Talento e dom são mesmo coisas que não podem ser compradas? Foi essa a piada do universo em lhe dar uma filha tão inteligente e racional? A de que sim, Rebecca conseguiria tudo no mundo material, mas em troca ela não podia ter acesso ao mundo sobrenatural?
Sim, ao que parece! Tentou fazer Rebecca ser a herdeira perfeita, mas ela não tinha o crucial. A alma pura e criadora! Era assim que Deus gostava de jogar e o Diabo também? Fazer Gertrudes tentar fazer Rebecca adquirir o dom através da disciplina, esforço e dedicação para tudo ser em vão?
As habilidades adquiridas da sua filha amada eram mesmo nada quando colocadas contra uma alma que teve a sorte de nascer com o dom da escrita e sensibilidade nata para o espiritual e passional? A vida era mesmo cruel assim?! Dando dom a uma e a outra tendo que se matar no esforço! Por que não podia ser Rebecca, a herdeira? Ela, sua bela prole, que se esforçou tanto e era tão inteligente, mas perdeu, quando colocada contra uma garota guiada pelas paixões humanas e sem nenhum pingo de foco e confiança em si mesma. Por que tinha que ser a erudita da Madeline? Por que ela tinha que sentir além em sua imperfeição e ser o que Rebecca em sua perfeição não podia ser? Era esse o paradoxo universal! Ou foi porque Rebecca queria se igualar a Deus em sua inteligência, que não podia ser o humilde o suficiente para acreditar em algo além de si mesma? É errado acreditar só em si mesma?
Madeline era uma alma quebrada. Então por que Azazel a queria? Aquela criança que ficava deslumbrada pela riqueza da tia e invejava a prima secretamente?
A loira estava, impaciente, sentada no sofá de plástico preto, daquela casa pobre se comparada a sua mansão elegante no interior. Azazel ficando mais e mais desrespeitoso a cada dia e seus poderes para controlá-lo estavam enfraquecendo. E ele exigia por uma líder forte ou tudo que os Delacour conquistaram pelo pacto se voltaria contra eles!
Gertrudes odiou Madeline profundamente quando a viu descer a escada, e sentiu a violência da onda de intimidante poder que a fazia se sentir um nada perto daquela simplória menina. A inveja a possuiu e era gigantesca. Como? Como ela sendo quem era e tão fraca psicologicamente conseguiu ter tanta força espiritual? Por qual razão?
A odiou como nunca odiou alguém em toda sua vida! E agora com a aparição do ser prateado como um anjo ao lado de Madeline, mesmo que um das trevas e a constatação da prepotência de Madeline em conjurar um dos setenta e dois demônios mais poderosos e ter conseguido a atenção dele sem precisar do poder de todo um coven para isso, o ódio tornou-se um grito engasgado na garganta. O sorriso vitorioso de Ângela por causa de Madeline, a irritou ainda mais, a dando uma dor de cabeça infernal.
— Madeline, você vendeu sua alma a um demônio? Não tem vergonha de mostrá-lo a sua mãe e a mim?— Gertrudes começou acusadora.
A pergunta certa que Gertrudes queria fazer era: Como o demônio aparecia a elas, sem ter algo mágico o ancorando ao mundo humano? Era a própria Madeline a âncora que o materializava na terra? Ela e a força do desejo dela? O que no inferno era aquilo?! O que era essa garota? A mente dela era tão fértil para conceber feitiços tão poderosos sem ao menos falar ou usar de um objeto? Era só o inconsciente dela sem precisar do coletivo de suas irmãs de coven? Ela era a bruxa solitária que não precisa de coven da lenda?
— Não tenho vergonha. Mamãe já sabe sobre ele. E honestamente tia, você não importa o suficiente para mim para sua opinião me afetar. — Madeline respondeu inalterada e defensiva, com uma careta. Agarrando mais ao seu gato bem protetora, e o gatinho mirou Gertrudes e miou ameaçador a ela com todos seus pelos eriçados. A bruxa mirou a criatura de volta, mas no mundo humano o que aparecia como um gato, no mundo espiritual era uma pantera negra. E Gertrudes viu e temeu a própria sobrinha. — Não tenho vergonha alguma. Do que vergonha adianta? — A menina raiou e arqueou a sobrancelha, confrontando sua tia que por anos alimentou o senso de inferioridade dela sempre repetindo e repetindo o quanto Rebecca era perfeita. — Eu precisava de ajuda. — Madeline falou sem voz e a voz estava embargada. — E primeiro, fiz como ensinaram, me coloquei de joelhos e implorei a Jesus. — Ela sorriu amarga. — E então, quando não tive resposta alguma, pedi a algo mais profano porque não tinha nada a perder, eu já estava morta por dentro. Duque Dantalion foi quem respondeu minhas preces desesperadas mesmo com um feitiço tolo que peguei da internet e por isso ele tem o meu respeito.
