Domingo foi tranquilo para Dimitri. Escolheu estudar um pouco para as aulas com Rosalie, pensou também nas possíveis barreiras para a efetivação do seu plano. Ele precisava pensar sempre em segundo, terceiro ou quarto plano. Nada de confiar em apenas um caminho.
–Preciso sair para enterrar os barris. Precisa de algo?
Dimitri negou observando Túlio se arrumar e sair do quarto. Túlio é um amigo leal à Dimitri, não mede esforços para ajudar no que pode. Sua lealdade vai além da relação capitão-marujo, Dimitri o considera seu melhor amigo. Com Túlio não é diferente.
Era de tarde quando Dimitri resolveu passear pela cidade. Sua curiosidade para saber como anda os ânimos do povo falou mais alto. Trajado de forma elegante, pois não podia vacilar, sentou em um bar popularmente conhecido por ser frequentado pela oposição. Ouviu que planejavam invadir o Palácio para assassinar Arthur. Alarmado, saiu rapidamente daquele lugar para não levantar suspeitas.
Ele teria que impedir essa ação. Agradeceu por ainda ter ouvido o dia que eles planejavam executar o plano. Arthur não poderia morrer assim, sem sofrer 1/3 do que Dimitri tinha sofrido. Ele teria que dar um jeito de fazer Arthur saber. Nem que pra isso ele teria que ser X-9.
Fez uma refeição qualquer na rua e caminhou de volta para a hospedaria. No caminho, deu de cara com mais um desses irritantes cartazes que anunciavam a Rosalie como uma mercadoria. Com raiva, puxou o cartaz, amassou e jogou no lixo. Nem ele entendia a raiva que sentia dessa palhaçada. Retornou para seu quarto e se dispôs a escrever. Uma das coisas que Dimitri mais gostava de fazer nas horas vagas era isso. Deixava transbordar no papel tudo que o importunava no momento.
...
Dia de domingo nem sempre era agitado dentro do Palácio. As vezes cada um ficava em seu cômodo ou saía por conta própria. Rosalie resolveu tomar banho de sol nas primeiras horas de claridade. Sua pele era alva como algodão, mas sempre gostava do rosado que o sol lhe dava. Ela sentia-se mais viva ao sentir os raios fracos da manhã acarinhando sua pele.
–Pulou da cama, Rosalie?–Tânia se aproxima e senta na cadeira ao lado da filha. As duas incrivelmente tiveram a mesma ideia.–Hoje é o dia que você pode dormir um pouco mais e você acorda cedo. Por quê?
–Pelo mesmo motivo que você, eu queria tomar sol hoje.–Dá de ombro.–Gostaria de te fazer uma pergunta, mãe.
–Fala, Rosalie.
–Por que você me odeia?
Tânia, que estava passando uma seiva no corpo, parou e observou o frasco na sua mão. Não era nada sentimental, mas aquela pergunta lhe incomodou. Talvez tenha incomodado justamente por ela nunca questionar o que sente por Rosalie. Seria ódio?
–Por que isso agora, garota?–Quis ser evasiva.–Eu não te crio? Não cuido de você? Não te ofereço o que posso?
–Falo de amor.–Rosie sentiu uma espetada na ponta do nariz, seus olhos encheram-se de água, mas ela disfarçou bem.–Eu já percebi que não sou sua filha querida, mas eu não entendo o porquê. Sou filha do mesmo pai que o Henrique é filho e por que toda essa indiferença?
A rainha viu que não haveria escapatória. Uma conversa franca teria que acontecer entre as duas, mas Tânia temia. Temia falar mais do que podia, temia magoar Rosie com alguma verdade sua... Pode parecer cruel, mas sente algo por ela. Mesmo que pouco.
–Não odeio você, Rosalie. Você é minha primeira filha, não tem como odiar alguém que sai da gente. Pelo menos pra mim.–Ela observa sua bela filha com atenção.–Eu sou dura com você porque não quero que te tornes como eu. Para ser rainha de Lindúvia eu rodei muito, garota. Você já nasceu bonita e princesa, graças à mim. Você não deveria pensar que eu a odeio. Eu fiz tudo que eu podia para que todos que saíssem de mim tivesse facilidades que não tive.
–Por que o tratamento com Henrique é diferente?
–Você sabe que Henrique vai ser rei, Rosie. Você, por sorte, pode ser rainha quando escolhermos seu marido.–Tânia começa a cansar dessa conversa longa.–Henrique terá que ser frio, insensível e muito calculista quando chegar ao trono. É justo que ele tenha tudo que necessita agora. Inclusive, um tratamento diferenciado. Mas não tenhas inveja do seu irmão. Você já é muito amada pelo seu pai. Ainda te falta amor?
–Na verdade, rainha, eu trocaria o amor do meu pai pra ganhar o seu. Com licença.
Rosalie não aguentava mais segurar. Tinha que sair antes que demonstrasse fraqueza na frente da sua mãe. Com certeza ela mandarira intensificar os aprendizados com Joane. Mesmo não tendo certeza se um dia seria rainha, tinha que ser ensinada como se fosse assumir o trono amanhã.
Havia três possibilidades de Rosalie subir ao trono:
1) Casando com um príncipe sucessor do trono ou um rei;
2) Se o seu irmão morrer ou;
3) Se o seu pai a escolher como sucessora.
Rosalie acreditava que nenhuma dessas três aconteceria, mas com sua nova realidade a opção número 1 já era muito real.
Tânia observou Rosalie se afastar e também passou as mãos nos olhos. Odeia ter que tratar ela com tamanha rigidez, mas não consegue fazer diferente. Tânia vê Rosalie como possível inimiga. Não poderia jamais perder seu título de rainha para a própria filha. Ela queria aproveitar muito dessa regalia até o dia do casamento de Henrique.
Quando pensa em tratá-la diferente acaba vendo ceninhas de Arthur paparicando a garota. Era esse um dos maiores motivos pra Tânia continuar a trair Arthur. Mesmo sabendo que um dia pode ser descoberta.
E se tudo der errado, Rosalie ainda pode salvá-la. Por ser filha legítima de um rei, continua tendo sangue real. É valiosa do mesmo jeito. Fora que seu verdadeiro pai pode coroá-la princesa e lhe dar plenas regalias. Regalias essas que se estenderia à Tânia. Poderia ela abandonar sua mãe à sorte? Tânia sabia que o coração de Rosalie era bondoso demais para tal crueldade. De todos os lados sairia ganhadora. Enxugou as lágrimas e voltou a tomar sol. Rosalie ainda era muito boba. Não perderia tempo com seus questionamentos sentimentais.
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Comments
Elizangela Lima
amandooo
2021-03-10
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