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Fugindo do Amor

01

Liz Miller

O carro avançou sobre mim freando em seguida. Meu coração saltou e falhou algumas batidas quando vi homem que dirigia o veículo. Não podia acreditar que isso estava acontecendo, que ele estava tão próximo a mim. Girei o rosto para o outro lado e continuei atravessando a rua. Ele não podia me encontrar.

Meu nome é Liz Miller – por enquanto —  e vocês estão prestes a ver meu mundo dar voltas.

Sete anos atrás

Eu vivia imensamente feliz em Nova Zelândia. Tinha um trabalho que servia para ajudar minha mãe já aposentada e cursava faculdade de Publicidade. Isso acabou me levando a conhecer pessoas novas e dentre elas, Rupert.

Rupert era lindo, engraçado, charmoso e um pouco mais velho que eu. Conhecemo-nos na fila do caixa do supermercado em que eu trabalhava e desde esse dia passou a me seguir até na faculdade. Ele dizia que uma moça bonita como eu não deveria andar sozinha. Após inúmeras conversas e encontros que ele insistia em dizer o quanto eu era especial, passamos a namorar. Minha mãe gostava dele e apoiava-nos juntos, isso não se devia ao fato de seu status e sim porque cuidava de mim. Não demorou para meses depois nos casarmos.

Mas nem tudo aconteceu como um mar de rosas. Com o passar dos meses, depois que já havíamos casado, Rupert se mostrou agressivo e insensível, o que despertou logo em minha mãe a desconfiança. Quanto a mim, o único pensamento que tinha era que não o satisfazia e o fazia infeliz. Tentei de todas as formas fazer com que o cara por quem me apaixonei e me casei, voltasse a ser quem era, no entanto, as coisas só pioraram.

O fato de Rupert ser advogado e filho de um expolicial, o ajudavam a ser quem era. Não demorou em iniciar as agressões e eu, no meu desespero em fazer o homem que amava feliz, acabei por engravidar. Foi um choque para mim como também foi um sossego. Eu não podia sair por aí dizendo que havia caído ou que não enxergava a porta todo o tempo, Rupert sabia que isso não daria certo.

Oito meses depois, Lana nasceu. Fiquei aliviada por ver que ela se parecia mais comigo, sem tantos traços do pai, porém, devido à vida que voltei a ter depois dela, decidi sair de casa. Lana não tinha um ano de vida e deixá-la tão pequena partia meu coração, eu não podia trazê-la, não teria como dar o conforto merecido que um bebê precisa enquanto fugia.

Apesar de amar muito minha família, não aguentava mais os tapas e os socos. Foi então que vim parar em Seattle. Tínhamos medo de Rupert e por isso minha mãe me apoiou e me incentivou a fugir, ela também não aguentava me ouvir sofrer quando eu estava no quarto com Rupert. Ela tinha amigos distantes que quase ninguém sabia, só havia mencionado eles à Rupert, apenas uma vez, e foi logo no início do nosso namoro, duvido que ele estivesse atencioso naquele dia. Quando os amigos de mamãe souberam da história ficaram dispostos a me ajudarem.

Forjei uma nova identidade, fiz dos amigos de minha mãe meus novos pais e entrei em uma faculdade de Jornalismo onde conheci Meg, que futuramente se tornou uma irmã. Por debaixo dos panos, contei minha história aos reitores da faculdade, eles me ajudaram da maneira que puderam. Eu tinha que ser diferente da pessoa que era e estar exposta, era ser diferente. Não gosto de mentir para Meg, nem para as pessoas ao meu redor e isso incluí os Petersons, que conheci não faz muito tempo, mas que me acolheram bem. Porém, minha vida teria que continuar assim até eu criar coragem para enfrentar meu marido, enquanto isso não acontecia, continuaria desaparecida.

Eu só não achava que iria ficar tanto tempo longe. Já se passaram quatro anos e nesse intervalo venho mantendo contato com Lana e minha mãe por cartas usando meu nome falso — Liz —  e raramente nos falamos por chamada de vídeo, isso quando realmente não há perigo. Lana tem medo do pai, então ela não fala nada, além de que, Rupert faz questão de nem conversar com ela.

É por meio desses recursos que sei sobre tudo. As primeiras palavras de Lana, seus passos, suas escritas... Sobre Rupert. Soube que desde que fui embora ainda me procura em lugares mais reservados. Lugares óbvios em que me esconderia. Já ameaçou muitas vezes tirar Lana da minha mãe, mas sempre fico tranquila quanto a isso, Rupert não quer ser responsável por ninguém e se tiver a menina no seu poder, terá que ter uma babá, o que significa novos gastos. Pão duro como sempre foi, não vai querer ter a vida presa a uma criança.