Azazel analisou Madeline, surpreso. Ela chamou um deles numa prece? Ela era maluca ou o quê? Dantalion se manteve inalterado.
Dantalion apenas se manteve quieto ao lado de Madeline protetoramente. Acariciou o cabelo de Madeline e a beijou no pescoço a acolhendo em seu abraço sob o olhar atento de todos. E a menina o estudou contendo seus doces suspiros para si.
— Minha adorada. — Dantalion começou ternamente, dando a Madeline um respeito incompreensível para Gertrudes, coisa que irritou mais a mulher loira. — Não tem que explicar a ela, nada da sua conquista sobre mim, minha mãe infernal. Eu vim até você e pronto.— O demônio a notificou docemente e lançou um olhar a Gertrudes matador. — Na verdade, princesa… é ela que te deve as respostas e deve afirmar porque veio aqui. É ela que precisa de você, minha amada. Não o contrário. Ela precisa do seu poder para conter a fúria de Azazel !
Ângela apenas se divertiu com a fala de Dantalion enquanto encarava a irmã que crispava os lábios.
— Está mesmo vinculada ao duque, Madeline? Esse gato é o seu familiar? — Azazel a sondou educado.
— Meu bebê! — Madeline corrigiu protetora com o gatinho em mãos.
— Bebê? Você ao menos tem noção da coisa que segura nos seus braços? — Gertrudes indagou e arqueou a sobrancelha. Essa era nova. Ela bufou impaciente. — Está brincando de casinha com um demônio? — Gertrudes debochou.
Madeline se sentiu mal. Abaixou a cabeça com os olhos cheios de lágrimas por seus sentimentos serem expostos e beijou seu gato sem responder a provocação. Não podia responder. Gostava mesmo de Dantalion.
Dantalion surgiu atrás de Gertrudes puxando o pingente de diamante e a corrente de ouro que o sustentava a sufocando impiedosamente.
— Eu posso matar você aqui e agora, se não respeitar a minha conjuradora, sabia? — Ameaçou-a ele num rosnado. Ângela analisou a servidão dele a Madeline, surpresa. — Se ela brinca de casinha comigo ou não, se ela tem afeto ou não, não é da sua conta. E não há nada que Azazel possa fazer para me impedir de te matar! No inferno há uma hierarquia e eu estou dois degraus acima da dele. Entendeu ou quer que eu desenhe com seu sangue nesse chão sua vadia egoísta e presunçosa?
— Entendi. — Gertrudes rosnou com a voz esganiçada. — Entendi- — Repetiu vermelha e tossindo.
Dantalion a soltou e voltou para trás de Madeline e abraçou-a.
Azazel apenas deu um risinho. Analisou Madeline com ligeiro fascínio. O jeito que ela tratava Dantalion era mesmo muito apaixonado. Ela estava apaixonada pelo demônio então e não pelo poder que ele podia dar? Ela era gananciosa, mas o jeito que protegia o familiar que Dantalion a cedeu era maternal e não medroso. Uma mãe com seu bebê. Se a desse um familiar ela também seria tão meiga e protetora com ele? Ficou curioso a esse respeito. Dantalion ia para debaixo das cobertas com ela? Madeline deixava ele tocá-la intimamente? Ela gostava tanto assim dele? O estimava profundamente não como um gênio da lâmpada, mas como um amante? Ela não o usava como objeto mágico para saciar seus caprichos? Ela o alimentava com energia sexual, saliva e sangue… da forma como podia, só para ele não enfraquecer e e sumir? Nenhuma das bruxas Delacour soou a ele tão bela quanto esta menininha que não percebia o próprio poder.
Ângela deu um ultimato a Gertrudes que ainda tossia:
— Esposa de Satã… Diga o que quer com minha filha de uma vez ou então saia da minha casa! Porque para você, a porta da rua é sempre será a serventia da casa, querida irmã.
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Atualizado até capítulo 82
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