Contato

Ana colocou frango a assar no forno, fez uma torta de bolacha para sobremesa e colocava o arroz no fogo quando a campainha soou. Ela correu até a janela e viu pai e filha de mãos dadas no seu portão. Abriu a porta e correu até eles com um  sorriso estampado no rosto. A noite já havia chegado, e uma neblina começava a se formar, anunciando uma noite fria.

- Boa noite. - Ela sorriu e se abaixou para abraçar a pequena Sophia que se pendurou no pescoço dela.

- Que saudade prof! - Ana sorriu fechando os olhos. Elas haviam se visto na noite anterior\, e ela também já sentia saudade da menina.

- Eu também estava com saudade Sophi.

Jean ainda não acreditava nas voltas que o mundo dava, e mesmo que tudo indicasse que ela era a mulher da barriga de aluguel, pensava em fazer um exame de dna, para não restar qualquer resquício de dúvida.

- Ana… - Jean cumprimentou-a e sorriu recebendo um sorriso de volta.

- Quem é Ana? - Sophia os olha confusa.

- Sou eu. - Ana pega a menina pela mão e encaminha para dentro da casa\, sendo seguida por Jean. - Me chamo Ana Carolina\, mas na escola pegaram costume de me chamar de Carol.

- Hum… - Sophia franziu o cenho. - Ana Carolina\, é um bonito nome. - Ana sorriu.

- E Sophia também. - Ela diz apertando a bochecha da menina.

- Jean Paulo também é bonito né prof? - Ana solta uma risada\, que faz Jean estremecer.

- Muito bonito também.

Jean observava ela terminando de servir a mesa, enquanto Sophia pulava de um lado para o outro e perguntava coisas que Ana sempre tentava responder. Ele ajudou a servir a mesa, e finalmente sentaram para jantar. Os assuntos transcorreram bem, de forma amena, com Sophia sempre envolvida nos assuntos.

Ana teria crianças para atender no dia seguinte, por isso antes das 22 horas eles já se despediam dela. Jean segurou-a pela cintura e Sophia abriu a boca, ao ver o pai puxar a sua professora favorita e dar um beijinho rápido na boca. Ela queria pular e gritar, se atirar no chão de alegria, mas engoliu o sorriso e colocou as mãozinhas para trás do corpo.

Mas ao chegar em casa Jean teve que desconversar muito pois ela queria saber quando eles iam morar juntos.

Jean estava sentado no sofá, com um fio de cabelo de Ana dentro de um saquinho. Ele iria pegar um de Sophia e finalizaria qualquer dúvida. Adormeceu ali, com mil pensamentos e ideias na cabeça.

Ana Carolina acordou as seis da manhã, fez o seu café matinal, uma torrada e aguardou o seu aluninho. Ela só teria ele, e depois era Sophia. Então preparou um bolo e colocou assar, assim o aluno e a sua menina teriam bolo. Ela sentia cada vez mais forte uma ligação com a garotinha, não podia negar que o seu coração a chamava, e pelo que notava, o de Sophi também. Mesmo sem saber, elas se ligaram de forma sobrenatural.

A campainha tocou e seu aluno veio cheio de carisma a abraçar. Uma hora e meia depois ele ia embora e Ana esperava por Sophia. Então recebeu uma mensagem de Jean.

“Bom dia! Terei de levar Sophi ao médico, acordou com febre e tosse. Nos vemos mais tarde!”

Ana sentiu o peito apertar, mas não podia cobrar que a levasse junto ao médico. Apenas respondeu que mandasse notícias. Resolveu abrir o notebook e começar a enviar alguns currículos, estudar para concursos. Pois precisaria de outro emprego, não poderia viver só das aulas particulares.

Em sua distração ouviu a campainha. Levantou-se mastigando um biscoitinho e abriu a porta. Era um homem de terno e gravata sério.

- Senhorita Ana Carolina Quebert?

- Sim! - Ana franziu o cenho.

- Sou do escritório de advocacia Parlwski e Silva… - Ana paralisou. Ela conhecia aquele nome. Era o nome do lugar que havia tratado com ela há mais de sete anos atrás.

- Si-sim? - Gaguejou.

- Recentemente tivemos uma busca pelos contratos e como foi realizado um contrato vitalício\, viemos apenas reforçar a multa e possibilidade de processo caso tente algum tipo de aproximação… - Ana não ouvia mais o que homem dizia. Como assim? O que aquilo significava? Teria Jean suspeitado? Teria ele mentido essa manhã e apenas quis afastar ela de Sophia? Seu coração ardia\, disparado no peito.

- Eu… eu não tenho mais nenhuma cópia daquele contrato.

- Tenho uma aqui. - O homem lhe entrega e Ana repassa as folhas ali no portão mesmo\, então encontra um cnpj no lugar do nome.

O homem sai e ela busca no google o cnpj. O nome da empresa de Jean Paulo Clarencce aparece na tela. Ana arfa. Não era possível que ele estivesse fazendo aquilo com ela! Porque ele a beijou? Porque ele se deitou com ela? Queria apenas ferí-la? Se vingar? Ela nunca foi atrás deles! Ela só viveu… e … e eles se reencontraram. Ela não tinha culpa, não merecia aquilo!

Aquela tarde Ana não fez mais nada, apenas chorou e sentiu-se um lixo. Ele a usou, como da primeira vez, e depois descartou sem qualquer consideração ou respeito. Nem mesmo para falar pessoalmente com ela!

Jean passou a tarde com Sophia no hospital, era uma virose das braba, precisou tomar soro e antibióticos, quando por fim saíram de lá, já passavam das oito horas da noite. Sophia estava dengosa, e só pedia pela prof Carol. Antes mesmo de ir para casa passou na casa de Ana. Estava toda escura a casa, ele bateu mas ninguém atendeu, depois tentou ligar, mas caía direto na caixa de mensagem.

- Ela deve ter tido algum compromisso querida\, amanhã nós a vemos.

- Não… eu quero a prof Carol! - Sophia chorava\, mas Jean não tinha o que fazer\, levou-a para casa\, deu um cházinho e a fez dormir.

Tentou ligar mais uma vez sem sucesso, então abriu o notebook e foi checar os e-mails e ver se tinha algo urgente da empresa, então um e-mail chamou a sua atenção.

“Advocacia Parlwski e Silva agradece o seu contato.

Entramos em contato com as partes do contrato Barriga de Aluguel, e nos certificamos da não aproximação ao senhor e sua família… “

Jean parou de ler na mesma hora. Seu coração disparou. Ligou para a advocacia, e era óbvio que ninguém o atenderia aquela hora. Digitou tremendo quando ele havia solicitado aquele contato? Quando ele havia solicitado que fossem atrás das partes?

Ele começou a andar de um lado para o outro dentro de casa, enquanto tentava ligar para a mulher. Era ela, ele já sabia disso, ele só queria esperar um tempo, para poder fazer as coisas de um jeito melhor, certo… ele não sabia, tinha descoberto ontem! Se soubesse nem tinha ido àquele lugar! Arfou. Mandou uma mensagem.

“Por favor, me atende. Precisamos conversar!” Não recebido.

A noite se arrastou, e ele não pregou o olho um só minuto. Pensando o que ela estava pensando, para onde ela teria ido? Porque não o respondia…

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