Saio dos correios após deixar mais uma carta para minha família quando meu telefone toca. É Rose.

—  Fala garota! —  digo animada parando na calçada.

—  Hey! Dá um pulo aqui em casa. Tenho uma proposta para você.

—  Que proposta?

—  Não fique irritada, mas tem a ver com Noah.

Cerrei meus olhos apesar de ela não poder ver e cruzei meus braços desajeitada.

—  Que proposta, Rose?

—  Venha para minha casa e saberá.

—  Só mais uma pergunta, Noah está aí?

—  Claro Liz, deixe de ser medrosa e venha. —  fez o ultimato e desligou.

Guardo meu celular pensativa enquanto atravesso a rua. Eu medrosa? Eu não estava com medo, mas sim desconfiada. O que Rose queria comigo e com Noah? Eu já vinha notando que meus amigos sempre davam um jeito de me deixarem a sós com ele, eu finjo que não ligo, afinal de contas eu gosto dele.

Conhecer Meg e tempos depois Rose foi uma bênção. Eu não tinha muitas amigas e me envolver com elas me deixou com a sensação de uma segunda família. O sentimento desconhecido por mim foi quando conheci Noah. O galanteador descobridor de artistas. Fiquei atraída por ele de imediato. Tive medo de início, depois de Rupert, eu não queria saber de homens ao meu redor, porém Noah era diferente e me fazia sentir diferente, depois de tantas investidas dele usadas com sarcasmos e brincadeiras, o medo foi deixado de lado e outros sentimentos surgiram, o principal, e que me assustou um pouco, foi o desejo.

Só sei que depois da exposição de Meg, em que me fiz de bêbada, fui embora de seu apartamento, e há mais de sete meses finjo que nunca houve e nem haverá algo entre nós.

É difícil, pois o que ele não sabe é que sou terrivelmente apaixonada por ele. O que explica meu ódio também. Por que não apareceu antes de Rupert? Eu não estaria mentindo e nem fugindo de ninguém. Seria apenas eu. O eu verdadeiro. Não que Noah seja culpado, mas sua doçura e seu jeito engraçado me fez ceder aos seus encantos. Logo eu, que tenho uma carga pesada nas costas.

O som do carro freando saltou meu coração me assustando. Olhei rapidamente para frente notando os olhos de descrença no rosto das pessoas. Ao olhar para cima vi o sinal aberto. Eu sempre ficava distraída quando pensava no rumo que minha vida tomou.

Viro o rosto a fim de pedir desculpas ao motorista, mas congelo ao ver a face conhecida. Estava de lado e parecia procurar algo no banco do passageiro, porém de qualquer ângulo eu reconheceria aquelas feições. A porta do seu carro abriu com força e no momento que levantou o rosto para me fitar, virei o meu escondendo entre meus cabelos.

— Não sabe atravessar uma rua, moça? – a voz que por anos não ouvia era a mesma. Notei que estava arrastada e soube que ele poderia estar bêbado.

Corro o mais rápido que consigo até meu carro e entro trêmula. Não estou interessada se as pessoas estão me achando maluca. Dou uma olhada rápida para o homem que agora estava de pé fitando meu carro. Aproveito minhas janelas escuras para analisá-lo. Rupert parecia o mesmo se não fosse o corte de cabelo ralo. O corpo malhado e olhos cerrados com faíscas, me lembraram porque eu havia gostado dele. Sempre foi cheio de si e marrento com malícias nas palavras, o carinho era apenas fachada. Confesso que era uma inútil de preferir um homem assim. Agora, vendo-o ali, só sentia nojo e dor.

Ligo o carro quando seus pés cambaleiam em minha direção e ainda trêmula parto para a casa dos Petersons. Eu estava amedrontada e assustada.

Sabia que ele estava a minha procura e sua vinda a Seattle significava alguma coisa. Tento não pensar que ele tenha me descoberto, entretanto como ele saberia? Sei que não há como ter me reconhecido, pintei meu cabelo de loiro tantas vezes que parece natural e as cartas que envio para minha mãe se resumem a uma por mês. Penso na possibilidade de ele estar só de passagem, tirando umas férias, de qualquer forma minha mãe não me falou sobre isso. Pôde ter sido de repente e nem ela saiba. Argh, tantas possibilidades.

