Acabou!

Ana Carolina chega na escola em cima da hora. Se atrasara, pensando na menina que seria a sua aluna. Ela estranhamente sentiu-se como se fosse íntima da menina. Foi como se já a conhecesse. Engraçado. Seus outros alunos, eram só alunos, e ela ia os conquistando aos poucos.

- Prof Carol. - Carol para\, sentindo o corpo pequeno abraçá-la.

- Oi\, Sophi… quanto tempo\, não é mesmo? - A menina sorri\, mostrando os dentes pequenos\, e o furinho do queixo deixando-a mais fofa.

- É verdade!

- Curiosa para a continuação da história?

- Ôh prof\, não tem como eu ir na segunda ou na terça também? - Carol pensa um monento.

- Vou falar com seu pai\, caso ele aceitar\, consigo encaixar para o final da manhã de segunda.

- Eba… - Ela aperta a cintura de Carol. - Obrigada.

Carol fica olhando a menina correndo para sala e sorri sozinha.

Sophia Clarence estava com os seus sete anos. Ela vivera cercada de luxo e empregados a sua vida toda. Desde que se entendia por gente tinha o pai presente, mesmo que ele trabalhasse muito, ela sabia que se precisasse dele, ele vinha correndo, como na vez em que ela quebrou o braço. Ainda lembrava-se daquele dia, do dia em que sua mãe acordara. Ela era querida, era legal, fazia tranças em seus cabelos, mas ela não conseguia senti-la como sua mãe, como sentia o seu pai, como pai. Às vezes até fazia coisas erradas, só para o pai ir até ela, pois ele era sempre muito ocupado. Ela amava sua mãe, mas às vezes, ela a olhava de forma estranha. Como se procurasse defeitos nela. E já até ouvira ela dizer que ela devia ter herdado de alguém a burrice nata.

Ela não falara para ninguém sobre isso. Pois ela sabia que podia ser coisa de momento. Era muito esperta, mesmo que não fosse inteligente. Sempre tinha as melhores ideias para as brincadeiras, e sempre a convidavam para as coisas, mesmo que não pudesse ir, porque seu pai estava ocupado trabalhando, e sua mãe não podia levá-la, daí não deixava ela ir, por medo. Sua mãe contara, que foi um acidente a que deixara assim, por isso a protegia tanto.

Apesar das confusões em que se metia para chamar a atenção, era feliz. Sophia senta-se em seu lugar e encara a professora começando a falar sobre os números e as chatices de sempre. Continuou suas divagações.

Nos últimos meses, sua casa, que era movimentada só por ela, se tornara como aquele jogo, um campo minado. Se pisasse em algo errado, explodia, e sempre alguém saía ferido. Ela estava acostumada já, a ser xingada. Sua mãe queria que ela fosse uma princesa perfeita, inteligente e bonita. Mas ela não era loira como a mãe, nem tinha os olhos verdes do pai. Ela era só ela. Se encolheu na classe.

Há algumas semanas, pediu ao pai que a levasse no Mc Donald’s, e ela sabia que se fizesse bico ele fazia suas vontades, mas se arrependia até agora daquele dia.

Foi a maior briga dos pais. A mãe gritava que o pai era um inútil, que ele era culpado por ela estar naquela cadeira de rodas, mas era difícil para Sophia entender, pois a própria mãe dissera que tinha sido um acidente. Mas o que veio a seguir a revirou por dentro. O seu pai gritara, em alto e bom som: Você nem é a mãe dela! Doeu aquilo, doeu como se fosse uma facada no meio de seu pequeno peito. Correu para o quarto e se escondeu. Lembrou-se das vezes que a mãe a olhava torto, de quando dizia que seu sonho era ter filhos, mas ela achava que era mais filhos, e não que ela não fosse sua filha.

Naquela noite, ninguém foi dar boa noite para ela. Ela ficou lá, esperando, até que amanheceu. E assim os dias seguiram, até que sua mãe voltou a ser como era de costume, mas seu pai estava mais distante de casa, e quando estava em casa, almoçava ou jantava no escritório. Tinha vontade de perguntar sobre aquilo, mas tinha medo de ouvir a verdade, ou de a xingarem de enxerida, por estar ouvindo a conversa escondida.

