Acordando

Marina ainda não abriu os olhos, com medo do que poderia encontrar de ruim, caso saísse daquele sonho tão bom.

— Você não está sonhando, demorei, mas consegui te encontrar, estamos em uma grande enrascada e preciso de você, Marina. — Disse Soraya, notando que o Alfa mal se aguentava quieto.

— Porquê não pegamos ela e damos logo o fora daqui? — Perguntou ele.

Marina escutou tudo aquilo e resolveu abrir os olhos e acordar. 

— Isso, querida, olhe para mim, sou eu, Soraya. 

— Não pode ser… Soraya… — Marina esticou a mão e pousou no braço de Soraya e quando Soraya pensou que tinha sido reconhecida, recebeu um beliscão.

— Aaaaashhhhh! Porquê você fez isso?

— É você mesma, está aqui. Soraya! — Marina sentou-se e se jogou nos braços de Soraya, chorando.

— Sim, querida, estou aqui, agora se acalme, trouxe algo para você comer. — Afastou ela de si e encostou-a de lado na parede. 

— Me  sinto  tão  fraca.

— Não se deixe enganar, estão te torturando a dois anos. Coma. — Disse Soraya lhe dando um sanduíche.

— Tenho  sede…  

— Toma, beba. — Soraya lhe deu um copo com água de côco.

— Tem pra mim também? — Perguntou Douglas.

Marina ouviu aquela voz grossa, potente, mas baixa e se arrepiou, ficou parada, tentando sentir sua loba, mas não sentiu nada. 

— Não era para você, mas trouxe vários, pra prevenir. Venha aqui pegar. — Disse Soraya e Marina sentiu ele se aproximando.

Douglas não queria chegar muito perto, pois depois de dois anos, praticamente morando naquela floresta, a procura dela, tinha medo de não conseguir se controlar e ela estava muito enfraquecida. Esticou a mão e pegou o sanduíche, comendo rápido, pela fome e pelo tempo que passou só comendo caça.

— Oi, quem é você? — Perguntou Marina.

Ele não olhou para ela, ainda se virou de costas e respondeu:

— Douglas. Chefe de polícia que estava tentando encontrar você e encontrei.

— Porque você não olha pra mim?

Ele soltou um grunhido, que alertou Soraya. Ela olhou para Marina e percebeu o receio dela, lembrou que sua loba estava presa e correu para pegar o molhe de chaves. Foi testando uma a uma e conseguiu soltá-la, retirando e afastando dela, as correntes de prata. Marina recebeu um solavanco que ondulou seu corpo e sentiu sua loba. Respirou fundo e sentiu o cheiro do macho Alfa.

— MEU!

Douglas se virou e olhou finalmente para Marina, encarando aqueles olhos fundos, cheios de olheira, mas que brilhavam, olhando para ele.

— MINHA!

Soraya pegou a mão de Marina e forçou-a a levar o sanduíche à boca e comer.

— Aaaaai! Não é momento para isso, você tem que comer Marina, precisa ficar forte para podermos sair daqui.

Foi como não falar nada, Douglas foi até Marina e a pegou no colo, com cuidado e encostando o rosto em seu pescoço, inspirou fundo, enchendo o peito com o cheiro mais maravilhoso do mundo. Menta com canela. Lembrava-o das tortas que sua avó fazia, com bananas ou maçã com muita canela. Levantou-se e marchou para fora da cela, com Soraya recolhendo a comida que levou e correndo atrás dele. 

Douglas seguiu direto pelas escadas, chegando ao salão e subindo a outra escada, seguindo direto para os quartos. Como ele conhecia tudo? Pensou Soraya, será que ele já tinha andando por todo lugar, como ela. Ele estava dentro da cela e a porta estava aberta, quando ela chegou. Entraram em um dos quartos que estava arrumado, mas não parecia usado, como o que ela pegou para si.

— Quando você chegou, como entrou no castelo? — Ela perguntou enquanto assistia ele deitar Marina na cama, com cuidado.

— Acho que entrei como você, só que eu já estava dentro. Encontrei um alçapão e estava abrindo ele, quando senti um pulso e o castelo apareceu, foi muito rápido, mas quando sumiu novamente, eu estava dentro dele, caí pelo alçapão, com o susto. Estava no porão, no topo da escada que leva às celas, desci e vi Marina presa, peguei a chave na parede e abri a cela, mas não podia soltá-la, por causa da prata.