Mesmo assim querendo ou não, terei que evitar minhas "saídas". Se Rupert está por aí, não posso correr o risco e ser vista.

02

 Noah Peterson

Levantei-me do sofá pela terceira vez e verifiquei a rua, da janela da sala de estar dos meus pais. Já havia se passado quinze minutos desde que Rose tinha falado com Liz e essa espera para ela chegar estava me matando.

—  Andar de um lado para outro não vai fazer o tempo passar mais rápido. —  comentou Meg.

—  Ela já não devia ter chegado? —  pergunto ainda fitando rua.

—  Não sabemos onde ela estava, irmão. Tenha um pouco de paciência.

Giro o corpo para olhar as duas mulheres sentadas juntas no sofá. Rose estava mais leve e radiante depois que começou a namorar Christian há uns três meses. Se eu tivesse que escolher alguém para ser o parceiro dela, seria ele. O rapaz manda entregar todos os dias uma flor para Rose em seu trabalho. Minha caçula finalmente teve seu príncipe merecido.

Já Meg, essa estava com seis meses e um barrigão de dar inveja. Apesar de ter engordado muito pouco, Meg continuava a ser a bela mulher tímida e divertida que encantou meu irmão Gael. Ele também era um cara sortudo.

Para completar o trio aqui só faltava Jennifer, mas David negou sua vinda dizendo ter outros planos para ela e sendo um Peterson, não preciso nem citar quais são esses planos.

—  Será que ela vai aceitar? —  pergunto avaliando a mais nova proposta.

—  Ela não terá alternativa e sendo bem sincera, esse negócio veio bem a calhar. —  responde Rose bastante segura.

—  Tem que concordar Noah, que é muito melhor que sua ideia de raptá-la. – complementa Meg.

A ideia em si não foi exatamente minha. Gael e David que me sugeriram e aceitei como válido. Não custava nada tentar ficar mais que uma hora a sós com ela. Ouvi o barulho de carro se aproximar e virei ao encontro da janela.

O dia que vi Liz pela primeira vez considerei como uma presa fácil. Reparei bem quando seus olhos me analisaram e o desejo que surgiu neles. Fui para cima com meus galanteios sendo rejeitado todas às vezes. Eu deveria ter desistido, mas não consegui.

Depois da noite em que lancei as obras de Meg, tive uma das melhores noites com Liz. Ela parecia bêbada, porém seus movimentos e olhares estavam bem vivos e alertas. Ela parecia convicta em querer ir para meu apartamento. Perdi meus sentimentos nesse dia. Todos eles eram agora de Liz e ela parecia usar com maestria.

Confesso que foi duro acordar no dia seguinte sem ela do meu lado, mas foi mais duro ainda quando ela agiu como se nada tivesse acontecido. Jurei não ir mais atrás, só que toda vez que a vejo é inevitável não me aproximar e tentar alguma coisa. —  Ela chegou. – aviso.

—  Relaxa Noah, e seja quem você sempre é. – diz Rose se levantando e fico atordoado.

—  E como sempre sou?

—  Um paquerador! —  afirma e sorrio mais calmo. Sempre gosto de paquerar, só que no caso, pretendo paquerar apenas uma e se depender de mim, para o resto da vida.

Rose abriu a porta e esperou alguns segundos até abraçar sua amiga.

—  Para estar me esperando na porta, vejo que é sério. —  ouço a voz preocupante de Liz ao mesmo tempo em que a vejo entrar.

Liz é uma loira deslumbrante com um corpo escultural, lábios cheios e vermelhos e olhos verdes sutis e ávidos. Respirei fundo sentindo a fragrância de rosas, mesmo que de longe. Seus olhos voaram para Meg que se levantou para um abraço e terminaram em mim. Não ousei me levantar, pois sei que seria ignorado.

—  Como vai Liz? —  pergunto tendo seu olhar desconfiado.

—  Bem. —  diz e senta-se entre Meg e Rose. — Então, que proposta é essa que coincidentemente me envolve?

Noto que ela veste um short expondo suas pernas longas e finas, que um dia esteve e um dia estará em volta da minha cintura.

—  Está mais linda desde a última vez que te vi. — comento sem perceber, mas já que disse sustento meu olhar sendo correspondido até ela desviar com um rolar de olhos.

—  Como pode ter um irmão tão...

—  Lindo? Irresistível? Prazeroso...? —  digo encarando-a.

