Fugindo do Amor

Fugindo do Amor

01

Liz Miller

O carro avançou sobre mim freando em seguida. Meu coração saltou e falhou algumas batidas quando vi homem que dirigia o veículo. Não podia acreditar que isso estava acontecendo, que ele estava tão próximo a mim. Girei o rosto para o outro lado e continuei atravessando a rua. Ele não podia me encontrar.

Meu nome é Liz Miller – por enquanto —  e vocês estão prestes a ver meu mundo dar voltas.

Sete anos atrás

Eu vivia imensamente feliz em Nova Zelândia. Tinha um trabalho que servia para ajudar minha mãe já aposentada e cursava faculdade de Publicidade. Isso acabou me levando a conhecer pessoas novas e dentre elas, Rupert.

Rupert era lindo, engraçado, charmoso e um pouco mais velho que eu. Conhecemo-nos na fila do caixa do supermercado em que eu trabalhava e desde esse dia passou a me seguir até na faculdade. Ele dizia que uma moça bonita como eu não deveria andar sozinha. Após inúmeras conversas e encontros que ele insistia em dizer o quanto eu era especial, passamos a namorar. Minha mãe gostava dele e apoiava-nos juntos, isso não se devia ao fato de seu status e sim porque cuidava de mim. Não demorou para meses depois nos casarmos.

Mas nem tudo aconteceu como um mar de rosas. Com o passar dos meses, depois que já havíamos casado, Rupert se mostrou agressivo e insensível, o que despertou logo em minha mãe a desconfiança. Quanto a mim, o único pensamento que tinha era que não o satisfazia e o fazia infeliz. Tentei de todas as formas fazer com que o cara por quem me apaixonei e me casei, voltasse a ser quem era, no entanto, as coisas só pioraram.

O fato de Rupert ser advogado e filho de um expolicial, o ajudavam a ser quem era. Não demorou em iniciar as agressões e eu, no meu desespero em fazer o homem que amava feliz, acabei por engravidar. Foi um choque para mim como também foi um sossego. Eu não podia sair por aí dizendo que havia caído ou que não enxergava a porta todo o tempo, Rupert sabia que isso não daria certo.

Oito meses depois, Lana nasceu. Fiquei aliviada por ver que ela se parecia mais comigo, sem tantos traços do pai, porém, devido à vida que voltei a ter depois dela, decidi sair de casa. Lana não tinha um ano de vida e deixá-la tão pequena partia meu coração, eu não podia trazê-la, não teria como dar o conforto merecido que um bebê precisa enquanto fugia.

Apesar de amar muito minha família, não aguentava mais os tapas e os socos. Foi então que vim parar em Seattle. Tínhamos medo de Rupert e por isso minha mãe me apoiou e me incentivou a fugir, ela também não aguentava me ouvir sofrer quando eu estava no quarto com Rupert. Ela tinha amigos distantes que quase ninguém sabia, só havia mencionado eles à Rupert, apenas uma vez, e foi logo no início do nosso namoro, duvido que ele estivesse atencioso naquele dia. Quando os amigos de mamãe souberam da história ficaram dispostos a me ajudarem.

Forjei uma nova identidade, fiz dos amigos de minha mãe meus novos pais e entrei em uma faculdade de Jornalismo onde conheci Meg, que futuramente se tornou uma irmã. Por debaixo dos panos, contei minha história aos reitores da faculdade, eles me ajudaram da maneira que puderam. Eu tinha que ser diferente da pessoa que era e estar exposta, era ser diferente. Não gosto de mentir para Meg, nem para as pessoas ao meu redor e isso incluí os Petersons, que conheci não faz muito tempo, mas que me acolheram bem. Porém, minha vida teria que continuar assim até eu criar coragem para enfrentar meu marido, enquanto isso não acontecia, continuaria desaparecida.

Eu só não achava que iria ficar tanto tempo longe. Já se passaram quatro anos e nesse intervalo venho mantendo contato com Lana e minha mãe por cartas usando meu nome falso — Liz —  e raramente nos falamos por chamada de vídeo, isso quando realmente não há perigo. Lana tem medo do pai, então ela não fala nada, além de que, Rupert faz questão de nem conversar com ela.

É por meio desses recursos que sei sobre tudo. As primeiras palavras de Lana, seus passos, suas escritas... Sobre Rupert. Soube que desde que fui embora ainda me procura em lugares mais reservados. Lugares óbvios em que me esconderia. Já ameaçou muitas vezes tirar Lana da minha mãe, mas sempre fico tranquila quanto a isso, Rupert não quer ser responsável por ninguém e se tiver a menina no seu poder, terá que ter uma babá, o que significa novos gastos. Pão duro como sempre foi, não vai querer ter a vida presa a uma criança.