Essa manhã, quando sua mãe foi chamá-la, não quis sair da cama. Ela não queria aprender a ler, estava de saco cheio de ser mandada por todos. Queria poder ser como seus amigos, ter pais que se interessassem de verdade por ela, e que a levassem na escola, que a buscassem, e a levassem nos passeios ou festinhas.

Seu pai foi pessoalmente e ela quase se atirou no chão para não ir. Mas agora, depois ter se aproximado da professora Carol, sentia-se bem. Era como se só de olhá-la seu coração se preenchia. Nunca tinha sentido aquilo. E mal podia esperar para estar com ela, tomando nescau, e lendo um livro, de novo.

Ana carolina terminara a sua aula, e saíra apressada, tinha combinado de sair com um rapaz, que conheceu pelo tinder. Depois de mais de 7 anos desde aquele dia que deu a luz a um serzinho, e nem ao menos pode vê-lo, ou melhor vê-la, se fechou para tudo. Focou-se em estudar e trabalhar. Mas por insistência de umas amigas, baixou o app e agora tinha um encontro com um tal que ela mal lembrava o nome. Largou as sacolas e pastas no porta-malas, e dava a volta até a porta quando ouviu aquela vozinha fina e estridente gritando por ela.

- Prof\, prof Carol. - Ana vira-se e sorri\, abaixando-se e sentindo os bracinhos contornar o seu pescoço.

- Como foi a aula Sophi? - Ana pergunta ainda acocada olhando nos olhos amendoados da menina.

- Foi chata\, como sempre. - Sophia revira os olhos. - Mas eu falei com o meu pai… - Ana ergue os olhos e vê o homem parado as olhando.

- Oh\, me desculpe. - Ela se levanta e estende a mão para ele. - Não havia me dado conta que estava aí. - Suas mãos se tocam e ela sente um arrepio percorrer o seu corpo.

- Sophia\, me disse que gostaria de ter um dia a mais de aula.

- Ela me comentou mais cedo. - Ana olhou a menina com carinho. - Tenho das 10 horas às 11 horas\, nas segundas-feiras.

- Ótimo então\, desde que faça um milagre\, está bem. - Ana fica séria e Jean encara-a.

- Ela não precisa de milagre\, é uma menina muito esperta e inteligente. - Olha para Sophia\, que de séria abre um sorrisinho tímido. - Sophi e eu vamos nos divertir muito\, não é? - Ela se abaixa e beija a bochecha da menina.

Jean sente-se envergonhado pelo que disse. - Não quis dizer que ela não seja, foi só… - Ana o encara, então força um sorriso.

- Tudo bem senhor Clarence. Nos vemos na segunda de manhã então. - Ela pisca para Sophia\, e assente para o belo homem engravatado à sua frente.

Jean começava a entender por que a diretora disse que ela era a melhor, e o porquê de Sophia estar encantada por ela. Ela era especial com as crianças, devia ser coisa de dom.

- E essas flores? - Sophia perguntou\, assim que Jean a colocou no banco do carro e arrumou o seu cinto de segurança.

- São para a mamãe. - Ele pisca para ela\, e ela se anima.

- A mamãe vai amar. - Ela bate palmas.

Jean se apressa para a casa, sua mente viajava para mais de 17 anos atrás. Nos olhos azulados e alegres, nos cabelos esvoaçantes. Mas seus pensamentos são substituídos por susto, ao entrar em sua residência, e ver malas do lado de fora.

- Vamos viajar? - Sophia questiona\, e Jean não sabe responder. Sai do carro\, tira Sophia e antes de entrar em casa\, Julieta aparece com o rosto tomado pela raiva.

- Pegue suas coisas e suma da minha vida! - Jean pisca confuso.

- O que houve?

- O papai trouxe flores\, mamãe. - Sophia diz assustada com o estado da mãe.

- Pois dê essas flores para a sua secretária! - Jean arfa. Não acreditava que Priscila teria ido contar para a sua esposa sobre aquela noite.

- Me deixa explicar\, Juli… - A mulher ri escandalosamente e sarcasticamente.

- Eu ficarei com Sophia. - Sophia arregala os olhos. Como assim? - E você\, suma!

- Mamãe! - Sophia se aproxima da mãe. - Não quero que o papai suma. - Julieta estreita os olhos.

- Julieta\, vamos conversar\, com mais calma. - Jean diz engolindo o nó que se forma em sua garganta. Julieta pondera.

