20

 Emma Duran

Meus pulsos doíam e minhas costelas reclamaram quando me mexi. Só assim tive a certeza de que não estava morta. Eu ainda sentia o cheiro de fumaça, mas o ar que me rodeava era característico de hospital e confirmo minha ideia ao perceber o bip de uma máquina. Abro os olhos no momento que alguém entra no quarto.

—  Então a senhorita está fazendo o favor de acordar? —  ouço a voz de Meg e sorrio em vê-la.

Ela segurou minha mão e vi seus olhos protetores em mim enquanto se esforçava em me dar um pouco de água. Vê-la bem e em segurança me fez lembrar de Rupert. Meu coração acelera ao recordar dos momentos no apartamento. Havia tanto fogo.

Rupert não parava de repetir o refrão de uma música. Debati-me na cadeira até finalmente minhas mãos deslizarem pelas cordas no pulso. O sangue facilitou. Corri em direção à porta, mas Rupert veio para cima me encurralando na parede. A fumaça já tomava o apartamento. Gritei de raiva e de medo, só queria ficar viva. Usei isso para me dar força e empurrei-o. Ele se distanciou e me curvei para uma crise de tosse. Meu pulmão doía com a falta de oxigênio. Eu precisava sair, mas tudo estava confuso. Depois disso, só a escuridão. Mas agora, aqui no hospital, me pergunto onde está Rupert.

—  Havia um homem, Meg. —  sussurro e ela se aproxima para ouvir. —  Tinha um homem no apartamento. —  repeti forçando um pouco a garganta. Parecia que eu não falava há dias.

—  Ele tinha queimaduras pelo corpo todo. Não resistiu. —  diz calma. Vinco a testa não acreditando. Rupert está morto?

—  Ele está morto? —  indago em choque.

—  Eu sinto muito, Emma.

Suas palavras me congelam. Olho para seu rosto procurando sinais de alguma brincadeira. Talvez eu estivesse sonhando ou não. Meg realmente me chamou de Emma?

—  Como... Do que me chamou?

—  Te chamei pelo seu nome. —  ela sorri chorosa. —  Já sabemos de toda verdade, Noah contou tudo. Se quer saber, estão todos lá fora esperando você acordar para lhe dar um abraço.

—  Sabem a verdade e ainda estão aqui? — pergunto tentando segurar o choro.

—  Quando vai aprender que faz parte da família, da minha família? Você é minha irmã! —  ela soluça e deixo as lágrimas caírem. —  Tive medo de perder você.

Meg me abraça e deixo o choro sair livre. Eu jurava que quando eles soubessem que menti desde o início, nunca mais iriam me querer por perto. Acho que fui tão burra que nem sequer pensei no fato que existem casos diferentes de mentiras. Talvez o meu estivesse em outro patamar. O patamar que perdoa.

—  E você não está chateada e nem com raiva?

—  Confesso que estou um pouquinho chateada. —  diz quando me solta. —  Mas isso porque escondeu que eu tenho uma sobrinha. – murmura com raiva fingida enquanto seca meu rosto. Meg me dá mais um pouco de água, aliviando minha garganta.

—  Eu quis muitas vezes contar e até tentei, mas eu tinha medo. Quanto mais pessoas soubessem mais seriam as chances dele me achar e agora, ele está morto. Pode não parecer agora, mas eu amei meu marido um dia.

—  Claro que amou. —  afirma acariciando meus cabelos. —  O tempo que te conheço, sei que só se casaria por amor, apesar de sair com muitos carinhas.

—  Na verdade, eu não saia com eles. Os encontros que eu dizia ter eram tudo uma farsa. —  admito e vejo-a abrir a boca em choque.

—  Vai ter que me contar tudo, quero ser a melhor amiga de Emma também.

—  Sabe que já é. —  digo buscando sua mão. — Obrigada por estar sempre do meu lado.

—  É minha obrigação. Em pouco tempo vou precisar de alguém para me ajudar quando meu filho nascer, e quando esse dia chegar poderei cobrar os serviços. —  diz me fazendo rir, mas paro quando meus pulmões reclamam.

Nesse instante a porta do quarto se abre e um Noah visivelmente cansando entra. Meg sorri e sai de fininho enquanto ele se aproxima. Seus olhos percorrem meu rosto e sua mão toca de leve meu pulso. Sabia que havia marcas de agressão em mim, mas não sabia como eu realmente estava.

—  Como está a mulher que eu amo? —  Noah fez seu galanteio misturando verdade e alívio. Sorrio lhe dando minha mão.

—  Melhor agora, mas estou com sede.

Ele se afastou pegando um copo de água na mesinha ao lado e me ajudou a beber. A água era tão bem-vinda. Encaro um Noah exausto. Ele não teve descanso desde que voltamos. Bem, eu também não tive. Vê-lo aqui faz meu coração se apertar em lembranças do ocorrido em meu apartamento.

—  Tive medo de nunca mais ver você. —  digo decorando cada parte de seu rosto.

—  Seria muito azar te perder logo quando tenho você, mas ainda bem que sou um cara sortudo.

Sorrio e acaricio seu rosto quando ele curva sobre mim aproximando seu rosto do meu. Passo minha mão em seu maxilar sentindo o leve arranhar em meus dedos. Desde ontem que não faz a barba.

—  Nunca mude, Noah. —  murmuro fitando seus olhos. —  Amo seu jeito brincalhão e convencido de lidar com tudo.

—  Ama, é?

—  Amo! Sabe a primeira vez que te vi? Lembra que eu estava com sua irmã? Você chegou e veio direto para mim com uma cantada muito brega. — sorrio lembrando-me da cena.

—  Lembro. Eu disse: "Você acredita em amor à primeira vista ou eu devo passar por aqui de novo?" —  ele repete e solto uma risada pequena.

—  Naquele momento a única coisa que pude fazer foi revirar os olhos porque na ponta da língua estava a resposta: Sim, eu acredito em amor à primeira vista. —  confesso tendo sua atenção. — A verdade era que eu estava com medo desse sentimento. Mas aí, cada vez que te encontrava e você se mostrava além de um cara interessado em mim, esse medo ia sumindo. Você é tão cuidadoso e divertido. Sempre o observei com sua irmã, com sua mãe, seus irmãos... E me perguntava porque não te conheci antes de Rupert.

—  Bem, eu fico feliz que você esteve me observando durante tanto tempo, mas eu tenho uma teoria para sua pergunta. Talvez se tivéssemos nos conhecidos antes, provavelmente não estaríamos tendo essa conversa agora. Se eu tivesse te conhecido antes, talvez eu nunca soubesse que minha mulher é uma guerreira, doce, gentil, linda e que tem uma força gigantesca. Talvez se nos encontrássemos antes, eu não fosse tão apaixonado por você como sou hoje.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***