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FREDERICO MOTTA

Havia acabado de sair da academia que era montada em um dos cômodos em minha própria casa quando Mônica me informou que tinha alguém nos portões que se identificou como Diane Castro, filha do advogado Márcio Castro. Na hora, franzi o cenho, estranhando sua aparição repentina depois do falecimento do pai, no entanto, pedi que a deixasse entrar e a recepcionasse enquanto subiria para tomar um banho. Segui para o meu quarto e acreditava ter demorado mais do que o normal, porém, assim que desci as escadas, fui vestindo a minha camisa e tive tempo de pegar seus olhos vagueando pelo meu corpo.

Eu sabia o que a minha beleza e físico eram capazes de causar nas mulheres, então sua reação não foi nenhuma novidade pra mim. O problema ali eram dois: ela ser filha do homem que, mesmo após ter falecido, continuaria sendo bem mais que um amigo, além de seguir nutrindo muito respeito por ele, e o fator principal, ser tão jovem. Me lembrava dela quando ainda era apenas uma criança e…, bom, nem sei ao certo o motivo de estar pensando sobre isso.

Enfim, levei minhas divagações para longe e me concentrei nela.

Precisava saber o que havia vindo fazer aqui. Confesso que estava surpreso pela sua visita a minha casa.

— Bom dia, Diane. Desculpe pela demora. Tudo bem? — a saudei, ainda sorrindo enquanto a encarava.

Diane era negra, tinha os cabelos cacheados, mas com pouca definição e de tamanho mediano, que pegava abaixo do seu ombro, olhos castanhos, lábios grossos e perfeitamente desenhados, além de um corpo exuberante, com curvas bem avantajadas, digna de uma modelo plus size.

— Bom dia, Frederico. — Sorriu suavemente e uniu sua mão à minha, dando um aperto de mão.

Seu toque foi firme e macio. Encarei nossas mãos juntas quando uma certa eletricidade trespassou pelo meu corpo. Acreditava que ela sentiu o mesmo, pois recolheu sua mão em seguida, continuando: — Não se preocupe com a demora, sei que vim sem avisar e, quanto a estar tudo bem, ainda não, mas vou levando e agradeço por perguntar — completou.

— Entendo e, mais uma vez, sinto muito por sua perda — reiterei.

— Obrigada — agradeceu.

— Se veio até aqui, quer dizer que tem algo importante pra me falar, certo? — indaguei, curioso.

— Sim — afirmou.

— Então sente-se, por favor — pedi, e ela assentiu, acomodando-se em um dos assentos.

Me juntei a ela no mesmo sofá, tendo um assento vago entre nós, e não pude deixar de observar que parecia nervosa, pois desviava sua atenção de mim com frequência. Tirei meus olhos dela após aquela constatação e eles recaíram sobre a mala que tinha próximo a ela. Será que estava apenas de passagem pela cidade?

Fui obrigado a parar meus questionamentos quando a ouvi dizendo:

— Primeiro, gostaria de pedir desculpas por ter vindo dessa forma, sem ao menos te ligar antes, mas eu não sabia como tratar esse assunto por telefone e resolvi arriscar vir de uma vez e conversar com você pessoalmente, mesmo sabendo que pode não concordar. — Riu meio sem graça.

Minha testa enrugou-se e endireitei minha postura. Antes de conseguir questioná-la, Mônica entrou na sala de estar, nos interrompendo.

— Desculpe interrompê-los, mas trouxe um lanche para vocês. — Depositou a bandeja sobre a mesinha de centro e direcionou-se a Diane. — Como não perguntei se queria suco ou café, tem os dois na bandeja, além de biscoitos e uns minipães — disse cordialmente.

Mônica era como uma tia muito querida por mim. Trabalhava aqui há anos, desde que comecei a ter bons rendimentos nos negócios, comprei essa casa e me mudei. Ela quem designava todas as tarefas aos demais funcionários da casa.

Em minha ausência durante a semana, era quem sempre estava por aqui. É uma senhora de cinquenta anos e não tem parentes na cidade, a não ser as amigas que fez pelo bairro. No início, ela ficava em um dos quartos no andar debaixo da casa, mas, conforme o tempo foi passando, decidi construir uma casa nos fundos para ter sua própria liberdade; era pequena, porém, fiz de coração e Mônica se emocionou muito quando se deparou com a surpresa, o que me deixou muito satisfeito.

Rompi meus pensamentos quando Diane a respondeu: — Obrigada, Mônica. — Sorriu, agradecida.

Mônica fez menção de servi-la.

— Pode deixar que faço isso, obrigado! — Tomei à frente, e ela assentiu ao pedir licença, saindo, nos deixando a sós. — Café ou chá? — inquiri, olhando em seus olhos.

— Chá, por favor — respondeu.

Servi uma xícara e a entreguei, sendo agraciado por seu sorriso contido. Ela parecia não sorrir muito ou talvez fosse impressão minha.

