XVIII

O primeiro príncipe de Rabéns se prontificou no final da escada e estendeu a mão para receber sua futura esposa. Rosalie aceitou sua mão e foi guiada até a enorme mesa.

Ali estavam o príncipe e dois conselheiros, o rei e seu conselheiro Timoth, a rainha e Rosalie. Era algo intimista, apenas para se conhecerem. A entrada começou a ser servida à mando da rainha.

–E então, príncipe André, o que acha de Rosalie?–A rainha, que odiava rodeios, quis logo saber.

O homem ergueu sua cabeça e procurou por Rosalie na mesa. A garota manteve-se de cabeça baixa como aprendera em suas aulas. André suspirou e depois virou para sua sogra.

–Vejo que os rumores sobre a beleza da minha noiva não eram falsos. Ela é de uma beleza incomparável. Considero-me o mais sortudo dos homens, rainha Tânia.

Tânia sorriu gostando da resposta do príncipe. Arthur deixou que o talher escorregasse de sua mão fazendo com que o tilintar cortasse o clima leve. Ele se desculpa e volta a comer a salada servida.

–Você quer casar rápido, príncipe?–Dessa vez quem questiona é Timoth.–Pergunto porque os trâmites já estão bem encaminhados entre nossos países.

–O que acha, Rosalie?–Ao invés de responder, ele passa a pergunta para a linda mulher que mal tocara no seu prato.

–Seja como quiser, príncipe André. O que escolher eu fico satisfeita.

Era notório o modo robótico que Rosalie respondia. Tânia começava a se incomodar. O prato principal foi servido e então comeram em silêncio. André e seus companheiros estavam maravilhados com a boa culinária de Lindúvia.

–Peço ao rei que me conceda um tempo de conversa com Rosalie. Gostaria de falar com ela à sós.

Arthur estava pronto para negar, mas a mão de Tânia apertou sua coxa como um lembrete de que esse era um pedido feito por quem salvaria Lindúvia. O rei autorizou o passeio solicitando que Sorah observasse de longe.

André levantou-se e ajudou a ruiva a sair da mesa. Logo estavam se direcionando ao jardim que estava bem iluminado. Sorah manteve-se distante sentindo até um pouco de tédio.

–Eu sei que você não está muito confortável, Rosalie.–A voz tão gentil do príncipe fez com que ela se sentisse mal por falar de maneira tão gélida anteriormente.–Mas também sei que tens ciência de que nosso casamento é importante para ambos os países. Acredito que muito mais para o seu. Eu quero fazer dar certo, de verdade. Pelo menos podemos começar a ser amigos, vai que...

–Existe outro homem no meu coração, André.–Declarou sentindo vontade de chorar. O homem não esboçou nenhuma surpresa.–Mas sei do benefício que o casamento vai trazer para meu país. No momento eu posso aceitar sua amizade, nada mais. Desculpe.

–Isso já é muito bom.–Ele sorri e Rosalie se vê admirando a beleza do seu futuro marido por uns segundos.–Você pode me ver como um amigo. Eu vou ser paciente com você, Rosalie. Você realmente me cativou. Eu vou esperar você sentir algo por mim.

Ela sorriu de forma desanimada e recebeu um carinho na bochecha. Mesmo um pouco distante, Sorah conseguia ouvir a conversa. Mais uma vez se viu enciumada com essa relação de Rosalie com Dimitri. Bateu três vezes no rosto ao lembrar que ela só será usada. Não tinha motivos para ciúmes, repetiu várias vezes.

–Eu vou retornar para o meu país amanhã. Mas em uma ou duas semanas eu volto para buscar você. Nos casaremos em Rabéns, meus pais preferem.

–Certo.

–Escreverei sempre que possível e espero obter respostas.–Sorriu.–Preciso saber seu gosto para irmos organizando o casamento e também saber como você está.

–Eu responderei, não se preocupe. Você é muito gentil, André. Eu lhe confidenciei algo muito difícil para qualquer homem ouvir e você parece não ter sido afetado.

–Somos da realeza, princesa. Você precisa ter sangue frio para lidar com algumas situações. E se é algo que você almeja, precisa ter paciência também. Nunca desejei um casamento de fachada, acho muito desgastante.–Ele olha para o céu e parece recordar algo doloroso.–Nem eu e nem você podemos escolher com quem ficar. Então eu quero que dê certo entre nós, mesmo que pra isso eu precise te dar o tempo necessário para esquecer quem reside no seu coração agora.

A garota não escondeu seu olhar de admiração para seu noivo. Era notável a maturidade e a inteligência emocional que ele esbanjava. Ela sorriu ao ver que talvez, bem lá no fundo, esse casamento pode dar certo. O próximo passo agora seria tentar esquecer Dimitri para que isso fluisse.

–Vamos entrar, Rosalie. Talvez a sobremesa esteja nos esperando.

Ela assentiu e enlaçou seu braço no dele. Logo voltaram para a mesa onde uma conversa chata sobre política tomava conta.

Sorah se viu anotando mentalmente que precisava reportar a Dimitri o teor dessa conversa entre os noivos. Rosalie pareceu afetada pelo herdeiro do trono de Rabéns e isso era perigoso para os planos do pirata.

...

Era sábado de manhã quando alguém bate na porta do quarto. Afetado pelo sono, Dimitri levanta e abre a porta. Sorah entra como um raio assustando o pirata descabelado.

–Precisamos conversar, pirata. É algo sério.

Dimitri pediu um minuto e se direcionou ao banheiro para melhorar seu estado. Logo retornou para o quarto, mas não para conversar lá. Tirou Sorah daquela hospedaria e levou-a para tomar café em uma pequena taberna.

–Você sabe que dona Julieta não gosta de mulheres nos visitando. Ela pensa que é para ir atrás do Túlio, Sorah.

–Que ela se exploda, pirata! Preciso lhe contar tudo de ontem. Você não tem a ruiva totalmente aos seus pés como você pensa.

Aquela afirmação fez Dimitri erguer as sobrancelhas. Pediu para que Sorah começasse a contar rapidamente o que houve. E quando a sereia terminou o ódio era visível no rosto do pirata.

–Não sabia que essa princesa mimada era tão facilmente afetada por homens bondosos e bonitos.–Resmungou fazendo Sorah sorrir.–Preciso ser mais... insistente.

–O tal André é bonito e todo cavalheiro. Como ela sabe que vai ter que casar de todo jeito, a proposta que ele lhe fez caiu muito bem. Ser paciente enquanto ela lhe esquece foi uma bela jogada.

–Não pensei que ela era tão volátil assim...–Coça sua barba que está começando a crescer.–Obrigado, Sorah. Agora sei que ser sutil com ela só vai me fazer perder tempo. O bom é que ele vai embora e só volta pra buscá-la definitivamente. Preciso finalizar meu plano nesse meio tempo.

Finalizaram o café da manhã e Sorah retornou para o Palácio. Dimitri estava tão enraivecido que mal enxergava as pessoas que passavam. Acabava esbarrando em duas ou três. Ele se recusava a acreditar que Rosalie estava cogitando em seu íntimo o esquecer para dar uma chance ao príncipezinho.

Ele não era o descartável na história. Era ela!

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