Noa parte 5

Desligo a panela no fogo e me sento em um dos bancos.

Olho pro chão um pouco e fico pensando em tudo que Alex me disse, em como ela está me afastando. Eu já entendi que em algum momento da vida dela se envolveu com coisas ruins, mas não faz sentido me manter longe, não depois de eu ter pedido pra ela ficar aqui.

Alex parece insegura com muitas coisas, e o comportamento dela aqui me diz que tudo isso tem muito a ver com o lado sentimental.

Esfrego meu rosto e tento pensar em algo, mas nada me vem na mente em um primeiro momento, até que depois de martelar muito eu decido procurar algo na internet.

Jogo os dois nomes que li no bilhete no mecanismo de busca do Google, e bingo!

Aparecem dois homens idênticos.

Leio um artigo que diz que Will foi morto há meses atrás por Manson, depois de ter sequestrado Alencar. E que recentemente mataram Wolf depois dele ter sequestrado Martín. Ao que parece os gêmeos eram criminosos de alto escalão, inclusive com Wolf traficando pessoas.

Me lembro das palavras que li sobre vingar o sangue de Will, mas se não foi Alex que o matou, isso não faz sentido.

💭 A menos que ela fosse mulher dele💭

Será que ela teve algo a ver com a história que acabou com Will morto? De repente ela o traiu com Martín e a coisa toda degringolou.

Passo um bom tempo criando teorias da conspiração na minha cabeça, principalmente porque o jeito que aquele bilhete foi escrito deixa margem demais pra isso. As palavras "conselho" e "família Montenegro" soam como uma organização criminosa. E com toda certeza é uma perigosa demais. Alex simplesmente saiu do ar ao ler aquilo.

*********

Já passa das três da tarde quando a campainha toca. O porteiro não avisou sobre ninguém, então penso que seja algum vizinho, talvez até ela vindo conversar melhor.

Abro a porta e franzo a testa.

É uma loira parada na minha frente, é jovem mas não aparenta ter a mesma idade de Alex. Ela está usando um terninho preto, com sapatos baixos.

- Noa Webster?

Reparo no coldre na cintura com um distintivo e uma arma preta.

- Eu mesmo. Em que posso ajudar policial?

Registro também a presença de uma outra mulher, negra, mais baixinha e usando um colete de perícia que identifica que ela é uma papiloscopista.

- Eu sou a detetive Shonda Grayves, muito prazer. Essa é Enietra Ross, uma perita.

Estendo a mão e cumprimento as duas, Shonda continua falando.

- Bom senhor Webster, eu sou uma amiga de Alex e fiquei sabendo que o senhor pegou em um papel importante hoje. Gostaria que fornecesse suas digitais para eliminação.

Suspiro de um jeito pesado.

- Claro. Entrem por favor.

Enietra colhe minhas digitais e depois se retira. Enquanto limpo minhas mãos Shonda se aproxima de mim e conversa em um tom mais baixo.

- Hãn... Noa... Será que posso falar com você um minuto?

Isso me pega de surpresa, mas eu concordo com ela e a escuto com atenção.

- Como eu te disse, sou amiga de Alex. Olha, ela está bem chateada, sei que você viu o que está escrito naquele papel, e parece que ela não queria que você soubesse nunca daquilo. Alex parece interessada em você, mas preciso te dizer que ela não tem uma história de vida muito boa, sofre desde que era criança, passou uma barra daquelas, por anos. Se você realmente quer algo com aquela mulher, precisa ser paciente com ela.

Olho para o chão e balanço a cabeça devagar em um sim, depois levanto meus olhos pra respondê-la.

- Eu já imaginava que havia algo de muito pesado na vida dela, Shonda, mas não que fosse tanto assim. Mas eu vou respeitar o tempo e o espaço de Alex, não quero ser incômodo pra ela.

Depois que ela vai embora eu me sento no sofá pensando no que ouvi.

Alex é uma mulher traumatizada e talvez eu devesse me afastar, deixar ela se curar em paz, só que estou sentindo uma vontade enorme de ficar do lado dessa mulher. Segurar ela e oferecer meu apoio.

Preciso pensar no que fazer pra que ela baixe a guarda comigo.

💭 Ayla!💭

Pego o telefone e ligo pra casa de Rebeca, é Austin que me atende.

📲🔊 - Minha princesa está aí? Quero muito falar com ela.

📲🔊 - Está sim, vou chama-la pra você.

Não demora muito e ela entra na ligação.

📲🔊 - O que você quer dod*?

📲🔊 - Você tem convites pra sua apresentação no Majestic?

📲🔊 - Tenho sim, você quer algum?

📲🔊 - Quero sim meu amor. Vamos fazer assim: nós vamos sair pra jantar, você vem dormir aqui, e amanhã você vai bater lá na casa da Alex e entregar a ela o convite. Tudo bem assim?

Ayla fala de um jeito sussurrado.

📲🔊 - Dod, você está gostando dela?

Acho graça do tom baixo que ela usa comigo. Sabe que se a mãe ouvir isso vai fazer um inferno pra saber quem é.

📲🔊 - Bom, parece que sim, não é?

📲🔊 - Então eu vou sim. Você me busca às sete?

📲🔊 - Combinado!