—  Idiota! Você nem é isso tudo.

— Não sou? Tem certeza? – indago e sei que estou com um sorriso sacana. Fazer o que, se ela causa isso em mim.

—  Que tal se formos para o real motivo disto? — Meg chama atenção e aceno sem tirar os olhos dela.

—  Estou esperando por isso. —  resmunga Liz e reprimo o riso. Nunca foi dada a ter paciência.

—  Te chamamos aqui porque Noah recebeu um email interessante. —  inicia Rose e Liz se mantém atenta. —  Um empresário de Colorado quer expor seus quadros e por meio de uma pesquisa, viu que Noah é um dos homens que está em ascensão nesse meio.

—  Você sabe o sucesso que foram meus quadros e o quanto me tornei conhecida no mundo artístico.

Tudo por causa de Noah e seu poder nos negócios.

—  Não precisa tanto Meg, seus quadros são bons. Não conseguiria a fama sem suas pinturas. —  digo modesto.

—  Claro! —  Rose afirma e continua. —  O caso aqui é que a proposta beneficia mais Noah que o próprio homem que quer fazer a exposição. O que nos deixou mais intrigados é que o homem em questão é um senhor de sessenta e dois anos. Era para ele se beneficiar também.

—  Com a idade que tem, é preciso dinheiro. – digo e recebo um olhar duro de minha irmã.

—  Continuando, Noah queria que alguém fosse com ele e bem, nós, os irmãos, não temos como irmos. David ainda está em recuperação, Gael tem seus turnos e eu, não estava a fim de viajar. Estou há pouco tempo com Christian, e às vezes nosso trabalho só nos permite nos vermos três vezes por semana. Meg está grávida e você sabe bem o quanto Gael está protetor em relação a ela e a Jennifer, depois que sua mãe se aposentou, cuida da fazenda.

Observo calado enquanto Rose dar inúmeras explicações sobre como ninguém está disposto a ir comigo para Colorado. Apoio meus cotovelos nos braços da poltrona e junto minhas mãos descansando os indicadores em meus lábios. Liz parecia saber onde a amiga queria chegar, mas esperou esse momento para dizer.

—  Ainda não entendi o porquê de ter vindo até aqui.

Segurei o riso e fitei Meg que se mexeu sobre o sofá chamando sua atenção.

—  Você veio aqui porque nós pensamos que você poderia ir com Noah para Colorado.

—  Ah, entendi. E vocês esperam que eu vá para Colorado e ainda por cima com Noah? —  pergunta e ergo a sobrancelha esperando sua resposta. — Nem pensar.

—  Não dê uma resposta tão precipitada. Você acabou de tirar férias do seu emprego, pode muito bem ir. —  diz Meg e Liz se levanta nervosa.

—  Eu bem que iria para Colorado, mas se for para ir com Noah eu passo a vez.

—  Sou tão repugnante assim? —  indago ainda do meu lugar, e seus olhos me fitam culpados.

—  Não é isso.

—  Então do que se trata? —  saio da poltrona parando a sua frente. —  Por que não pode me acompanhar? Você está livre, eu estou livre...

—  O que liberdade tem a ver Noah? Sabe que eu não te aturo. Não gosto do seu jeito de que sabe tudo além de que, sempre brigamos por besteiras. Essa viagem seria um pesadelo para nós dois, admita isso.

—  Não posso, pois penso o contrário. Seria uma oportunidade perfeita para nos conhecermos melhor.

E de sentir seu corpo quente e lábios macios outra vez.

—  Pare com isso, Noah! —  sussurra em pedido e se afasta para pegar a bolsa no sofá. —  Minha resposta é não. Arranjem outra pessoa ou ele vai sozinho.

Dito isso, deu meia volta e saiu. Ainda estava paralisado no lugar. Depois de meses com Liz fingindo que não sabia nada daquela noite, hoje pude ter a certeza de que se lembra bem. Não havia outra hipótese para querer ficar tão longe de mim.

—  Eu disse que ela não aceitaria. —  informo voltando a realidade. Rose salta do sofá inconformada e com olhos furiosos para mim.

—  Eu disse para deixar tudo comigo! Era para você ter ficado grudado naquela poltrona.

—  Eu já tinha uma vaga ideia de que ela não aceitaria, Rose.

—  E você acabou de uma vez o resto de chance que ainda tínhamos de deixar vocês dois a sós e fazer aquela cabecinha dura enxergar que é apaixonada por você.