— Aceita? — Ofereci os pãezinhos, que pegou apenas um.

A assisti comer, notando estar incomodada, talvez por conta do meu olhar nela.

— Estava delicioso e o chá também — elogiou, terminando de bebericar o líquido.

— Mônica tem mãos de fada — gracejei e, daquela vez, a vi dar um sorriso espontâneo, o primeiro desde que chegou.

— Não tenho dúvidas. Bem… não sei como isso te soará, mas… — engoliu a saliva com dificuldade e me mantive em silêncio, aguardando que prosseguisse — preciso de um lugar para ficar por pouco tempo. — Foi direta.

De imediato, não havia processado muito bem o que quis dizer com aquela declaração, até que finalmente entendi.

— Quer dizer que… — Será que poderia me abrigar em sua casa por algum tempo?

Posso pagar minhas despesas e tudo mais, não precisa… Antes que desse seguimento, gesticulei para que se acalmasse.

— Diane, respira, tudo bem? Se acalme antes de me explicar direito sobre isso. Imagino que esteja nervosa e, por conta disso, disparou a falar sem ser muito clara — pedi.

— Tem razão, me desculpe — disse ao abandonar a xícara sobre a mesinha de centro, inspirando o ar profundamente.

— Quando sentir-se mais calma, pode começar — salientei.

— Eu sempre quis vir para Val Verde, por ser uma cidade com maiores chances de crescimento tanto profissional, quanto pessoal. Meu pai nunca foi a favor do meu sonho de mudar para cá e, depois que o perdi, me senti desnorteada, sem um rumo certo a seguir. — Deu um sorriso tímido, mirando suas mãos em seu colo. — Então descobri que ele havia me deixado uma carta, onde fez questão de pedir perdão por não ter me apoiado, além de falar para não desistir e correr atrás dos meus objetivos.

— Trouxe seu olhar ao meu quando finalizou e pude ver sua emoção refletida em cada um deles.

— Senhor Márcio sempre surpreendendo — mencionei, lembrando-me do homem magnífico que era.

— Muito — confirmou.

— Espera aí… como ele sabia que lhe aconteceria algo? — interroguei, de repente.

— Na verdade, ele não tinha certeza, mas teve um sonho que o deixou em alerta, então decidiu escrever a carta, deixando-a em posse do padre Agenor, responsável pela igreja que frequentávamos. Isso foi um dia antes da sua partida — explicou.

— Hum, que estranho…— murmurei, encabulado. — E se minha noiva não concordar? — perguntei a fim de testá-la e a encarei, vendo-a arregalar os olhos, verificando ao redor.

— Ó céus! Como assim, noiva? As pesquisas que fiz sobre você na internet não falavam que tinha uma noiva, pelo contrário — confessou. — Será que pulei essa parte? — falou baixinho, e segurei a vontade de rir. — Enfim, posso conversar com sua noiva e tentar fazê-la entender ou… — Soltou o ar pesarosa, desistindo de falar. — Já sei que isso não dará certo.

— Fez menção de se levantar, e me apressei ao acabar com a nossa distância no sofá, segurando uma de suas mãos.

— Então andou pesquisando sobre mim? — especulei, impedindo-a de se pôr de pé.

— Sim. Não podia vir aqui sem saber o mínimo sobre a sua vida, mas agora me diz que tem uma noiva? — Mordeu o canto interno da boca e soltou o ar, preocupada.

Era engraçado vê-la tão pensativa.

Novamente tentou se levantar e não permiti.

— Não tenho nenhuma noiva ou namorada — admiti de uma vez.

Diane me fitou com seus olhos estreitos, e rompi numa gargalhada.

— Seu palhaço! — proferiu, descontente, e desferiu um tapa de leve no meu braço.

— Não sou palhaço, só quis descontrair e te fazer rir. — Ri um pouco mais, e ela recolheu sua mão do meu agarre.

— Quase me matou do coração, isso sim! — exclamou, ajustando sua postura enquanto mantinha uma expressão séria.

— Desculpa, mas foi engraçada a sua reação. — Tentei conter minha risada, e ela revirou os olhos, impaciente.

— Engraçado que, antes de vir, pensei que, por ser um velhote, não tivesse esse ar descontraído. Geralmente encontramos essas características em homens mais novos, se é que me entende — pontuou.

Quem ela estava chamando de velhote? Ninfeta atrevida!

— Como minha brincadeira não a agradou, peço desculpas e, também, fingirei que não ouvi a parte que me chama de “velhote” — concluí, e ela sorriu disfarçadamente.

— Ok. Olha, não quero ser um problema, então, se não puder me ajudar… — Me pus de pé ao escutá-la, não deixando que finalizasse sua fala.

— Não será um problema — ressaltei.

— E isso quer dizer… — incitou.

— A casa tem muitos quartos. Enfim, depende de quanto tempo pretende ficar. — Diane também se ergueu e nos fitamos.

— Não sei exatamente — contou.

— Como não? — interroguei.

