Capítulo 18 — O primeiro beijo

Nós nos acomodamos e ele começa a reunião.

— Bom! Daremos início. Melissa defina melhor sua ideia, por favor.

— Então pai, como disse semana passada, vamos propor um concurso com tema livre para apresentação final. Desse grupo o professor responsável irá escolher uma pessoa para então iniciar sua carreira aqui. No caso, a partir de primeiro de fevereiro do próximo ano. Pois, na prática, terminamos o semestre até o fim de novembro e depois entre dezembro e janeiro terão várias pessoas em férias coletivas em nossa empresa. O que acha?

— Pode apresentar a ideia na faculdade então. Tenho certeza que teremos o melhor resultado. Por mim, a ideia está aprovada.

— Gostaria de não participar dessa etapa, pai. Porque não quero que pensem que posso ser privilegiada se ligarem meu nome ao seu. Quero participar como qualquer outra pessoa. E preciso fechar o semestre.

— Tudo bem, minha filha. — Virando-se para mim. — Rodrigo mande um e-mail para a diretoria e eles aprovando, nós iniciaremos o projeto.

— Sim, senhor. — Velho chato. Garota mimada. Ainda tenho que aguentar essa chata, indo novamente abraçar seu pai.

— Obrigada, pai!

***

À noite, na faculdade, antes da aula, Cássio pergunta a Henrique:

— Henrique, tem visto o Fernando?

— Já faz um tempo que não o vejo.

— Ele está me devendo uma grana pela última vez em que passei uma bala para ele.

— Daqui a pouco ele aparece e te paga.

— Se não aparecer, tenho que ir atrás dele. Tenho que prestar contas com meu chefe.

— Quem é seu chefe?

— Não posso falar. Fique quieto que aqueles dois alunos novos estão chegando.

— Você não vai oferecer para eles?

— Vou, mas ainda é cedo.

***

Chego junto a Ricardo na faculdade e avistamos novamente aqueles dois, Cássio e Henrique em atitudes bem suspeitas.

— Ricardo, aqueles dois de novo. Vamos até lá?

— Vamos Vitor.

Nós nos aproximamos e cumprimentamos os dois. Ricardo fica quieto apenas observando.

— Fala rapazes!

Os dois nos respondem. Primeiramente Cássio e depois Henrique.

— Fala Vitor, Ricardo.

— Oi!

Ricardo estando bem sério.

— Olá!

Tento iniciar uma amizade pegando o ponto fraco deles. Mulheres.

— A sala tem algumas gatinhas lindas. Vocês têm relacionamento com alguém lá? Porque se tiverem, nem mexo.

Percebo que Cássio olha com raiva para Ricardo.

— Eu tinha com a Melissa né, mas teu amigo aí já chegou pegando.

Ricardo tem uma reação de raiva pelo, o olhar que já conheço. Ele faz menção de atacar Cássio e eu o impeço.

— Fiquem calmos. Nada de briga.

— Ela deixou bem claro que não tem nada com você.

Cássio cinicamente retruca:

— Pelo menos você deu sorte, agora pode comer ela à vontade. Pois, fiquei sabendo que ela nunca tinha dado.

Essa, nem consigo aguentar. Falo para Ricardo enquanto ainda o segurava.

— Está liberado!

Ricardo dá um soco em Cássio que o faz cair ao chão e fala a ele:

— Nunca mais se refira a Melissa assim seu verme! Entendeu?

Vou até Cássio, que está caído no chão e falo com raiva:

— É cara, você agora exagerou. Mereceu. E deu sorte. Porque eu ainda não teria parado de esmurrar você.

Henrique, olhando assustado para mim e para Ricardo.

— É o clima pesou. Só para constar, quando eu pego é a Carolina. Mas não me importa se vocês quiserem pegar também. Licença, licença.

Cássio ainda no chão, ao ver seu amigo afastando-se.

— Onde você pensa que vai seu idiota? Ajude-me aqui.

***

Chego à faculdade bem na hora em que Ricardo dá um soco em Cássio. Com certeza ele falou alguma besteira. Pelo pouco que o conheço, ele não ia concretizar isso por nada. Ricardo sai daquele ambiente e olha para mim. Enquanto ele se aproxima, vejo Vitor falar com raiva para Cássio caído no chão ainda. Ricardo se aproxima me dá um selinho rápido, faz um carinho em meus cabelos e eu pergunto:

— Amor, o que foi aquilo?

— Ele falou besteira e levou. Só isso.

— Ricardo, você não está a trabalho? Não deveria arrumar esse tipo de briga.

— Melissa, não se meta nisso!

Arregalo meus olhos porque não esperava por essa resposta.

— Como você quiser não me meto mais. — Digo quando me viro para sair e ele me impede.

— Espere.

Virando-me para Ricardo, escuto quando ele fala:

— Desculpe-me, por favor. Eu só não quero seu nome envolvido em nada disso. O que eu puder fazer para te proteger. Farei. Você me desculpa?

— Tudo bem. A aula já vai começar, vamos?

— Você ainda está chateada?

— Sim.

— Pedi desculpas.

— Ok.

— Melissa, eu estava defendendo.

— Se para isso tem que me tratar mal, não precisa.

— Pare com isso.

— Ricardo, eu preciso assistir à aula. Sou uma aluna de verdade.

— Ok. Vamos.

— Vamos!

***

Após a briga de Ricardo com Cássio, avisto Camila chegando, passando por mim abraçada a alguns livros e chamo por ela:

— Camila.

— Oi, Vitor, tudo bem?

— Melhor agora falando com você, já que não ia falar comigo.

