A Quebra

Marina correu sem direção, até que chegou ao cemitério e parou em frente ao local onde estava o antigo mausoléu da bruxa morta e destruído por seu pai. Estancou ao sentir uma dor profunda e aguda em seu peito, como se uma adaga o perfurasse. Raios de luz azul começaram a escapar de seu peito, como se houvesse uma brecha nele.

Como em uma explosão, a luz se expandiu e clareou tudo à sua volta, como em um pico de energia que se expande em ondas circulares. Ela entrou em um transe e seu corpo flutuou, com seus braços abertos, subiu a uma altura de três metros e rodou ao redor de si, de forma lenta. Seus ossos começaram a estalar e seu corpo transformou-se ainda flutuando.

Ramón parou ao perceber que algo diferente acontecia e foi se aproximando aos poucos. Não voltou a forma humana, pois estaria nu e pelo que estava vendo, logo estaria diante da linda loba de sua filha. Ficou maravilhado ao ver toda aquela magia e a transformação tremenda que ocorreu.

Marina voltou a lucidez e desceu, tocando no chão com suas patas grandes e tentando se olhar, para ver como era a loba. Só conseguiu ver suas longas pernas e lateral do corpo. Era muito alta e grande. Seus pêlos compridos e coloridos de preto e branco, mesclavam as cores de seu pai e sua mãe. Olhou para todos os lados e percebeu seu pai, parado, a observando.

Ramón estava abobado dentro de seu lobo, que olhava a filha com olhos arregalados, mandíbula caída e pescoço virado para cima. Ela era mais alta que ele, cerca de meio metro e seus olhos eram vermelhos, como sangue e pareciam sangue. Olhar para eles era como ver ondas de sangue se movendo e pequenas chamas de fogo, explodindo. Ficou ali parado, admirando a linda loba, até que ela se virou e correu, tão ligeira, que logo sumiu de sua vista.

—" Não venha atrás de mim, preciso de um tempo. Avise a mamãe. Eu não voltarei para a Alcateia".

— " Não nos abandone, minha filha, estamos aqui para você".

Um estrondo aconteceu no local do mausoléu e uma fenda apareceu no solo. Uma risada cavernosa saiu pela fenda e Ramón ouviu claramente a voz da bruxa morta:

— "Agora veremos quem é o mais forte".

Ele se virou e foi ao encontro de sua Luna, teria uma madrugada longa, consolando sua fêmea.

**

A loba mesclada correu muito, em direção leste, se guiando pelas estrelas, até que viu a aurora boreal e sabia que tinha chegado onde queria. Atravessou florestas e rios, até chegar naquele local específico, que tinha visto nos mapas e nos documentos da família. Correu o restante da noite, o dia inteiro e até a meia noite seguinte, para chegar. Estava no alto de um monte, próximo a um imenso lago.

A cabana que procurava, ficava entre o lago e o pico da montanha e de frente para o céu, onde as cores verde, vermelha e lilás se misturavam, bailando festivas. Um espetáculo digno de se parar para admirar e foi o que ela fez. Estava cansada, mas não tinha fome, caçou no caminho e se alimentou bem.

Deitou-se, apoiando a cabeça nas patas dianteiras e ficou ali, saboreando o gosto úmido do ar, a paz e o som dos pequenos insetos noturnos que haviam ali por perto. As luzes continuavam dançando, às vezes lembrando serpentes, às vezes, cauda de dragão. Lindas!

*

" —  Me tirem daqui! Me soltem! "

Sshuahhh

Um balde de água foi jogado sobre o escandaloso.

— Cale a boca, cretino. Se não, nada de comida essa noite. — falou o homem que jogou a água. — Por que não se conforma, como aquele ali, olha só como está quietinho.

O homem deu uma risada alta e se retirou. Subiu uma escada tosca e passou por uma porta, que fechou atrás de si, deixando o recinto escuro.

Era um corredor, com quatro celas de cada lado. Barras de ferro impediam os prisioneiros de saírem. Havia um em cada cela e o mais novo ali, era justamente o que levou um banho d'água.

