Acordo no horário habitual de sempre. Depois da corrida pela vizinhança eu volto para meu apartamento e tomo um banho.
Meu telefone toca e é Luigi.
📲🔊 - Bom dia amiguinho do Mário Bros.
Ele resmunga do outro lado, detesta essa brincadeira.
📲🔊 - *Vai se f*der! Estou ligando pra tratar de assunto sério, cara*.
Já vi que vai desandar o meu dia.
📲🔊 - Sobre o quê?
📲🔊 - As vieiras. Fiquei sabendo que estão péssimas hoje, Morgan me ligou lá do mercado de peixes.
Reviro meus olhos, isso é uma merda sem tamanho. Elas, em qualquer molho que seja, são as entradas que mais saem.
📲🔊 - E agora?
Estamos atrelados a esse mercado por um contrato, é temporário, mas a parceria tem que ser seguida à risca.
📲🔊 - Bom, o motivo da ligação é para nós dois resolvermos.
Conheci Luigi na Le Cordon Bleu de Paris, nossa parceria na cozinha daquela escola nos levou até a sociedade nos negócios. Temos vários restaurantes espalhados em alguns pontos do mundo, muito embora eu mexa mais com a parte burocrática. Cozinhar virou mais um hobby.
📲🔊 - Chego aí daqui a pouco.
***********
Estamos encarando as opções de mariscos na nossa frente.
Ouço meu amigo dizendo.
- Vamos colocar os vôngoles como primeira opção. Manteiga derretida com ervas. Alecrim e sálvia?
Olho pra ele e faço uma careta.
- Está bem. De segunda opção nós podemos colocar as ostras grandes naquele esquema de abrir na frente do cliente, limão siciliano de acompanhamento.
É o que tem pra hoje.
Olho em volta e vejo a cozinha começando a aquecer, os primeiros sons das panelas batendo e das facas trabalhando nos cortes.
Morgan aparece na cozinha amarrando o avental. É o sous chef do dia e ele e Luigi se comunicam só berrando, é a energia de cozinha boa.
- Me diz que pelo menos o salmão está bom.
Ele me olha e confirma.
- Pelo menos ele não vai estar desfalcado hoje.
Visto meu domo branco e me aproximo de um dos fogões.
Preparo meu café da manhã e me sento em uma bancada longe, logo meu sócio vem comendo um croissant e fazendo uma careta pra mim.
- Não sei como você consegue comer isso logo de manhã.
Ele aponta pra frigideira bem quente, onde meu shakshuka está borbulhando. São ovos cozidos mergulhados em molho de tomate, com queijo de cabra e salsinha. É típico do meu povo, minha família tem sangue judaico. Eu não sou ortodoxo, sequer faço questão de comidas serem kosher, mas sou completamente apaixonado pela gastronomia de Israel.
Mergulho um pedaço de pão no molho.
- É uma delícia.
- Isso parece mais almoço do que café.
Dou uma risada. Ele tem razão, mas tradições, são tradições.
Luigi me olha enquanto bebe um pouco de café.
- Vai ajudar no serviço hoje?
Digo a ele que sim enquanto termino de comer.
- Ótimo, cordeiro com mel e cordeiro com hortelã estão por sua conta, então.
- Tudo bem.
*********
Estamos indo pra casa, meu amigo vem comigo para conversarmos sobre algumas coisas.
Stanley, meu motorista, estaciona na frente do prédio e nós descemos batendo papo. Já no hall de entrada eu bato a mão no botão do elevador, e quando ele se abre depois de subir da garagem, nós levamos um pequeno susto. Tem quatro pessoas dentro. São dois homens altos, de constituição física considerável, latinos, armados, todos dois com cara de Pitbull de raça, e que escondem duas mulheres com o corpo.
Uma delas tem o cabelo escuro cacheado e pele bem clara, bem bonita e está mais tranquila. A outra é loira, de rosto angelical. Ela não está nada tranquila e o cara que a protege, enquanto ela aperta o braço dele, tem a cara bem fechada mesmo. O outro é observador, está medindo a mim e a Luigi de maneira ostensiva.
O elevador para no oitavo andar e os dois passam as duas mulheres na frente, só depois saem também.
Assim que a porta se fecha eu me viro pra Luigi.
- Nossa... achei que os dois iam rosnar pra gente.
Ele concorda com a cabeça.
- Ou são namorados muito possessivos, a ponto de andarem armados e esconderem as mulheres, ou aquelas duas alí são importantes em um nível absurdo.
Fiquei curioso com a loira. Pude ver que é delicada ao extremo e parecia bem preocupada e temendo algo.
**********
É mais um dia normal.
Stanley para na porta do prédio para que saia antes de ir estacionar na garagem do prédio, antes de descer eu avisto uma cena estranha.
