Capítulo 07 — Convite

No intervalo, como na outra faculdade, sempre fico sozinha. E também para falar a verdade, não faço questão de ter por perto pessoas querendo me fazer mal ou debochar da minha cara. Penso que é melhor estar sozinha. Fico aqui quietinha bebendo meu suco e lendo que é um dos meus principais hobbies, ler. Fico entristecida como sempre, mas logo passa. Até que, ouço uma voz me chamar.

— Camila!

Quando o olho fico sem ação e logo penso. Ele se lembra do meu nome. Ai meu Deus o que esse deus grego quer comigo? Já estou tremendo novamente.

— Oi… Oi… Vitor… — Respondo sem olhar para ele e logo após esbarro no suco e ele cai em cima do meu livro. — Não, não é possível! O que eu fiz? Como sou desastrada!

Ele tenta me acalmar, mas me deixa ainda mais nervosa.

— Calma, calma, eu ajudo a limpar. Não fique nervosa.

Como se falar isso adiantasse alguma coisa.

— É impressão minha ou você fica nervosa quando chego perto de você?

Arregalo meus olhos e falo a ele:

— Cla… Claro que… Que não! Impressão sua. Sou o desastre em pessoa mesmo. Caio, derrubo tudo que está a minha frente. É algo normal em minha vida. Cuidado se estiver na minha frente, eu posso te derrubar também. — Que merda que eu disse agora? Tento passar um ar sereno e falo uma merda atrás da outra. Nervosa não, tô em pânico. Pelo menos agora o vejo rindo. Significa que ele gostou.

— Você é divertida, isso sim. Fique tranquila, que se você tentar me derrubar, te ajudo novamente.

— Obrigada. — Respondo com a cara mais deslavada do mundo.

— Mas, na verdade, gostaria de saber se podemos ser amigos?

Estranho sua atitude, olho para ele e penso. Eu sua amiga? Hahaha. Por que um homem maravilhoso como você, vai querer ser meu amigo? Crio coragem e pergunto-lhe:

— Você quer ser meu amigo?

— Sim, por quê? Não posso?

— Por… Por nada… Claro que… Que podemos! — Digo respondendo com dificuldade e logo após seguindo meus pensamentos. Meu amigo? Ninguém gosta de ser meu amigo.

Curioso, ele me pergunta sobre o livro e aí, sim, respondo animada sem gaguejar.

— Que livro é esse que você estava lendo?

— Ah! É um livro de romance, mas tem algumas aventuras também. Os protagonistas só se metem em furada. Eu simplesmente amo, tem ação, romance, tragédia. Mas no final acaba tudo bem.

***

Fico impressionado com o entusiasmo dela. Nunca conheci uma mulher tão cativante assim. Doce em suas palavras, em seu olhar e percebo que ao falar do livro, ela não gagueja mais, por isso a instigo a falar mais sobre ele.

— Sério? Conte-me mais.

— Então, nesse aqui tem a história de dois policiais disfarçados.

— Hum! Nossa interessante. — Digo sentando-me próximo a ela e ela continua em sua explicação.

— Eles começam a investigar alguns crimes em uma faculdade, ainda não acabei, mas suspeito que tenha a ver com drogas.

Arregalo meus olhos pela certeza que ela fala sobre a tal história. Se você soubesse menina. Depois, eu comento:

— Deixe-me ver se adivinho. Eles estão se fazendo passar por alunos?

— Como você sabe, já leu?

— Não! É que eu também gosto de livros, filmes de ação. É isso! Já vi histórias parecidas.

Camila aceita minha explicação e olhando para seu relógio ela levanta.

— Ah, sim! Tá na hora de voltarmos.

— Bom conversar com você, minha amiga.

— Também meu amigo. Que amigo.

— Disse algo?

— Não. Nada. Temos que ir.

***

No dia seguinte, eu já estando na empresa de meu pai, presto atenção quando ele me apresenta a um funcionário dele. Uma espécie de braço direito é o que ouço de meu pai. Um homem até bonito, mas não gostei do seu olhar. É um homem diferente. Muito bem-vestido, mas não sinto confiança. Deve ser apenas impressão.

— Melissa, esse é o Rodrigo! Meu braço direito. Chegou hoje de viagem.

Tento ser o mais cordial e educada que posso. Estendo minha mão para cumprimentar ele.

— Muito prazer, Rodrigo!

***

Chego de viagem na empresa e me deparo com a filha do dono. O que essa garota mimada faz aqui? Depois que o senhor Elias nos apresenta e a vejo sorrir, meu pensamento muda. Que mulher linda! Será que está aí meu passaporte para ser dono dessa empresa?

Devolvendo o cumprimento.

