Um novo amigo?

Madeline apenas suspirou, exausta. Ryan apenas foi até ela e a estendeu uma garrafa de água, a moça aceitou, a abriu, dando vários goles. Já era o segundo dia de peça. Os papéis já estavam definidos.

— Como o imagina? O seu Dantalion?! — Ryan quis saber sério.

— Cabelo prateado, olhos rubros, tem chifres pretos na cabeça, como os chifres do filme novo da Malévola com a Angelina Jolie, usa uma túnica azul bonita que lembra um pouco a do Gandalf de Senhor dos Anéis, mas com a pomposidade das túnicas do Dumbledore de Harry Potter. É inteligente, mas carinhoso. Sabe manipular de forma até o horror se tornar algo bom. Ele torna o mal algo paradoxal.

— Bem específica na sua descrição. Espero fazer jus a personagem que você mais ama, autora.

Madeline corou sorrindo sem graça.

— É tão óbvio assim que ele é meu preferido? — A menina quis saber.

— É visível que você sente muita posse e ciúme dele. — Ryan analisou divertido, cruzando os braços fortes e a estudando. — É doentio. Demorou cinco horas para escolher um de nós para interpretá-lo. Com os outros personagens, até mesmo Deus, foi menos de 25 minutos.

— Dantalion é o principal. — Madeline se justificou fracamente. — É preciso que o ator a interpretá-lo consiga passar que ele é um demônio, mas tem sentimentos como um humano e assim o aproxime da humanidade falha que ele tão duramente julga e ao mesmo tempo inveja, como se buscasse por um sentido a sua existência solitária mesmo sendo uma criatura das trevas. — A menina se justificou fracamente.

— Entendi. Vou fazer o meu melhor. Mas o texto já passa bem toda a profundidade contraditória dele. — Ryan admitiu. — Como teve essa ideia?

— Ele narrou para mim. Ele fala na minha cabeça e pede que eu escreva a partir disso. — Mad admitiu novamente.

Ryan a analisou.A sobrancelha escura dele arqueada. Madeline realmente o intrigava.

— Cê não é normal confessando algo assim sem pensar nas consequências. — Ele constatou com um sorriso. — Mas acho que isso é o que nos aproxima tanto de você no texto. Sua honestidade brutal! Os detalhes que capta são minuciosos e tão reais. Criam realmente muita onda de empatia e nos faz simpatizantes daquele que a maioria dos humanos julga o vilão. Sua sinceridade é seu maior triunfo. E o caso dele com a bruxa que virou um demônio... A Lilith, é bem interessante.

Madeline amassou a garrafa em mãos.Ryan a contemplou.

— O que você quer de mim? — A menina indagou a Ryan, impetuosa.

— Muito ciúme dele e nem esconde! — Ryan comentou sem se assustar. — Ele é fictício, mas sua posse por ele... autores são sempre tão possessivos com o que criam?

—Lilith foi só um dos casos dele. — Madeline rosnou fora de si.— Ela não foi tão importante e agora ela já tem outro parceiro.

— Mas mesmo assim, Dantalion, o seu amado, exigiu ela na peça! — Ryan a provocou de volta. — Pediu que você a escrevesse... Deve ser humilhante, ser a voz dele nesse mundo, mas tendo que falar da ex dele, sendo que é você a nova bruxa que partilha a cama e os poderes com ele!

Uma lâmpada estourou em um dos focos de luz do teatro. Ryan a estudou, lambendo os lábios e semicerrando os olhos. O nariz dele começou a sangrar e ele só limpou o sangue com indiferença, estudando Madeline com doentia avaliação.

— Suponho que eles não tenham ficados só nos beijos, autora. Mas a peça precisa ser acessível a todos os públicos e não pode ter luxúria. — Ryan provocou sussurrando no ouvido dela. — Você deve saber como demônios são sedutores e isso é só para conseguirem se energizar. É a vadia de um. Mas não te julgo, eu também estou nessa vida complexa de simpatia para o demônio. Eu também fiz um pacto, eu quero ser um ator famoso. E você quer ser uma autora. A gente meio que se complementa! Eu soube na hora que recebi esse roteiro que você era como eu.

— Cala a droga da boca! — Ordenou Madeline. Os olhos dela ficaram rubros.

— Você é só a bruxa que ele usa para conseguir se materializar nesse mundo. Não se engane quanto a isso, gracinha. — Ryan alertou e tocou o rosto de Madeline. — Assim como eu sou uma mera âncora para Asmodeus. Você é uma mera ferramenta para Dantalion. Se apaixonar por ele é pura burrice. Eu sei bem do que falo.

Os olhos de Madeline se encheram de lágrimas. Ryan suspirou. Ele a puxou para um abraço.

— Eles são manipuladores. — Ryan a explicou piedoso e paciente. — Não sentem amor, sentem posse! — Alertou-a. — Sabem os desejos mais profundos do nosso coração e os usam contra nós. Seja mais esperta e para de se focar nos seus sentimentos e dependência dele. Você tem real talento ou ele não viria até você. Use-o apenas para chegar onde quer! Você realmente é muito boa na escrita e sua peça é magnífica.

— Você fez realmente um pacto? — Madeline quis saber.

— Hm...sim. — Ryan comentou num sussurro. — Mas ao contrário de você, não dou muita bandeira sobre isso.

Madeline apenas o afastou.

— Ele me deu um familiar. Você tem um?— Mad quis saber.

Ryan assentiu. Pegou o celular do bolso da calça jeans. Destravou a tela e a mostrou a foto da coruja de penas cinzas.

— Como a alimenta? Você tem a marca?— A moço questionou.

— Meu sangue. Gwen bica meu dedo e bebe meu sangue. — Ele mostrou o dedo indicador da mão direita onde havia uma verruga como a na cintura de Madeline. — E o seu familiar?

— Dante não morde, ele só suga. É um gato preto filhote. — Ela contou calma.— Eu te mostraria a marca, mas é na minha cintura. É uma verruga como a sua, mas cresce como um mamilo quando meu familiar se alimenta.

— Legal. Acho que por ele ser mamífero, você basicamente o amamenta com sua energia. Bem menos doloroso que as bicadas da Gwen.

— Por que me contou sobre seu pacto? — Mad o confrontou. — Por que...

— Somos iguais. Dois artistas buscando reconhecimento e abrir portas nem que sejam as infernais pela nossa ganância. — Ryan admitiu fraco. — Achei que era o único louco o suficiente para vender minha alma. Mas vejo agora que existe alguém mais louca do que eu, que não só fez o pacto como não é nada discreta sobre isso. Se os outros acreditassem no sobrenatural, como você e eu... Você não seria aceita.

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