As duas garotas do elevador estão na calçada. A morena está desesperada tentando acalmar a loira sentada no chão, parece que ela está tendo uma crise de nervos, se treme toda e chora de um jeito escandaloso.
- Stanley, espere aqui.
- Pode deixar, senhor Webster.
Desço do carro apressado e ofereço ajuda. A morena aceita de imediato, tamanho o desespero que está, a loira esbraveja comigo. Sei que é um momento horroroso, mas não consigo deixar de notar que é uma mulher linda e bem delicada.
Coloco ela dentro do meu carro e vou sentado no banco do carona enquanto a amiga dela vai atrás tentando acalmar a garota. Ela fala o tempo inteiro.
- Aquele maldito voltou do inferno, Sharon. Ele voltou, ele veio pra me arrastar com ele.
Franzo minha testa e dou uma olhada de relance para o meu segurança, ele também está franzindo a testa mas presta atenção no trânsito.
Sharon vai tentando abraçar a loira.
- Calma Alex, vai ficar tudo bem.
Então a loira se chama Alex.
Quando o carro para na frente do hospital eu preciso pegá-la mais uma vez.
Depois que os enfermeiros conseguem trocar a roupa dela e dar um remédio, a amiga se aproxima de mim e estende a mão.
- Eu sou a Sharon Chips, muito prazer.
Abro um sorriso pra ela e repito o gesto.
- Eu sou o Noa Webster, muito prazer também.
Sharon dá um suspiro olhando para o chão e depois olha pra mim.
- Nem sei como te agradecer. Alex está passando por uma barra, um período difícil mesmo, você apareceu na hora certa.
Mais do que nunca eu estou curioso pra saber mais sobre a loira de olhos amendoados.
Depois que um psiquiatra de plantão vem nos dizer que vai manter Alex fora do ar, Sharon pega o celular e disca aflita para alguém.
📲🔊- Oi Martín, é a Sharon.
Ela escuta alguma coisa e depois diz:
📲🔊 - Olha, desculpa te ligar, mas eles estão tratando a Alex como louca. Ela está internada de novo, teve uma crise nervosa horrorosa. Nós fomos ao retorno médico, e quando estávamos saindo, um carro preto passou do outro lado da rua da entrada do prédio, Alex olhou na direção do carro e surtou. Nunca vi minha amiga assim. Ela disse que viu o Will dentro do carro e que ele sorriu pra ela. Se não fosse um vizinho me ajudando, eu nem sei o que teria feito.
Mais uma vez um silêncio e ela escuta a resposta.
📲🔊 - Voltou sim, está na ala psiquiátrica. Ela não me disse nada, nem me pediu pra te ligar. É bem provável que ela me mate por causa disso, mas eu sei que você é o único que vai conseguir acalmar ela nessa situação. Estão dopando ela!
Interessante, ela esteve aqui recentemente, mas não nessa ala.
💭Quem será esse tal de Martín?💭
Sharon parece desorientada, eu me afasto e pego uma água em um bebedouro no corredor, ofereço a ela o copo que aceita de bom grado e se senta em uma das cadeiras de espera.
- Fica tranquila, pelo que entendi sua amiga precisa muito de você.
Ela balança a cabeça afirmando.
- Precisa sim, só que no momento eu não sei como ajudar, por isso liguei pedindo ajuda a outra pessoa.
Depois de algum tempo eu vou embora pra casa, quando entro no banho me pego pensando em Alex e o que seria motivo pra deixá-la naquele estado.
***********
Quase não consegui dormir pesando naquela mulher. Decido que vou ir fazer uma visita no hospital, é para o meu próprio bem também se não vou entrar em parafuso.
Ligo pra Sharon, peguei o número dela ontem antes de vir embora.
📲🔊 - Sharon? É o Noa, espero não estar te incomodando.
📲🔊 - Não está, eu estou indo para o hospital ver minha amiga. O que você deseja?
📲🔊 - Saber notícias dela mesmo.
📲🔊 - Você pode ir até lá também se quiser, se ela estiver acordada eu sei que vai querer te agradecer.
Não penso muito e digo a ela que vou.
Acabo encontrando com Sharon na recepção do hospital. Alex está dormindo ainda por causa do efeitos do remédio forte e nós dois ficamos do lado de fora. Não demora muito e os dois caras do elevador aparecem, mais uma vez armados.
Eles me observam e eu também os observo, muito mais o de barba que parece ter uma proximidade maior com Alex. Eu estou curioso pra saber qual a relação dos dois.
Eu me adianto e me apresento.
- Eu sou Noa, ajudei a trazer Alex pra cá.
Eles me cumprimentam com um sorriso e eu consigo ver que não são caras ruins. O outro cara, o Paco, se vira pra Sharon.
- Ela surtou do nada depois que olhou o tal carro?