— Claro que ia. Só não te vi.

— Sei.

Enquanto falo com Camila, ouço quando Elisa chega logo atrás de mim, pega em meu braço e fala:

— Como pode um homem lindo como você dar ibope para essa garota? Eu e minhas amigas ali. — Diz ela apontando para Carolina e Gaby. — Estamos à disposição para fazer o que você quiser. As três, do jeito que você quiser.

Viro-me e vejo quando Camila ri não acreditando naquela situação. Se bem que nem estou acreditando.

— Não estou ouvindo isso, não é possível! Com licença, Vitor.

Não sei o que me dá, mas vou até Camila e a beijo de repente. Só ouço Elisa se afastar e gritar com raiva:

— Louco!

Camila desprendendo-se de mim olha em meus olhos e grita:

— Solte-me! Nunca mais faça isso! Ouviu?

Ela bate forte em meu rosto e arde imediatamente.

— Ai! Essa doeu e muito Camila.

Só a vejo chorando e pedir desculpas.

— Desculpa Vitor. Desculpa. Meu Deus! O que eu fiz? Não quis fazer isso. Perdoe-me.

Ela sai correndo em direção ao banheiro para chorar ainda mais e eu sem entender chamo por ela:

— Camila, espere-me.

O que foi isso? Nunca senti nada igual antes. Que beijo foi esse?

***

Chego à faculdade, vejo Vitor ao longe e rezo para que ele não veja. Mas ele me chama, conversamos e escuto quando Elisa dá em cima dele. Rio sem acreditar no que estou ouvindo. Até que, do nada, Vitor me beija. Fico sem entender sua reação e bato nele. Não tive nenhuma intenção de bater nele. Nenhuma mesmo. Mas fiquei tão nervosa que bati, pedi desculpas e corri para o banheiro, envergonhada. Chego e começo a lavar meu rosto ainda chorando muito. Não sei como voltarei para a aula e encarar ele. De repente ouço passos e as vozes delas. Das três garotas más. Elisa, Gaby e Carolina. Elas começam a zombar de mim. Ainda choro, minhas emoções estão misturadas.

Ouço primeiro a voz de Elisa.

— Até que enfim a gorda foi beijada. — Não dou valor a sua fala. Realmente é o primeiro beijo da minha vida. Se ela soubesse, iria me maltratar ainda mais.

Ouço a Gaby reforçando a fala de sua amiga:

— Que tempo perdido o do Vitor. Lindo daquele jeito, ficar com uma asquerosa, assim como você! — Desligo a torneira e continuo com a cabeça abaixada na pia quando ouço Carolina se aproximar e falar:

— Que nojo tenho de você! — Ela fala e cospe na pia ao meu lado.

Aquilo me faz subir uma ira, não só por aquele momento, mas por tudo que já passei na vida. Minhas lágrimas voltam ainda mais fortes e saindo daquela posição, olho para Carolina com ódio e vou para cima dela.

— Sua maldita!

— Me larga.

Dou-lhe um bofetão certeiro em seu rosto.

— Hoje você vai aprender a parar de mexer comigo. — Bato nela novamente. — Fique longe de mim, sua miserável!

Carolina começa a gritar:

— Saia de cima de mim, sua gorda. Meninas tirem-na de cima de mim.

Elisa e Gaby ficam apenas observando e rindo e escuto quando

Elisa fala a sua amiga:

— Eu não vou me meter.

— Nem eu.

— Filma isso, tá ótimo. Não podemos perder nem um pedaço.

— Agora. Tá ótimo.

Carolina grita enquanto continuo a bater nela.

— Socorro! Por favor, alguém me ajuda.

***

Já estando em sala de aula. Ouço gritos que vêm de fora.

— Tem alguém gritando socorro. Tá aumentando e vindo do banheiro. Gente. Vamos lá.

Saímos da sala e nos dirigimos ao banheiro.

***

Dou vários tabefes e arranho Carolina seriamente, pois ela fica com várias marcas. Levanto, me recomponho e digo:

— Pronto! Não se meta mais comigo, sua piranha.

Carolina fica sentada e chora.

— Olha o que você fez, sua.

— Sua o quê? Quer mais? Eu não sou piranha igual a você e suas amigas. — Digo com muita raiva olhando para elas. — Sinceramente, acho melhor você procurar outras porque essas não servem para nada.

Elisa e Gaby querendo tentando se aproximar, quando vejo falo a elas:

— Venham e eu acabo com as duas. Acho que a amostra da

Carolina já está de bom tamanho. Não é Carolina?

— Fique longe de mim.

***

Depois que Melissa nos alerta. Saímos apressados em direção ao banheiro. Entro com Ricardo e Melissa. Encontramos Carolina chorando, Elisa e Gaby rindo e Camila toda descabelada com muita raiva. Fico espantando com o ódio que vejo nos olhos de Camila.

— Caramba! Você fez isso Camila? — Ela me olha com raiva. — Acalme-se Camila, não me olhe assim.

— Basta não mexer comigo, Vitor.

Melissa vai até Carolina para ajudá-la a levantar e Carolina grita com ela:

— Vem comigo, eu ajudo você.

— Saiam todos daqui!

Melissa por sua vez.

— Fique aí, então!

Camila com muita raiva direciona-se para as outras meninas.

— Esse foi apenas um recado. Não se metam mais comigo suas piranhas.

Camila sai bufando e nós três ficamos com os olhos arregalados com o que Camila acaba de dizer.

Faço menção de ir atrás de Camila e Ricardo me impede.

— Espere Camila.