- Vamos conversar sobre como faremos com as visitas para Sophia\, e nada mais. Nós dois… - Ela aponta dela pra ele. - Acabou!

Mais populares

Comments

Corine Gueniévre

Corine Gueniévre

Aí papai...

2024-02-24

1

Solange Maria Martins

Solange Maria Martins

casa caiu

2024-01-26

0

Josi Gomes

Josi Gomes

JULIETA FAZ BEM EM EXPULSAR JP, MAIS NEM PEDIU O DIVÓRCIO. ISSO SÓ PROVA QUE NÃO HÁ AMOR ENTRE O CASAL, ELA NÃO VAI PERDOAR O JP. É BEM CAPAZ DE JP E CAROL SE ENCONTRAREM, JÁ QUE ELA VAI SAIR E ELE FOI EXPULSO DE CASA

2023-08-23

0

Ver todos
Capítulos
1 O acidente
2 A proposta
3 Grávida
4 Sophia
5 Reencontro
6 A secretária
7 Acabou!
8 Mojito de cerveja
9 Cheiro de café
10 Mancha de estrela
11 Filhos
12 Descobertas
13 O coração chama
14 A verdade
15 Dane-se a sanidade!
16 Marca
17 Contato
18 Acidente
19 Ana acorda
20 Os caminhos da vida
21 A raiva muda as pessoas
22 Apaixonados há mais de sete anos
23 De volta pra casa
24 Coração apertado
25 Matador profissional
26 Finalmente paz
27 Diego Pavinskost
28 Lorena Gravetti
29 Acordo
30 No avião
31 Confiança
32 Jantar
33 Bebedeira
34 Um trabalho
35 Supermercado
36 Cordão do amor
37 Padaria
38 Sequestro
39 Renan
40 Investigações
41 Uma nova junção
42 Quarto bagunçado
43 Quase
44 Poema
45 Clareando
46 Tentar
47 Avião
48 No meio do nada
49 O amo
50 Água
51 Encontrados
52 Acordando
53 Culpa
54 Yan e Isabelle
55 Enorme
56 Indo para a Rússia
57 Cardan
58 Café da manhã
59 Agradecimento
60 No Brasil
61 Só ladeira a baixo
62 Ligação para a polícia
63 Perdão
64 Contato entre irmãs
65 Batom vermelho
66 No escritório
67 Banheiro vazio
68 Bolívia
69 Gatilhos e terror
70 Smirnov-Pavinskost
71 Seguranças
72 Dói
73 Reconectando
74 Nada mais faltava
75 Passando mal
76 Jordana Village
77 Uma nova relação
Capítulos

Atualizado até capítulo 77

1
O acidente
2
A proposta
3
Grávida
4
Sophia
5
Reencontro
6
A secretária
7
Acabou!
8
Mojito de cerveja
9
Cheiro de café
10
Mancha de estrela
11
Filhos
12
Descobertas
13
O coração chama
14
A verdade
15
Dane-se a sanidade!
16
Marca
17
Contato
18
Acidente
19
Ana acorda
20
Os caminhos da vida
21
A raiva muda as pessoas
22
Apaixonados há mais de sete anos
23
De volta pra casa
24
Coração apertado
25
Matador profissional
26
Finalmente paz
27
Diego Pavinskost
28
Lorena Gravetti
29
Acordo
30
No avião
31
Confiança
32
Jantar
33
Bebedeira
34
Um trabalho
35
Supermercado
36
Cordão do amor
37
Padaria
38
Sequestro
39
Renan
40
Investigações
41
Uma nova junção
42
Quarto bagunçado
43
Quase
44
Poema
45
Clareando
46
Tentar
47
Avião
48
No meio do nada
49
O amo
50
Água
51
Encontrados
52
Acordando
53
Culpa
54
Yan e Isabelle
55
Enorme
56
Indo para a Rússia
57
Cardan
58
Café da manhã
59
Agradecimento
60
No Brasil
61
Só ladeira a baixo
62
Ligação para a polícia
63
Perdão
64
Contato entre irmãs
65
Batom vermelho
66
No escritório
67
Banheiro vazio
68
Bolívia
69
Gatilhos e terror
70
Smirnov-Pavinskost
71
Seguranças
72
Dói
73
Reconectando
74
Nada mais faltava
75
Passando mal
76
Jordana Village
77
Uma nova relação

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!