— O prazer é meu, Melissa! Seja bem-vinda!

— Seja bem-vindo também! Eu não te conheço de algum lugar?

— Acredito que não, deve ser impressão sua. — Digo sorrindo, mas com medo dela me achar parecido com meu irmão. Isso estragaria meus planos.

Presto atenção quando senhor Elias diz o que está fazendo aqui.

— Rodrigo, esse semestre minha filha vai acompanhar tudo, pois ela termina a faculdade de administração e ano que vem, ocupará meu lugar na presidência.

Fecho a cara quase que instantaneamente. Eles não percebem, ainda bem. Logo em seguida, vejo quando a mimadinha fica emocionada. Se emocionar por algo tão fútil assim.

— Sério pai?

— Sério, minha filha.

— Como estou feliz com essa notícia! — Ela o abraça.

Quanto amor. Estou comovido. Trabalho aqui há três anos, tenho experiência suficiente para ocupar o lugar que deveria ser meu por direito. Fiz tudo para que esse velho confiasse em mim e agora essa garota nem se formou e ele já dará o lugar para ela. Um verdadeiro absurdo! Sendo assim, está na hora de agir. — Depois sorrio com falsidade e digo ao seu pai:

— Que excelente ideia senhor Elias! Fico feliz em trabalhar com sua filha.

— Também reconheço seu serviço Rodrigo. Seu lugar na direção está garantido!

Sorrio, porque é a única forma de convencer o velho, sendo cordial com todos e continuo pensando que o meu lugar deveria ser na presidência, pelo, o que o senhor fez com a minha família. Olho com ódio, mas digo com meu falso sorriso: — Fico muito feliz senhor Elias! Obrigado pelo reconhecimento.

Logo após, ele olha para sua filha, depois para mim e sugere:

— Vocês poderiam almoçar juntos hoje. Quem sabe não podem ser conhecer melhor.

— Pai, eu…

***

Olhando para Rodrigo, eu penso. Não mesmo! Depois que conheci aquele gato na faculdade, você até é bonito, mas não chega aos pés do Ricardo. Ai que homem lindo, é aquele! Sem contar que seu olhar é frio, o dele não.

— Filha, você ia dizer algo?

De repente, meu telefone de toca, sou salva pelo gongo.

— Telefone, com licença. — Me afasto e atendo. — Alô!

— Oi, Melissa?

Não acredito! Mas como ele está me ligando se não dei meu número a ele? Estando curiosa, pergunto:

— Oi, Ricardo? Como conseguiu meu número?

— Digamos ser um segredo. Não posso revelar. — Diz ele com uma voz sedutora.

— Hum! Misterioso. Gosto disso. — Já está me conquistando. Penso.

***

Com essa investigação em andamento conseguimos as fichas de todos os alunos e com isso peguei o telefone de Melissa. Teria como ter de outra forma, mas essa ficha foi muito útil. Não precisei da ajuda de nenhum amigo. Ligo para ela e ela logo pergunta como consegui seu número. Tento passar uma imagem de um homem sereno e misterioso e funciona. Sinto que ela gosta. Mas confesso que não esperava por essa última resposta. Sorrindo, falo qual é a minha intenção ao telefonar para ela:

— Estou te ligando para perguntar se você quer almoçar comigo?

***

Caramba! Exatamente o que eu precisava para escapar do Rodrigo. Aceito de imediato.

— Aceito, claro!

— Posso te buscar às 13h?

— Sim, perfeito!

— Ok, então está marcado.

Quando íamos desligar o celular, eu pergunto:

— Ei, espere! Não lhe dei o endereço.

— Ia pedir sua localização pelo WhatsApp.

— Ah, sim! Passo agora.

— Combinado então!

Desligamos e fico muito animada com esse convite inesperado. Quando me viro, sou encarada por meu pai que está sério. Até parece que ele sabe o que estou sentindo. Bom, geralmente ele sabe. Esses 15 anos em que fui criada por ele, ele aprendeu a me decifrar e até a descobrir o que estou pensando. Às vezes isso é chato, mas por vezes amo. Afinal é o meu pai.

— Minha filha.

— Oi, pai.

— Quem era?

— Um amigo da faculdade. Vou almoçar com ele. — Digo suspirando e pensando em Ricardo.

— Melissa, eu não te falei para ir com o Rodrigo?

— Esse amigo está precisando de mim, pai, não pude negar. — Virando-me para Rodrigo, eu falo: — Rodrigo, nosso almoço fica para outro dia, tudo bem?

— Sim, senhorita. Sem problemas!

***

Rapidamente penso quando ela se desculpa por não almoçar comigo. Fique tranquila, garota mimada, o que é seu está guardado. Muito bem guardado.

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