—  Hey linda. —  chamo-a calmo e com sorriso. —  Eu finalmente contei para todos o que sinto por aquela maluquinha, não vai ser um não que me tirará da jogada.

—  Mas é que seu voo é daqui dois dias. —  explica e abraço-a.

—  Posso ter outras propostas não posso? Mesmo que sejam inventadas.

—  Eu vou dar um jeito em Liz. —  impõe Meg e me lembro que ela estava aqui todo o tempo. — Ela costuma me ouvir. Não se preocupem.

Sorrio agradecido por ter uma família incrível, e por acreditarem que Liz é apaixonada por mim.

Quem eu quero enganar, eu também acredito nisso.

3

 Liz Miller

Minha casa em Nova Zelândia ainda estava do mesmo jeito. O piso de madeira, a sala junto com a cozinha, a TV ligada em um canal de esportes, tudo do mesmo jeito que há sete anos. A sensação foi de tranquilidade e saudade, até a porta principal abrir.

A figura de Rupert surgiu poderosa e com riso mesquinho. Fechei meus olhos imaginando que isso só poderia ser um sonho. O que estou fazendo aqui afinal?

—  Resolveu voltar boneca ou será melhor chamála de Liz?

Abri minhas pálpebras em desespero e vi que ainda estava aqui. Ele sabe onde estou, sabe meu nome! Respiro rápido e corro para me esconder em meu quarto, mas hoje Rupert não está bêbado. Suas mãos me seguram pelos ombros e me joga na parede com força.

—  Por favor... —  imploro e sou virada de frente com brutalidade.

—  Sabe como senti saudades suas? Desse seu rostinho liso e branquinho?

Tomo coragem para levantar minha face, mas sua mão vem como um ferro de passar quente.

Inspiro profundo abrindo os olhos. O teto branco e intacto carrega a luminária que tanto quis dias atrás. Outra vez esse pesadelo. Há dois dias, depois de ter visto Rupert, venho sonhando com ele.

São exatos dois dias que não saio de casa.

Saio da cama indo direto para o chuveiro. A água quente relaxa meu corpo. Mentalizo que Rupert não sabe que estou aqui, que nem sequer me reconheceu, além do mais, é impossível ele saber meu nome. Trabalho em uma pequena revista, editando matérias. Não é o emprego dos sonhos, mas foi o melhor para me manter longe dos holofotes, depois que fiz minha faculdade de jornalismo.

Volto a vestir meu pijama e sigo para a cozinha, mas uma batida na porta me faz frear.

—  Liz? Está aí? —  Meg chama do outro lado e suspiro.

Mudo meu caminho para a porta e abro com o melhor dos sorrisos que tenho, porém Meg carrega uma cara preocupada e nervosa.

—  Onde está que não atende seu telefone? E por que diabo ainda está de pijama às dez horas da manhã?

—  Calminha Meg, não pode ficar estressada, olha o bebê.

—  Como não posso ficar estressada? Há dois dias que tento falar com você. Rose e eu estávamos preocupadas.

—  Me desculpe, mas é que entrei de férias e aproveitei para ficar mais tempo em casa.

—  Você nunca foi assim. —  acusa e me viro de costas indo para a janela do meu apartamento.

Na verdade, eu sempre fui assim. Suspiro vendo a cidade inteira já acordada.

—  Sei que não sou. —  minto e ponho mais um sorriso para voltar para Meg. —  Por isso estou testando, vendo como é a vida de uma pessoa caseira.

—  E está gostando? —  pergunta e respondo o que Liz diria.

—  Não! —  bufo e sento no sofá trazendo Meg comigo. Esse lugar ficou maior depois que ela se mudou.

—  Me diga a verdade Liz, ficou chateada com o que te pedimos não foi? —  franzo a testa sem entender.

—  Quê?

—  A proposta de ir para Colorado com Noah. Não fique chateada comigo e com Rose, só queremos que vocês sejam amigos.

Colorado! Como pude me esquecer disso? Era óbvio que no dia fiquei nervosa com a proposta, depois fiquei com raiva de Noah por me pressionar. Ele sabe que não podemos ficar juntos. Tudo bem, só eu sei. Mas agora, depois de tantos pesadelos com Rupert, sei que posso sobreviver alguns dias com Noah.

—  Olha Meg, Noah já arrumou alguém para ir com ele?