Puxou o ar para os seus pulmões e o soltou gradualmente, respondendo posteriormente: — Preciso resolver uma série de coisas, desde concluir a transferência da faculdade a ver um imóvel, pois pretendo comprar um pra futuramente abrir meu próprio escritório de advocacia.

Meu pai sugeriu na carta que te procurasse, pois poderia me dar abrigo por um tempo e me ajudar com sua opinião como advogado, afinal, é experiente na área e sabe melhor como tudo funciona. — Umedeceu os lábios e continuou: — Ainda me falta um pouco mais de um ano e meio para terminar o curso de direito e precisarei de algumas instruções, mas não se preocupe que posso arcar com minhas despesas e prometo que tentarei solucionar tudo em pouco tempo. Não conheço a cidade, muito menos as pessoas por aqui, então pensei que pudesse ficar enquanto me familiarizo com tudo e, quando menos esperar, estarei finalmente indo embora — esclareceu, tentando me convencer a aceitar ficar.

Fiquei calado por algum tempo, pensativo, e Diane não parou de me olhar, aflita por uma resposta. Aproveitei para analisar seus olhos e não identifiquei que estava mentindo. Parecia verdadeira.

— Não vou negar que realmente fiquei surpreso com isso. — Fui sincero.

— Sei disso — anuiu, sem jeito.

— Eu jamais negaria ajuda a você, principalmente pelo seu pai ter sido alguém tão importante para mim e para a minha carreira, no entanto, sabe que perderei minha privacidade ao concordar em dividirmos o mesmo teto — expus.

— Sim, é verdade — compreendeu.

— Como sabe, sou sócio de uma casa noturna e temos dois estabelecimentos. Sou responsável pela matriz, situada em Val Verde, mas ultimamente não ando ficando muito aqui, porque estamos resolvendo algumas questões sobre a filial que está passando por melhorias, enfim, geralmente venho no finalzinho da tarde na sexta-feira e retorno na segunda-feira pela manhã para Porto Primavera— expliquei.

— Entendi — assentiu.

— Acredito que não será tão ruim assim tê-la por aqui. — Seu semblante anuviou ao ouvir minha resposta e sorriu contidamente.

— Então… — Deixarei que fique aqui — afirmei.

— Obrigada, eu… A impedi de concluir.

— Com uma condição — avisei.

— Certo e qual é? — quis se certificar, apreensiva.

— Três meses — determinei.

— Três meses? — questionou, incerta.

— Sim. Não quero que me entenda mal, entretanto, esse é o tempo máximo que te dou para resolver seus assuntos e procurar outro lugar para ficar, de acordo? — detalhei e estendi minha mão.

Diane voltou a sorrir, aliviada.

— De acordo — confirmou e mais uma vez uniu sua mão à minha, fazendo com que outra corrente elétrica percorresse pelo meu corpo.

Novamente, ela se livrou do meu toque, recolhendo-a com agilidade.

— Agora que estamos entendidos, vou pedir a Mônica que arrume um quarto no andar de cima pra você — informei.

— Ah, mais uma vez, muito obrigada e não precisa se incomodar.

Posso ficar num dos quartinhos no andar de baixo. Não terei problema algum com isso, afinal, já está sendo mais que gentil em me aceitar na sua casa, mesmo eu sendo completa uma estranha — externou.

— É certo que não nos conhecemos, mas não é uma completa estranha. Só por ser filha do Márcio, tenho certeza de que é uma boa pessoa, assim como ele era. — Comprimiu seus lábios em um sorriso ameno.

— Mesmo assim, agradeço a confiança — disse.

— Não foi nada. — Dei de ombros e chamei a Mônica.

Solicitei que organizasse um dos quartos no andar de cima e ela pediu licença antes de sair. Diane quis acompanhá-la, então saiu, deixando-me sozinho. Voltei a me sentar no sofá e passei as mãos entre os fios do meu cabelo.

Não sabia se tinha feito o certo em abrigar uma mulher em minha casa. Puta que pariu! Também não podia negá-la isso, visto ter um grande respeito pelo seu pai.

O que me confortava era saber que sua estadia não ultrapassaria três meses. O que poderia acontecer em míseros três meses, né? Obviamente, nada!

Agora era torcer para que passassem logo e finalmente retornar a minha privacidade. Contaria os dias para isso.

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Comments

Shirley Regina Servim Paraizo

Shirley Regina Servim Paraizo

Foi desnecessário o comentário dele, levando em conta o que o pai dela fez , por outro lado, chegar uma visita, não anunciada e fala que vai ficar na sua casa por tempo até arrumar sua vida... ele sendo sozinho, não tá errado, errado foi o tempo curto...

2024-03-28

0

Valentina Meireles

Valentina Meireles

também queria ver fotos o livro fica chato sem vê os personagens

2023-10-26

6

Eloisa Helena Fernandes

Eloisa Helena Fernandes

poderia ter fotos dos personagens

2023-10-25

0

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