Um Destino... O Amor!
FREDERICO MOTTA
UMA SEMANA ANTES…
Passei os dedos entre os fios do meu cabelo, penteando-os para trás, e pisquei maroto para o meu reflexo, dando um sorriso satisfeito ao terminar de me arrumar. Sempre fui um homem bastante desejado pelas mulheres e me aproveitava disso para ter várias em minha cama, que se aproximavam de mim não só por interesse sexual, mas financeiro também.
Cresci tendo uma família muito carinhosa, unida e amorosa, mesmo assim, não foi o suficiente para me fazer ansiar ser de uma mulher só, muito menos me casar ou ter filhos; preferia algo mais casual, sem que envolvesse qualquer tipo de sentimentalismo.
Em contrapartida, havia o fato de ter que conviver com os comentários incansáveis dos meus pais sobre a minha escolha de vida. Diziam que não era comum um homem de trinta e oito anos nunca ter firmado um relacionamento sério ou se apaixonado de verdade. Eles não entendiam que foi uma decisão minha, independentemente de tê-los como um exemplo de casal que sabe se respeitar e se ama arrebatadoramente.
Carolina, minha irmã, sempre idealizou ter alguém em sua vida, assim como os nossos pais eram, e seu desejo se realizou há muitos anos. Ela tinha uma família incrível! O Diego, meu cunhado, não podia ser alguém melhor, afinal, desde quando se envolveram, sempre deixou bem claro suas reais intenções com minha irmã e, passados um pouco mais de dez anos que estavam juntos, isso não mudou, pelo contrário, ainda era possível ver, através dos olhares que trocavam, o quanto o amor que nutriam pelo outro só aumentava.
Eu era muito feliz pelos meus pais serem tão apaixonados um pelo outro, bem como a minha irmã ter sua linda família, mas não desejava o mesmo. Desde que terminei o colegial, me tornei uma pessoa totalmente focada em meus estudos a fim de alcançar todos os meus objetivos e, agora, olhando para trás, vejo que consegui cada um deles e me sentia realizado, principalmente por ter me esforçado bastante ao longo da trajetória de vida. O engraçado disso tudo é que não importava se tivesse tornado todos os meus sonhos em realidade, nada aplacava a ideia absurda do meu pai Antenor e muito menos da minha mãe Glória de serem presenteados com um filho meu.
Claro que como pais eram felizes pelas minhas conquistas, no entanto, não paravam de encher a minha paciência com frases do tipo: “Do que adianta ser bem-sucedido financeiramente, se a vida amorosa não existe?”. Eu tinha quase quarenta anos, porra! Será que eles nunca entenderiam que o que queriam não era e nunca seria o meu anseio?
Como pais, deveriam apenas aceitar aquele fato e ponto-final, mas não era bem assim.
Admito levar na esportiva suas cobranças, porque sabia que não adiantaria bater de frente ou querer fazê-los entender que não desejava nada daquilo. Muitas vezes, o motivo de eu preferir ficar mais em Porto Primavera do que em Val Verde era justamente para não ter que ouvi-los me cobrando algo que não aconteceria da minha parte e já havia deixado bem claro diversas vezes, o que não davam a mínima.
Fora essa parte, eu tinha um nome a zelar. Por mais que não estivesse mais exercendo como advogado, havia a Divertium, onde era sócio do Edgar, além de a maior parte das ações na empresa do meu pai. Podia viver mediante a regalias por conta disso, o que mais poderia desejar?
Uma mulher só? Por que me atrelar a uma única se a cada dia podia estar em companhia de uma diferente? Definitivamente, não!
Me apaixonar estava fora de questão.
Deixei meus pensamentos de lado ao parar diante da mesinha de cabeceira ao lado da minha cama e pegar o celular, enfiando-o no bolso da bermuda jeans, saindo do meu quarto. À medida que descia as escadas, a campainha foi tocada e me apressei para abri-la ao atravessar o hall.