**********

Estou no hall de entrada do meu apartamento, e assim que Ayla salta do elevador eu pergunto:

- Conseguiu?

Ela confirma com cabeça e abre um sorriso.

- Alex me garantiu que vai.

Tomara que vá mesmo. Eu vou dar a ela essa semana pra esfriar a cabeça, vai custar muito da minha energia, eu sei, mas vou esperar um pouquinho. Quando eu me aproximar dela outra vez, quero que saiba que não vou desistir fácil, e que acima de tudo, me corresponda sem medo.

- Ótimo! Vamos tomar um sorvete enorme? Eu fiz um de limão, do jeito que você gosta.

********

Olho no espelho e ajeito o Zegna marrom escuro que estou vestindo hoje.

Espero muito que Alex vá hoje.

Tudo depende dela aparecer.

Desço as escadas e encontro com Sabine na cozinha.

- Tudo certo aqui?

Ela pisca pra mim.

- Tudo mais do que certo!

Assim que chego na porta do teatro eu vejo ela parada e esperando a hora da entrada. Está linda. Usa um vestido rosa chá, que fica dois dedos abaixo dos joelhos e tem um fenda discreta do lado esquerdo. Mangas drapeadas e um decote em V que mostra de um jeito bonito a pele do colo dela, ainda mais porque fez um rabo de cavalo alto e não tem nenhum acessório no pescoço.

- Boa noite.

Ela me dá um sorriso tímido e responde ao meu cumprimento.

Logo meus pais chegam e enquanto me viro pra olhar eles saindo do carro, ela se afasta sem que eu perceba.

Respiro fundo me sentindo meio frustrado.

💭Calma Noa, as coisas vão dar certo💭

Entro no auditório e procuro por ela com os olhos, a avisto sentada na terceira fileira a esquerda. Decido não sair de perto da minha família e ir sentar perto dela, não preciso da afobação daquelas duas em cima de nós dois.

Não demora muito e a apresentação de Ayla começa. Hoje são quatro crianças se apresentando e ela é a segunda. Minha sobrinha toca a Capriccio 24° de Paganini, e as pessoas adoram ver a escolha interessante dela, que mesmo tendo sido composta em 1817, inspirou arranjos no rock moderno. Tudo fica melhor porque ela dança de um jeito delicado enquanto toca com perfeição, em uma demonstração de coordenação motora impressionante.

No final da noite nós vamos falar com ela no canto do teatro. Está ainda usando o coque bem feito e o tutu preto e dourado.

Entrego a ela as flores que comprei.

- Você foi de longe a melhor da noite.

Rebeca bate no meu braço.

- Seja mais discreto, as outras crianças e suas famílias podem achar ruim.

Mostro a língua pra ela.

De repente Ayla olha para trás de nós.

- Alex! Que bom que você veio!

A loira abre um sorriso pra ela e se apresenta pra minha família.

- Não quero atrapalhar vocês, só vim te entregar uma coisinha.

Ela estende uma caixinha branca de couro e enfeitada por um laço vermelho vivo.

Ayla abre o presente e dá um sorriso enorme.

Alex deu a ela um bracelete Pandora, cheio de berloques que representam as coisas que ela gosta. Tem um violino, um par de sapatilhas, um coração e mais alguns outros.

- É lindo! Obrigada!

- Lindo foi você naquele palco. Agora eu tenho que ir, foi um prazer conhecer vocês.

Acompanho com o olhar ela se distanciando.

- Você vem comemorar com a gente, meu amor?

Olho pra minha mãe.

- Hoje não, estou cansado, trabalhei muito ontem e ainda não consegui descansar o bastante. Amanhã eu vejo vocês.

Me despeço deles e ando apressado, consigo vê-la fazendo sinal para um táxi. Apareço do lado dela e a impeço de entrar no carro, deixando que um casal jovem tome o seu lugar.

- Me deixa de te levar pra casa.

Ela nega com a cabeça, não me responde com palavras.

- Por favor.

Olho no fundo dos olhos dela e a vejo pensando.

- Tudo bem.

Abro a porta do carro e quando ela entra eu respiro fundo antes de me acomodar ao seu lado.

O cheiro dela toma conta do ambiente.

Queria muito que ela interagisse comigo, mas tudo que ela faz é silêncio.

Assim que Stanley para o carro na vaga de garagem Alex sai apressada e eu tenho que andar rápido pra conseguir entrar no mesmo elevador que ela.

- Vai ficar fugindo de mim?

Ela não olha nos meus olhos.

- Noa, por favor, não faz isso.

Levanto o rosto dela devagar.

- Não fazer o quê, Alex? Isso?

Dou um selinho nela.

- Ou isso?

Dou outro selinho.

- Ou então isso?

Beijo a boca dela de um jeito desesperado, não estou me importando com as câmeras, só quero sentir o gosto dela.

Alex enrosca os dedos no meu cabelo e eu a aperto no meu corpo. Quando o beijo termina eu bato a minha mão no botão da cobertura e o elevador comeca a subir.

- Me deixa apertar o botão do meu andar.

Fixo meus olhos nos dela.

- Não, você vai lá pra cima comigo. Quero jantar com você.

Vejo ela abrindo a boca pra protestar, então eu digo rápido.

- Não aceito um não. Quero você Alex, e nada vai me afastar. Entende isso de uma vez.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***