Já fazia três meses desde o dia da fertilização, que para sua surpresa e até mesmo da médica, deu certo de primeira.
Jean descobriu pela própria médica, a qual ele pagava um grande valor pelo sigilo, que a garota que ele escolheu era virgem. Sentiu-se o pior dos homens, mas agora não adiantava mais. Ela já estava grávida de um filho dele. Todos os dias ele ligava, a enfermeira lhe passava o geral, e ele conversava com a garota, ouvindo as queixas, ou as descobertas.
Ana ainda não aparentava estar grávida, a barriga crescera muito pouco, mas o pouco que aparecia ela espichava e tirava fotos. Havia trancado a faculdade, pelo menos esse ano, se dedicaria a essa gravidez, que salvou sua vida e a de seu pai. E mesmo sem querer, ela se encantava pelas pequenas mudanças, acariciava a barriga e conversava com o bebê em seu ventre.
No quarto mês de gravidez, Ana sentiu um tremor na barriga, pesquisou correndo para saber o que acontecia, pois tinha vergonha de perguntar tudo para a enfermeira, que estava sempre carrancuda. Descobriu ser o bebê mexendo, discou o número pessoal do pai da criança, que ela ainda nem sabia quem era direito. No segundo toque ele atendeu, com sua voz grave e rouca, com um tom preocupado, afinal ela não costumava ligar, ele que ligava.
- O bebê mexeu! - Ela disse eufórica\, e ouviu uma expressão de surpresa. - Ah… - Ela deu um gritinho. - Está mexendo…
Jean sentiu seu peito apertar ao ouvir o coração do bebê pela primeira vez, como queria poder estar presente. Mas decidiu se manter distante para proteger o anonimato, e mais tarde a mulher não o procurar querendo a criança, ou divulgar a informação. Ligava todos os dias, queria saber o que ela sentia e como se sentia. Podiam-se dizer quase amigos.
Naquela tarde ele havia perdido um cliente e amigo muito antigo para uma doença. Tinha acabado de chegar do enterro, quando seu telefone tocou. Era ela, com aquela voz doce e animada. O bebê havia se mexido. Ele sentia a euforia dela pelo telefone e mais uma vez desejou estar lá. Tocar em sua barriga, e ouvir os barulhos que fazia.
No dia da descoberta do sexo do bebê, ele chorou com ela, no telefone. Seria uma menina. Seria a menininha dele.
- Qual nome escolheremos? - Ela disse\, e ele congelou. Durante esses meses\, tinha se afeiçoado da moça\, mesmo a distância e apenas por telefone\, sentia-se atraído por ela\, e ficava ansioso para o final do dia chegar\, e ligar para ela. Ouvi-la contando como foi seu dia\, como sentia-se e como o bebê se movimentava. Mas ela não era a mãe daquele bebê. Ela não era a pessoa que devia estar carregando aquele bebê.
Depois daquele dia, Jean começou a ligar menos, e cada vez que ela ligava, ele não atendia. Suas informações, vinham apenas pela enfermeira, e quando deu-se conta, não falava mais com ela.
No oitavo mês de gestação recebeu uma ligação. Ela havia passado mal e foi levada para o hospital central. Ele correu até lá, como se sua vida dependesse disso, e ele suspeitava que dependia. Ao chegar lá, descobriu que ela estava em uma cesárea de emergência. Pediu a Deus, que não levasse o seu pedacinho de gente embora, e cerca de 3 horas depois, veio a notícia. O bebê e a mãe estavam bem. Engoliu seco, e pediu transferência do hospital, deixando a jovem em um, e levando a bebê para outro.
Ana acordou, e a primeira pessoa que viu, foi a advogada. Ela nem mesmo havia saído completamente da anestesia, e ouvia a mulher lembrando-a das cláusulas do contrato. Nada de contato, nada de informações, nada de mencionar. Nunca dizer ou divulgar. Ana sentiu-se traída dentro do coração. Ela sabia que a menina não era sua. Nunca pensou nisso, mas aquele homem, não a deixou nem mesmo ver o rostinho da menina. Não ficou sabendo nem o nome que ele escolheu.
O próximo ano foi difícil. Ao voltar para casa, encontrou seu pai doente, por mais que ela ligasse, durante o período que esteve longe, ele sempre dizia estar bem, mas ao colocar os olhos nele, soube que não era bem assim. Ele não durou mais que 3 meses. Ela vendeu aquela casa, mudou-se de bairro e decidiu se reerguer, esquecer o passado e tudo que ele poderia ter representado. Seria uma nova mulher! Jurou a si mesma.
Voltou a fazer faculdade, terminando seu curso de pedagogia. Buscou especializar-se na área de letramento e alfabetização. Queria ser a melhor, não para os outros, mas para os seus alunos. Ela amava o que fazia, e em cada escola que passava era enaltecida e recomendada.
Jean contratou duas babás para sua pequena anjinha. Sophia seria o nome dela. Era um dos nomes que Julieta gostava. Nos primeiros meses tudo era novidade, ele conversava e cantarolava para a pequena. Levava-a várias vezes ao dia, para o lado de sua esposa, para que ela sentisse o bebê. A filha deles.
Mas após o primeiro ano, ele sentia-se exausto. Mesmo com duas babás, ele era o pai, e tentava gerir aquela situação. A bebê chorava muito, vivia ficando doente, e por vezes os médicos diziam ser falta da mãe. Ele começou a se afundar cada vez mais em trabalho, e deixar cada vez mais a menina sozinha, somente aos cuidados das babás. A cada vez que a olhava via traços daquela mulher, nela. Os cabelos castanhos, os olhos assustados. Não era Julieta ali, era a outra!
No aniversário de 4 anos de Sophia, Julieta despertou, mas ainda era uma mulher debilitada. Jean não tinha mais esperanças, e por vezes pensou em desligar os aparelhos, mas agora ele via sua mulher, há 14 anos anos desacordada de olhos abertos. Foi um susto, uma alegria e um pouco estranho. Afinal, ele já não era o mesmo há muito tempo.
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Emily Oliveira
Como é que vam lidar... com criança.... e esposa que acordou do coma ?????
2024-03-09
3
Emily Oliveira
Vontade de dar uma voadora é grande viu
2024-03-09
0
Emily Oliveira
Nossa, isso dói muito cruel da parte dele... como é que Ana vai ficar ?
2024-03-09
0