— Como vai, irmão? — Carolina, minha irmã, que era apenas dois anos mais velha do que eu, me cumprimentou com um sorriso imenso, e a abracei com cautela por conta da sua barriga grande. Ela estava à espera do seu segundo bebê e era um menino. Ganharia daqui a uns dois meses, se não me falhava a memória.
— Vou bem e o bebê? — sondei, afagando sua barriga grande.
— Melhor impossível! — exclamou e sorri.
— Oi, tio! — falou Alice, minha sobrinha.
Abaixei-me ao abrir um pouco mais a porta, oferecendo-lhe um abraço, e ela enroscou seus braços ao redor do meu pescoço.
— Estava com saudades, tio! — expressou, fazendo meu coração aquecer no peito e intensifiquei um pouco mais o nosso abraço.
Alice tinha nove anos e era uma garota linda e incrível, assim como minha irmã.
— Jura? — questionei, olhando em seus olhos azuis quando nos desvencilhamos.
— Sim! — exclamou e riu. — Quando mudará de vez pra cá? A vovó disse que logo ficará aqui. — Olhei para Carolina, que deu de ombros.
Franzi o cenho, voltando a olhá-la.
— A vovó disse? Quando? — inquiri, curioso pela resposta.
— Ontem à noite, no telefone — mencionou.
— Hum… — murmurei.
Meus pais estavam aproveitando sua última viagem. Ambos aproveitaram que meu pai finalmente se aposentou da cadeira presidencial da empresa e tiraram um tempo somente para os dois curtirem a vida e alguns meses tranquilamente, sem qualquer preocupação. Ao menos, pensava que sim, mas, pelo visto, mesmo longe, continuavam com bastante tempo para contar mentiras sobre a minha vida.
— É verdade que tem uma namorada? — Meus olhos tomaram uma proporção maior que já tinham.
Olhei para minha irmã no momento seguinte, e ela segurou a vontade de sorrir.
— Você sabe como a mamãe e o papai são, portanto, já deveria ter se acostumado com a ideia de que eles não vão sossegar enquanto não o verem casado e os der, no mínimo, dois netos — frisou, e soltei uma baforada de ar.
— De novo essa história? Que po… — Sorri, meio sem jeito ao me dar conta que não era bom ficar xingando na frente da minha sobrinha.
— Fred! — Carolina me repreendeu ao perceber.
Comprimi meus lábios firmemente, condenando-me mentalmente por aquilo, e segurei nas mãos da Alice, voltando a focar meus olhos nos dela.
— Desculpa, o tio não fez de propósito — pedi, e ela riu, assentindo.
— Tudo bem. A mamãe e o papai fazem isso também. — Soltei um riso disfarçado, voltando ao meu semblante sério.
— Não pensa que está conversando demais, mocinha? — minha irmã chamou sua atenção, e Alice firmou seus lábios em linha reta, evitando olhá-la.
Para não estender mais aquele assunto, me pronunciei: — Olha… o titio tem uma vida muito agitada por conta do trabalho, já te disse isso, mas, aos finais de semana, sempre virei pra Val Verde pra ver vocês. E não! Não tenho nenhuma namorada. — Apertei a ponta do seu nariz, e ela riu de modo sapeca.
— Ah, que pena! Isso quer dizer que não terei primos? — questionou.
Ela vivia batendo naquela mesma tecla por conta das paranoias dos meus pais de ficarem inventando que eu tinha alguém em minha vida e não era bom ficar lhe dando falsas esperanças.
— Não — fui sincero.
Fez um biquinho e tentei apertá-lo, porém, se esquivou ao sorrir alegremente.
— Tudo bem que não me dará primos, ao menos agora terei o meu irmãozinho, que logo nascerá. — Olhou para sua mãe, que riu, olhando-a emocionada por conta das suas palavras. — Mesmo que a vovó tenha mentido sobre ter uma namorada, queria que fosse verdade, sabia? Acho que me daria bem com ela — supôs, olhando em meus olhos, e foi inevitável não sorrir.
— Também acredito que esteja na hora de pararmos com essa conversa, não acha? — sugeri com um ar divertido.