— Você percebeu que tem uma câmera lá? 

— Sim e foi por isso que saí de lá, subi as escadas, vi as doidas correndo atrás dos animais e aproveitei para procurar onde era a sala de vídeo e foi então que vi você e soube que você daria conta melhor do que eu, pois logo depois, ficou invisível. Então desci e fiquei na sombra da cela esperando.  

— E sem pensar, pegou ela no colo e saiu andando até aqui, sei. — Ironizou Soraya.

— Você, por favor, parem e me dá mais comida, Soraya. — Pediu Marina.

Rapidamente Soraya lhe deu a caixa de água de coco e outro sanduíche.

— E eu? — Cobrou Douglas.

— Você é muito narcisista. — Disse Soraya, lhe passando outro sanduiche.

— Isso é tão bom, não sei como não morri, passei tanto tempo sem comer. — Disse Marina.

— Sinto muito, querida. Elas te torturaram mentalmente e quando você não aguentava e desmaiava, elas te colocavam soro com barbitúricos. Você dormia por muito tempo, mas hidratada com soro. — Explicou Soraya.

— Mas o que queriam com isso? — Perguntou Douglas, procurando por mais sanduíches.

— Também quero saber e deixe mais para mim. — Falou Marina, brigando com Douglas, que encontrou os sanduíches e deu logo um para ela.

— Quando sairmos daqui, vou te mimar muito, minha fêmea. — Sorriu ele

— Antes temos que conseguir sair daqui e só temos uma semana para fazer isso ou menos, se essas duas derem com a língua nos dentes.

— Quem são e o que fez com elas? — Perguntou Marina.

— Duas bruxas que estão sendo suas algozes. Estão presas no quarto audiovisual.

— Elas viram a gente? — Perguntou Douglas, preocupado.

— Não, parei o tempo, lá dentro. Elas estão vivendo um loop. 

— Você é incrível, Soraya. O que precisamos para sair daqui? — Perguntou Marina, que já se sentia bem melhor, com sua loba doida para sair e ir caçar. 

— Preciso fazer um feitiço com sangue de lobo e bruxa.

— Então você precisa do meu sangue.

— Não vou deixar você tirar o sangue dela. — Rosnou Douglas.

— É claro que não, pelo menos, não agora. Posso usar o seu, com o de uma das bruxas. Elas pensam que não podem usar magia aqui dentro, teem medo de afetar a proteção e ocultação do castelo. 

— Eu só preciso comer mais proteina, carne, minha loba tem fome, está muito fraca por ficar tanto tempo sem comer.

— Vou buscar pra você, tem muita na cozinha, só não mexi em nada por causa das bruxas. — Disse Douglas.

— Traga congelada mesmo, tem bandejas grandes lá, eu descongelo aqui. — Falou Soraya.

Douglas saiu e Soraya aproveitou para conversar com Marina, coisas que não tinha terminado de contar.

— Estão todos atrás de você, mas quem te sequestrou e prendeu aqui, quer uma coisa que só você tem, mas que está presa aí dentro. Selada. Só você, com muita raiva e revolta, pode quebrar. Se esse poder sair, pode te dominar, dominar o bem que há em você ou encontrar outro hospedeiro. Não sei qual dessas coisas ele quer, se possuir o poder ou dominar você para te usar com o poder do mal. Só sei que, pelas minhas contas, só falta uma barreira para o selo quebrar.

— E não tem como eu conseguir controlar esse poder?

— Nunca ninguém conseguiu e nem dominou. Esse poder que você absorveu, estava dividido em três bruxas gêmeas e só passariam para três irmãos gêmeos, no seu caso, você absorveu todo o poder, não dividiu com seus irmãos. Assim, ele precisou ser trancado e selado, dentro de você, eu estava lá e ajudei a fazer isso. Agora estamos em uma encruzilhada e não posso fazer nada, quem decide é você.

— Entendi, preciso me alimentar e pensar. Examinarei todos os dados que tenho e o que poderá acontecer e decidirei. Afinal, a vida é minha, o poder é meu, as magias, branca e negra, me escolheram, algum motivo tem. 

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