A mulher de longo cabelo loiro preso em um coque e olhos escuros bonitos, manteve-se quieta, sentada à mesa de jantar, colocada na varanda de sua propriedade enorme, cuja vista dava para um pântano. As colunas gregas sustentavam a grandiosa infraestrutura francesa com grandes janelões antigos, de cor branca e o piso de madeira reluzia. As trepadeiras juntaram-se as paredes junto a glicínias. O cheiro de terra molhada e o clima nublado e noturno, com o céu vermelho, dando as lamparinas a vela da mesa uma iluminação sombria.
A mesa servida com: carne de coelho, pão, milho, purê de batatas e ervilhas. A mulher jantava sozinha.
O belo modormo quebrou o som dos grilos e rãs. O mordomo tinha o longo cabelo preto, olhos azuis intensos e um ar misterioso e jovial:
— Senhora, senhorita Rebecca está aqui para conversar com a senhora.
— Hm. Já não era sem tempo.— Foi só o que a mulher afirmou com a sobrancelha arqueada e um sorriso vitorioso nos lábios, enquanto encarava ao seu elegante mordomo de paletó e gravata. Gertrudes bebeu da taça de vinho tinto e a depositou na mesa novamente. — Diga para que ela entre. Não duvidei nunca de que seria ela a me procurar primeiro.
— Ah, não se precipite. — O mordomo começou irritado. — É melhor não a entregar essa joia. Não acho que seja ela quem busca quanto nesse esse quesito e para herdar essa herança em específico, senhora. — O mordomo a repreendeu com um sorriso de desdém e com um tom de aviso.
— Rebecca é minha herdeira. Já está na hora de passar o fardo, Azazel. Agora ela cuidará de você e dessa casa.
— É melhor não entregar esse pingente a ela. — O mordome aconselhou ainda gentil. — Ela é fraca como sua irmã era. Ângela e Rebecca, não têm o dom aprimorado.
A mulher o encarou com irritação.
— E por que Rebecca não, Azazel? Ela é a minha filha. Já está cursando o terceiro ano de medicina com dezoito anos. A menina é um prodígio.
— Quanta arrogância, Gertrudes! — Vociferou o mordomo. Os olhos do mordomo ficaram vermelhos por um momento. A pedra transparente no pescoço de Gertrudes, que era um diamante, também ficou rubro parecendo agora um rubi.— Acha que só porque é sua filha, a garota tem que ter herdado o dom? O fato dela ser inteligente é porque você fez um pacto comigo, como sua avó fez e a avó de sua avó. Mas o dom da sua família, não é assim que funciona. No máximo, para a bruxaria, Rebecca é talentosa com alquimia e por isso o curso de medicina casou tão bem com ela. — O belo mordomo a respondeu maldoso. — Sua filha é um mero eco do que a verdadeira herdeira da família deve ser. Nem tente me fazer servi-la, porque se tentar, meu amor por você se tornará ódio. E eu nem preciso te dizer, que quando meu amor se torna ódio, as coisas ficam perigosas. Se orgulhe das conquistas mundanas de Rebecca, porque são as únicas que ela vai conseguir por ter a inteligência que o mundo exige. Já a alma dela é simplória. Eu nunca servirei Rebecca como sirvo você. Encontre alguém que me imponha respeito como você impõe, Ou tudo o que conquistou com minha ajuda vai se voltar contra você. Eu quero alguém poderoso, que me instigue, assim como respeito você o suficiente para querer sua alma desesperadamente no fim da sua vida e te servir por isso.
— Entendi. — Gertrudes disse num ranger de dentes. — Mas por agora, eu ainda sou a bruxa que te conjurou a esse mundo. Me deve respeito. Peça para Rebecca entrar.
— Sim, minha senhora.
...
Madeline alimentou o animalzinho, curiosa, com a marca que nasceu um pouco acima da sua cintura, era um tanto nojenta a marca que parecia um mamilo. Havia dado primeiro leite na mamadeira para seu bichano, leite feito de uma mistura especial para gatps que o pai dela comprou numa clínica veterinária.
Mas agora o gatinho se vinculou a ela, sugando da marca de Madeline, com ela deitada na cama e a menina se sentiu estranha. Madeline analisou Dantalion, um tanto envergonhada que ele assistisse a cena, da camisa dela erguida, enquanto o gato a sugava. Era como amamentar uma criança.
— Por que sumiu quando minha mãe entrou no quarto, mestre? — O indagou, impetuosa.