Saio dos correios após deixar mais uma carta para minha família quando meu telefone toca. É Rose.

—  Fala garota! —  digo animada parando na calçada.

—  Hey! Dá um pulo aqui em casa. Tenho uma proposta para você.

—  Que proposta?

—  Não fique irritada, mas tem a ver com Noah.

Cerrei meus olhos apesar de ela não poder ver e cruzei meus braços desajeitada.

—  Que proposta, Rose?

—  Venha para minha casa e saberá.

—  Só mais uma pergunta, Noah está aí?

—  Claro Liz, deixe de ser medrosa e venha. —  fez o ultimato e desligou.

Guardo meu celular pensativa enquanto atravesso a rua. Eu medrosa? Eu não estava com medo, mas sim desconfiada. O que Rose queria comigo e com Noah? Eu já vinha notando que meus amigos sempre davam um jeito de me deixarem a sós com ele, eu finjo que não ligo, afinal de contas eu gosto dele.

Conhecer Meg e tempos depois Rose foi uma bênção. Eu não tinha muitas amigas e me envolver com elas me deixou com a sensação de uma segunda família. O sentimento desconhecido por mim foi quando conheci Noah. O galanteador descobridor de artistas. Fiquei atraída por ele de imediato. Tive medo de início, depois de Rupert, eu não queria saber de homens ao meu redor, porém Noah era diferente e me fazia sentir diferente, depois de tantas investidas dele usadas com sarcasmos e brincadeiras, o medo foi deixado de lado e outros sentimentos surgiram, o principal, e que me assustou um pouco, foi o desejo.

Só sei que depois da exposição de Meg, em que me fiz de bêbada, fui embora de seu apartamento, e há mais de sete meses finjo que nunca houve e nem haverá algo entre nós.

É difícil, pois o que ele não sabe é que sou terrivelmente apaixonada por ele. O que explica meu ódio também. Por que não apareceu antes de Rupert? Eu não estaria mentindo e nem fugindo de ninguém. Seria apenas eu. O eu verdadeiro. Não que Noah seja culpado, mas sua doçura e seu jeito engraçado me fez ceder aos seus encantos. Logo eu, que tenho uma carga pesada nas costas.

O som do carro freando saltou meu coração me assustando. Olhei rapidamente para frente notando os olhos de descrença no rosto das pessoas. Ao olhar para cima vi o sinal aberto. Eu sempre ficava distraída quando pensava no rumo que minha vida tomou.

Viro o rosto a fim de pedir desculpas ao motorista, mas congelo ao ver a face conhecida. Estava de lado e parecia procurar algo no banco do passageiro, porém de qualquer ângulo eu reconheceria aquelas feições. A porta do seu carro abriu com força e no momento que levantou o rosto para me fitar, virei o meu escondendo entre meus cabelos.

— Não sabe atravessar uma rua, moça? – a voz que por anos não ouvia era a mesma. Notei que estava arrastada e soube que ele poderia estar bêbado.

Corro o mais rápido que consigo até meu carro e entro trêmula. Não estou interessada se as pessoas estão me achando maluca. Dou uma olhada rápida para o homem que agora estava de pé fitando meu carro. Aproveito minhas janelas escuras para analisá-lo. Rupert parecia o mesmo se não fosse o corte de cabelo ralo. O corpo malhado e olhos cerrados com faíscas, me lembraram porque eu havia gostado dele. Sempre foi cheio de si e marrento com malícias nas palavras, o carinho era apenas fachada. Confesso que era uma inútil de preferir um homem assim. Agora, vendo-o ali, só sentia nojo e dor.

Ligo o carro quando seus pés cambaleiam em minha direção e ainda trêmula parto para a casa dos Petersons. Eu estava amedrontada e assustada.

Sabia que ele estava a minha procura e sua vinda a Seattle significava alguma coisa. Tento não pensar que ele tenha me descoberto, entretanto como ele saberia? Sei que não há como ter me reconhecido, pintei meu cabelo de loiro tantas vezes que parece natural e as cartas que envio para minha mãe se resumem a uma por mês. Penso na possibilidade de ele estar só de passagem, tirando umas férias, de qualquer forma minha mãe não me falou sobre isso. Pôde ter sido de repente e nem ela saiba. Argh, tantas possibilidades.

Mesmo assim querendo ou não, terei que evitar minhas "saídas". Se Rupert está por aí, não posso correr o risco e ser vista.

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