Ela confirma com a cabeça antes de dizer:
- Foi, entrou em desespero gritando que ele tinha voltado pra aprisionar ela de novo. Eu não entendi nada, você matou ele, não matou Martín? Até onde eu entendi é o irmão dele que quer matar vocês três agora, então como esse homem surgiu aqui no meio de Nova York?
Ôpa, espera aí. A história é mais cabeluda do que eu pensava. Como assim Alex foi prisioneira de alguém que Martín matou e agora o irmão dele quer matar os dois e Paco? Ela não me parece ser o tipo de mulher ligada à bandidos, porque é isso que eu estou pensando que esses dois são.
Martín aperta a ponte do nariz.
- Eu matei Will sim, Sharon. Acontece que aquele maldito é capaz de sequelar qualquer um, eu sofro isso na pele até hoje. Vou ligar pro meu psiquiatra, quero encaminhar Alex pra ele, Frank já sabe muito bem como lidar com as consequências que Will deixa nas vidas das pessoas.
Ele olha pra dentro do quarto.
- Vou conversar com ela, e tentar fazer com que ela sair daqui rápido.
Paco resmunga antes de entrar na conversa.
- É, ela ficar dopada não é bom, está sem escolta agora e não vai poder gritar se precisar. A gente sabe que aquele infeliz sempre manda alguém pra tentar terminar o serviço.
Minha curiosidade está a mil, o engraçado é que eu detesto armas, tenho um guarda costas porque minha mãe é neurótica e confesso que já tentaram me pegar uma vez, as pessoas vêem um judeu e enxergam ouro, mas se não fosse isso juro que não teria um. Só que apesar de achar que esses dois são barra pesada, eu não consigo me afastar dessa situação.
Quando chego no restaurante Luigi imediatamente nota algo diferente em mim, ele está sentado no salão conferindo uns papéis.
- O que foi que vocês está desse jeito.
Me sento na mesa de frente pra ele e me sirvo de um pouco de café.
- Sabe aquelas duas do elevador?
Ele abaixa os papéis.
- Sei, o que tem elas?
- Conheci as duas um pouco melhor ontem. A morena se chama Sharon, a loira é Alex. E eu só as conheci porque Alex estava sentada na calçada, em frente ao prédio em que eu moro, abraçada aos joelhos e tendo uma crise nervosa daquelas.
Luigi faz uma cara de espanto e bebe um gole de café antes de me responder.
- E o que você fez?
Conto a ele o que aconteceu, e como eu tive que agir pra conseguir ajudar as duas. Meu amigo coça o queixo.
- Hum, Noa, essa história é barra pesada. Pelo visto, essa garota foi e é envolvida com bandidos. Fica longe.
Pois é, estou pensando nisso, mas mais do que pensar nisso, estou pensando nela.
Um inferno!
Decido ficar longe do fogão hoje, do jeito que minha mente está completamente voltada para aquele hospital, eu sou capaz de queimar até água.
*********
No fim da tarde Sharon me liga e diz que dois avisada por Paco de que Alex acordou.
Não me controlo e vou até o hospital mais uma vez.
Quando eu chego encontro Paco do lado de fora conversando no telefone com alguém de um jeito até meio íntimo. Ele aponta para o quarto e quando eu paro na soleira da porta, vejo Alex envolvida no abraço de Martín. Isso me incomoda.
Ele faz carinho na cabeça dela que chora enquanto esfrega o rosto no peito dele.
Quando Sharon pergunta se está tudo bem, ele se levanta dizendo que estão conversando sobre coisas em comum, a loira diz que só estava desabafando com quem passou pelo mesmo que ela.
💭 Preciso saber mais sobre essa história, se não eu vou surtar de um jeito que daqui a pouco sou eu quem estou aqui💭
Quando Martín sai do quarto Alex fala comigo. É doce e tem uma voz suave, traços que não apareciam no meio da crise que ela teve.
Estou muito interessado nela, e isso não é bom. Não a conheço direito, mas sei que é envolvida até o pescoço com coisa errada.
Decido ir embora.
Me despeço dela e de Sharon, e quando saio no corredor faço um aceno de cabeça para os dois caras.
💭 Você vai deixar essa mulher pra lá, Noa. Ela é cheiro de problema e talvez tenha gosto de perigo, talvez não, com toda a certeza 💭
O problema maior é que talvez eu esteja afim de experimentar esse gosto.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
Renascida das cinzas
bicho curioso!!!!
2024-08-08
0
Renascida das cinzas
se ela tava indo pro hospital, porque não foram juntos? Ela mora junto com Alex, e ele no mesmo prédio...
2024-08-08
0
Júlia Caires
está igual a história do anjinho e o capetinha kkkkkk deixando ele doido
2024-06-17
1