— Humanos podem me ver agora. Temos que tomar cuidado. Sua mãe já sabe do nosso pacto. — Dantalion a deixou ciente. Madeline achou certa graça inoportuna. — Acho que é temporário, mas... bem, podem me ver. E é melhor evitarmos que seu pai me veja também, sei que ele importa para você e saber da perdição da sua alma pode não deixá-lo feliz. Mas o lado bom é que não precisa olhar para seu reflexo para me enxergar ao menos por enquanto. — Dantalion comentou com Madeline.
A menina notou que a voz dele não estava mais só na cabeça dela, mas ecoava por seus ouvidos e a vibração da voz dele eram como carícias deliciosas. O familiar de Madeline, se afastou da marca dela quando satisfeito. E se acomodou da na almofada da cama, lambendo a pata e fazendo da almofada sua caminha . Madeline acariciou a cabeça do gatinho por trás das orelhas dele, empolgada.
— Ele ainda é filhote. Não tem problema mesmo eu alimentá-lo assim? — Indagou a Dantalion.
— Você é a mãe dele. Ele precisa se alimentar de você para crescer bem. É como um bebê humano, mas ele se alimenta da sua energia. — Dantalion a respondeu calmamente. A marca que antes se assemelhava a um mamilo, se encolheu, virando uma pequena verruga. Madeline analisou a mudança curiosa, mas então focou-se no gatinho que dormiu com seu afago.
— Durma, meu doce bebê. — Ela falou meigamente para o seu gatinho, esquecendo-se da outra presença.
Dantalion a estudou calculista, ainda estava impressionado por estar materializado sem ser através das palavras dela, mas pela força do desejo dela em vê-lo. Só o desejo dela. Ela o queria tanto assim para conseguir materializá-lo no plano físico sem uma âncora ou boneco voodoo?
Madeline sentiu que foi afastada do gatinho, com a mão de Dantalion em seu pulso, a fazendo sair da cama e ficar em pé de frente a ele. O beijo em seus lábios então ao qual respondeu ardentemente. Recebeu as carícias e beijos de Dantalion, confusa, tocando o rosto dele com a mão.
— Precisa de mais energia? Se sim... Podemos fazer no banheiro... Na frente do bebê não.
— Gostou do nosso bebê, querida? — Dantalion questionou gentil, colocando uma mecha do cabelo da moça para trás da orelha dela, charmoso. Entendeu como Madeline funcionava, ela era intensamente romântica e toda meiga. Não através do ego e da servidão como a maioria das bruxas, que conjuravam demônios como meros servos. Ela não queria um servo astral pronto a realizar todos os caprichos dela para ter sua alma especial no fim. Queria um amigo, um amante, um confidente e alguém com quem podia desabafar. Poderia ser isso dela, se conseguisse a alma dela no final. Demônios costumavam se humilhar por menos. E até Lúcifer estava interessado na alma especial de Madeline.
— Eu amei! — Ela respondeu vermelha, ofegante e desviando os olhos dos dele. — Ele é lindo. O nosso bebê. — Ela falou insegura.
Dantalion ofegou com tanta fofura e a beijou de novo. Dessa vez, encontrou a língua dela e suspirou quando a menina gemeu. Deixou as garras irem aos fios dela e aprofundou a carícia das línguas. As salivas se juntaram, o deixando ainda mais forte. Madeline parou o beijo e lambeu o pescoço dele.
— Hm. — Dantalion deixou escapar. Os olhos inocentes dela ganharam, de novo, o brilho da corrupção e ficaram vermelhos pela magia inconsciente. Ele viu a magia dela no plano espiritual e era rubra e impregnava tudo o que ela tocava. — Preciso agora que me prometa algo, querida. — Dantalion começou calmo contra o pescoço, vendo os pelos da nuca dela arrepiados. — Caso se vincule a outro demônio... Não o trate como me trata! Eu devo ser o seu...
— Eu já tenho você. Por que conjuraria outro? — Madeline questionou-o, cortando-o, genuinamente, confusa. — Eu li sobre todos, antes de escolher você. Eu soube que era exatamente aquele que eu precisava. Foi tipo o tinder dos demônios e eu te dei match e você me deu match. — Ela brincou.
Dantalion não esperava essa resposta jovial dela.
Mas ela ainda era muito ingênua e menina para entender. Não sabia o que estava fazendo ainda cega pela ganância e pela promessa de que seria grande, sim, ela seria grande, mas isso vinha com consequências. Quando o horror do que fez a acometesse, ela ia odiá-lo quando percebesse que não ia se livrar dele tão fácil quanto foi conjurá-lo. Sempre acontecia, aqueles que faziam pacto tentavam se afastar depois e se esconder por trás da cruz. Mas ele não a daria paz.
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Atualizado até capítulo 82
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