Seus olhos aumentam ligeiros em expectativa. Eu sei que todos querem que Noah e eu fiquemos juntos, mas é algo impossível. Sou casada. Conhecendo essa família, sei que não haveria problema se soubessem de tudo, o verdadeiro ponto chave são as mentiras. Vivo em uma mentira desde que cheguei a Seattle, porém nem tudo para mim foi ou é uma mentira.

Espero que um dia eu possa contar tudo, sem medos, sem receios e sem vergonhas. Além de tudo, espero o dia de abraçar minha filha.

—  Não, ele vai sozinho. —  diz Meg me trazendo de volta. Respiro fundo e fico de pé decidida.

—  Ele não vai mais sozinho. Vou com ele.

Os acontecimentos a seguir foram tão rápidos que quase me perdi. Soube que o voo era no mesmo dia, só que na parte da tarde. O grande problema estava nas roupas. Colorado nessa época de fim de ano costuma fazer frio, e como moro em Seattle e não havia planejado ir, não tinha muitas roupas de frio. No máximo um blusão de lã e uma blusa de crochê de pontos fechados.

De qualquer forma, não planejo sair por aí e o hotel que ficarmos deve contar com um aquecedor. Noah quer apenas uma companhia e eu, fugir desse lugar por um tempo, mesmo que eu tenha que ser rude, egoísta e chata com o homem que amo. Ficar dois dias longe daqui, vai me fazer pensar no que fazer.

—  Não está desistindo não é amiga? —  Meg questiona ao meu lado no táxi e sorrio.

—  Não, não estou. Disse que ia e vou.

—  Não vai se arrepender. —  diz animada e reprimo um suspiro.

—  Fala como se alguma mágica fosse acontecer. Não se esqueça que não suporto Noah, só estou indo para que ninguém fale que sou uma pessoa horrível.

—  Eu nunca diria que é uma pessoa horrível. — afirma amável e a olho com carinho.

—  Por isso que amo você. —  digo a abraço-a verdadeiramente.

—  E eu a você.  Agora, por favor, tente ser simpática com Noah. —  pede e reviro os olhos.

—  Eu tento, mas ele sempre tem que vir com aqueles olhos azuis e corpo incrível... —  me interrompo ao perceber o que estou falando. — Como todos os Petersons tem, então ele abre a boca e faz graça como se eu gostasse do que faz.

—  Eu acho que gosta.

—  Meg! Você não está sendo minha amiga. – digo e ela apenas rir.

—  Ele te paquera Liz, e para falar a verdade, você só se faz de difícil para que ele continue te paquerando.

—  O quê? Só pode estar ficando doida, acho que seu homenzinho está sugando seu cérebro.

—  Ele não está sugando meu cérebro, pare com isso! – gargalha e suspiro resignada.

—  De qualquer forma seu pensamento é equivocado.

—  Ah, Liz, quando vai assumir para si mesma que é apaixonada por ele?

Engulo em seco absorvendo sua pergunta. Dentro de mim já está mais que assumido que estou apaixonada por ele. Eu o amo! Pego sua mão e envolvo na minha.

—  O que acha de não criar expectativas?

—  Não posso. Sabendo do que sei, é impossível não criar expectativa.

—  E o que sabe? Se Noah pensar em nos colocar no mesmo quarto ele vai dormir no chão. – aviso e ela nega balançando a cabeça.

—  Vai descobrir amiga quando estiver lá, e não vai ter como fugir dessa vez.

Cresço meus olhos e solto sua mão olhando para o banco da frente. Não vou fugir? Eles descobriram e vão me entregar para Rupert? Seria coincidência demais essa proposta no mesmo dia que o vejo. Talvez não tenha sido proposital eu ver Rupert. Mas o que estou pensando? Meg não faria isso comigo, a não ser que ela não soubesse.

—  Como assim? —  murmuro baixo e nervosa e duvido que Meg tenha escutado.

—  O que houve? Ficou pálida, está tudo bem?

—  O que quis dizer com não vou fugir dessa vez?

—  Foi modo de falar, afinal viajarão juntos, realmente não vai ter como fugir de Noah como faz todas às vezes. —  suspiro aliviada. Eu estava criando paranoias em minha cabeça. —  Tem certeza que está bem?

—  Sim, foi apenas uma tontura. Sabia que tenho medo de avião? —  mudo a conversa e ela sorri confiante.

—  Noah estará lá para ajudá-la.

Sem que ela perceba minha expressão de desespero por quase ter entregado a verdade, sorrio e reviro os olhos falando algo banal. Viro para a janela do meu lado e respiro fundo algumas vezes. Tenho que parar de pensar no pior sempre.

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