Rebecca apareceu na varanda. Encarou a mãe jantando a luz de lamparinas e velas e o mordomo sem muita paciência. Usava um elegante vestido rosa, um relógio de ouro com diamentes bonito no pulso fino, tinha o cabelo loiro longo e os olhos castanhos. Tinha um corpo esguio, mas curvilíneo. Uma moça muito linda realmente.
— Posso saber por que raios você cancelou meu cartão de crédito? Eu estava com minhas amigas no bar e paguei o maior mico. — Rebecca começou controlada, mas batendo o pé no chão com impaciência.
— Não fui eu, querida. Deve ter sido seu pai. Você veio aqui só para isso, Rebbeca? — A voz fria de Gertrudes tentava conter a decepção.
— Foi sim, mãe! Por que? Não é motivo bom o suficiente? Eu me mato de estudar para vocês não encherem minha paciência, vocês que disseram que iam arcar com os meus custos se eu passasse para medicina, fiz isso, agora quero curtir um dia da minha juventude e dá nisso, mamãe. — A menina reclamou. — Inacreditável.
— Entendi, entendi. Vou ligar para o banco amanhã e resolver isso. Use o meu cartão enquanto isso. — Gertrudes respondeu a filha. Lançou um olhar entristecido para Azazel.
— Tá bem. — Rebecca falou mais calma, foi até a mãe e a beijou no rosto com gratidão. Becca analisou o mordomo com desdém. Não gostava mesmo dele. Ele a causava calafrios desde menina— Devia cortar esse cabelo, Azazel.
— Filha! — Raiou Gertrudes.
— Que foi mamãe? — Rebecca a sondou com real dúvida. Não entendia porque sua mãe parecia o temer tanto. — Dizer a verdade agora é crime? Ele é só um mordomo que parece um vampiro, deve seguir minhas ordens!
— Devia chamar sua prima para passar as férias conosco. — Gertrudes sugeriu de repente, quando sentiu o pingente em seu peito pesar como uma ameaça. — Ela ainda gosta de escrever? Ela foi sempre bem fantasiosa.
— Por que chamaria a esquisita da Madeline para vir para cá? Eu não. — A menina se negou impetuosa. Rebecca sentiu o olhar repreensivo da sua mãe. — Mãe, eu a protegia enquanto ia para a mesma escola que ela, mas ela não se ajudava e era tão diferente. Isso não é suficiente? Ela é tão esquisita. Nem tem amigos. Ninguém suporta ela e aquela cabeça maluca dela. E sempre que ela fala com alguém é sem paciência, como se interagir com pessoas da idade dela fosse perda de tempo e só as personagens que cria fossem dignos de sua atenção.
— Por que implica tanto com ela?— Azazal perguntou curioso e impetuoso a menina a sua frente, Gertrudes o lançou um olhar de aviso. — Você gostava de brincar no mundo que ela criava bem aqui nessa terras. As poucas vezes que a vi, gostei bastante dela, sempre me respeitou e me tratou bem até quando queria pedir algo era sempre doce, você por um tempo até agiu como ela, sendo mais suportável e menos mimada. — Ele lançou um olhar assassino a Gertrudes. — Ela é o tipo de pessoa que o mundo não compreende, mas quer imitá-la. O tipo de pessoa que corta as outras com a espada da verdade só por ser autêntica a si mesma.
— É, pode até ter um lado bom. Mas ela deve viver isolada porque é sem tato algum para lidar com as pessoas. Ninguém é bom o bastante para ela. Vive no mundo de fantasia dela, querendo diálogos excitantes e algo que a apaixone. Não tem nenhuma disciplina. Só quer o que a satisfaça.— Debochou Rebecca e apenas respirou fundo. — Pobre da tia Ângela, que teve que dar a luz a alguém tão inútil e fraca. Viu só mamãe?! Outro motivo para você aumentar minha mesada… eu fiz a sua irmã ter inveja e desejar ter uma filha estudiosa como eu.
— Não fale essas coisas, filha. Sua prima é só diferente e…
Gertrudes estava pensativa agora. Azazel a estudou de volta e falou telepaticamente:
É a Madeline! Não percebe? Você ignorou todos os sinais cega por sua ganância. Isso é divertido. Em toda sua petulância tentou me preparar Rebecca a exigindo boas notas e que ela fosse a melhor em tudo, mas é Madeline que tem o dom e o talento. É a criança que você sempre ignorou e menosprezou quem herdou o dom. Eu a quero! Só se eu a tiver, vocês não irão perder tudo o que construíram com minha ajuda. Ela é a verdadeira herdeira. Tente me empurrar Rebecca novamente e eu destruo tudo o que construímos a fogo e sangue. Sua filha não é tudo isso no espiritual para eu ter que aturá-la me dando ordens como aturei você. Ela pode até ter o mundo as pés dela, mas assim como foi com Ângela, nenhum demônio que se preze quer alguém que apenas se esforça. Talento e dom não se compram.
— Mãe! Quem é sua filha, ela ou eu? Você sempre a defende! — Rebecca falou cansada e exausta. Os olhos se encheram de lágrimas.— Eu te dei orgulho, os prêmios e as melhores notas. O que mais você poderia querer? Sou uma boa filha.
— Você é uma boa filha. — Gertrudes se levantou da mesa e abraçou sua prole, a encheu de beijos. — O mundo não é mesmo justo. Exigi tanto de você. Mas pelo menos sei que vai ficar bem por ser tão inteligente.
— Rebecca, Rebecca — O mordomo tomou a palavra. — Nunca te disseram que orgulho demais é a queda do homem? Fez isso por sua mãe ou por si mesma? — Ele comentou com certo humor. — Sua prima já deve estar completando os dezesseis anos.
— Sim, e o que isso tem a ver conosco? — Rebecca rosnou quase, acalentada nos braços de sua mãe.
Rebecca abraçou sua mãe bem forte, o corpo de ambas colado e sentiu os beijos de Gertrudes em sua bochecha. A menina sorriu derretida com o afago de sua mãe em seu cabelo como quando era menina.
— Mamãe ama essa princesa. — Gertrudes garantiu roçando o nariz no delicado e empinado dela. Rebecca se aconchegou mais a sua mãe sorrindo.
— Você teve uma festa de princesa com toda a família e as mais respeitáveis famílias de Nova Orleans. — Azazel comentou com a menina e com Gertrudes friamente. — Sua prima merece uma também. Acho que sua avó ia querer isso para ela. — Ele deu a deixa para Gertrudes.
— E a mamãe que tem que ofertar? É isso o que está dizendo seu maldito? — Rebecca rosnou.
Gertrudes a abraçou. Beijou-a na testa, adulando-a.
— Eu vou ofertar um baile de máscaras de qualquer forma. Pode ser a festa da sua prima então. — Gertrudes acatou a ordem do demônio familiar que as seguia por gerações, para o rancor dele diminuir. — Me ajude com isso, princesa. — Pediu Gertrudes cansada acariciando os fios cor de ouro de Rebecca. — Me ajude a apresentar sua prima a sociedade.
— Sim, mamãe. Mas lembre-se sempre de que eu sou sua filha. — Rebecca exigiu dengosa e tocou o rosto da mãe. — Você é minha e só minha.
Gertrudes sorriu.
— Claro que sim, querida.
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Atualizado até capítulo 82
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