Estavam na estação fria, mas não a mais fria, se não o homem congelaria.

— Ei, quem é você? Meu nome é Jonh e qual o seu? — perguntou o molhado.

Um grunhido foi a resposta que ele teve, mas não desistiu.

— Porque nos prenderam aqui? O que fazem conosco? Quanto tempo você está aqui? — Continuou as perguntas, até que alguém que estava na cela da frente, respondeu.

— Cala a boca, cara. Ele não vai te responder, está muito ferido e desnutrido. Essa sua voz é horrível para nossos ouvidos sensíveis. 

O homem chamado Jonh, achou aquela voz cavernosa, estranha e amedrontadora, principalmente por não poder enxergar quem falava. Ficou quieto e resolveu deitar no catre que havia na cela. Foi a única coisa que percebeu ali, ao acordar da pancada que lhe deram na cabeça. Estava ali, só para ver a Aurora Boreal, mas se afastou muito do acampamento e encontrou a cabana, quando foi golpeado pelas costas.

Na cela ao lado, Tigor estranhou terem aprisionado um humano junto com eles. Já perdera a conta de quanto tempo estavam presos ali. Assim como os outros, foi pego em armadilhas humanas, traído por seu próprio povo, na verdade, seu beta. Era Alfa da Alcateia da Espanha e havia vencido o torneio instituído pelo supremo, para eleger o novo Alfa, depois que Lionel foi morto.

Era muito novo, só tinha dezessete anos, mas já era muito forte e treinava desde muito novo. Seu pai foi morto pelo antigo Alfa, que desejava a supremacia e matava todos os Alfas que pudesse lhe dar mais poder. Quando assumiu, começou a acertar tudo que o antigo Alfa tinha feito de mal para a Alcateia e o povo começou a ter paz.

Mas os seguidores de Lionel, não aceitavam e queriam as coisas como eram antes, quando abusavam, à vontade, dos mais fracos e necessitados. Agora cismaram que o filho mais novo de Lionel, que ainda estava na escola, tinha que assumir o seu lugar e por isso o entregaram aos humanos.

Todo dia era levado para um outro lugar, depois de ser drogado e lá, foram poucas as vezes que acordou e percebeu alguma das coisas que faziam com ele. Era uma sala grande, limpa, com cheiro de antisséptico e cheia de fios e máquinas. A primeira vez, notou que havia uma agulha em seu braço, ligada em uma mangueira.

Os homens na sala branca, usavam jalecos brancos e quando percebiam que ele estava acordando, injetavam-lhe mais drogas, fazendo-o dormir novamente. Já havia acordado com uma excitação e uma mulher o manipulando até ejacular e colheram suas sementes, quando mais uma vez lhe sedaram. 

Não davam-lhe comida, mantinham-no fraco para que não tivesse forças para tentar fugir. Ali embaixo, não se tinha noção se era dia ou noite, mesmo quando a porta era aberta, a luz que entrava era artificial. Tigor estava exausto, pois acabara de descer do laboratório, quando trouxeram o humano e ficou quieto, ouvindo o homem gritar, reclamar e depois falar sem parar.

Achou que os humanos que o pegaram, não sabiam a diferença entre eles e o prenderam por engano, mas estava tão exausto que apagou, dormiu com um pensamento na cabeça: " aquele humano parecia apetitoso."

*

Marina acordou assustada, havia dormido na relva, observando o bailar das luzes. Estava tendo um sonho estranho e muito real, quando um barulho a acordou. Levantou as orelhas, ainda deitada, para ouvir melhor o barulho e identificou o motor de um veículo. Levantou um pouco a cabeça e viu uma SUV parando na lateral da cabana de sua família e ficou observando.

Mais populares

Comments

Eliane Renata de Oliveira Oliveira

Eliane Renata de Oliveira Oliveira

talvez esse seja o companheiro dela

2024-05-14

0

Joselia Freitas

Joselia Freitas

Tomara que ela salva os prisioneiros😁👏👏💋💋💗💗🌹

2024-05-01

2

New Biana

New Biana

Mariana agora você é uma lenda

2024-04-04

4

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!