Ela riu.
— Tá bom — concordou num tom descontente.
— Vem cá, quero mais um abraço. — Assentiu e nos abraçamos fortemente.
— O senhor promete que virá mais vezes nos ver? Fico com saudades. — Fingiu uma carinha de choro ao nos afastarmos e beijei sua bochecha, o que a fez sorrir outra vez.
— Vou me esforçar para não ficar tanto tempo sem vê-los, o que me diz? — Seu sorriso se amplificou.
— Oba! Ouviu isso, mamãe e papai? — Virou para eles, que sorriram. Meu cunhado estava parado ao lado da minha irmã, calado.
— Ouvimos, querida — Carolina respondeu.
— Olha quem chegou! — Mônica, que era muito mais que uma funcionária da casa, chegou até nós, e Alice correu para abraçá-la.
— Tia Mônica! — Me coloquei de pé, vendo-as se abraçarem carinhosamente e se distanciaram em seguida. — Parece que você cresceu um pouco mais desde que veio aqui pela última vez — comentou.
— Também acho — mencionou e rimos. — Fez meu bolo de chocolate? — indagou.
— Alice! — minha irmã chamou sua atenção.
— Deixe-a, dona Carolina. Fiz sim e bem gostoso. Vamos à cozinha provar — convidou e nem sequer nos olhou, pois saiu praticamente correndo dali.
Sorri e saudei o Diego, meu cunhado.
— Como vai, cunhado? — Demos um aperto de mão e fechei a porta.
— Vou bem, obrigado. — Sorriu abertamente e vi segurar uma bolsa.
— Pode deixar a bolsa em um dos quartos de hóspedes do corredor. A Alice não sairá daqui tão cedo hoje — Carolina disse ao marido, e ele saiu em direção onde ela indicou.
— Lida bem com crianças, não entendo o motivo de nunca ter pensado em ter seus próprios filhos — não evitou comentar.
— Não com crianças em especial, somente com a minha sobrinha, e a resposta está no que acabou de dizer: “nunca pensei”, ou seja, proponho mudarmos de assunto. Bastam nossos pais com essa loucura de quererem me fazer seguir por um caminho que nunca quis, e não será agora que mudarei de ideia — enfatizei.
— Será mesmo? — Observei seu risinho duvidoso. — Talvez haja alguém que te faça duvidar das suas próprias palavras — disse sugestivamente e saiu andando.
Momentaneamente, fiquei parado no meio do hall, mas logo soltei um riso descrente.
— Até parece que logo agora, no alto dos meus trinta e oito anos, me apaixonaria perdidamente a ponto de me amarrar a uma mulher só. Minha irmã parece não me conhecer muito bem. Claro que isso não acontecerá! — comentei, convicto.
UM SEMANA DEPOIS… O clima não era dos melhores. No momento, estava no enterro do homem que foi mais que um grande amigo para mim. Na época, o via como um pai que estava ensinando seu filho a caminhar, mas não na vida, e, sim, pelo ramo da advocacia, além disso, era uma grande referência no meio.
Entristecido e com o coração apertado no peito, olhei ao redor, vendo várias pessoas presentes, não só alguns dos seus familiares, como também os amigos e alguns conhecidos da cidade de Monte Oeste, que não era grande e nem muito pequena. Foi ali, em seu escritório, que aprendi muito do que sabia com o senhor Márcio Castro após passar no exame da OAB e a conclusão do meu curso de direito. Finalizei a faculdade em Val Verde e, por saber que ele era um excelente advogado na área e tão bem requisitado por muitos, não perdi tempo ao comunicar aos meus pais que viria para cá à sua procura.
Meus pais sempre apoiaram minhas vontades e, quando finalmente tentei uma vaga para estagiário para trabalhar com ele e consegui, foi uma grande conquista para mim. Fiz minha pós-graduação na cidade mesmo e permaneci um pouco mais de seis anos em seu escritório, pois foi quando decidi que retornaria para Val Verde e tentaria abrir meu próprio negócio, algo que apostei muito e me saí muito bem. Abri meu escritório, adquiri muitos clientes, o que, de certo modo, ele teve participação, pois sempre me indicava para outras pessoas, além do meu pai também.
