sabe? Ai meu Deus! Foi isso que você foi resolver? Ela não me quer como filha?! - Sophia mareja os olhos.

- Não\, meu amor! Calma! - Jean engole seco. - A Ana sofreu um acidente de carro ontem a noite\, e por isso te deixei lá na casa do Carlos. Não queria te levar ao hosp…

- Ela morreu? - Sophia grita horrorizada.

- Não\, menina! Vira essa boca pra lá! - Jean começa a rir do desespero da filha. Mas era compreensível\, passou a vidinha dela inteira sem um amor de mãe digno e seguro. Tudo que ela mais queria era uma mãezinha\, para dar boa noite todas as noites\, a levar na escola\, e passear com ela. - Ela acordou essa tarde\, por isso demorei. Estava lá com ela. Ela também descobriu a pouco que poderia ser sua mãe. - Sophia mal respirava ouvindo o pai falar. - Ela até chorou de felicidade. Ela quer ser sua mamãe\, e … - Jean sorri. - E tomara que ela queira que eu seja o seu marido.

- Aiiii… - Sophia se sacode no banco de trás de tanta felicidade. - Que alegria\, pai! Ai… só um milkshake do Mc’Donald’s agora pra completar a felicidade. - Jean solta uma gargalhada.

- Pode deixar\, Sophi. Mas primeiro vamos resolver isso. - Jean fica sério de novo.

Ele nunca pensou que Julieta agiria daquela forma. Ele a conhecia a tanto tempo, nunca imaginou que ela se tornaria uma mulher amarga e sem piedade de uma criança. Sua mente divagava em lembranças, de como ela era animada, sorridente, carinhosa. Mas em compensação ele lembrava que ela nunca podia ser contrariada, ou fazia drama, ficava sem falar com ele. Mas ele nunca a contrariava. A amava tanto, que o que ela quisesse ele fazia. Inclusive sair a noite durante uma tempestade, só para assistir um filme. Ele comprime os lábios. Ele devia ter sido a voz da razão naquela noite, não ter saído de casa, por mais que ela implorasse. Mas de certa forma… Ele não sabia se se arrependia mais… Sem isso, ele não teria Sophia, nem conheceria Ana… É… a vida é como tem de ser!

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