Enfim, era difícil de acreditar que o estava vendo em um caixão agora. Márcio morreu em decorrência de um infarto fulminante e, como era bem conhecido, rapidamente a notícia se espalhou e soube através do meu pai sobre o seu falecimento. Fiquei em choque ao ser noticiado, mesmo assim, não pude deixar de vir e me despedir.
Pouco tempo depois, o sepultamento foi dado por encerrado e todos foram saindo, com exceção da jovem que acreditava ser sua filha. Não me lembrava muito bem dela, até porque, quando deixei o escritório do seu pai, ela era apenas uma criança e, agora, uma mulher, e não pude deixar de observar, mesmo em uma distância considerável, ser muito bonita. Caminhei cautelosamente até parar ao lado dela, que permaneceu de frente para o túmulo e chorava baixinho, cabisbaixa.
— Pedi para ficar sozinha. — Foi ríspida e, quando ponderei sair, só então ela olhou para mim.
— Desculpa, eu… — tentei me pronunciar, mas foi rápida ao me interromper.
— Eu que peço desculpas — forçou um riso ameno enquanto limpava a umidade do seu rosto e fungou, prosseguindo —, pensei que fosse a minha tia — justificou.
— Tudo bem, mas acho melhor… — Fique, por favor — pediu com um olhar brilhando pelas lágrimas e mais algumas escorreram pelo seu rosto. — Imagino que meu pai foi muito importante para você estar aqui — mencionou, de repente.
— Sim, ele foi — proferi, entristecido, e soltei um longo suspiro, observando seu nome na cruz, além das datas de nascimento e falecimento, algo que fez meu coração se apertar no peito.
— É o Frederico Motta, certo? — indagou.
— Sim. Pensei que… — A encarei, surpreso por se lembrar.
Ela comprimiu seus lábios em um sorriso ameno.
— Sou Diane Castro — frisou.
— Você ficou diferente, mas ainda carrega os traços dele — observei.
— Verdade — anuiu. — Meu pai ainda falava de você. Ele não se esquecia fácil de boas pessoas ou de quem considerasse muito — expressou.
— Também não me esqueci dele — revelei. — Sinto muito por sua perda — externei, e ela começou a chorar um pouco mais.
Sem saber o que fazer, perguntei: — Posso te abraçar? Acredito que possa ajudar a confortá-la — ofereci, vendo-a fungar e balançou a cabeça em negativo.
— Não se preocupe. Ficarei bem, obrigada — disse e limpou seu rosto com as costas de uma de suas mãos.
Peguei um lenço no bolso do meu paletó e a entreguei, olhando seu rosto. Mesmo receosa, agradeceu e aceitou. Continuei por ali por mais algum tempo e o silêncio reinou entre nós, salvo pelo seu choro baixinho que lentamente foi cessando.
Ao vê-la mais tranquila, tratei de me despedir, e ela esboçou um meio-sorriso com um pequeno aceno, agradecendo mais uma vez por minha presença. Saí dali ainda sentindo meu coração apertado, acreditando que nunca mais a veria.
— Diane — repeti seu nome em tom baixo ao parar diante do meu carro.
Olhei para dentro do cemitério, avistando-a no mesmo lugar, e uma certa euforia me abateu.
Soltei um riso descrente e balancei a cabeça em negação, até para me distrair de alguns pensamentos tolos que invadiram a minha mente. Entrei no veículo pronto para voltar para Val Verde.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Elizabeth Fernandes
Alguém pode me informar qual o primeiro livro "meu Destino" porque tem vários obrigada
2024-04-08
6
Joyce Luzia
Gostava mais quando era o outro livro, poxa, pq tirar o livro? era melhor fazer outro e deixar aquele
2024-02-25
1
Andréa Gomes
hoje 13 02 2024
2024-02-14
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